PARTE CCLXXIX – “CONFLITOS DE INTERESSES ENTRE O DELEGADO REGIONAL ANTONIO CARLOS PEREIRA E OS PROMOTORES DE JUSTIÇA DE PORTO UNIÃO?”
Por Felipe Genovez | 09/05/2018 | HistóriaPROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA
Dia 01.10.2001, horário: 10:10 horas:
Encaminhei minha manifestação jurídica para o Delegado Regional de Porto União com relação aos conflitos com os Promotores de Justiça daquela comarca:
“ESTADO DE SANTA CATARINA - SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA - DELEGACIA-GERAL DA POLÍCIA CIVIL - Informação n. 088/GAB/DGPC/SSP/2001 - Interessado: Delegado Regional de Polícia de Porto União - Assunto: Requisição – Ministério Público - Atendendo solicitação de Vossa Senhoria, passo a prestar as informações acerca do conteúdo do Ofício n. 071/MP/SC/2001, datado de 19.9.2001: 1. além dos argumentos sustentados via oral a Vossa Senhoria (telefonema – 26.9.2001), o pleito formulado pelo Ministério Público local não possui nada de extraordinário, mercê dos avanços constitucionais (art. 129, CF/88) e nas prerrogativas conquistas na respectiva Lei Orgânica (LC 197/2000); 2. primeiramente, em razão da legislação pontificada, pode o Ministério Público proceder as requisições que julgar necessárias às autoridades policiais para fins de exercer o controle externo da atividade policial civil; 3. sobre as informações apontadas por Vossa Senhoria entendo por oportuno fazer os seguintes comentários preliminares: a) a utilização da designação ‘bacharel’ que se antepõe ao vosso nome (carimbo/despacho – rosto do Ofício n. 928/2001 – Poder Judiciário local/Porto União) deve ser evitado porque pode propiciar uma leitura acadêmica/amadora acerca das autoridades policiais. Nesse caso, recomenda-se simplesmente a utilização do nome e designação do cargo (efetivo/comissão); b) lamentavelmente, Delegados de Polícia fazem vistas grossas à redação de diversos documentos, especialmente, quando originados nos cartórios, cujos titulares se encarregam de prescrever o tratamento suso mencionado, que também tem até servido como forma de menosprezo/piada (“Belo”e etc.) por parte dos policiais de outras categorias funcionais; c) mais triste ainda, é ver que as próprias autoridades policiais utilizam essa designação nos seus carimbos; d) a utilização do nome e respectiva assinatura em documentos oficiais se constitui momento da maior importância na vida funcional, cujos reflexos são inúmeros pois dá visibilidade não só a pessoa investida no cargo público, mas à própria instituição; e) nesse sentido, fazem muito bem os representantes do Ministério Público e da Magistratura que além de não utilizarem a designação ‘bacharel’ justaposta aos seus respectivos nomes, muito menos utilizam carimbos nas suas firmas; f) infelizmente, vemos com certa constância portarias/Polícia Civil e outros atos oficiais sendo regularmente publicadas no Diário Oficial com aparência de estimulação a esse tipo de prática deletéria; g) outro cuidado a ser adotado é quanto à redação/revisão do conteúdo dos documentos a serem assinados pelas autoridades policiais. Além da preservação da boa imagem da Polícia Civil há o respeito à pessoa/órgão destinatário. Assim, aconselha-se primar pela qualidade dos textos, minimizando-se possíveis erros. Um bom começo é se redigi-los por meio digital que possibilita a utilização de corretor ortográfico, especialmente quando destinados ao público externo. A utilização de despachos manuscritos deve ser restrita ao ambiente interno; h) uma simples leitura do despacho mencionado dará uma noção da dimensão do que já foi reportado: utilização inadequada de pronome relativo (‘o qual’ repetido), falta de especificação dos fatos mencionados, escrita inadequada de palavras (ofício); utilização imprópria de termo para se referir às relações entre órgãos públicos vitais – Ministério Público/Polícia Militar (enjambramento), formulação incorreta das frases (‘embora sempre foi sabido’; e ‘não há ninguém definitivo’); 4. Quanto ao teor dos ofícios formulados por Vossa Senhoria: a) a designação ‘Delegacia Geral’ deve ser sempre hifenizada, ou seja: Delegacia-Geral, Delegado-Geral, Diretor-Geral, Procuradoria-Geral. Sobre o assunto, recomendo consultar a gramática adequada. Lamentavelmente, causa perplexidade como nossas autoridades policiais teimam escrever de forma errônea o nome do principal órgão da Polícia Civil; b) na frase ‘atinente a solicitação’ deve se utilizar obrigatoriamente a crase (consultar gramática) ( Ofício nº 111/23ª DPR/01, datado de 04.09.2001); c) na especificação do ‘ofício n. 928/2001’ deve se observar a utilização do substantivo próprio; d) o uso da expressão ‘p.p.’ não deve ser sucedido de ponto e vírgula (não há interrupção da idéia); e) o cuidado com a redação é outra particularidade, como por exemplo: ‘(...) Outrossim, gostaria de adiantar e ao mesmo tempo, reprisar a indagação que toda a sociedade faz, o que fazem a Polícia Militar naquela DPMu, e no Estado inteiro, quando com guarnições muito superior a Polícia Civil, acaba não podendo vigiar um preso, nem tão pouco segurar uma chave de cadeia (...)’: 1. não há vírgula entre ‘(...) e ao mesmo tempo, reprisar (...)’; 2. não há especificação de uma sociedade definida, portanto, não se trata da “indagação que toda a sociedade faz” e sim “ indagação que toda sociedade faz’; 3. deve-se evitar a repetição de locuções como ocorre na redação utilizada para expressar a seguinte idéia:’“(...) a sociedade faz, o que fazem a Polícia Militar (...)’; 4. A expressão “tão pouco’ está utilizada de forma incorreta. Na verdade se trata de outro advérbio: tampouco; 5. Deve também utilizar crase na frase: “muito superior à Polícia Civil’; a) não há necessidade do uso de vírgula na frase: ‘Sem mais para o momento, aproveito a oportunidade para reiterar a Vossa Excelência meus protestos de estima e elevada admiração’; b) a afirmação de que ‘o caso vem de encontro a necessidade de funcionários’ expressa justamente o contrário da idéia que se pretende externar. Vir ‘de encontro’ significa o mesmo que vir contra, ser contra. É o mesmo que dizer que é desnecessário servidores policiais naquela repartição. O correto é utilizar a seguinte expressão: ‘o caso vem ao encontro’; c) finalmente, o documento registra mais uma impropriedade quanto às formas de tratamento. Trata-se da ambivalência que serve ora para designar o magistrado como ‘senhor’ ora como ‘excelência’. Florianópolis, 27 de setembro de 2001 - Felipe Genovez - Delegado de Polícia EE’
Essa informação foi encaminhada por meio da CI n. 177/2001, datada de 27.09.2001:
“Senhor Delegado Regional: Atendendo solicitação verbal e em consideração ao companheiro de luta, encaminho (reservadamente) a Informação nº 088/GAB/DGPC/SSP/2001, que trata de requisição do Ministério Público. Atenciosamente, Felipe Genovez - Delegado de Polícia EE”.
Data: 01.10.2001, horário: 10:20 horas:
Estava na “Assistência Jurídica” (Delegacia-Geral) e recebi um telefonema do Delegado Regional de Porto União (Delegado Toninho). Fiquei surpreso porque já havia respondido o seu fax com algumas restrições quanto ao seu conteúdo, apontando vários problemas e até imaginei que esse era o motivo da sua ligação. Portanto, achei que ele quisesse tirar alguma satisfação ou que buscasse explicações, mas não era nada disso, pois ele ainda não havia recebido nada. A partir daí começamos uma conversação:
- “Olha que coincidência, parabéns pela tua carta publicada no jornal da Adpesc!” (Felipe)
Toninho se surpreendeu:
- “Carta? Que carta?”
Expliquei que ele havia publicado uma carta que ele remeteu para a Associação dos Delegados (Adpesc) com uma série de desabafos e ele acabou se surpreendendo que isso tenha ocorrido. Perguntei:
- “Realmente tens que te cuidar, não podes te expor assim, a tua posição é difícil”.
Toninho:
- “Vou ter que começar a sair de cena, tenho escrito para os colegas Delegados Regionais, tenho procurado fazer alguma coisa, mas já estou sentido alguma pressão...".
Interrompi para perguntar:
- “Tu fostes à solenidade de criação do novo ‘Cepom’ – 190 unificado de Joinville na última sexta-feira?”
Toninho respondeu que não foi e que nem tinha conhecimento desse fato. Fiquei surpreso e disse:
- “É mais uma, a Central de Rádio da Polícia Civil foi absorvida pelo Cepom – 190 da Polícia Militar, vai ser tudo centralizado agora na PM, até o número e o nome permaneceram os mesmos: ‘Central de Operações da Polícia Militar’ e ninguém diz nada, ninguém foi consultado, que eu saiba nem o Conselho Superior da Polícia Civil, muito menos as entidades de classe, onde é que andam esse pessoal? Os Delegados Optemar e Jeferson estão à frente desse ‘projeto’, pode? E, também, a nossa Adpesc não disse nada, a Delegada Regional de Joinville, a Marilisa, também não se posicionou contra e eles estão todos nesse oba-oba agora, pode?”
Toninho esboçou alguma preocupação e argumentou que iria conversar com os Delegados Regionais, que possuía muitos amigos Delegados Regionais que concordavam com suas ideias e acabei fazendo um aconselhamento:
- “Tens que ter cuidado, não podes te expor muito, faça em bloco qualquer manifesto, fica fora de foco, acho que o caminho é formar uma frente de Delegados Regionais, aí a coisa não fica centrada numa única pessoa, o negócio é que esse pessoal é muito vulnerável. Ah, Antônio, eu respondi aquele teu fax, vais receber uma resposta, espero que você tenha grandeza para entender o que eu quis te dizer, fiz isso porque é em consideração ao amigo, porque se fosse para outro não escreveria nada, portanto, receba com grandeza, tá!”
Toninho se despediu dizendo:
- “É por isso que eu procuro o amigo!”