Pelos Caminhos da América
Por NERI P. CARNEIRO | 11/10/2018 | História“Pelos Caminhos da América, há tanta dor, tanto prato; nuvens, mistérios, encantos que envolvem nosso caminhar. Há cruzes beirando a estrada, pedras manchadas de sangue, apontando como setas que a liberdade é pra lá. Pelos caminhos da América, há monumentos sem rosto, heróis pintados, mau gosto; livros de história sem cor. Caveira de ditadores, soldados tristes, calados, com os olhos esbugalhados, vendo avançar o amor”.
Esses versos de Zé Vicente, retratam um pouco dos 500 anos de dominação e sofrimento impostos aos povos ameríndios em nome do lucro dos colonizadores e da classe dominante.
Inicialmente a exploração era feita pelos colonizadores das metrópoles portuguesa e espanhola. Mas com o processo de independência e nos últimos séculos ela ocorre em nome do capitalismo que se instalou contra os pobres no continente.
Em nome desse lucro os colonizadores e depois os fazendeiros exterminaram populações inteiras, deixando nas margens da história as cruzes com os nomes das incontáveis civilizações que viviam de norte a sul da América. Povos que foram mortos pela ganância de governos e de indivíduos, ao longo dos 500 anos de América.
Além da morte efetiva produzida com tiro ou com pestes.., ao longo de nossa história desaprendemos a valorizar os produtos e a cultura dos povos que inicialmente povoaram as Américas. Dessa foma, além de matar a população, os brancos mataram, também a história desses povos. Prova disso é que pouco sabemos das sociedades que viviam de norte a sul das américas, antes da chegada dos europeus.
Podemos lembrar de alguns exemplos desse extermínio, ao longo dos caminhos da América: Na colonização da América do Norte um dos lemas dos colonos era: “índio bom é índio morto”. Cortez e Pizarro, na América central e andina, exterminaram maias, incas e astecas em busca do ouro por eles acumulado. No Brasil não foi diferente: São muitas as historias de colonizadores que deram presentes contaminados para dizimar as tribos locais.
Nos dias de hoje, no Brasil, ainda persistem situações em que fazendeiros ou o poder público tiram a vida, as terras ou elementos da cultura de várias nações indígenas. Aqui em Rondônia, neste início de século XXI, ainda se vê nações indígenas sendo expulsas de suas terras ancestrais; existem povos nos quais os valores dos brancos são tão presentes que traços dessa cultura tradicional estão se perdendo.
Ao lado da busca de riquezas, outro motivo que trouxe o europeu para as Américas (principalmente a colonização ibérica) foi a difusão do cristianismo. O problema ocorreu na medida em que os valores cristãos se imiscuíram, sincretizaram e se corromperam depravando-se com os valores econômicos. E isso foi usado não em defesa, mas contra os povos indígenas.
É claro que existem instituições – inclusive cristãs – que hoje fazem o mea culpa e tentam proteger as culturas tradicionais. Mas isso não anula o fato: o avanço da dominação dos brancos sobre terras e povos indígenas continua impondo valores que anulam essas culturas ancestrais.
Sabemos que nenhum contato entre sociedades e culturas distintas as manterá intactas. Havendo contato, necessariamente ocorre interação. O problema não é o contato e interação cultural. O problema é que os valores dos brancos sobre os povos indígenas são mais mortais do que as pestes trazidas pelos brancos ao longo dos 500 anos dessa América desencaminhada.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO