Pedagogia da terra

Por abraao pereira | 25/04/2012 | Educação

PEDAGOGIA DA TERRA

*Abraão Jacinto Pereira

Resumo

Neste trabalho será exposto assuntos relacionados a Educação do Campo e suas relações com a sociedade do meio rural.

Palavras-chave; Pedagogia, Educação, Campo.

 

Introdução

O debate sobre educação do campo iniciou na 1ª Conferência Nacional Por Uma Educação Básica do Campo, realizada em 1998 na cidade de Luziânia, Goiás, onde iniciou-se um movimento de luta por uma educação do campo e para o povo do campo.

Esta educação que propomos estudar é representada por sujeitos concretos e busca o seu recorte numa camada social específica (a dos camponeses), sem descartar a universalidade do processo educacional. Visto que a função primordial da educação é antes de tudo a formação intelectual, social e política de seres humanos.

Ao refletirmos sobre a educação que é realizada no campo devemos pensar no sentido que damos a este local, pois não devemos perder de vista que a educação é um processo social que contribui para as lutas do povo que ali reside. Por isso a educação, quando vinculada às questões do campo não deve ser compatibilizada com o modelo de agricultura capitalista, que hoje no Brasil é expresso pelo agronegócio e pelos grandes latifúndios, causando a expulsão dos camponeses de seu ambiente. Desta maneira, deve-se pensar num ambiente de inclusão deste camponês, buscando na reforma agrária, na agroecologia popular, na agricultura camponesa a combinação entre educação e campo.

 

*Acadêmico do Curso de Licenciatura Plena em  Educação do Campo – Universidade Federal de Roraima./Auxiliar Administrativo – Secretaria  de Agricultura do município de Caracaraí – RR.

E-mail: abraao.ajp@hotmail.com.br

 

Discussão

Até no século XX as pessoas pensava que o papel da escola era o de tentar superar todos os atrasos sociais e econômicos de uma nação. Hoje sabemos que este não é um papel unicamente da escola.

 Pensava se também que com o aparecimento das escolas públicas todos os cidadãos teriam o acesso a educação de qualidade, prevalecendo o principio da igualdade entre os cidadãos. Porem as escolas vieram com uma educação bastante diferente do que as pessoas imaginava ser, e as camadas mais pobres não alcançaram uma educação de qualidade.

Neste caso, as condições de ensino estavam determinadas e eram consideradas igualitárias devendo prevalecer apenas os dons individuais. Assim se houvesse fracasso escolar, a responsabilidade não seria da escola, mas do próprio indivíduo que não teria tido competência ou não teria se esforçado o suficiente para ser aprovado. Essa ideia ainda permanecem na mente de muitos professores que cultuam a educação tradicional.

A partir dos anos de 1960, Pierre Bourdieu formula respostas para a profunda crise em que a escola se encontrava naquele momento de reflexões acerca de sua função, enquanto esta buscava reinterpretar o seu papel na sociedade acabava abandonando todo o otimismo pedagógico das épocas anteriores. (Camila Ramal)

Com as respostas de Bourdieu nasce outro pensamento, porém ocultamente muitos achavam que dependem do individuo e não de uma pedagogia eficaz que vê todos os ângulos de uma classe de alunos.

A Educação do Campo veio para dar outra visão sobre essa antiga concepção, ela trouxe uma nova pedagogia especialmente para as pessoas do campo.

Na década de 60 a educação perdeu o seu antigo papel de democratização e transformação da sociedade e passa a ser vista como uma instituição que legitima, mantem e colabora com a divisão de classes e dos previlegios sociais. A pedagogia da educação para o campo tem como objetivo levar as comunidade rurais um ensino de qualidade e diminuir este contraste entre campo e cidade.

No interior da instituição escolar a sociedade se reproduz e por isso que a educação deve ser flexível, pois ela tem que ter espaço para o desenvolvimento de indivíduos de todos os segmentos.

Para Bourdieu o homem não é um sujeito de caráter autônomo, é um indivíduo que carrega consigo uma bagagem social herdada em seu ambiente interno ou externo. Externamente o individuo tem uma história vivida pelos pais e o seu convívio atual, internamente ele tem uma natureza, ou seja um pensamento individual ou formalizado que vai conflitar com o exterior ou consorciar-se. Isso leva o individuo a ter duas opções de linhagem a seguir.

Com a apreensão prévia do capital cultural a escola torna-se apenas a extensão da família, visto que as crianças da elite já trazem de casa o maior ou menor domínio da língua. Nas classes dominantes, há uma maior colaboração da família em relação à escola. Porem no campo está colaboração está ausente por que muitos pais tem baixa escolaridade e outros são analfabetos, nestes casos os professores devem trabalhar com uma metodologia diferente em relação ao dever de casa, pois em certas situações a tarefa para casa passa a prejudicar o aluno.

A cultura escolar do ‘pára-casa’, que é uma estratégia metodológica para maior absorção e fixação dos conteúdos, na maioria das vezes é vista pelos alunos/as como castigo e punição, pois esta cultura nem sempre é contextualizada na realidade local, e não considera as condições pessoais. Na zona rural é muito comum encontrar estudantes que tem pai ou mãe com  pouca escolarização e até mesmo analfabetos, o que torna a tarefa de fazer o dever de casa um compromisso difícil, penoso e desagradável (JOSILMA, MARLÚCIA, MARIA DO CARMO, MARIA ELIZABETE, SIMONE E HELENA – Turma do LECAMPO 2008).

No caso das elites econômicas o investimento na escolaridade pode ser bem menor do que no campo onde as pessoas dependem exclusivamente, dos certificados escolares para ascenderem socialmente nos diferentes mercados simbólicos (matrimônio) e na busca de um trabalho reconhecido e valorizado e até mesmo na modernização das técnicas de produção, as pessoas do campo que não concluírem o ensino básico terão dificuldades para acompanhar a revolução verde que está invadindo o meio rural do oriente ao ocidente.

A escola não domina a formação do individuo, quem rege o processo de formação do individuo é puramente o capitalismo, é ele que determina que tipo de educação cada classe social recebera e até que limite de conhecimento pode ser passado para cada classe, existe uma falta de informação muito grande em relação às camadas mais baixa da sociedade, um exemplo é as pessoas do campo que nem todos tem uma televisão em casa para assistir um jornal, e estão longe da internet e de outros meios como revistas e publicações científica. Países como Israel o governo investe em mais de cem publicações por ano para cada cidadão, isso significa que além da internet e da televisão os israelenses tem informações detalhadas dos eventos científicos atuais, o nível de conhecimento destas pessoas é altamente elevado em relação à maioria dos brasileiros que mesmo os da elite não acompanham tão de perto assim o mundo científico, pois não está na nossa cultura.

É importante que o educador do campo inclua em seu currículo assuntos da atualidade e relacione-os com a situação da comunidade em que trabalha, traduzindo assim o conteúdo para a realidade do aluno. E uma forma de enriquecer o conhecimento do discente campesino.

Na educação do campo deve se valorizar a realidade do aluno, um método importante é a “narrativa autobiográfica”, aplicando esse método o professor terá a oportunidade de conhecer cada aluno em detalhes que serão importantes na formulação de metodologias de trabalhos, ou seja nos planos de aulas. Além de valorizar é importante divulgar, e uma forma de divulgação é através da aplicação da disciplina de Iniciação Científica, nesta disciplina o professor pode explorar o conhecimento do aluno em relação a sua comunidade, despertar o mesmo no sentido dos problemas comunitários e da curiosidade sobre o mundo da pesquisa científica, expor ou apresentar os resultados e até mesmo publicar em instrumentos de comunicações.

A não-propagação dos saberes tidos como úteis é outra acusação geralmente feita à instituição escolar, o que é previsível em uma sociedade técnico-industrial e capitalista, no qual tudo é medido pelo lucro e pelo utilitarismo. A discussão educacional, porém, não pode se guiar por essa concepção. Porem a educação deve preparar o cidadão para viver nesta sociedade exploratória, daí a importância dos movimentos sociais em conjunto com a educação do campo na formação dos indivíduos do campo. Por que a educação capitalista cria cidadãos para o trabalho e consumo, mas não cria o cidadão político e democrático, e isso é um dos compromissos dos métodos da educação dos movimentos sociais ruralistas.

 

Conclusões

A educação do campo deve ser uma educação diferenciada, mas acima de tudo voltada para a formação de seus sujeitos, afim de que possam interferir em sua realidade na busca de uma vida humana mais plena.

A educação do campo deve ser mais que uma extensão da família ela tem que superar os limites da educação tradicional. Deve despertar no individuo um cidadão filosófico que crie condições de ir além das fronteiras de sua cultura.

 

Referências Bibliográficas

NOGUEIRA, C. M. M.; NOGUEIRA, M. A. “A sociologia da educação de Pierre Bourdieu: limites e contribuições.” Educação e Sociedade. [online] Campinas, abr., v.23, n.78, 2002. [citado 20 Fevereiro 2005], p.15-35. Disponível na World WideWeb:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S10173302002000200003&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0101-7330. Acesso em: 20 de Abril de 2012.