PACIENTE TERMINAL: Prolongando o Sofrimento

Por Selma Domingos | 20/07/2009 | Saúde

Prolongando o sofrimento

PACIENTE TERMINAL:Unidade de terapia intensiva,

Futilidade terapêutica,prolongamento do sofrimento, finitude e dignidade

Por: Selma Domingos de Oliveira

Colaboração: Nelinho Moraes

RESUMO

Em pleno século XXI, nos deparamos com profissionais de saúde, altamente qualificados, preparados tecnicamente para lidar com a doença, se aperfeiçoando no avanço tecnológico para salvar vidas, tratar, curar, e recuperar os doentes, ou seja, voltado para uma filosofia somente de cura, porém despreparado tecnicamente para lidar com o sofrimento, a morte, e o processo de morrer, prática essa executada que o torna distante do paciente e despreparado em relacionar e cuidar do paciente principalmente o paciente terminal.

A valorização do uso excessivo e inapropriado da tecnologia, o poder do profissional médico de decidir sozinho, sobre a vida do outro, muitas das vezes, não se importando com a opinião do paciente, e assumindo toda responsabilidade das decisões do método terapêutico, sem compartilhar as condutas com outros profissionais/ equipe, familiares , situação essa que contradize com a filosofia de um cuidado humanizado, de um cuidar voltado para Ajudar, confortar, e aliviar a dor do paciente, embasado nas questões, ética, moral e legal, sempre indo de encontro com as necessidades do doente, priorizando sua qualidade de vida e não prolongando o seu sofrimento.A angústia do médico em lidar com situações conflitantes e polêmicas, volta-se muitas vezes para decisões imediatistas, intervenções inviáveis, não refletindo na vida, na humana na limitação da prática.

INTRODUÇÃO

Diante da problemática e da dificuldade dos profissionais em lidar com a morte, das distorções nos critérios para internação, de entender a necessidade de quando interromper uma terapêutica, da tarefa arriscada de cuidar do paciente terminal, da qualidade de vida do moribundo, os profissionais de saúde ficam muito angustiados vulneráveis, sente-se fracassados pela perda, pelo limite da medicina, da tecnologia, situação essa, que altera seu equilíbrio emocional, refletindo no despreparo técnico para lidar com tal situação.

Geralmente o profissional Médico acaba valorizando muito a técnica, privilegiando os aspectos biológicos, a doença, a luta pela vida, e cura dos doentes, independente dos recursos utilizados parecendo os "Senhores da vida", geralmente acompanhado do paciente que também não aceita o sofrimento, a morte, a doença, mas só o intenso desejo de viver. Diante dessa dificuldade da grande maioria dos profissionais de entender a concepção da vida , da existência , do reconhecimento do limite da medicina , do tempo determinado para todas as coisas, do tempo de nascer e morrer, os profissionais tornam se dependentes da ciência, do avanço da tecnologia, da droga da última geração, e acaba deixando, de lado a razão o bom senso, a fé, a reflexão de aspectos subjetivos do tratamento, da complexidade e a dimensão da arte de tratar e cuidar do outro como corpo/alma. Enquanto isso, a dura realidade esta sendo vivenciada em muitos dos hospitais principalmente nas enfermarias, onde concentram grande número de pacientes terminais internados, dependentes de máquinas, aparelhagens, drogas e antibiótico de última geração , podendo estar necessitando de vaga na UTI . Nesse contexto instala um dilema "Ir ou não ir para UTI?" De quem é a responsabilidade e a decisão final ? É só do médico? Situação essa que envolve sentimentos angustiantes de medo, de conduta inadequada de sentenciar vida ou morte, "de "viver bem/mal ou morrer bem/mal", decisão essa que pode estar relacionada a filosofia de vida, de valores, ideologia, caráter de cada um , e que acabam sendo transferidas para a prática profissional.

Kovács destaca que uma das causas de sofrimento do profissional de saúde é o sentimento de impotência/onipotência diante das possibilidades e limitações da medicina, e a consciência de finitude na quais os profissionais são submetidos quando lidam com uma realidade onde a doença e a iminência da morte são tão reais. Pareceque no contato com a morte em tarefa diária, o profissional pode "reexperimentar

"medos infantis de separação, abandono e o medo de sua própria mortalidade".

Para compreender .como o avanço tecnológico na área da saúde trouxe à tona uma gama de questões de ordem ética e moral relativa ao uso detecnologia em pacientes graves, é interessante a discussão estabelecida por Scharamm a respeito do paradigma biotecnocientíficono campo da medicina. Os autores apontam para o fato da incorporação tecnológica no campo da saúde estar sendo feita muitas vezes de forma a crítica, sem queos profissionais de saúde avaliem e reflitam acerca de sua eficácia, efetividade e eficiência.

A maravilhosa e fascinante consciência acompanhada da autonomia pode ser o segredo da humanização do cuidado com paciente terminal, ou seja, a luz do bom senso e da prática de cuidar, da dignidade, do respeito do doente, em condições de poder expressar qual é o seu desejo no fim da vida, decisão essa que deve ser tomada no momento de sua consciência integra, portanto faz se necessário no momento da internação uma anamnese minuciosa ,uma relação médico-paciente-empática, ou seja, um relacionamento interpessoal integrado, voltado nas suas várias dimensões bio-so-psico e espiritual, prevalecendo sempre à verdade, frente à doença, diagnóstico e prognóstico, complicação, os tipos de métodos terapêuticos,dos riscos e benefício do tratamento e da sobrevida .

Tempo para todo propósito debaixo de céu.

Tempo de nascer e tempo de morrer... "Ecl 3,1-2

O sofrimento humano somente é intolerável se ninguém cuida Séssil Saunders

Na análise e avaliação dos casos, cada caso é um caso, o paciente pode ou não ter perspectiva de cura, ou às vezes só prolongar o sofrimento e a dor, a natureza não tem resposta para tudo, é tudo controverso, a natureza divina confunde a ciência, a medicina e a fé, a filosofia se confunde com a psicologia, enfim tudo se confunde,

Por isso é importantíssimo o envolvimento com o paciente e família, o compartilhar as condutas com outros profissionais de trabalho,afinal o esse momento de decidir sobre a vida do outro , precisa ter muita calma,

serenidade,sabedoria divina, acompanhado do embasamento teórico

Científico, técnico, espiritual, ético, moral e legal , e não um tratamento e

tecnologias inviáveis. Essa decisão deve basear no

contexto de que a Medicina não é só curar, mas tratar, recuperar, independente da doença, do estágio, do paciente ser terminal ou não, a filosofia é cuidar é aliviar sempre que possível.

Permitir a alguém morrer é diferente de matá-la, esse entendimento vem do Papa Pio XII lembra.

"Assim morreu João Paulo II. Assim morreu Covas. Quem questionou suas mortes contestar-se ia à resolução que nada diz a lém disso?"

TRATAMENTO ORDINÁRIO

O paciente terminal não pode ter o desfecho da sua vida simplesmente antecipado, sob pena de se proceder a eutanásia que, ética, moral e legalmente, equivale a tirar a vida, matar ou cometer homicídio.Então, ao paciente terminal devem ser garantidos os chamados recursos ordinários, obrigatórios, que o Dr. Pirâmides elenca como sendo a cotas básicas de eletrólitos, nutrientes e hidratação, a sedação da dor e os cuidados gerais de higiene e enfermagem, tudo no intuito de, não acelerando a morte ou o

caso natural da vida, garantir ao paciente chegar ao seu fim com dignidade.

TRATAMENTO EXTRAORDINÁRIO

Já os recursos extraordinários, opcionais, abrangem as transfusões de sangue e derivados, os transplantes de órgãos, as cirurgias extensas e mutilatórias e os medicamentos ou terapias experimentais.Trata-se aqui de meios excepcionais de prolongamento da vida do paciente terminal; por isso, razoável que seja objeto de consulta ao doente ou seus representantes legais, sendo certo que a sua recusa não importa em suicídio e a sua não administração não incorre em tipicidade penal.

REFLEXÃO

Se quando o profissional esgotar a ciência e deixa a natureza humana agir, sem permitir que prolongue agonia e o sofrimento do enfermo o resultado pode ser melhor...

O difícil não é morrer é sofrer sozinho num ambiente desconhecido, solitário, cheio de tubos, e aparelhagens, exames complexos, repetidas punções venosas, infinitas coletas de sangue, e diversos métodos diagnósticos terapêuticos, porque é necessário definir o diagnóstico...

O despreparo e a dificuldade dos profissionais em enxergarem o sofrimento da alma, a agonia, e a angústia do paciente e saber quando é hora de parar...

Tristeza maior é o doente não conseguir se expressar no momento de sua finitude diante de uma objeção terapêutica...

OBJETIVO :Analisar a dificuldade dos profissionais de saúde em cessar um tratamento terapêutico ou prolongar o sofrimento de um paciente terminal, frente ao avanço da tecnologia.

JUSTIFICATIVA :A dificuldade do profissional em saúde , da família, em lidar com a morte, paciente terminal, da responsabilidade do médico em decidir quem vai para a UTI, da falta de critérios amparo legal, da angústia de decidir, do despreparo em lidar com essas situações que passam a ser freqüentes nos hospitais, dacegueira de enxergar o sofrimento da alma do doente esquecendo o humano, de comunicar com o paciente , de esclarecer as dúvidas, de dar opção de escolha de tratamento , de poder ter o direito de se expressar.Partindo desse contexto fica visível a dificuldade do profissional de cuidar do paciente terminal ,de compreender que a dúvida sempre vai existir e que um paciente considerado terminal pode morrer ou voltar a sua sobrevida e ter uma sobrevida digamos estimável, portanto nada é certo tudo é incerto , certeza maior é de que não temos certeza de absolutamente nada.

REFLEXÃO

Resolução publicada no Diário Oficial da União em 28/11/2006, diz em outras palavras, é "não sejam iatrogênicos com seus pacientes que morrem. Pesem a indicação técnica e humana, em lugar de agirem como autômatos aplicadores de recursos e protocolos, e perguntem – sim, perguntem! Eles pensam e sentem! – aos pacientes o que eles acham das possibilidades, das vantagens oferecidas e das desvantagens das medidas que vocês têm a oferecer". A Resolução é, no mínimo, um compelir ao diálogo, hoje tão raro, a despeito de tão precioso no relacionamento profissional-paciente, sobretudo quando se aproxima o momento final.

Pela Resolução (DOU – 28/11/2006) "na fase terminal de enfermidades" graves e incuráveis é permitido suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente, garantindo necessários para aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, na perspectiva integral, respeitada a vontade do paciente ou de seu representante legal. O médico tem obrigação de esclarecer ao doente legal as modalidades terapêuticas adequadas para cada situação.

Não se trata de abandonar o paciente terminal, mas de mudar o foco de sua abordagem, a fim de promover-lhe mais conforto e dignidade, em lugar de mais degrada-lo com tenta deseja e pelas quis não precisa passar.

É ilógico, indigno, é irrazoável que traz como fundamento o princípio da dignidade da pessoa humana pura instrumentalização do homen em seu momento final, para obrigá-lo a uma curta sofrida e que não deseje.

Segundo a Lei Federal: 10.245/99 cita em seu art. 20: São direitos dos usuários do estado de São Paulo: (...)- Consentir ou recusar, de forma livre, voluntária adequada informação, procedimentos diagnósticos ou terapêuticos e , ainda,se tratamentos dolorosos e extraordinários para prolongar a vida; de morte.

PERGUNTAS

E pergunta-se ainda "Até quando investir em determinado tratamento?".

Quando cessar um método diagnóstico e terapêutico?

De que é o poder de decisão do paciente na sua finitude?

Quando o paciente deve manifestar ou recusar seu desejo de terapêutica?

FONTES DE PESQUISA

1 - "Até onde investir no paciente grave?"-Decisões envolvendo a prática médica na UTI - Alessandra Rodrigues Uller (dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Ciências na área de Saúde Pública)- Dezembro de 2007 – www.saude.gov.br

2 - Revista Isto É - A pratica da morte - 17 de julho de 1996

3 - Revista Claudia – Junho de 2001 – Ed: 477; (Patrícia Zaid – Eutanásia: matar ou morrer)

4 - Revista Tempo Medicina – Novembro de 2002 – Cuidados Paliativos)

5 - Diário Oficial da União – 28/11/2006

6 - Lei Federal 10.245/99

7 - Jornal O Estado de São Paulo – 29 de julho de 2006 – "Nas UT IS, 30% dos pacientes são terminais" – Simone Wasso.

8 - Revista Evocati – 03/07/2009 – "A eutanásia é legal ou depende da visão dos juristas" – Maria Elisa Villas-Boas

*** Colaborou: Nelinho Moraes