PARTE CCLXXXIII – “CÂMARAS DE INTEGRAÇÃO ENTRE AS POLÍCIAS E  A GAFE COM ‘UM ‘BON VIVANT’ (DELEGADO ‘LUCIANO BOTTINI’ E ‘JÔ GUEDES’)”

Por Felipe Genovez | 10/05/2018 | História

PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 17.10.2001, horário: 16:40 horas:

Estava na “Assistência Jurídica” e pedi para que “Jô Guedes” me repassasse o Diário Oficial do dia 15.10.2001. Ela estava indignada porque quase nada das sugestões apresentadas à Resolução n. 004/2001/CSSP haviam sido acatadas pelo gabinete do Secretário de Segurança Pública. E mais indignada ficou ainda quando viu a composição das comissões criadas pelas Resoluções n. 005/006/007/2001/CSSP. Fui ler a Resolução 004/2001/CSSP  e fiquei incrédulo. Resolvi escrever com caneta vermelha ao lado: “autoridade policial  requisitar de subordinado???” Sim, achava ridículo o uso de um verbo tão forte, ora se vingasse aquele  pensamento, os Delegados teriam que “requisitar” tudo de seus subordinados, tudo bem que estávamos respirando a “Era Lipinski”.  E, pensei: “se fosse assim um juiz teria que sempre ‘requisitar’ dos servidores do fórum, um Promotor de Justiça também teria que ‘requisitar’ sempre de seus subordinados, o mesmo valendo para um Coronel da PM, e assim por diante, estaríamos entrando numa nova fase das ‘requisições’, ‘requisitantes’, ‘requisitórios’, ‘requisitasses’, ‘requisitóides’...   tudo muito lamentável, mas o que se esperar?”  “Jô Guedes” tinha mais razão ainda quanto às demais atos normativos, como no caso da Resolução 005/2001/CSSP (a mais importante) que havia criado a “Câmara Técnica de Articulação das Polícias Civil e Militar”, com a finalidade de elaborar “projeto conjunto para a integração do serviço de inteligência das Polícias Civil e Militar do Estado”.

Enquanto a Polícia Militar indicava o  Tenente Coronel  Edson Souza (Braga conhece bem, irmão do Delegado Acioni Souza Filho) e o Major Edivar Antônio Bedin (dois Oficiais Superiores), a Polícia Civil indicava Optemar Rodrigues (Delegado Especial) e um Investigador Policial (Jorge Luiz Kloppel). Acabei lembrando de última conversa que tive com o Delegado Optemar sobre o Cepol, e acabei quase que “gelando” (o sistema de comunicações da Polícia Civil estava indo para a Polícia Militar e justamente o Delegado Optemar que  outrora era um ferrenho crítico de tudo (quando não estava em cargo comissionado...),  havia dito aos quatro ventos que acha tudo aquilo normal... 

Também, por meio da Resolução 006/2001/CSSP foi criada a “Câmara Técnica de Articulação das Polícias Civil e Militar”, com a finalidade de elaborar projeto conjunto para a integração do serviço de comunicações das Polícias Civil e Militar do Estado. A Polícia Militar havia designado como representantes os Capitães João Ricardo Busi e Edson Stahnke (dois Oficiais) e a Polícia Civil indicou o Delegado Jeferson Guilhão de Paula e o respeito o Investigador Jorge Domingos da Cruz. 

Na mesma senda, por meio da Resolução n. 007/2001/CSSP foi criada a “Câmara Técnica de Articulação das Polícias Civil e Militar”, com a finalidade de elaborar  projeto conjunto para integração da área de negociações em situações críticas e grupos táticos das Polícias Civil e Militar. A Polícia Militar indicou o Tenente Coronel Edson Souza (já está na Comissão do serviço de inteligência)  e o Capitão Marcelo Cardoso. Como representantes da Polícia Civil foram indicados os Delegados Abenur Antunes Rodrigues e Renato Sardagna Poeta.

Data: 17.10.2001:

Relembrando os fatos do dia anterior, o triste caso envolvendo o policial  “Brasil”, Jô Guedes” disse:

-  “Ondem, naquele horário que o senhor passou por mim ali embaixo eu fiquei um tempão ainda esperando o Jucenir  eu notei que o policial embarcou no carro dele, um Pointer azul e demorou um tempão para sair, me deu uma pena!” 

Argumentei que não poderia fazer mais nada e relembrei épocas passadas quando tinha voz ativa junto ao Delegado-Geral, como nas épocas de Abelardo Bado e Jorge Xavier e que se fosse naqueles tempos  jamais teria permitido que uma injustiça dessas viesse a se consumar. Disse que tinha certeza que esses Chefes de Polícia também me ouviriam e não deixariam que isso viesse acontecer. Argumentei, ainda, que na região de Balneário Camboriú um policial civil como o “ Comissário Brasil” seria muito difícil de se criar, pois lá ou você teria que optar em ter que ser cego, omisso, restrito ou, então, balançaria conforme a música, sob pena de virar “bode expiatório”. Acabei relembrando também alguns fatos passados, como casos envolvendo cassinos em hotéis de luxo, jogo do bicho, boates e etc.  Braga havia andado por lá, mas não conseguiu apurar nada. E, pensando em voz alta, me perguntei: “Será que o governo não tinha caixa para pagar na próxima folha outra parcela do reajuste de salário prometido aos servidores estaduais? No mês passado, dos 18%, foram 6%. Naquele momento nada. Tratava-se de uma estratégia de valorização?”  Essas indagações diziam respeito a notas nos jornais a quase um ano atrás, durante os manifestações policiais por melhores salários, em cujo momento o Delegado-Geral  Lipinski fez circular uma nota dizendo que logo viria um aumento, e que seria natural que os policiais se acalmassem, aguardassem e voltassem para o trabalho.  Pensei no modo como outros líderes reivindicavam e conseguiam conquistas para suas categorias. No Poder Judiciário “Chicão Vieira”, Alberton no Ministério Público e Backes na Polícia Militar... 

Enquanto isso:

“Itapiranga reclama falta de delegado – Uma suposta tentativa de estupro contra uma menor e a soltura do acusado durante a 23a Oktoberfes em Itapiranga, no Extremo-oeste, no último final de semana, suscitou protestos das lideranças comunitárias pela falta de um delegado titular na cidade. De acordo com o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Oneri Pivatto, Itapiranga está sem delegado titular há 18 meses e vem sendo atendida pelo delegado da Comarca de São Miguel do Oeste, Rudnei Teixeira. A presidente da Associação Comercial e Industrial do Município (Acit), Celina Melchiors, cobra uma ação enérgica da Secretaria de Segurança Pública” (A Notícia, 17.10.2001). 

“CI 5061 – Circular – 16.10.2001 – DE: DELEGADO GERAL DA POLÍCIA CIVIL – PARA: Dr. FELIPE GENOVEZ – Assistente Jurídico Policial – ASSUNTO: ‘Horário de Verão’ – Cientifico Vossa Senhoria de que a adoção do chamado ‘horário de verão’  nas repartições públicas não foi estendido às Delegacias de Polícia Civil, consideradas de atividade essencial. Igualmente os seus setores internos (expedientes, escrivanias, etc.) devem cumprir o antigo horário. Para seu conhecimento, nenhum órgão da Polícia Civil pode adotar o horário de verão. Cordialmente, João Manoel Lipinski – Delegado Geral da Polícia Civil”. 

Data: 18.10.2001, horário: 09:00 horas:

Estava passando pela frente do 4º BPM (centro de Florianópolis), localizado na Rua Nereu Ramos e encontrei o Delegado Jefferson acompanhado do Investigador Cruz, ambos entrando na referida unidade militar. Logo imaginei que só poderia ser em razão do novo sistema de rádio da Polícia Civil que iria operar na Polícia Militar.

O Delegado Bottini veio até à “Assistência Jurídica” pois queria consultar Diários Oficiais atrasados. Naquele momento não  podíamos lhe dar atenção e ele dizia que precisava achar um edital de leilão e que a Consultoria da Pasta da Segurança Pública tinha produzido um ótimo parecer (ele falava em bonito parecer..., porém, que até aquele momento não teria adiantado nada, passaram-se meses e nada da publicação e nada...). O Delegado Bottini estava cada vez mais remoçado, continua a manter sua silhueta para quem já sofreu seriamente com uma obesidade mórbida. Logo imaginei que suas chegadas por volta das nove horas da manhã tinham  tudo haver com a malhação de manhã, nesse ponto Bottini parecia ser uma pessoa altamente disciplinada e, mais, ainda, havia aderido  uma sabedoria que levava em conta a lei do menor esforço, ou seja,  enquanto os outros estão malhando em defesa da instituição e cuidando dos seus serviços com muito rigor ele deixava claro para quem enxergava um pouco mais de que estava procurando se poupar ao máximo em prol da sua saúde e bem estar.  Seu discurso imitava um pouco o Delegado Braga, ou seja, quando entravam numa repartição policial civil vociferavam, esperneavam, lamentavam-se, protestavam... que estava tudo errado, que estavam enfrentando grandes desafios...  

“Jô Guedes”  interrompeu meus pensamentos e perguntou para o Delegado Bottini:

- “Sim, como é que estão as promoções, afinal quando é que os atos vão ser publicados?”

Bottini respondeu que até aquele momento não tinha nada ainda (ele estava presidindo a comissão do Subgrupo Técnico-Científico onde estavam os Inspetores de Polícia, Peritos e Psicólogos).  Bottini revelou que o Delegado-Geral Lipinski o chamou outro dia e disse que iria passar todo o seu serviço para a Comissão presidida pelo Delegado Valdir Batista que preside a comissão encarregada das promoções do Subgrupo: Técnico-Profissional (Comissários, Escrivães, Investigadores...).

O Delegado Bottini finalmente encontrou o que procurava no Diário Oficial foi para o andar térreo tirar cópia. Em seguida retornou sem falar muito e sem que eu percebesse, sentou bem atrás de mim. Julguei que já tinha saído e virado para a tela do computador acabei soltando uma pérola ignorando a sua presença:

- “Esse daí é um ‘bom vivant”! Depois que entrou para maçonaria ficou assim, mas é assim mesmo, tem gente que depois que entra para a maçonaria fica assim...”.

Mal terminei a frase percebi que “Jô Guedes” estava em pé do meu lado fazendo movimentos estranhos, balançando o seu corpo e trazendo consigo um papel na mão direita, quase que abanando nas minhas ventanas, enquanto Bottini atrás aos risos me surpreendeu dizendo:

 “O que quê o doutor tá resmungando aí? O doutor fica resmungando aí!” 

Me virei e percebi de imediato a minha gafe, pensei que Bottini já estava longe e mais parecia uma figura fantasmagórica sentada atrás de mim, não tive outra alternativa a não ser tentar justificar meus “resmungos” dizendo:

- “Estava lendo aqui uma nota do Gilmar Knaesel, também esses caras...”. 

Bottini continuou rindo, depois saiu.  Logo que a porta se fechou “Jô Guedes” retornou para sua mesa e debruçou o peito sobre o teclado do seu computador ao mesmo tempo que soltava uma gargalhada estridente, ela não parava de rir compulsivamente e eu acabei tendo que rir também. Depois que nos acalmamos tentei me justificar:

-  “Se ele riu é porque serviu de carapuça, não é?” 

(...)"

Depois que Bottini saiu em definitivo fiquei pensando na sua transformação, o antes quando o conheci como responsável pela Delegacia Municipal de Navegantes, isso na década de oitenta e ainda não havia ingressado na carreira de Delegado de Polícia. Nessa época fiquei cheguei a ficar pena dele por pessar mais de cento e cinquenta quilos e ter uma estatura muito baixa... E o depois, quando fez uma dieta vitorisosa e ficou completamente magro, conseguindo uma transformação milagrosa do seu corpo. Seu próximo desafio era arrumar os dentes (separados e desnivelados) a partir do uso de aparelhos. Outro desafio era fazer fortuna, para tanto os comentários eram que fazia concessão de empréstimos...Além disso, como era um exímio atirador, participava de um clube de tiro, passou a comercializar armas que trazia do p. e vendia para uma clientagem seleta... Com isso passou a ganhar dinheiro e comprou uma linda casa no Bairro Itaguaçu - Florianópolis. Também, havia se separado e estava namorando uma estagiária da Delegacia-Geral que tinha dezoito anos, loira..., dava a nítida impressão que no seu caso aplicava o princípio da atração...

A bem da verdade, apesar de toda “esperteza” e "vivacidade" do Delegado Bottini, sabia que ele era também um sobrevivente, tinha repeito por sua pessoa, muito embora soubesse que profissionalmente, depois que conseguiu ser Delegado, acabou se acomodando e priorizando seus interesses particulares.