PARTE CDLIX – ‘‘DELEGADO FLARES DO ROSAR: ENGAJAMENTO A PROJETOS INSTITUCIONAIS E AS ESTRELAS QUE BRILHAM E AS QUE SE APAGAM?”
Por Felipe Genovez | 18/06/2018 | HistóriaPROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA
Data: 30.01.2007, horário: 10:00 horas:
Estava na Delegacia de Polícia da Comarca de Videira e fui me avistar primeiramente com o casal de Delegados Luiz Felipe Del Solar Fuentes e Priscila Cemim. Em síntese, a conversa girou em torno da situação da Polícia Civil na região: um verdadeiro caos. Relataram as deficiências estruturais, a carência de policiais... Também deram ênfase aos policiais corruptos existentes na Delegacia da Comarca. Priscila revelou que de manhã cumpria expediente na Delegacia de Videira para assessorar seu marido. Os dois relataram que o policial mais complicado era o “B.”... Relatei a eles o projeto de se formar uma chapa para assumir a Associação dos Delegados de Polícia, a partir de uma chapa. Citei que o candidato de situação era o Delegado Régis (aposentado) e o outro o Delegado Marlus Malinverne. Relatei que um nome cacifado seria o do Delegado Regional de Videira Flares do Rosar.
Num primeiro momento o casal de Delegados balançou a cabeça, porém, depois com os meus argumentos acabaram concordando (não sei se para me agradar ou me mandar embora...). Observei que precisávamos de um Delegado com o perfil de Flares, isto é, sem resistências, experiência política, habilidade, competência, penetração e canal aberto de negociação nos altos escalões do governo do PMDB. Reiterei que a grande prioridade nossa seria deixarmos a Segurança Pública e partirmos para uma instituição autônoma.
O Delegado Luiz Felipe anotou que os salários encontravam-se bastante comprometidos, pois há anos estávamos sem reajustes salariais e muitas categorias funcionais de menor expressão já haviam superado os vencimentos dos policiais. Luiz Felipe citou o caso de um ex-Investigador policial que era seu subordinado (De Carli), depois que pediu exoneração passou no concurso do Ministério Público do Rio Grande do Sul, para carreira de segundo-grau, com um salário quase equivalente a Delegado Substituto do Estado de Santa Catarina. Argumentei que nossa Associação dos Delegados praticamente havia nos abandonado, estavam perdidos e que a cúpula da instituição fazia de conta que não sabia nada...
Horário: 10:30 horas:
Estava na Delegacia Regional de Videira, em cujo local estava sendo aguardado pelo Delegado Flares do Rosar. Entrei direto no seu gabinete e fui lhe cumprimentando. Imediatamente entramos nos assuntos institucionais e Flares foi fazendo um desabafo:
- “A coisa está muito ruim, a impressão que a gente tem é que parece que a Polícia Civil está sendo extinta. Estamos sendo pressionados por todos os lados. De um lado o ‘MP’ e do outro a ‘PM’, é muita pressão!”
Interrompi para comentar que precisávamos reagir, fazer alguma coisa. Relatei a Flares sobre a proposta de “emenda constitucional” de criação da “Procuradoria-Geral de Polícia”, sobre a necessidade da Polícia Civil se desvincular da Segurança Pública, do segundo grau na carreira, dos cargos de Procuradores… Flares ouvi atentamente e completei:
- “Bom, um dos caminhos é nós fazermos uma chapa para concorrer à Adpesc, tudo passa por lá, qualquer reação, mas parece que o pessoal está meio perdido…”.
Flares ouviu atentamente e concordou, a seguir completei:
- “Bom, eu estive com o Dirceu Silveira lá de Joinville e começamos a procurar um nome com perfil para encabeçar uma chapa e acabamos no teu nome”.
Flares se mostrou surpreso e ao mesmo tempo estimulado:
- “Olha, realmente é tentador. Eu estou sendo cotado aqui para ser candidato a Prefeito de Videira, estou também com o nome para permanecer à frente da Secretaria Regional de Desenvolvimento. Realmente seria uma boa opção. Eu tenho dois filhos fazendo faculdade em Florianópolis, tenho apartamento, então não teria problema de estar lá, a questão é a licença especial, eu não sei se teria direito, você que conhece a legislação o que achas?”
Respondi:
- “Bom, a legislação existe, a questão está no número de sócios. Uma entidade com quatrocentos sócios, por exemplo, pode liberar um membro da diretoria.. Então, se a Adpesc tem trezentos e cinquenta e um sócios que se faça uma exposição de motivos e se peça ao governador que autorize, pois por causa só de uns vinte ou trinta eles não vão indeferir…”.
Flares pareceu ficar mais encorajado, argumentando que não queria se distanciar da sua base eleitoral porque pretendia ser candidato em 2010. Também acrescentou que a Associação seria uma boa maneira de captar recursos para a sua campanha a Deputado Estadual. Expliquei a proposta de retirar a Polícia Civil da Segurança Pública, também a proposta de criação da “Procuradoria-Geral de Polícia”. No final da conversa Flares argumentou que conhecia meu nome bastante, principalmente em razão do ‘Estatuto da Polícia Comentado’ e que imaginava que eu era um “velhinho”, surpreendendo-se quando me conheceu. Lembrei a Flares que faria contatos com vários Delegados lançando a ideia do seu nome. Relatei alguns colegas como do Delegado Badalotti de Concórdia, dentre outros. Flares anotou meu celular e disse que pensaria a respeito, que faria contato.
Data: 13.02.2007, horário: 09:00 horas:
Estava na “Gerência de Orientação e Controle” e a policial Ieda me passou uma ligação do doutor Ademar Rezende (ex-Delegado-Geral e advogado da Adpesc). Estava com a policial Patrícia me aguardando e ela percebeu que era hora de se afastar. Fiquei surpreso com a ligação de Ademar, pois nunca tinha me ligado, ou se ligou foram raras às vezes, e provavelmente deveria estar em busca de algum conselho, formular algum questionamento, repassar alguma informação, enfim... Ademar começou narrando uma piada sem pé nem cabeça, mas cujo preâmbulo já era bastante sugestivo:
- “Eu vou te contar uma piada, eu não sei se tu conheces?”
Do outro lado da linha, meio que sem entender, fui concordando:
- “Hurrummmm?”
Ademar continuou:
- “Não espalha, não espalha!”
A piada que Ademar contou não tinha pé, nem cabeça, mas mesmo assim eu me esforcei para ouvir e dizia respeito a um vereador... Depois, Ademar fez um comentário objetivo:
- “Eu queria te dizer que tu vais ficar aí na Corregedoria. É só para ti saberes que tu és um dos que vai ficar”.
Ouvi cautelosamente a informação e deixei a coisa fluir. Ademar em seguida me pediu a opinião a respeito dos policiais civis prestando serviços no Instituto- Geral de Perícias (os Peritos conseguiram deixar a Polícia Civil no ano de 2005, criando o “IGP”...), ou seja, se os mesmos eram obrigados a trabalhar naquele órgão contra a vontade? Argumentei que não era possível se manter policiais civis à disposição de outros órgãos contra a vontade, isso seria um constrangimento, um desvio de função, uma ilegalidade. Essa era a mesma opinião de Ademar que revelou que sua filha que era Escrevente Policial no “IGP” estava sendo pressionada pela direção do órgão. Ademar comentou que sua filha chegou a andar chorando. Terminamos a conversa e eu aproveitei para falar da proposta de criação da “Procuradoria-Geral de Polícia”, do segundo grau na carreira de Delegado, dos cargos de Procuradores e que essa talvez fosse uma das únicas alternativas que tínhamos para que os policiais civis pudessem sonhar com melhores dias. Ademar concordou com a ideia e disse que nas viagens pelo interior do Estado também pretendia conversar com Delegados.
Horário: 15:00 horas:
Repassei a policial Patrícia Angélica dois documentos para que a mesma fizesse o seu encaminhamento à Chefia da Polícia. Um deles encaminhava o “plano de metas para o ano de 2007”. O outro era um ato do Procurador-Geral de Justiça estabelecendo normas a respeito do controle externo da atividade policial. Logo em seguida, quando estive na sala de Patrícia Angélica a mesma me disse que estava bastante nervosa porque foi até o Setor de Protocolo e a policial Marisete (muito ligada a policial Delci e, também, uma das pessoas fieis ao ex-Gerente e Delegado Sérgio Maus) não quis registrar a saída dos dois documentos à Chefia de Polícia, com a explicação de que eram para passar pelo protocolo da “CPC” e não pelo protocolo da Gerência de Orientação e Controle. Perguntei para Patrícia se no outro documento que encaminhei até a Chefia de Polícia se também não passou pelo protocolo. Ela respondeu afirmativamente e que aquilo era coisa da Marisete, aparentando estar bastante sentida com o tratamento dispensado a ela. Procurei me controlar até porque se tratava da “Marisete” e recomendei a Patrícia Angélica que ficasse tranquila porque tudo logo iria mudar e que seria para melhor. Também disse para que ela pedisse ao policial “Zico” que levasse o documento até a “CPC” e passasse pelo protocolo por de lá. Depois que deixei a sala de Patrícia Angélica fiquei pensando no que fazer, mas o momento exigia prudência, paciência, tranquilidade, estratégia, calma... e o jeito era aguardar o desenrolar dos fatos, muito embora a minha vontade fosse botar fogo, ir para meu gabinete e começar a “escrevinhar”, mas como tudo estava dominado, o jeito era aguardar...
Horário: 16:00 horas:
Liguei para o Delegado Flares do Rosar na cidade de Videira (celular) e o mesmo me atendeu prontamente e comentou que não havia decidido ainda se seria candidato à Presidência da Adpesc. Flares revelou que estava muito sensibilizado com o meu apoio, com o apoios dos Delegado Clomir Badalotti e Dirceu Silveira. Perguntei:
- “Sim, o Badalotti te ligou?”
Flares respondeu que até o presente momento não recebeu nenhuma ligação dele. Argumentei que tínhamos acertado que iríamos juntos até Videira para tratarmos do assunto, mas que antes precisava ter a sua decisão. Flares revelou que estava aguardando sua nomeação para o cargo de Secretário Regional da Região e que se isso viesse a ocorrer não poderia conciliar a presidência da Adepsc, no que concordei. Quando Flares citou que estava contente com o apoio de Dirceu Silveira senti um arrepio na espinha, porque não estava mais botando tanta fé assim no Delegado Regional de Joinville... Aliás, quando eu estava na condição de Gerente de Orientação e Controle designado tive a impressão que estava com um certo prestígio, mas agora que Nilton Andrade foi nomeado, parece que minha “estrela” havia se apagado... A conversa se encerrou sem que nada ficasse decidido, apenas Flares pediu para que a gente deixasse passar o Carnaval. Concordei.