PARTE CCXXXII - “FIM DO ‘IP’: FIM DO CAOS NA JUSTIÇA E PRESÍDIOS, DOS ‘TRENS’ DA ALEGRIA, DA ‘LEI DO SILÊNCIO’?”
Por Felipe Genovez | 28/04/2018 | HistóriaPROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA
Data: 14.12.99: “Benedito Mariano: Novos ventos novos e o fim dos IPs?”
A impressão era que Benedito Mariano e outros ouvidores midiáticos havia elegido as “polícias” como o grande “bode expiatório” em que a violência seria a grande mazela do “sistema”. Nesse aspecto seguiam a lanterna da mídia com suas notícias sensacionalistas, dirigidas, impactantes.... tendo como foco os pobres mortais. E, mais um “novo” projeto era apresentado a sociedade, mas a que preço? Certamente que o Ouvidor Mariano não tinha nenhum compromisso histórico com a polícia e na sua formação de sociólogo e seria bem possível que seguisse a luz do seu “ego” e, buscava notoriedade no sentido de ser um reformulador das instituições, cujo processo seria não da sociedade, mas sim do grande poder midiático para dentro das polícias, dirigindo a vontade do povo para esse processo, especialmente, sabendo que a “voz do povo era a voz de Deus” e quem manda nele faz do jeito que bem quiser, quando quiser e onde quiser! Pois bem, a “Polícia Científica” iria para o Poder Judiciário? Certamente que o papel dos neófitos ouvidores não iriam se circunscrever ao telefone, jornais, conversas a quatro paredes, muito mais que isso, era provável que queria se notabilizar como os grandes engenheiros do processo de transformação das Polícia, sem se ater ao fato de que ao extrapolar limites, não se importavam com o fato de estarem agredindo todo universo de pessoas que integravam essas instituições que formavam o aparelho policial há séculos, toda a sua história... De qualquer maneira era preciso estancar essa onda reformista tupiniquim, onde quer que as Polícias estivessem, cuja propaganda estaria sendo usadas para desviar a atenção da sociedade para os reais problemas que conduziam o país ao caos: falta de escolas, cultura, descontrole dos meios de comunicação em massa, problemas graves no sistema de saúde, falta de controle das famílias, corrupção nos governos, na política, na Justiça... Vamos aos “salvadores da pátria”:
OUVIDORES PROPÕEM FIM DOS INQUÉRITOS
Os cinco ouvidores de polícia do país, advogados, juízes, promotores e intelectuais lançam às 10h de hoje, no Largo São Francisco (região central de São Paulo), um projeto de emenda constitucional de reforma das polícias.
A proposta acaba com os inquéritos policiais e prevê que as investigações sejam feitas pela polícia, sob a supervisão do Judiciário e do Ministério Público.
“O resultado prático dos inquéritos policiais é mínimo. A extinção dele diminui os casos de corrupção e de tortura. Pela emenda, todos os depoimentos seriam feitos na Justiça. A polícia só elaboraria termos circunstanciados”, diz o ouvidor da Polícia de São Paulo, Benedito Mariano, um dos defensores do projeto.
Segundo ele, a ideia é acabar com as duas polícias (civil e militar) e criar uma nova estrutura policial, formada só por civis.
Essa polícia teria três funções: investigativa, preventiva e ostensiva. Cerca de 80% dos policiais trabalhariam uniformizados, em atividade de rua.
“A única coisa aproveitável das atuais polícias é o efetivo”, diz Mariano. O projeto prevê que os atuais policiais só seriam aceitos na nova polícia depois de serem aprovados em exame de idoneidade e antecedentes criminais.
Pela proposta, a Polícia Científica passa a fazer parte da estrutura do Poder Judiciário. O Detran (Departamento Estadual de Trânsito) vai para a Secretaria dos Transportes e o Corpo de Bombeiros, para a Defesa Civil.
A nova polícia teria apenas cinco graus hierárquicos: oficial de rua ou de investigação, escrivão, inspetor, superintendente e um único comissário geral.
A emenda prevê que o maior salário pago aos policiais não pode ser mais de quatro vezes maior que o menor salário. Hoje essa diferença chegaria a até 12 vezes.
O Congresso recebe cópia do projeto no início de 2000. A estimativa de Mariano é, com a diminuição da burocracia, reduzir os custos da polícia em 30%.
“Vai ser um grande debate. As cúpulas das polícias vão ser contra. Mas isso é o que há de mais avançado em termos de polícia”.
Como se pode perceber o projeto seria de extinção das “Polícias”. Bom, só faltaria proporem, com o avanço da inteligência artificial, o fim da Justiça (máquinas inteligentes seriam capazes de processar e julgar muito mais rapidamente do que homens com seus vícios...e com custo baixíssimo para a sociedade). Nesse mesmo sentido, máquinas inteligentes também poderiam assumir o papel da mídia, já que sua capacidade de processamento de informações seria infinitamente maior do que a de pessoas normais, tudo isso sem margem para corrupção, parcialidade nas decisões, envolvimento de sentimentos pessoais... e, também, tudo acessível gratuitamente. Bom, esses ouvidores reformistas pelo jeito optaram por criticar um “grãozinho” dentro do universo que representa a Justiça, esquecendo-se do caos no sistema prisional brasileiro, dos problemas no Poder Judiciário, Ministério Público, Tribunais de Contas..., aproveitando-se da vulnerabilidade dos policiais eclipsados por outras instituições, pelas ingerências políticas, pelo assédio e sensacionalismo da mídia, pelo descaso dos governos em não querer aparelhar as instituições policiais, por ausência de disposições constitucionais e legais que garantam prerrogativas no exercício das funções...
Voltando ao foco, o que me chamou a atenção foi, em especial, a questão da proposta do fim do inquérito policial (IPs). Sim, é sabido que ele apresenta problemas e precisaria passar por uma reformulação, a começar pela reforma em termos de investimentos na Polícia e nos Delegados, aplicação de ciência nas investigações e na produção procedimental, aprovação de prerrogativas para as autoridades policiais possam exercer também atividades jurisdicionais com a presença de advogados e do Ministério Público em toda fase "judicialiforme", julgamentos rápidos para crimes de menor potencial ofensivo, submissão de todas as decisões ao duplo grau de jurisdição (no caso a uma autoridade judicial credenciada), dentre outras medidas necessárias. Com isso a Justiça seria bem mais rápida, exceto no caso de crimes hediondos ou de potencial ofensivo, cujo inquérito policial seria encaminhado normalmente para uma autoridade judicial competente. Simples e fácil, sem traumas, sem a necessidade de se destruir instituições seculares. Entretanto, soluções como aparelhar a Justiça e as Polícias com vistas a "sovar as massas" por meio de repressão ortodoxa, como "vigiar e punir", aplicação de sanções pecuniárias pesadas, restrições de direitos... certamente que vem ao encontro dos interesses das elites simpáticas a medidas extremas, enquanto que os governos e políticos não cumprem sem papel de investir de forma prioritária e permanente na educação, planejamento e controle familiar, desburocratização, fim do caótico sistema tributário e escraviza a sociedade com pesados impostos, taxas, contribuições... Certamente que se o "sistema financeiro" viesse a contribuir com o que deveria ser exigido (especialmente para as áreas de Educação, Cultura e Saúde), se houvesse menos corrupção e mais oportunidade de trabalho..., haveria menos "polícia", menos "Justiça"!
Data: 15.12.99 - “A polícia na berlinda”:
Nesse contexto, a igreja também poderia ter interesse na questão da “unificação das polícias”:
Secretário recebe projeto que une polícias
O secretário nacional da Segurança Pública José Osvaldo Pereira (esp.), recebe do cardeal-arcebispo emérito de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, projeto de emenda constitucional que cria novo modelo para as polícias estaduais. A proposta coloca sob comando único as Polícias Militar e Civil. O projeto será encaminhado ao Legislativo no início do próximo ano” (Folha de São Paulo, 15.12.99, pág. 1-6, brasil).
Data: 16.12.99, “Amin, Knaesel, Pizzolatti, Vidal: O trem da alegria?”
“Trem da alegria
O Governo Amin enviou à Assembleia projeto de Lei elevando Fiscais de Mercadorias em Trânsito, Exatores e Escrivães, SEM CONCURSO PÚBLICO, à categoria de Fiscais de Tributos Estaduais.
Usando do artifício da extinção e criação de cargos para burlar a Constituição, o Governo, que prega a moralidade pública, propicia aos seus aliados políticos um vergonhoso TREM DA ALEGRIA, conduzido pelo esquema político do Deputado Gilmar Knaesel e do Deputado Federal João Pizzolatti, tolerado pelos Secretários da Fazenda, Antonio Carlos Vieira.
O SINDIFISCO, alerta à opinião pública sobre a gravidade que representa tal projeto, elevando a cargo de nível superior, servidores sem formação acadêmica para o exercício do cargo, alguns até de nível ginasial, o que contraria decisões do Supremo Tribunal Federal, que julgou ser INCONSTITUCIONAL esta forma de aproveitamento.
Florianópolis, 16, de dezembro de 1999
SINDICATO DOS FISCAIS DA FAZENDA DO ESTADO DE SANTA CATARINA – SINDIFISCO
A firma está devidamente reconhecida na forma da Lei
Lembrei de ex-Comissário Waldir Vidal da Fonseca, que nem o segundo grau tinha, no início da década de oitenta trabalhava comigo na ex-Delegacia de Polícia de Acidentes de Trânsito. Vidal, durante às madrugadas costumava dar suas saídas rotineiras para jogar dominó com o “Tio Dêba”, como ele carinhosamente o chamava (ex-Governador Aderbal Ramos da Silva). Segundo constava, conforme era apregoado, daquela relação de amizade, apesar de ter somente o curso primário, Waldir Vidal acabou se transformando em Fiscal de Mercadorias, digamos, ganhou na mega sena, e com esse projeto também vai virar Fiscal da Fazenda. Que Deus tenha a todos, mas onde estaria o Ministério Público, a imprensa investigativa nessas horas?
“A lei do silêncio e outro trem?”
E veio à lembrança a indignação da “Jô Guedes” noutro dia. Lendo o Diário de Justiça chamava a atenção para o fato de que enquanto eram negadas liminares para inativos dos outros poderes..., outros servidores muito especiais...:
Política – Justiça
Amin quer anular decisão do TJ
Ação pede impugnação da isenção de desconto previdenciário a juiz inativo
Adriana Baldissarelli
Florianópolis
O governo do Estado entrou ontem com um mandado de segurança no Tribunal de Justiça para impugnar uma decisão do próprio presidente do TJ, desembargador João Martins, que no mês passado isentou os juízes aposentados do desconto previdenciário. O procurador-geral do Estado, Walter Zigelli, explica que o ato coloca em risco o pagamento do benefício às pensionistas do Estado na medida em que o efeito deve se alastrar às demais categorias. “já há uma enxurrada de mandados de segurança exigindo o cancelamento da contribuição ao Ipesc e o governo não terá como pagar as pensões se for cortada da essa fonte de receita”, informa Zigelli.
Ele argumenta que a contribuição de inativos existe em Santa Catarina há 30 anos e desde 1994, com a Lei Complementar 129, passou aos atuais índices de desconto de 8% a 12% dos salários (...)” (Diário Catarinense, 16.12.99, pág. 8).
“E, mais outro trem?”
Deputado sem-teto
A Assembleia estuda a possibilidade de liberar para os parlamentares um auxílio-moradia. A grande maioria mora no interior, tendo que pagar aluguel em Florianópolis. Não é de hoje que reclamam, e muito, do salário, que vem sofrendo uma defasagem considerável (não só o deles). Nos próximos dias, o presidente da AL, Gilmar Knaesel, vai ter que decidir sobre a permissão dessa verba, um expediente legal e aplicado em muitas casas legislativas brasileiras. Pra quem desconhece, os oficiais da Polícia Militar também recebem algo parecido. Mas que sirva realmente de auxílio-moradia e não de artifício para atrelar ao salário, pois daí estarão fugindo do objeito, que é o de aliviar os custos que acabam dilapidando o contracheque (...)” (DC, Paulo Alceu, 16.12.99, pág. 10).