Pandemia - Aspectos sobre uma sociedade em negação

Por Danielle Cassimiro | 30/11/2020 | Psicologia

A OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou o Estado de Pandemia em 11 de março de 2020, quando a doença encontrava-se naquela data em mais de 210 países ao redor do mundo. A Covid-19, mais conhecida como Coronavírus é uma síndrome respiratória aguda grave causada pelo vírus SARS-CoV-2, sendo esta de orígem zoonótica, segundo os infectologistas chineses. Em meados de novembro de 2019 na cidade de Wuhan, na China, aparentemente ocorrera o primeiro caso confirmado de Coronavírus, diz-se assim, pois ao que parece seja incerta a data exata de quando surgira a doença, a época as autoridades chinesas não reconheceram a gravidade do problema e tentaram encobrir os infectados, o que significa que podem haver casos anteriores ao primeiro caso confirmado em novembro. Já em dezembro, mais casos começaram a surgir multiplicando-se, foi quando uma equipe de médicos daquela mesma cidade fora designada a investigar o que estaria acontecendo, visto que perceberam a atipicidade da situação, era vísivel a velocidade de propagação do vírus. A partir disto, o governo chinês começou a agir para tentar conter o avanço, tarde demais, pois o lapso temporal entre a descoberta, o tempo de “negação”dos fatos, a aceitação e a tentativa de resolução do problema fora grande o suficiente para que o virus se espalhasse pelo mundo inteiro. Wuhan para quem não sabe é a sétima cidade mais populosa da China, são 10 milhões de habitantes é considerada, segundo dados do site Wikipedia “o centro político, econômico, financeiro, comercial, cultural e educacional da China Central (...) um importante centro logístico, com dezenas de ferrovias, com estradas e vias expressas que a conectam a outras grandes cidades da China”, com isso em mente podemos entender que é uma cidade cujo porte era suficientemente grande para espalhar a doença não só para dentro da China, mas para todo o planeta, já que como centro econômico e financeiro, trabalhavam pessoas do mundo inteiro naquela cidade até então desconhecida ao povo do ocidente. Foram pouco mais de 2 meses, entre o primeiro caso e a instalação de alerta global da pandemia, a primeira morte fora na cidade onde surgira em 11 de janeiro, em 20 de janeiro Zhong Nanshan, cientista chinês confirmara que a doença era transmitida entre humanos, no dia 21 descobrem que várias províncias chinesas já detinham o vírus, incluindo Pequim e Xangai, neste mesmo dia descobrem o primeiro caso nos Estados Unidos, assim finalmente decidem isolar Wuhan do mundo, ainda no mês de janeiro, são confirmados os primeiros 3 casos na França e em outros países da Europa, e depois do alerta de emergência internacional dado pela OMS, EUA e Japão decidem retirar seus cidadãos da China. No mesmo mês a Rússia fecha suas fronteiras de mais de 4.250 Km com a China, em 3 de fevereiro nas Filipinas ocorre o primeiro morte fora da China, e a partir daí o que vemos é uma sequência de países europeus e americanos a confirmar casos da Covid-19, mas que, negando a velocidade de propagação do vírus, bem como a pontencial letalidade da doença, não tomam atitudes em tempo hábil para conter a propagação do vírus. Vejamos o caso da Itália, que em 21 de fevereiro, quando houvera registrado sua primeira morte pela Covid-19 se recusa a tomar medidas mais restritivas, o prefeito de Milão chegou a aparecer em rede de TV zombando que “Milano non si ferma”, e pouco mais de 1 mês teve que pedir desculpas aos cidadãos. Até a data de elaboração deste artigo são mais de 21 mil mortos e 162 mil infectados na Itália. Cidades como, Nova York, Madrid e Londres, também negaram a potencial letalidade da doença, seguiram omitindo e hoje contabilizam assustadores números de mortos pelo novo coronavírus, ao negar os fatos de uma catástrofe eminente estes países demoraram a agir para combater a doença e colocaram todo o seu povo em risco. Mas por que a sociedade ocidental em sua maioria decidiu não agir contra a catástrofe eminente e mesmo diante de tanta informação e alertas de cientistas e autoridades globais a respeito do vírus letal que se disseminava não adotaram medidas restritivas em tempo hábil colocando toda a sua população em risco? Podemos aqui apontar alguns aspectos que influenciaram na atitude de negação coletiva por esses povos. A instrumentalização do ser humano como simples parte da engrenagem para a manutenção do sistema vigente é um desses pontos, pois isto está tão entranhado no super ego das pessoas que estas passam a defender o sistema mais do que a própria vida, elas nascem, crescem e se reproduzem repetindo sempre este padrão condicionante, pautando seu “modos vivends” dentro do automatismo, sem jamais pensar de conscientemente na possibilidade de diversificação de funcionamento social. Outro fator importante é a ausência de valores pilares e não “pressificaveis”. A ordem gregária fora erguida a base de axíomas principiológicos, tais como o direito a vida, a liberdade, a segurança e a propriedade, que até o Sec XX, foram fundamentais para a evolução coletiva, entretanto, com a ascensão do sistema vigente a um novo patamar, o capítalismo financeiro, o preceito do direito a propriedade e do consumo passa a viger como valor máximo, assim, este princípio passa a ser pressuposto para que o individuo ocidental seja reconhecido como cidadão tendo acesso aos demais direitos. Aplicavel aqui a famigerada frase “tudo tem preço, mas nada tem valor”. Dentro desta sistemática perfeitamente solidificada no super ego coletivo ocidental, qualquer ameaça a supremacia desta ordem é vista como inimiga, indesejada, intrusa... Mesmo sendo esta ameaça representada por um vírus sem consciencia de credo, cor ou classe social. Para um indíviduo nascido sob este condicionamento, o direito a vida passa pela dignidade, e para ter uma vida digna nesta estrutura é necessário ser consumidor, ter propriedade, haja vista não ser possível viversem consumir, por isso, a defesa do sistema vem antes da própria vida. Quando o individuo é impelido a confrontar verdades intrínsecas e inerentes a própria estrutura do funcionamento psiquico de forma tão abrupta como fora visto nestes últimos meses é uma atitude natural a negação como mecanismo de defesa do ego, visto que, este não está pronto para confrontar a realidade e esta atitude ajuda a estrutura psiquica a assimilar o trauma causado no funcionamento psiquico causado por uma verdade dura e inevitável. A morte existe, ela bate a porta e pode adentrar a casa de qualquer um, levar qualquer pessoa, levar o próprio indíviduo, e o sistema não é capaz de proteger a pessoa da morte, essa verdade é excessivamente severa para ser aceita e compreendida em tempo pouco hábil. Em nosso país, a figura que personifica a negação da sociedade brasileira é o próprio presidente, um sujeito com traços de psicopatia e megalomania, que defende o status do poder acima da vida de seus cidadãos. Mesmo diante dos alertas da OMS e do seu próprio ministro da saúde, ele insiste em discursar que “o vírus é apenas uma gripezinha” e que as pessoas devem deixar o isolamento social _orientação da OMS_ para trabalhar e fazer a economia girar. Estamos vivendo uma época extremamente “Freudiana” nunca antes na história as teorias do médico fizeram tanto sentido. Por Danielle Cassimiro, pós graduanda em psicologia e estudante de psicanálise. Uberaba, 15 de abril de 2020

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