Pai: Modelo de Existência
Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo | 16/03/2017 | FamíliaExistem acontecimentos na vida de uma pessoa que constituem o que de mais elevado, nobre e responsável se pode vivenciar, por várias décadas, ou por poucos momentos, dias, semanas, meses e anos, sendo certo que a partir de um dado instante, se assume um compromisso para a vida, pelo menos enquanto durar o vínculo que une, na circunstância, Pai e filhos.
Todos os anos, no dia dezanove de março, celebra-se o “Dia Mundial do Pai”. Claro que qualquer pessoa argumenta, e com razão, que dia do Pai, deveriam ser todos os segundos, minutos e horas de cada dia, no entanto, penso que se pretende, com a fixação de um dia no ano, prestar uma homenagem a todos os Pais, principalmente àqueles que, por motivos diversos, não têm conseguido usufruir da presença, do acompanhamento, compreensão e amor de e para com os filhos. A importância do Pai presente é vital.
Celebrar o dia do Pai que, tradicional e catolicamente, se associou ao dia de S. José, é, efetivamente, um tributo que a sociedade presta a quem tem o privilégio, mas, igualmente, a responsabilidade de ser Pai, independentemente de ser pela via natural/biológica artificial ou adotiva.
Atualmente, primeiro quarto do século XXI, a condição de Pai, perante uma família constituída em moldes tradicionais: uma mulher e um homem, estruturada e comungando de regras, valores, sentimentos e boas-práticas, não será muito fácil, se este progenitor assumir posições de prepotência, intolerância e insensibilidade para com os seus filhos, os quais, naturalmente, carecem, cada vez mais, de Pais presentes, unidos, carinhosos, amigos, companheiros, defensores, protetores e cúmplices.
Desempenhar as funções de Pai, numa sociedade complexa, consumista e plena de solicitações, através de agressivos incentivos à aquisição de bens e produtos, para com todas as pessoas em geral e, particularmente, em relação às crianças, adolescentes e jovens, é muito difícil e, não raro, impossível de cumprir integralmente, sob pena de vir a abrir precedentes nocivos a uma correta educação dos filhos
Naturalmente que uma família sólida, portadora de normas de conduta exigentes e rigorosas, a educação e formação dos filhos é da responsabilidade conjunta da Mãe e do Pai, sem dúvida alguma, porém, há situações que são mais apropriadas para o Pai esclarecer e, se necessário, resolver perante os filhos e, outras que são mais adequadas para a mãe elucidar e solucionar, junto das suas filhas, todavia, o essencial, o que deve ser interiorizado pelos filhos, independentemente do género, é sempre transmitido, complementar e simultaneamente, pelos dois progenitores.
Antes de se entrar numa análise positiva ao papel do Pai, ainda que sob um prisma subjetivo, importa ressaltar que, na sociedade contemporânea, existem situações muito diferenciadas e, também, incompatíveis entre elas, porque: tanto se pode detetar comportamentos hostis de filhos para com o Pai; como atitudes de rejeição de Pais masculinos para com os próprios filhos biológicos; e, ainda conflitos entre a mãe e o Pai, cujas consequências mais graves recaem, muitas vezes, nos próprios filhos.
De facto, no primeiro caso, há filhos que, por motivos diversos, desde os mais mesquinhos e egoístas, aos mais autenticamente legítimos e legais, levam a que um ou outro filho, qualquer que seja o género, se afaste e, em algumas circunstâncias, maltrate o próprio Pai, inclusive, com recurso à violência física até à morte de um ou dos dois procriadores.
Na segunda hipótese, rejeição do Pai para com os filhos, aqui poderá haver, também, algumas situações que, inadvertidamente, levam tais Pais a cometerem faltas graves, desde logo, quando verificam que os filhos não lhes têm respeito, e não haver razão plausível para este comportamento, bem como quando os filhos não têm a paternidade definida e há suspeitas de que o Pai biológico pode não ser, efetivamente, e de direito, o que coabita com a mãe desse filho, não querendo este Pai assumir, com amor e compreensão, a autoria biológica, de um filho que lhe suscita dúvidas quanto à autenticidade da respetiva filiação.
Finalmente, uma outra situação, cada vez mais frequente, que resulta de conflitos entre Pai e Mãe e a posterior separação litigiosa. Este desfecho, que tem vindo a aumentar e que, por vezes, conduz à consumação de atos vigorosos de força, como o homicídio, normalmente, precedido de violência doméstica, por longos períodos de tempo, produz um efeito extremamente pernicioso sobre os filhos, os quais, quando ainda crianças, são retirados, judicialmente, aos Pais e entregues a familiares idosos, normalmente os avós, ou a instituições de acolhimento.
Mas, considerando situações normais, equilibradas e harmoniosas, debrucemo-nos, agora, com otimismo, para a relevância que tem a intervenção do Pai, no acompanhamento dos filhos, na sua educação, formação e preparação para a vida ativa, partindo do pressuposto que ele é um homem de bons princípios, valores e sentimentos nobres, que enaltecem a pessoa humana e, por conseguinte, será sempre um excelente cidadão, perante a sociedade, um autêntico líder, obviamente, em harmonia com a esposa, no seio da família.
É este Pai que hoje queremos prestigiar, dignificar e adotar como paradigma a seguir: um Pai extremoso, mas firme; um Pai educador, mas tolerante; um Pai companheiro, mas respeitador; um Pai solidário, mas rigoroso; um Pai juiz, mas imparcial; um Pai presente, mas vigilante, enfim, um Pai, amigo, companheiro, leal, que diz um sim com firmeza e um não com carinho, sempre que tal postura se torne necessário para a melhor formação dos filhos.
O exercício deste papel de Pai, afinal, nem será assim tão difícil, porque o fundamental, que são os bons exemplos, em todas as dimensões humanas, desde logo a partir do trabalho profissional e honesto, da poupança, do estudo, da boa educação, da amabilidade sincera, da recusa ao recurso da bajulação e da hipocrisia, da intervenção cívica, do respeito, amor e humildade no seio familiar, tudo isto pode, e deve, ser passado para o filho e deste para os seus descendentes, e assim sucessivamente, até que possamos ter uma sociedade de mulheres e homens, verdadeiramente dignos e humanistas.
O privilégio de se ter um Pai, tal como uma Mãe, dos quais nos possamos orgulhar é como uma “Dádiva Divina”, por isso tudo o que pudermos fazer pelo nosso Pai, para que ele tenha uma velhice tranquila, confortável, feliz e digna, devemos assumir tal compromisso, sem mais demoras, até porque o Pai é como um farol de orientação nas nossas vidas, uma referência da qual nos devemos sentir honrados, prestigiados e respeitados.
Há um ditado popular que refere o seguinte: “Filho és, Pai serás; como fizeres, assim receberás”. Independentemente de aceitarmos, ou não, o alcance desta filosofia plebeia, temos o dever indeclinável de amar, respeitar e cuidar muito bem do nosso Pai, como, indiscutivelmente, da nossa Mãe, hoje, porém, mais direcionado para o Pai, porque é o dia do ano que, conjuntamente com S. José, lhe dedicamos, embora seja nossa obrigação honrar e venerar o Pai todos os dias do ano, ou melhor, todos os momentos da sua existência.
Pai, palavra pequenina, tal como Mãe, ambas, apenas, com três letras e que no caso do Pai, poderíamos muito bem construir uma frase muito singela, mas simbólica e verdadeira. PAI enquanto sigla de: Poder, Amor e Inteligência. Sim, é a realidade, porque para um bom filho, um Pai exemplar, poderá comportar todos aqueles atributos e muitos mais. E, circunstância curiosa: tal como a palavra Mãe tem a vogal “a” no meio, também a palavra Pai, tem a mesma vogal em idêntica posição, e, em ambos os nomes, ela, a vogal “a”, significará sempre AMOR.
Neste dia consagrado ao Pai, vamos ser humildes, pedir-lhe a sua proteção, esteja ele onde estiver, porque a ele devemos a nossa existência, tal como à nossa Mãe, por isto te solicitamos Pai Amado: Protege-nos.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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