PARTE CDXXXII – “FESTA NO BORDEL (CASO ‘MARLENE RICA’- 28.11.2003): 'FURACÃO' NO ESTADO E AS DECLARAÇÕES DE ADELSON WESTRUP”.
Por Felipe Genovez | 08/06/2018 | HistóriaPROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA
Data: 05.02.2004:
Apesar dos fatos terem ocorrido no final do mês de novembro de 2003, somente vieram a público no dia 05.02.2004:
“Blasi manda apurar festa em bordel – Secretário da Segurança cria uma comissão para averiguar as denúncias contra policiais - O secretário da Segurança Pública e Defesa do Cidadão determinou ontem a formação de uma comissão independente para apurar a denúncia segundo a qual um oficial do alto comando da Polícia Militar teria obstruído averiguação de denúncia de exploração sexual infanto-juvenil em um prostíbulo de Joinville, onde ele se encontrava supostamente com colegas no momento da chegada de uma força-tarefa que cumpria ordem judicial. O fato teria acontecido no final de novembro, em Joinville. Mesmo sabendo da denúncia desde dezembro, João Henrique Blasi tomou a iniciativa ontem, depois que o DC noticiou o caso. Em um comunicado de cinco linhas assinado por um assessor, o secretário diz que ‘os fatos estão sendo apurados’ e que ‘se comprovada a ocorrência de transgressão disciplinar será aplicada a sanção cabível’ (DC, 5.2.2004)”.
“Até o fim - O fato de dirigentes das polícias Civil e Militar resolverem relaxar numa casa de prostituição, em Joinville, é assunto que diz respeito a cada um deles. Terão que se explicar em casa. Impedir uma ação da Vara da Infância, que apurava a suspeita de menores no bordel, é gravíssimo. Procede o empenho do Ministério Público. Por que um oficial superior da PM, que estava na festa, demoveu seu subordinado de ingressar no bordel? Que não prevaleça a impunidade” (DC, Paulo Alceu, 5.2.2004).
Horário: 16:00 horas:
Resolvi dar uma chegada na Delegacia de Polícia de Araquari porque precisava conversar com o policial responsável pela Delegacia de Polícia. Logo que cheguei Adelson Westrup veio me recepcionar ansioso para saber das novidades da Capital. Depois fomos para o seu gabinete e Adelson sentou na sua cadeira com aquele seu sorriso que mais lembrava um clérico abastado, como seu irmão que era “Bispo”. Depois das saudações fui direto ao assunto:
- “E daí Adelsn como é que está esse ‘rolo’ do bordel? Quem é que estava na festa?”
Adelson como policial farejador, residente em Joinville e em contato com vários policiais, certamente que sabia de tudo que se passa na região. foi mais direto do que eu esperava:
- “Ô doutor, então o senhor já sabe. Estava toda a cúpula lá. Aqui em Joinville tem duas casas de esquema. Todo mundo sabe. Aqui falou em ‘Marlene rica’ e Marlene pobre’ todo mundo já entende tudo...”.
Interrompi:
- “Isso aí eu sei”.
Adelson continou:
- “O meu primo é policial militar e me contou tudo. Ele trabalha na Polícia Rodoviária Estadual. Doutor, no dia vinte e nove de novembro era a passagem de comando na Polícia Rodoviária. O sargento tomou posse naquele dia. Imagina, uma sargento no comando? Mas como é a terra do governador eles quiseram fazer uma festa. Quiseram prestigiar a cidade. O meu primo estava contando que a festa já estava toda arranjada. Doutor, o senhor sabe quem foi que preparou toda a festa?”
Respondi que não sabia e Adelson parecendo bastante entusiasmado aoo tratar do assunto continuou:
- “Foi o baixinho... Foi o doutor... Ele é que montou todo o esquema na casa da ‘Marlene Rica’. O senhor imagina: O Coronel Caminha nunca trabalhou em Joinville e não conhecia nada. O Secretário Blasi também não conhecia nada aqui em Joinville. Ele também nunca trabalhou aqui. Então, quem é que trabalhou aqui e conhecia a ‘Marlene Rica’? O doutor... trabalhou aqui e comandou a ‘Dic’. Sabe a ‘Dic’? Pois é, ele é que fazia todas as investigações aqui na região. O baixinho frequentava direto a casa da ‘Marlene rica’ e mandava lá. Doutor, essa casa é famosa em Joinville. Lá não entra qualquer um. A pessoa chega lá e eles olham e se não aprovarem a pessoa ela não entra. É uma casa totalmente reservada. Fica ali na rua Santos Dumont. Eu e a minha esposa à noite costumamos caminhar por ali e passamos em frente da casa da ‘Marlene’. Eu brinco até com a minha esposa. O nome dela também é Marlene e quando a gente está caminhando na frente da casa... Olha, doutor, a casa dela é reservada só entra lá gente grande. Quando o pessoal da ‘Embraco’ quer fazer uma festa de alto nível, quando eles querem recepcionar pessoas importantes de fora, eles telefonam para a ‘Marlene’ e ela prepara tudo. No dia vinte e nove foi assim, o baixinho telefonou para a Marlene e pediu que ela preparasse a recepção...”.
Interrompi, surpreso a riqueza dos detalhes e argumentei:
- “Puxa, então o (...) até que está se saindo bem. Por enquanto só sobrou para o Coronel Caminha. O nome dele nem aparece...”.
Adelson prosseguiu:
- “Ah, sim, o baixinho é esperto, foi ele que preparou tudo. Mas o senhor pode ter certeza que aquela diligência foi pura coincidência. Aconteceu justamente porque estava programado para aquele dia uma busca na casa da ‘Marlene Rica’, foi pura coincidência, não foi nada armado não, e pegaram eles no flagra...”.
Meio que incrédulo perguntei:
- “Será Adelson? Eu acho que houve uma ‘armação’, impossível que justamente naquela noite...?”
Adelson insistiu que foi pura coincidência, nada de delatores e que foi muito azar da cúpula da Segurança Pública estar na hora errada e no local errado.
Horário: 22:00 horas:
Estava em São Francisco o Sul fui comer um aperitivo no restaurante do “Pedrinho” localizado na praia da Enseada (São Francisco do Sul). Na saída percebi que ‘Pedrinho’ (proprietário do estabelecimento) que já me conhecia queria me perguntar alguma coisa:
- “E daí doutor, que coisa esse negócio envolvendo o pessoal lá de Florianópolis, heim? O senhor tá sabendo de alguma coisa?”
Acabei fazendo uma brincadeira com ‘Pedrinho’:
“Ah, sim, eu também estava lá”.
Os olhos do ‘Pedrinho’ ficaram acesos, seu rosto ficou rubro e um sorriso estampava o quanto de curiosidade que foi saciada naquele instante:
- “Sim, estava todo mundo lá”.
Pedrinho interpelou:
- “O que? Então o senhor também estava lá na festa? Doutor eu vou lhe contar uma coisa, eu conheço aquela mulher. Ela já derrubou muita gente...”.
Depois, tratei de desmentir a minha brincadeira.
Comandante-Geral da PM estava na festa?
“Proteção - Essa conversa de ‘afastamento temporário’ é só para inglês ver. O coronel Paulo César Caminha não reassume nunca mais. Sua permanência ficou absolutamente insustentável. Até por suas próprias declarações, na edição de ontem de ‘A Notícia’. Caso típico de autoimolação, evitando assim consequências mais drásticas” (A Notícia, Cláudio Prisco, 5.2.2004).