PAZ INTERIOR

Por Lourdes Neves Cúrcio | 08/07/2009 | Poesias

O homem vil e desonesto jamais conseguirá viver em paz consigo mesmo. Todo aquele que se promove e se realiza em detrimento do próximo, um dia certamente virá a ser acusado de maneira implacável pela própria consciência. Bem acima de todos os prazeres momentâneos que o dinheiro é capaz de proporcionar, está o sono do justo, que é simplesmente a inenarrável sensação de poder desfrutar plenamente da verdadeira paz interior. Apenas aquilo que se adquire através do próprio esforço, é digno de mérito; é sempre louvável e gratificante colher os frutos do próprio labor. Portanto, é preferível enfrentar diariamente o desconforto de um coletivo lotado do que ter na garagem veículos luxuosos e até mesmo motorista à disposição, se por conta disso existirem pessoas se privando do necessário para a própria sobrevivência. É bem mais prazeroso passar as férias ou o final de semana dentro de casa do que desfrutar de todo o conforto e requinte de um resort ou de um hotel cinco estrelas em algum local paradisíaco ouvindo a voz da consciência a proferir que tamanha ostentação está sendo proporcionada por aquele ser humano que hoje mal dispõe de um teto digno para lhe servir de abrigo. É inconcebível sentar-se à mesa de um restaurante sofisticado quando se está ciente de que tal aparato não seria possível se ontem o sustento de alguém não tivesse sido tirado abruptamente e que, neste exato momento, esse alguém está sendo privado de um prato de comida para lhe saciar a fome. É desolador o fato de uma pessoa adquirir roupas caríssimas nas lojas de um luxuoso Shopping Center quando seu subconsciente a acusa de ser responsável pelo constrangimento de outra que mal tem o necessário para se vestir. Não é compensador o homem gastar uma fortuna com viagens a lazer enquanto sua consciência o alerta que ele ontem se locupletou e, em consequência disso, muitas de suas vítimas hoje não dispõem de uma mísera quantia para pagar a tarifa do ônibus urbano.

A realidade do mundo atual nos mostra de forma explícita que enquanto alguns se valem de seus cargos, profissões ou de diversas situações para se abastarem ilicitamente, muitos se vêem obrigados a sobreviver com um mínimo que lhes é reservado. Estes são vítimas das garras impiedosas daqueles; é a ganância e o egoísmo se posicionando à frente da comiseração e do espírito de solidariedade. O resultado disso é a predominância de uma incomensurável desigualdade: poucos com muito e muitos sem nada. De um lado, luxo e ostentação; de outro, fome e miséria.

É lastimável que aquele que se beneficia com o prejuízo causado a outrem não sinta dentro de si o pesar de estar sendo responsabilizado pelo sofrimento alheio. Mais cedo ou mais tarde, porém, ele estará sendo automaticamente levado a um atrito consigo mesmo. A verdade é que o futuro é sempre incerto e o dia de amanhã nos reserva sempre uma surpresa. Por isso mesmo, é imprescindível que o dia de hoje seja uma grande e única oportunidade para praticarmos o bem e semearmos apenas boas sementes. É nesse exato momento que entra em cena o sábio e antigo provérbio: "Colheremos no futuro os frutos oriundos das sementes que ontem plantamos e que hoje cultivamos."