PARTE CDXLVII – “FESTA NO BORDEL (O CASO ‘MARLENE RICA’ - 28.11.2003): “O SECRETÁRIO JOÃO HENRIQUE BLASI, O PRESENTE E FUTURO”.

Por Felipe Genovez | 12/06/2018 | História

PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 09.03.2004, horário 16:00 horas – “E o nosso velho Delegado Braga”:

“Polícia apura fraudes em bingos  - Apostadores que ganharam valores muito acima da média e outros que venceram diversas vezes num curto espaço de tempo são os principais indícios da existência de crime de lavagem de dinheiro nos bingos do Rio. Em três anos de investigação, a Polícia Federal (PF) descobriu casos como de um jogador que, em poucos meses, teve cartelas premiadas em sorteios acumulados e recebeu em torno de R$ 200 mil em cada prêmio, somando quase R$ 1 milhão no total, segundo registro da contabilidade das casas de jogos. Chamados a depor, muitos apostadores disseram que ganharam valores bem menores do que os registrados pelos estabelecimentos. Houve casos ainda, segundo o delegado Hebert Reis Mesquita, da PF, em que os supostos vencedores disseram nunca ter ido a um bingo. Há outros que confirmaram ter tido a ‘sorte’ de receber quantias fora do normal. Mesquita informou que os valores de prêmios acumulados chegavam, em 1999 e 2000, a, no máximo, R$ 100 mil” (DC, 9.3.2004).

Horário: 16:00 horas:

Estava na sala do Delegado Tim Omar e acabei fazendo a revisão de uma proposta de “Deliberação” da Comissão/Grupo sobre o relatório final da Comissão de Deputados encarregados da Segurança Pública.  Wilmar Domingues havia redigido a proposta.  Tim fez um desabafo vaticinando que não haveria pesquisa alguma, conforme já tinha autorizado o Chefe de Polícia, no sentido de se colher a opinião dos policiais acerca de suas aspirações institucionais para fins do anteprojeto de lei orgânica. Ponderei que Tim não poderia deixar o cargo enquanto não realizasse aquela pesquisa e que isso era uma questão de honra, uma dívida. Tim ficou sério e argumentou:

- “Mas o Dirceu perdeu até o papel”.

Argumentei:

- “Não interessa, ele já havia autorizado. Pega o Valquir aí e manda brasa”.

Depois Tim reiterou o convite para criarmos o “Sindicato dos Delegados”. Procurei dar um banho de água gelada nesse assunto, fazendo ver que não adiantava dividir mais ainda a classe. Falei para ele também da propensão que tem o homem de se apaixonar por “coisas” nesta vida, a procura permanente por fontes de emoções e que a vida era muito breve, pessoas acabavam sofrendo, nossas famílias, nossos amigos..., todos nós sofríamos. Tim, já entrado nos sessenta anos, ficou um pouco estático com minhas considerações, talvez, porque não encontrou o “eco” certo. 

Horário: 18:30 horas:

Fui conversar com Braga e ele reiterou que soube que “Dirceu” só deixaria o cargo se quisesse.  Braga argumentou que diversos nomes andavam “quentes” para o cargo de Chefe de Polícia.

Data: 14.03.2004 – “A entrevista do Secretário João Henrique Blasi”:

“Eu não quero fazer um vôo cego’ - Entrevista: João Henrique Blasi, secretário da Segurança Pública - Candidato declarado do governador Luiz Henrique para concorrer pelo PMDB da Capital, o secretário da Segurança João Henrique Blasi, mantém sua candidatura ao pleito de outubro mesmo após inúmeras pedras no caminho. Enfrentou o crescimento dos homicídios, o escândalo do bordel, o descontentamento de outro pré-candidato, o deputado Edison Andrino. Mas pretende se amparar nas pesquisas eleitorais. Na última quinta-feira ele falou ao DC sobre todos esses problemas e adiantou as estratégias da sua segunda tentativa de ser prefeito da Capital - em 2000 ele ficou em terceiro lugar, perdendo para Angela Amin (PP) e Sérgio Grando (PPS): (...)  DC - O que o senhor achou da primeira pesquisa do Datafolha, que apontou o candidato Dário Berger (PSDB) como favorito? Blasi - Eu sempre respeitei muito as pesquisas. Acho que elas balizam um posicionamento, mas elas retratam o que acontece naquele momento. Nós mesmos encomendamos uma pesquisa eleitoral. É importante para que não se faça um vôo cego.(...) DC - O senhor é contra ou a favor de bingos e caça-níqueis? Blasi - Houve um posicionamento equivocado do governo federal nesta questão. Não se pode equiparar de maneira simplista os bingos aos caça-níqueis. A meu ver, são duas questões distintas. Um bingo que funciona com alvará, legalizado, com todas as licenças, gerando emprego, pode funcionar. Agora, o caça-níquel eu sou contrário. O governo se excedeu quando generalizou a proibição a todos os bingos. DC - Porque é contra o caça-níquel? Blasi - Porque ele funciona indiscriminadamente em todo o local, a toda hora, próximo a escolas, em bares, sem nenhum controle, com crianças participando e porque há inúmeras máquinas adulteradas. (...) DC - O aumento no número de homicídios não atrapalha a sua candidatura? Blasi - Em números absolutos alguns tipos criminais aumentaram sim. Mas em números relativos, ou seja, comparando na proporção da população com os incrementos ocorridos em muitos anos anteriores se verifica uma tendência a queda. Isso é o resultado de uma política de colocar o policial na rua. DC - Mas as pessoas querem menos homicídios. O fato de estar numa pasta polêmica lhe garantiu o reconhecimento da população? Blasi - O que me satisfaz muito é andar pelas ruas de Florianópolis e colher depoimentos expontâneos de reconhecimento ao trabalho. Claro que com muita dificuldade, com falta de recursos, que é natural, com falta de efetivo, carência de pessoal, mas houve o reconhecimento das pessoas às ações que foram feitas. DC - No que o caso bordel atrapalhou sua candidatura e o que o senhor está fazendo para reverter a situação? Blasi - Eu não preciso reverter nada. As providências que precisavam ser tomadas foram feitas, que foi o afastamento do comandante, a instauração do processo administrativo e o processo segue dentro da sua normalidade. Eu tenho a consciência absolutamente tranqüila e toda a eleição é um julgamento popular, que se faz em cima de um série de aspectos. Em cima da vida das pessoas, do que ela é, das suas raízes, do seu vínculo com a cidade, aquilo que ela fez de positivo, a seriedade ao longo de sua vida. Tudo isso vai ser analisado no pleito. DC - Mas pelo fato do coronel Paulo Caminha, que assumiu estar no bordel, ser o comandante geral da PM, isso não respingou na imagem da segurança pública, inclusive na sua? Blasi - Eu quero reafirmar o meu apreço a polícia de Santa Catarina. Estou há um ano e pouco a frente da secretaria, trabalhando todos os dias, intensamente com a polícia civil e com a militar. Posso dar um testemunho de orgulho e satisfação das polícias que nós temos. DC - Com seu retorno à Assembléia, quem será o seu substituto na secretaria? Blasi - A prerrogativa da nomeação é exclusiva do governador” (DC, 14.3.2004)

Era bastante singular a capacidade que demonstrava o Secretário Blasi de permanecer imunizado sobre o que acontecia no âmbito da sua Pasta e dar o devido encaminhamento com segurança e tranquilidade. O problema de tudo isso foi o fato de que realmente sobrou para o “Coronel Caminha” (que parece passou a sofrer os reveses...). Os antigos puxa-sacos, bajuladores, fieis escudeiros..., simplesmente desapareceram?

“Coronel  incrimina o ex-comandante da PM - O ex-comandante da Polícia Militar, coronel Paulo Conceição Caminha, foi acusado ontem de ter sido o responsável pela correção das provas do concurso para sargento da PM dentro das dependências da corporação, contrariando o edital que regulamentava o exame e levando o Ministério Público Militar a determinar sua total anulação. O promotor de Justiça Sidney Eloy Dalabrida afirmou que, em depoimento à tarde, o coronel Valmir Moreira Francisco, que foi nomeado por Caminha presidente da ‘comissão de correção’, declarou que as provas foram checadas pela equipe formada por seis militares por ordem expressa do então comandante. "O coronel Moreira disse que, mesmo sabendo que contrariava o edital, o coronel Caminha mandou as provas serem corrigidas na Polícia Militar, o que não era permitido", afirmou Dalabrida. De acordo com o promotor, Moreira garantiu que a comissão foi obrigada a corrigir as provas, sob risco de punição caso contrariasse a determinação do então comandante-geral. ‘Ele (Moreira) disse que, se dependesse dele, jamais teria feito a correção’, destacou Dalabrida, que pretende tomar o depoimento de Caminha nos próximos dias. O promotor da Auditoria Militar avisou que também vai questionar o ex-comandante da PM sobre as denúncias que recebeu no início da semana de uma testemunha-chave. Quebra de sigilo telefônico vai esclarecer suspeitas.  Conforme o promotor, além de prestar depoimento formalizando uma série de acusações, inclusive de suposto desvio de verba da corporação, o informante entregou uma fita em que aparece uma voz que, conforme alegou ao promotor, pertenceria a Caminha. Na gravação, de acordo com Dalabrida, o coronel estaria conversando a respeito da aprovação de um filho no concurso com o sargento Protásio Anatólio Vicente, psicólogo da corporação e membro da comissão de correção. Este, por sua vez, teria pleiteado a aceitação de uma filha e do genro. O sargento prestou depoimento na terça-feira e negou que tenha mantido qualquer contato com Caminha durante a execução do concurso” (DC, 18.3.2004).