Paixão

Por Vera Regina Lux | 12/12/2010 | Família

Paixão.!?
Ontem, assistindo a novela "Passione" na Rede Globo fiquei como mais de metade da população brasileira criticando a obra e, paralelamente, questionando o nome da mesma e os muitos significados da palavra paixão pensando assim a novela não poderia ter outro nome.
Saindo da televisão, refleti sobre o significado desta palavra que designa um sentimento. Sentimento esse que move o mundo, que leva a luta por grandes ideais, que tira pessoas das ruas ajuda-as a recuperar sua dignidade, que leva um time de uma enorme crise de volta para o cenário nacional, caso do meu time. A paixão que se transforma em amor, promovendo famílias felizes, religiosos fiéis como Irmã Dulce e tantos outros no anonimato do cotidiano, que leva pensadores a se debruçarem sobre a vida humana, dedicarem-se a causa, tornando-se ícones em educação como Paulo Freire, Edgar Morim, Guadner, Augusto Cury e tantos outros que inspiram minhas ações profissionais. Mas, que por outro lado, é responsável por crimes hediondos como o da menina Isabela Nardoni, da atriz Daniela Perez e tantos outros homens e mulheres que morrem ou suicidam-se diariamente em nosso país vítimas de crimes passionais.
Pensando em mim: sempre fui uma pessoa apaixonada, apesar do meu meio século de existência, ainda o sou. Sou apaixonada por minha família mãe, filho, marido, irmão, cunhados, sogros, sobrinhos; sou apaixonada por minha profissão, meus colegas de trabalho, meus alunos que são a maior razão do meu trabalho.
Como minha vida não é perfeita nem a de ninguém, eu cresci muito mimada por ser a mais moça dos três irmãos, a única menina na família paterna, me criaram para ser uma bonequinha. Isso não existe.
Aos vinte anos conheci o sofrimento da pior forma, meu pai, a pessoa com quem eu tinha maior afinidade, morreu de um câncer altamente doloroso e eu precisei cuidar dele e da minha mãe. Sentindo-me impotente, desenvolvi hábitos que me fazem muito mal, continuei apaixonada por todos e por tudo, menos por mim.
Os anos se passaram e eu voltei a me apaixonar por mim, construí uma família sólida e feliz, quando meu irmão mais velho, uma pessoa frágil e discriminada pela própria família adoeceu gravemente, nesse caso, esqueci a razão e lutei desesperadamente, movida a paixão, por mim, por ele, por meu outro irmão, pela minha mãe que dependia financeira e emocionalmente dele, por meu filho que era afilhado dele. O resultado obviamente foi a sua morte, vocês já podem imaginar o tamanho da impotência que eu senti.
Então eu adquiri uma paixão mórbida por mim, entrei num processo de autodestruição, que junto com o fato de também ter superprotegido o meu filho e não prepará-lo para a vida e suas mazelas, bem como os mistérios da paixão, quase me levaram para o fundo do poço.
Estou em processo de recuperação, eu entendi que não adianta eu ser apaixonada pelo mundo, se eu não o for por mim, agindo assim eu vou me tornar uma pessoa doente emocionalmente, mais do que eu já o sou, e agir como o grande ditador, que por vaidade, destruiu o seu país e maltratou e matou milhares de judeus.
Com tudo isso, quero concluir pedindo a cada um dos meus leitores que nunca deixem de ser um apaixonado por si mesmo, que sejam sim, apaixonados por seus filhos, mas que ensinem a eles até onde a paixão é um sentimento saudável, e, principalmente, deixem que eles sofram o que tiverem que sofrer só o sofrimento que vem naturalmente faz amadurecer, deixem que eles tenham pequenas frustrações desde a tenra idade para que não se tornem adultos doentes. Não quero, com isso, que provoquem sofrimento a seus filhos, eles aparecerão sozinhos, queiram os pais ou não.
Cuidem da própria emoção, não sejam traidores da família, conversem com os pequenos, brinquem com eles. Apaixonem-se por esta instituição!
Assim, muda a educação, muda a sociedade, diminui a violência e teremos um mundo mais feliz.