Palavra (en)cantada: uma aula de música brasileira

Por Rafael Cruz | 10/10/2009 | Sociedade

Palavra Encantada

Palavra (en)cantada, um documentário de Helena Solberg (Vida de Menina, 2005) é, sem dúvida, uma aula de música brasileira, com requintada mistura de um bom uso da linguagem cinematográfica, qualidade técnica e ótimos depoimentos. Tudo isso envolto ao perfurme das mais belas canções brasileiras.

Este filme tem como objetivo traçar uma relação aprofundada entre a musicalidade, a literatura e poesia, que em sua justaposição forma a palavra cantada, acompanhando a evolução da música brasileira deste os primórdios do samba até os raps e música eletrônica de hoje em dia. Nele encontramos depoimentos de Adriana Calcanhoto, Arnaldo Antunes, Bnegão, Chico Buarque, Lirinha, Lenine, Maria Bethânia, Martinho da Vila, Tom Zé, Caetano Veloso, Zélia Duncan e outros. O filme mostra imagens raras e outras inéditas, como a encenação de Morte e Vida Severina no Teatro Universitário de Nancy, na França, imagens de Dorival Caymmi, o depoimento de Caetano Veloso no Festival da Record de 1967, logo após cantar “Alegria, Alegria” e outros. Alguns dos entrevistados ainda cantaram e tocaram canções especialmente para o documentário. Um deleite completo e único.

Particularmente, achei o ponto forte do filme (parte técnica) a edição. Já sabemos que montar um documentário não é fácil, mas este em especial tinha uma dificuldade maior, haja vista que o fio condutor era a música e suas entrelinhas. Fantástico o trabalho de Diana Vasconcellos. Ela conseguiu imprimir um ritmo suave, ao mesmo tempo progressivo e contagiante. Parabéns pelo belo trabalho! Abaixo segue uma pequena entrevista com a montadora:

O que é diferente na montagem de um documentário que tem a música como fio condutor? É mais difícil?

A montagem do documentário Palavra (En)cantada foi difícil pelas escolhas que tivemos que fazer. Para cada depoimento editado tantos outros não menos interessantes deveriam ser excluídos. Certamente foram muitas as dúvidas que acompanharam as escolhas. Quanto mais aprofundáva¬mos no conhecimento das letras da canção popular brasileira e sua relação com a literatura mais percebíamos que o filme seria apenas um olhar entre tantos possíveis. As idéias tinham que ser organizadas enquanto nos aproximávamos do universo criativo de cada entrevistado dei¬xando que o trabalho e a reflexão de cada um deles construíssem o caminho reflexivo do filme.

O filme tem muitos entrevistados, imagens antigas de arquivo e músicas. Como foi o processo para chegar ao corte final?

Trabalhar com a diversidade do material bruto e principalmente com as diferenças entre as experiências de cada artista foi o grande desafio, assim como somar idéias específicas sobre letra e música a outras muito amplas sobre a nossa cultura musical e literária. A edição do filme Palavra (En)cantada foi um processo fascinante e enriquecedor, especialmente por buscar na mesma fonte o conhecimento e o encantamento.

Nota para o filme: 8

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