Osteomielite Aguda
Por TANHA SCHMIDT | 28/04/2016 | SaúdeOsteomielite Aguda
Introdução
É a infecção bacteriana aguda do osso. Em crianças, geralmente, origina-se de foco hematogênico, mas pode ocorrer após trauma penetrante, cirurgia ou infecção contígua. É comum antecedente de traumatismo contuso em caso de osteomielite de origem hematogênica.
Epidemiologia
A incidência maior é no sexo masculino, talvez pelo risco maior de traumas.
Quanto à idade, afeta mais pré-escolares.
Etiologia
A principal bactéria a causar osteomielite é o Staphylococcus Aureus. Em seguida, Streptococcus pyogenes e, em menor proporção, Streptococcus pneumoniae.
Em RN, a infecção pode ser causada por Streptococcus do grupo B e bacilos Gram negativos.
Pseudomonas aeruginosa é a etiologia em casos de feridas penetrantes no pé.
Portadores de anemia falciforme ou outras hemoglobinopatias, frequentemente têm a osteomielite causada por Salmonella.
A bactéria Gram negativa Kingella kingae tem sido identificada com frequência em crianças menores de 2 anos, após infecção respiratória.
Fisiopatologia
Como os ossos em crescimento têm abundante vascularização, a bactéria circulante atinge a metáfise, local de circulação lenta do sangue, onde inicia o foco de infecção. A infecção, ao progredir, atinge o espaço sub-periostal e o córtex.
Quadro clínico
- Febre;
- Dor local;
- Edema e eritema locais;
- Claudicação;
- Incapacidade do local afetado em suportar peso.
Em RN, o quadro é de irritabilidade e limitação de movimentos.
Os ossos mais acometidos são úmero, fêmur e tíbia.
Laboratório
Hemograma – leucocitose.
VHS e PCR – elevados.
Cultura – material obtido por aspiração óssea ou da articulação, quando há comprometimento articular.
Hemocultura
Imagem
RX – inicialmente normal, ou aumento de partes moles; mostra alterações após 10 a 15 dias do início do quadro: destruição óssea e elevação do periósteo.
Ressonância magnética – o principal exame. Realizado com contraste, mostra a lesão óssea.
Cintilografia – utilizando tecnécio, distingue osteomielite de celulite. Mostra hipercaptação na região afetada.
US – depende do executor. Não diferencia o derrame articular, se traumático ou infeccioso. Mostra uma sequência de alterações com o decorrer do quadro: inflamação das partes moles, elevação do periósteo e erosão do córtex.
Diagnóstico diferencial
Deve ser feito com outras patologias que causam dor óssea:
- Traumatismos;
- Neoplasias;
- Colagenoses;
- Anemia falciforme
Tratamento
Iniciar com antibioticoterapia empírica:
RN – Oxacilina + Cefotaxime.
< 5 anos – Oxacilina + Cefotaxima ou Ceftriaxona.
> 5 anos – Oxacilina ou Cefazolina.
Portadores de anemia falciforme – Cefotaxima +Vancomicina ou Clindamicina;
Em lesões perfurantes de pé, considerar tratamento contra Pseudomonas – Oxacilina + Ceftazidima
Em caso de resistência conhecida à oxacilina, utilizar:
- Clindamicina, Vancomicina ou Linezolid
Em caso de alergia à betalactâmicos, utilizar Clindamicina ou Cefalexina.
Iniciar medicação após coleta de material para cultura e modificar o tratamento em função de seu resultado.
Doses
- Oxacilina – 150 a 200 mg/kg/dia – 6/6 horas;
- Cefotaxima - 200 mg/kg/dia – 6/6 ou 8/8 horas;
- Ceftriaxona – 100 mg/kg/dia – 24/24 horas;
- Cefazolina – 100 mg/kg/dia – 8/8 horas;
- Ceftazidima – 150 mg/kg/dia – 8/8 horas;
- Clindamicina – 40 mg/kg/dia – 8/8 horas;
- Vancomicina – 60 mg/kg/dia – 6/6 horas;
- Linezolid – 10 mg/kg/dose – 8/8 ou 12/12/horas.
O antibiótico inicialmente deve ser de uso IV. Com a melhora do quadro clínico e queda da PCR e VHS, o antibiótico poderá ser administrado por via oral. Os antibióticos indicados são:
- Cefuroxima axetil – 60 mg/kg/dia – 8/8 horas;
- Cefadroxil – 60 mg/kg/dia – 8/8/horas;
- Cefalexina – 100 mg/kg/dia – 6/6/horas;
- Clindamicina – 40 mg/kg/dia – 8/8 horas.
A duração total do tratamento é de 4 a 6 semanas
Cirurgia
Além da necessidade de punção para cultura, pode ser necessário debridamento e limpeza do local, estando indicado o parecer do ortopedista.
Complicações
A osteomielite pode evoluir com quadro recorrente e mesmo, tornar-se crônica.
Referências:
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2) Sampelayo Matos TH, Zarzoso Fernández S, Navarro Gómez ML, Santos Sebástian MM, González Martínez F, Saavedra Lozano J. Osteomielitis y Artritis Séptica. In: AEPD. Consenso;
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