PAIS: LIMITES E REGRAS

Por sebastião maciel costa | 16/01/2024 | Educação

                                                                  Pais: Limites e Regras

         Como criar condições para conciliar a pressão do mundo “líquido” e as regras “sólidas” que precisam ser definidas. Um velho índio americano, inspirado por um pensador anônimo, aconselharia a pais modernos uma alternativa bem singular para não comprometer responsabilidades entre gerações. Em sabendo que a maior preocupação dos pais é não permitir que seus filhos sofram o que eles, no seu tempo, sofreram; que as crianças tenham, para o seu desfrute, tudo aquilo que os pais não tiveram; que eles não sofram  “sofrer” as privações que naqueles tempos difíceis seus pais sofreram; que a palmatória, o cinto, o chinelo, o joelho no milho, sejam mitos de um passado, de uma sociedade menos esclarecida que educava com o rigor que beirava o sofrimento, a punição, a castração, a humilhações...

       Os adultos que passaram por essas provas, no seu tempo, e trouxeram suas memórias aplicam-nas com sabedoria, em seus filhos.Eles agradecem os limites que receberam, como passaporte para o fortalecimento de valores que hoje delimitam os destinos de novas gerações. Sim, mas voltando ao velho índio e sua reflexão que dizia: não incentive seus filhos a ter mais do que você teve, incentive-os a serem melhores do que você foi”.

        No jogo das palavras, “o mundo líquido”, aqui referido, nos leva a um mundo onde a base é virtual, onde a autoafirmação do ser humano é regulada pela quantidade de seguidores, pela aprovação dos seus movimentos em uma dança insana, pela popularização de falares e gírias que passam a fazer sucesso, a partir do prestígio do influencer, que induz, que tudo o que se refere ao passado, precisa ser abolido, descartado sob pena de aqueles que insistirem em pensar ou agir “fora dos padrões da thurma”  sejam ridicularizados por serem “diferentes”, “menininho”, inferiores por obedecerem, por respeitarem o meio, por se submeterem  à autoridade dos pais, por atenderem aos professores, por ouvirem os mais velhos, por serem gentis com o outro.

        Vale registrar que uma grande maioria de pais trazem em si, a responsabilidade de, acima de tudo garantir autonomia dos seus filhos no presente, nos desafios que serão encontrados na escola, na rua, no lazer, no esporte à medida que sua capacidade de perceber-se protagonista do seu tempo e de suas ações. Ocorre, porém, que na outra ponta, existe um universo inteiro de opiniões que nem sempre vêm ao encontro das orientações dadas por esses pais presentes e verdadeiros gestores do futuro.

        No referido universo que se opõe ao seu mundo, o mais comum é que o seu filho seja catequisado para não seguir o que os seus pais determinam, porque é mais fácil ser “livre” para fazer o que se quer. “Esse lance de obedecer a pais é coisa do passado, vamos é prá cima, vamos detonar, a vida é agora” É um refrão da garotada criada nos moldes onde as regras não existem, os limites não resistem, os seus pais, por não estarem presentes, ou por não serem presentes por comodismo, condições ou opção “deixam a criação por conta das telas, dos likes, sejam na concepção de valores, seja no culto de preceitos virtuais, seja na negação de valores fundamentais como família, escola, trabalho e sociedade.  Essas crianças não podem ser responsabilizadas pela acumulação de comportamentos que lhes são impostos, mas alçarão literalmente a voos que esses “hábitos” hão de cristalizar na forma de ver outro, de viver a vida, de cuidar da natureza, de honrar pai e mãe e honrar-se pelo que serão.

        Uma preocupação comum dos pais é se os filhos se sentirão inferiores por viverem um estilo de vida que resulte de diálogo, de discussão de temas de âmbito formativo para pais e filhos, de estudos e análises de valores que orientem para que no futuro as crianças sejam fortes o suficiente, para se defender de quaisquer entraves. Se a criança aprendeu a se defender por meio da verdade e do ouvir, certamente será capaz de dizer “NÃO” a tudo que vier de encontro aos princípios propostos pelas normas domésticas tão bem alinhadas por pais conscientes de sua responsabilidade do discutir para encontrar o bom senso. É importante ensinar as crianças a valorizar experiências e relações em vez de posses materiais. Encorajando a gratidão e a apreciação pelas coisas que têm, em vez de se concentrar no que falta.

         Na verdade, a grande preocupação dos pais modernos é que nada falte aos seus filhos. Mas é preciso que esse sentimento seja vivenciado pelos filhos de que o ter é necessário; mas não é o bastante. Não se trata de cobrar retorno dos filhos pelos gastos e investimentos feitos em seu favor, mas ensiná-las a ser gratas pelo que têm para saibam valorizar o produto do trabalho digno dos pais. Nesse recorte vem a fatura: A CRIANÇA IMITA OS SEUS PAIS POR ADMIRÁ-LOS. Daí alertam-se de que os atos, as falas, as reações, o comportamento, as relações, as amizades dos pais são modelos de observação das crianças. Aprendem com grande facilidade, estimuladas pelo carinho e admiração que nutrem pelos seus pais, seus ídolos, modelos, símbolos de confiança, garantia de permanente porto seguro.

         No afã de acarinhar, proteger e defender, muitas vezes, as crianças são “privadas” de certos compromissos, como se assim agindo os pais estivessem evidenciando que para elas só serão reservados prazeres, lazer, repouso, celular, passeios, lanches especiais. O que é pesado é da empregada, o que é difícil é da babá, o que é arriscado é do papai, o que é maçante é da mamãe. Ora, quando a criança crescer, ela vai saber fazer o que nunca fez? Ela vai resolver um problema que nunca lhe foi ensinado? Ela vai enfrentar com segurança uma situação de risco com chances de sucesso?  Se a criança tem habilidade suficiente para manusear e navegar naturalmente nas telas ela tem condições de entender: quem manda em quem, até onde ela pode ir e o que ela pode adquirir em termos de habilidades. Nesse recorte entram as pequenas tarefas domésticas que farão toda a diferença na vida futura: forrar a cama, guardar brinquedos, colocar roupa suja no cesto, limpar os espaços após o uso, retirar seus pratos da mesa, ter horários de estudos, repouso lazer. Mesmo que essas lições quando chegadas ao conhecimento dos colegas possam causar estranheza, não poderão ser vistas como castigo, punições ou rigor, mas como lições de vida. Afinal, o que seriam dos rios se lhes tirassem as margens?  Como eles chegariam, ao seu tempo, ao seu destino se suas águas perderam-se no universo líquido da virtualidade tão em voga nos dias atuais?

        Sem cobranças, sem culpa, sem rótulo, ou se salvam os valores morais por meio uma prática social revestida de seriedade e compromisso, ou pouco se deve esperar do futuro da humanidade. Afinal, o resultado do que fazemos, nos espera logo ali. O resultado do que deixamos de fazer não dá para contabilizar já que não há maneiras suaves para se combater os maus hábitos. E, os hábitos das crianças foram copiados de quem esteve mais perto delas, durante a sua fase de formação. Deixando suas marcas indeléveis que perdurarão por muito tempo, já que tão importante quanto a qualidade do fruto é a qualidade que teve a semente.

       Valendo-se mais uma vez de lições de vida que valem uma vida, lembremos do velho pedreiro que depois de vários anos servindo a um determinado patrão, em uma saudável relação como deve ser entre pais e filhos, professor e alunos, onde cada um agente cumpre da melhor forma possível, o seu papel. O pedreiro, com muito respeito propôs ao patrão que suas relações chegariam ao fim. Registre-se que entre professor e aluno compromisso temporal será selado pelo sentimento que envolveu tais protagonistas; entre pais e filhos, pela força do sentimento que os une, essa relação é para sempre, porque assim tem sido e será. Para o empregado, as regras sociais nos levam à aposentadoria.

      Para o velho pedreiro, descansar um pouco era necessário. O patrão recebeu o seu pedido e retrucou: - Vou atender ao seu justo pedido, mas antes eu preciso que você construa a última casa seguindo o mesmo capricho com que você me construiu tantas outras. O velho pedreiro, não gostou daquela incumbência. Gostaria de sair logo. Mas, para honrar uma relação de trabalho que durou tanto, preferiu assumir a tarefa. À medida que o tempo avançava, ele ia se conscientizando que precisava acelerar e começou a fazer tudo, de qualquer jeito, assim ele prosseguiu fazendo um trabalho de segunda qualidade, usando restos de materiais, madeiras estragadas, louças defeituosas, fazendo o que fosse possível para terminar o mais rápido possível. Ele sabia que não estava encerrando sua carreira com dignidade mas era a forma de “alinhavar”, fazer de qualquer jeito a fim de, no menor espaço de tempo, livrar-se da obra que o mantinha “preso”. Quem olhasse com cuidado percebia as falhas, mas pelo seu renome de bom profissional, tudo parecia dentro da normalidade. Assim ele terminou de “formar” aquela que seria produto do seu trabalho, parte de sua história. Era como se esse pedreiro, construtor de belas casas fosse comparado com pais, formadores e educadores de belas criaturas.

        Mas a fatura chegou. Dada por concluída a obra, o patrão veio, inspecionou todo o trabalho e   entregando-lhes as chaves da casa disse:  "Esta é a sua casa. Ela é o meu presente para você". O pedreiro ficou muito surpreendido. Que pena! Se ele soubesse que estava construindo sua própria casa, teria feito tudo diferente....

        Na árdua tarefa de formar e educar crianças postas em nossas mãos, agimos com firmeza como se estivéssemos construindo a nossa vida, um dia de cada vez e muitas vezes fazendo menos que o melhor possível na sua construção. Depois, com surpresa, descobrimos que precisamos viver na casa que nós construímos: o coração dos nossos filhos e alunos. Se pudéssemos fazer tudo de novo, faríamos tudo diferente. Será que possível voltar atrás? "A vida é um projeto que cada um, por si mesmo, constrói". As atitudes e escolhas de hoje estão construindo a "casa" em que vai morar amanhã, O HOMEM DO PORVIR. Portanto, a construção não deve ter falha, mas trazer o que se construiu com sabedoria, honra e compromisso com a vida.

  • Sebastião Maciel Costa
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