Parábola moderna
Por Edson Terto da Silva | 17/03/2015 | CrônicasQuando criança eu ouvia um conto que o marasmo que reinava no universo provocou um inusitado desafio entre o céu e o inferno.
Houve muita discussão até se chegar a um consenso sobre a disputa para que, digamos, ninguém saísse beneficiado previamente, afinal, se um lado era especialista em pessoas boas, o outro, ninguém duvidava ser “expert” em coisas ruins.
Pensa-se daqui e dali, até surgir a ideia: Porque não fazer uma disputa de futebol? A princípio, quem era do inferno achou que seria injusto, afinal, era no céu que estavam os bons jogadores, se bem que, segundo o Direito Canônico, artigo tal, parágrafo tal, jogo em si era algo ilegal na visão celestial...
Mas também estavam no inferno bons jogadores que não foram tão santinhos assim e por isso ficou estabelecido nas bases que seria interessante e equilibrada fazer a partida de futebol entre o firmamento e as profundezas.
Há quem diga, que de uma parte e outra se cogitou fazer convocações de última hora para a que seria, sem dúvida, a maior partida de todos os tempos, reunindo os melhores jogadores que já desfilaram pelos gramados da terra.
A maioria representava o céu e outros, não menos talentosos , estavam no esquadrão do inferno, pois tinham sucumbido em tentações diversas durante a vida terrena.
Com a aproximação do jogo, o otimismo no céu contagiava desde o mais incrédulo torcedor até, com perdão, o Todo Poderoso. O astral no inferno, desculpe, a redundância, estava baixo, exceto pelo “capetão-mor”, que dizia estar tudo dominado, não havia motivo para preocupação.
Passada a partida, poucos jogadores do céu compareceram na não tão concorrida coletiva de imprensa e se desdobravam para tentar explicar a inexplicável goleada pelo emblemático placar de 7x1...
Do outro lado, encoberto por microfones, celulares e gravadores, o “capetão-mor” resumia o jogo dizendo: ”Eles jogaram limpo, bem melhor que nós, sem dúvida tinham um elenco imbatível e venceriam em outra situação, mas atenderam nossa única exigência, que foi escolher o juiz e olha que não foi tarefa fácil...”, concluiu o “capetão”...
Ainda aos gritos de “é campeão, é campeão”, o “mor” fez ameaça de que se um engraçadinho lhe jogasse o balde de gelo ele queimava o cara no mármore...