Pedagogia de Projetos

Por Maria Tanise Raphaelli Bosquerolli Antunes | 25/04/2016 | Educação

PEDAGOGIA DE PROJETOS

Por Maria Tanise R. B. Antunes

Atualmente fala-se muito na formação de indivíduos capazes de atuarem na sociedade de maneira participativa, crítica, reflexiva, autônoma e solidária. Percebem-se as inquietações que assolam o viver escolar. Sabe-se que é necessário mudar a prática pedagógica, as estruturas escolares, buscar a motivação dos alunos e, consequentemente sua permanência na escola e envolver mais a família. Pode-se afirmar que os princípios de uma educação engajada, critica, enfocada na realidade de cada aluno e de cada educador é essencial, assim como em um processo de educação de criança é imprescindível não descartar a possibilidade de educar para transformar, educar para a cidadania. Parafraseando Paulo Freire, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou construção” (FREIRE, 1997).

Conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em seu Art. 36, o Ensino Médio é a terminalidade da Educação Básica, devendo ser um aprofundamento do Ensino Fundamental assegurando a todos a oportunidade de consolidar os conhecimentos, aprimorando o educando como pessoa humana e garantindo sua preparação para o trabalho e cidadania, ou seja, desenvolvendo valores e competências necessárias para sua inserção social, formação ética e desenvolvimento de sua autonomia intelectual e formação de pensamento critico. Nada mais apropriado para alcançar os objetivos previstos para a educação citados na Lei e nos Parâmetros Curriculares Nacionais do que a prática de projetos.

Nesse contexto, o trabalho por projetos possibilita aos educandos desenvolverem e exercitarem essas qualidades dentre outras necessárias à formação integral que contribua não só para a vida escolar, mas vise preparação para a vida futura social e do trabalho, em conformidade com o Art. 1º, parágrafo 2º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBN (1996)

O aluno aprende no processo de produzir, levantar dúvidas, pesquisar e criar relações que incentivam novas buscas. Porém, trabalhar com projetos não pode ser confundido com um método de ensino, pois reporta a um trabalho com objetivos e conteúdos predeterminados com sequencia regular. No trabalho com projetos, o ensino se realiza de forma flexível oportunizando a reformulação de metas e percursos à medida que as ações projetadas evidenciam novos problemas e dúvidas.

Para Hernández (1998) o trabalho com projetos é uma concepção de ensino que propicia ao educando uma percepção dos conhecimentos que circulam fora da escola e possibilita que os mesmos construam sua identidade. O professor necessita assumir a postura de facilitador, mediador, orientador. Aquele que dará o suporte para que o aluno formule seus próprios conceitos. Para tanto, faz-se necessário a quebra de paradigmas e o repensar da pratica pedagógica. Segundo Hoffmann (2009), o professor deve acompanhar o aluno na ação-reflexão-ação, em processos simultâneos de buscar a informação, refletir sobre o procedimento de aprendizagem, interagir com o outro e refletir sobre si próprio.

Vasconcellos (2000) salienta que há um grande ganho em termos de aprendizagem em se trabalhar com projetos porque ele nasce da participação ativa dos alunos, implicando mobilização, o que se pressupõe em uma aprendizagem mais significativa. Além disso, segundo o autor, há um ganho na construção da autonomia e da solidariedade.

A pesquisa escolar, motivada e orientada pelos professores, implica na identificação de uma dúvida ou problema, na seleção de informações de fontes confiáveis, na interpretação e elaboração dessas informações e na organização e relato sobre o conhecimento adquirido.

[...] a pesquisa propicia o desenvolvimento da atitude científica, o que significa contribuir, entre outros aspectos, para o desenvolvimento de condições de, ao longo da vida, interpretar, analisar, criticar, refletir, rejeitar idéias fechadas, aprender, buscar soluções e propor alternativas, potencializadas pela investigação e pela responsabilidade ética assumida diante das questões políticas, sociais, culturais e econômicas.

[...] uma concepção de investigação científica que motiva e orienta projetos de ação, visando à melhoria da coletividade e ao bem comum (UNESCO Protótipos Curriculares de Ensino Médio e Ensino Médio Integrado: Resumo Executivo. Brasília, Debates ED. n 1, maio 2011

A incorporação da pesquisa na prática pedagógica é a garantia da construção de novos conhecimentos, a partir da articulação da análise de seus resultados com o acúmulo científico das áreas de conhecimento, para dar conta da necessidade ou realidade a ser transformada.

É preciso atingir as práticas, a relação pedagógica, o contato didático, as culturas profissionais, a colaboração entre professores [...] Afinal de contas, são as práticas profissionais, o trabalho dos professores que se trata transformar. Os valores, as atitudes, as representações, os conhecimentos, as competências, a identidade e o projeto de uns e de outros são, portanto, decisivos.” (PERRENOUD, 2000, p. 160)

 

 

Se por um lado, a pedagogia de projetos pode constituir um desafio para os professores, por outro ela oportuniza ao aluno uma aprendizagem baseada na integração das áreas de conhecimento, bem como de suas tecnologias. Porém, a estrutura atual das escolas dividida em tempo/espaço pode tornar-se um desafio ainda maior. Assim, o Projeto de Gestão Escolar deve estar articulado com o projeto de sala de aula do professor que por sua vez, deve propiciar o desenvolvimento de projetos em torno de problemáticas de interesse dos alunos. Segundo Almeida (2002), as limitações do cotidiano devem ser superadas e rompidas.

Através da pedagogia de projetos podem-se alcançar os princípios de uma educação engajada, critica enfocada na realidade de cada aluno e de cada educador, buscando uma educação transformadora voltada à prática da cidadania.

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

BRASIL/MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nº 9.394/96

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

PERRENOUD, Philippe. Pedagogia Diferenciada: das intenções à ação. Porto Alegre: ARTMED, 2000.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Planejamento: Projeto de ensino-aprendizagem e projeto politico pedagógico. 7ª ed. São Paulo: Libertad, 2000. – (Cadernos Pedagógicos do Libertad; v 1)

HOFFMANN, Jussara. Avaliar para Promover: As setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2009.

UNESCO Protótipos Curriculares de Ensino Médio e Ensino Médio Integrado: Resumo Executivo. Brasília: Debates ED. n 1, maio 2011.

 

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