Padrinho dos memes diz que cultura da internet vai dominar 'mainstream'

Por Dalex Alves De Oliveira | 17/08/2011 | Adm

17/08/2011 13h54 - Atualizado em 17/08/2011 16h03

Padrinho dos memes diz que cultura da internet vai dominar 'mainstream'
Christopher Poole, criador do fórum 4chan, participa do YouPix, em SP.
Ao G1, ele defende o direito ao anonimato na web e critica governo inglês.

Leopoldo Godoy
Do G1, em São Paulo

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Christopher Poole, o 'moot', criador do 4chan:
mecenas da cultura da internet (Foto: Divulgação)
A cultura que nasceu para a internet já se tornou "mainstream" e mostra sinais de que vai dominar os outros meios. Se a aposta se tornar realidade, ela fará de seu autor um mecenas do mundo contemporâneo. O americano Christopher Poole, mais conhecido como "moot", é o criador do fórum 4chan, que o G1 já classificou, em 2008, como "o 'ground zero' da cultura inútil da internet ocidental".

Poole, 24 anos, veio ao Brasil para participar do festival de cultura digital YouPix, que começa nesta quarta-feira (17) no Porão das Artes, no Ibirapuera, em São Paulo, e conversou com o G1. Na quinta-feira, ele falará sobre como criar e manter uma comunidade ativa.

"Eu não me considero uma pessoa influente, mas o 4chan certamente é", afirma Poole. O site, um conjunto quase caótico de comunidades onde boa parte dos participantes se identifica como "anônimo", foi criado há 8 anos e é o berço de boa parte dos chamados memes da internet. O termo é usado para designar frases, imagens, vídeos e piadas que se disseminam rapidamente pela rede, misturando-se uns aos outros e sofrendo mutações para se adaptar a diferentes contextos.

A prova do sucesso dos memes está em programas de TV que usam a expressão "#ficadica", com a mesma sintaxe do Twitter, ou em propagandas inspiradas em vídeos como "Double Rainbow" e "David After Dentist". "Já existe uma penetração muito grande do que aparece no 4chan e o que vai parar na cultura pop global. Somos uma base de criação até de gírias", afirma.

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"moot" evita se colocar acima do site que ele criou quando tinha apenas 15 anos. "Eu não sou influente, o 4chan é", afirma Poole, eleito em 2008 em votação popular na revista Time como a pessoa mais importante do ano. A votação, claro, foi adulterada por participantes do 4chan. Por muitos anos, o jovem se manteve no anonimato, mesmo quando o site já começava a despontar em jornais e na TV como o ponto de encontro dos ativistas hackers do grupo "Anonymous".

Poole não acredita que tenha mérito - ou culpa - pelo surgimento do movimento que enfrentou governos e empresas na internet nos últimos anos. "Sim, as origens do 'Anonymous' podem ser traçadas até o 4chan, mas eu não me vejo como diretamente responsável por isso."


Nyancat: mixado, remixado e introduzido de vez no 'mainstream' (Foto: Reprodução)
Essa separação vai de encontro com a visão do americano sobre o direito de se manter no anonimato na internet, combatido atualmente por gigantes como Google e Facebook. "As pessoas merecem ter o direito ao anonimato, caso elas escolham permanecer assim. Claro, deve existir um meio termo entre a impossibilidade de se identitificar o autor de uma ofensa, por exemplo, e a identificação constante e precisa, como no Facebook. Gostaria que as pessoas tentassem entender que é possível viver nesse caminho do meio, em vez de defender um extremo."

Poole criticou ainda a censura na rede, assunto que voltou à pauta depois que o premiê britânico David Cameron sugeriu que o Facebook e os serviços de mensagem do Blackberry fossem desativados temporariamente para conter a recente onda de protestos no país. "É um passo para trás, e uma maneira estúpida de lidar com a liberdade na rede. Em San Francisco, tentaram bloquear o acesso a celulares para evitar uma manifestação no sistema de trens suburbanos. O que aconteceu? A manifestação para protestar contra o bloqueio acabou sendo maior que o protesto original. É bom ver que as pessoas se defendem destas ações."