PARTE CDXIII – “A ‘UNIFICAÇÃO’ DAS CORES DAS VIATURAS - A FESTA DO SECRETÁRIO BLASI E O CAPITÃO ‘MOSCATEL’’.
Por Felipe Genovez | 11/06/2018 | HistóriaPROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA
Data: 08.09.2003 – “Delegado Zulmar Valverde e o Deputado Carlito Merss”:
“Definição - O delegado Zulmar Valverde (PFL), em Joinville, está a cada dia que passa mais próximo do PT. Já é chamado pelo deputado federal Carlito Merss como ‘meu companheiro’” (A Notícia, Antonio Neves - Alça de Mira, 8.9.2003).
Data: 09.09.2003 – “Delegado Marcucci e o Deputado Nilson Gonçalves:
“Tucanos - A direção dos do PSDB pretende garantir a vitória na maior cidade de Santa Catarina na eleição de 2004. Ontem, a executiva estadual tucana esteve em Joinville. O presidente do PSDB local, Carlos Roberto Caetano, e o presidente de honra, prefeito Marco Tebaldi, recepcionaram o presidente estadual do PSDB, Dalírio Beber, o secretário-geral, Marcos Vieira, o tesoureiro Luiz Antônio Ramos e a presidente do PSDB Mulher, Célia Fernandes. O encontro ocorreu na Câmara de Vereadores, a partir das 19 horas, e contou com o senador Leonel Pavan, com constantes presenças na cidade ultimamente, que tem prestigiado ações políticas e administrativas. Deputado Nilson Gonçalves, que tem feito filiações, como a do delegado Marco Aurélio Marcucci, também compareceu. Tebaldi relatou as ações desenvolvidas em Joinville, o crescimento do partido, o rumo das coligações com outras siglas e costura para efetivação de uma aliança até com 12 legendas” (A Notícia, Antonio Neves - Alça de Mira, 9.9.2003).
Horário: 16:00 horas:
Na "Assistência Jurídica" a policial Khrystian Celly me avisou que o Chefe de Gabinete Delegado Peixoto havia solicitado que ela desse uma olhada na legislação que tratava sobre as cores das viaturas da Polícia civil. Ao perguntar para mim se tinha conhecimento de algum decreto, portaria, resolução fui consultar meu banco de dados, informei que a matéria estava regulada pela Resolução n. 003/DGPC/SSP/2000.
Esclareci, ainda, que numa entrevista que fiz com o ex-Secretário da Segurança Ary Oliveira o mesmo informou que foi na sua gestão que ele trocou as cores das viaturas da Polícia Civil de preto para azul, sem que fosse baixado qualquer ato normativo a respeito do assunto. Soube por meio de Khrystian que a ordem do Secretário Blasi era que as viaturas das Polícias Civil e Militar tivessem as mesmas cores, cujo objetivo era atender o “Plano Nacional de Segurança” para assegurar o repasse de verbas para o Estado.
Fiquei curioso. Mais tarde Krystian recebeu um novo telefonema de Peixoto que mandava perguntar pela interlocutora se o assunto deveria ser tratado por meio de portaria, resolução, ordem de serviço, também, queria saber que iria assinar o ato. Orientei Khrystian dizer que a matéria deveria ser tratada no mínimo por meio de decreto do Governador. Em seguida a policial ligou para o Delegado Peixoto repassando essas informações. Pensei no Delegado Tim Omar, em Valquir. Brinquei com Khrystian que me disse que na frente do prédio da Chefia de Polícia havia uma viatura estacionado e que já tinhas as novas nas cores da Polícia:
- “Sim, as viaturas vão ser todas nas cores da ‘Schinca’”, numa alusão a cerveja conhecida”.
Data: 11.09.2003: “Delegado Zulmar Valverde muda de partido?”
“Discurso - O vereador Zulmar Valverde (PFL), com um pé praticamente fora do partido, ao ser perguntado se já não estava com um discurso petista respondeu que de há muito tempo já vinha exercitando uma postura de vanguarda, na defesa da cidadania. Dificilmente fica no PFL. O vereador vive sendo paparicado por lideranças do PT e do PMDB” (A Notícia, Antonio Neves – Alça de Mira, 11.09.2003).
Data: 15.09.2003, horário: 09:00 horas:
Estava retornando de um café (Ceisa Center) para a Chefia de Polícia e encontro Dirceu Silveira entrando no elevador. Já tinha percebido pela janela de vidro que ele havia me cumprimentado e não tinha como fugir da sua companhia, até porque poderia parecer deselegante. Cheguei próximo ao elevador e disse:
“Vou aproveitar a carona contigo...”.
Não era usual eu utilizar o elevador, mas naquelas circunstâncias... Cheguei rápido no primeiro andar e nada passou dos sorrisos amistosos e contidos especialmente em razão da minha forte gripe.
Data: 16.09.2003 – “Zulmar Valverde é atraído pelo ‘PT’”:
“Valverde-Carlito - Na festa de aniversário do deputado federal Carlito Merss (PT), comemorada no sábado que passou numa recreativa da cidade, uma das presenças notadas foi a do vereador Zulmar Valverde (PFL). Comentários dão como certa a saída do vereador do partido rumo ao PMDB ou PT. Presença de Valverde na festa de Carlito é muito sintomática e dá uma sinalização do que poderá acontecer se o vereador realmente deixar o PFL” (A Notícia, Antonio Neves – Alça de Mira, 16.9.2003).
Data: 16.09.2003, horário: 16:00 horas:
Estava na sala do Delegado Tim Omar e logo que entrei ele estava sentado no seu computador acessando provavelmente o Besc on line. Essa era a segunda vez que havia pego ele naquela situação, conferindo saldos, aplicações financeiras, com talões de cheques ao lado... Logo que Tim me viu entrar foi dizendo:
- “Ô Felipe!”
Eu repeti aquilo porque achava engraçado seu jeito de invocar meu nome:
- “Ôôô Tim!”.
Sentei e fui perguntando se ele queria conversar alguma coisa especial comigo (esteve no dia anterior me procurando na “Assistência Jurídica”). Ele disse que não era nada. Tim argumentou:
- “Não fostes ontem a festa de aniversário do Secretário, não?”
Respondi:
- “Olha, não fui convidado”.
Tim ficou meio que sem jeito e disse:
- “Mas nada impedia que aparecesse por lá”.
Imediatamente desmenti e lembrei que havia sido convidado, mas não quis ir. Tim fez algumas revelações:
- “Cheguei lá estava aquele Murilo Canto no microfone falando para o pessoal: ‘calma, pessoal! Vamos organizar’. Felipe, era tanta gente. Eu encontrei o Peixoto lá. Também estava o Eskudlark, sabia que ele vai assumir a Delegacia Regional de Balneário Camboriú? Conversei um pouco com o Peixoto. Não dava. Precisava ver como tinha gente lá. Aquele p. do Murilo falando aos gritos com o Blasi que estava o tempo todo conversando com o Moscatel, um Capitão da PM. Dizem que o Blasi é assim com o Moscatel. Tu conheces o Moscatel?”
Fiquei meio surpreso, pois nunca tinha ouvido falar nesse tal de “Moscatel” e perguntei para Tim quem era e ele esclareceu:
- “Ele hoje é da Polícia Rodoviária. Eu acho que ele chegou a Coronel. Ele é assim com o Blasi. Eu queria conversar com o Secretário. Fui lá só para isso. O Blasi andou dando uma declaração na imprensa que era contra o ‘projeto do desarmamento’ e eu mandei e-mail para um monte de gente citando ele como exemplo. Aí saiu uma matéria na semana passada sobre o assunto e ele foi entrevistado e disse que é favorável ao projeto do desarmamento. Eu queria pegar ele lá e dizer: ‘mas como Blasi que tu me faz uma coisa dessas, mandei...’. Mas não deu, o ‘Moscatel’ (Capitão Mocarzel?) não largava o homem. E aquele ‘p.’ do Murilo gritava no microfone: ‘Vem Secretário, vem, seus familiares lhe aguardam...’. Olha, queres saber de uma coisa, levei meu um quilo de alimento perecível e deixei lá, acabei ficando alguns minutos e caí fora...”.
Perguntei para Tim quem iria para o lugar de Maurício Eskudlark e ele respondeu:
- “É o Aldo”. Tive que conter minha surpresa e perguntei: ‘O Aldo Prates?’”
Tim confirmou e eu lamentei, não só porque se tratava de um Delegado aposentado... Tim ainda lembrou que estavam querendo recriar a Diretoria de Polícia Metropolitana. Argumentei que deviam estar querendo copiar a Polícia Militar e criar as Diretorias Metropolitanas nas grandes regiões... Tim confirmou que queriam copiar a Polícia Militar. Acabamos conversando acerca da politicagem no preenchimento de cargos. Tim perguntou:
- “Eu ontem estava reparando lá embaixo, é ‘assessoria jurídica’? Existe o órgão? Então por que não nomeiam o titular?”
Aproveitei para registrar:
- “Nunca Tim eu pedi que algum político interferisse por mim para ser indicado para cargo comissionado...”.
Tim argumentou:
- “Eu também Felipe...”.
Argumentei que a situação dele era diferente porque se tratava de um Delegado aposentado. Acabei relatando para Tim sobre uma possível nomeação minha para esse cargo:
- “Eu queria pegar férias, licenças... por causa da minha construção lá no norte do Estado. Fui conversar com o Dirceu, isto foi dia seis de junho. Argumentei que precisava me afastar e o Dirceu foi dizendo que não era possível. Ele havia indeferido meu pedido de licença-prêmio e observou que era para que eu conversasse pessoalmente com ele. Procurei o Dirceu e ele veio me dizendo que não era possível, que precisava de mim, que fez uma avaliação de vários Delegados e não encontrou ninguém com o meu perfil. Eu disse para o Dirceu que já tinha quase quatorze anos de “assistência jurídica’, sabe como é, né Tim? O Dirceu disse que eu tinha que ser nomeado para o cargo de “Assistente Jurídico” e que era uma questão até de respeito a minha pessoa, a minha contribuição. Eu não aceitei, mas concordei em ficar trabalhando designado, mas fiquei esperto porque o Braga disse que foi surpreendido com sua nomeação, que não pediu e nem esperava, quando foi ver estava no Diário Oficial. Passados algum tempo eu retornei lá para conversar com ele sobre minhas férias, não estava aguentando mais os meus problemas particulares. Comentei com ele que se acaso viesse mesmo ser nomeado para o cargo de ‘Assistente Jurídico’ que então eu permaneceria trabalhando... O Dirceu disse que minha nomeação seria publicada com efeito retroativo a março...”.
Tim interrompeu:
- “Sim, e pode isso?”
Insisti que sim, pois eu estou trabalhando desde que ele havia assumido a Chefia de Policia e que atualmente o cargo estava em vacância. Tim ainda fez um sinal argumentando que a minha nomeação deveria estar engavetada na mesa do Secretário Blasi... Tim ainda tentou argumentar que tem tanta coisa errada e que nesse jogo político valia tudo, que eles queriam que fosse lá pedir favor para eles... Eu não concordei e novamente argumentei:
- “Eu sei que existe o jogo jogado, mas se cada um de nós não fizermos a nossa parte nesse jogo, nunca os nossos princípios serão respeitados, ninguém vai consertar isso”.
Nisso chegou o Delegado Braga e eu fiz sinal de que estava saindo. Braga fez uma encenação dizendo que nem iria entrar porque só ele chegou eu já estava saindo. Acabou ficando postado em pé do meu lado segurando minha mão em sinal de que estava me algemando. Como houve interrupção do nosso conversa, preferi me guardar em silêncio. Depois de alguns instantes alguém chegou na sala abriu a porta às minhas costas e Tim ordenou que a pessoa entrasse. Percebi que o vulto continuava junto a porta calado observando, até que resolvi me virar e qual não foi a minha surpresa em reparar que era Dirceu Silveira em carne e osso segurando a maçaneta da porta e externando aquele seu sorriso incomum. Retribuí e Braga foi dizendo:
- “Encontro com mais de dois é complô!”
Eu me virei e deixei escapar outro sorriso em sinal de cumprimento e boas vindas. Dirceu entrou e foi dizendo que precisava conversar comigo e que já tinha me procurado. Ele pegou uma bolacha que estava acondicionada num recipiente de vidro em cima do balcão da sala e pediu alguns instantes e foi até seu gabinete buscar um documento que queria me mostrar. Fiquei aguardando uns instantes e Dirceu retornou com um documento nas mãos e abriu numa página ao mesmo tempo que desabafava:
- “Olha só como esse pessoal se mete na nossa área, dá uma lida nisso aqui, eles querem fazer um convênio conosco”.
Dirceu foi lendo com certa pressa e eu tive a noção de que se tratava de alguma coisa ligada à área de Jogos e Diversões do Delegado Braga. Acabei ficando com o material que tinha uma observação escrita por Chefe de Polícia:
“À Assistência Jurídica para crítica”.
Dirceu interpelou Tim a acompanhá-lo até um local onde deveria ocorrer algum evento. Como estavam com pressa me levantei e acompanhei Dirceu e Tim até o elevador. Ao descermos conversei com Dirceu e afirmei:
- “Eu acho que vou precisar pedir umas férias. Estou com a minha construção lá emperrada e só preocupações. Como ainda não saiu a minha nomeação...”.
Dirceu não disse nada e o elevador havia chegado no primeiro andar, deixei os dois para trás sem certeza de nada, mas convicto de que fiz a coisa certa, havia chegado a hora de me afastar...