OS VENTOS DA MUDANÇA
Por Leão do Sul ERF | 24/01/2009 | SociedadeOS VENTOS DA MUDANÇA
Acompanhei um amigo durante algum
tempo,
eu sempre o via,
ele sempre sorria.
Sentávamos nos bancos postos à calçada da Avenida
Brasil
e ríamos de nossas existências
desalinhadas.
O ritmo frenético dos trabalhadores
descompassava com os passos perdidos dos
turistas.
Quantos vieram, quantos voltaram, quantos
ficaram?
Em cada partida se perde um cheiro característico
da História
que amontoa-se ao perfume
irreconhecível das beldades maquiadas.
Moças e rapazes produzidos para enfeitiçar a
vida
espalhando pelos caminhos
o cheiro do suor, do feroz hormônio
para a boa aventura dos ventos da
mudança.
Cada lugar tem seu cheiro,
até o cheiro tem o seu lugar.
Qual será o nosso lugar neste mundo?
Certa vez vi um caminhão na rodovia...
uma família, algumas coisas, um sonho carimbado
pela esperança,
e o cheiro do antigo lar a se perder nesse mundo de
Deus.
Na primavera o encantamento,
no verão cada momento,
no outono o sofrimento,
no inverno o firmamento.
É esta a certeza que nos traz o
vento.
Os fluidos da mudança nos arremessam
no incógnito destino da brisa.
Quanto mais corremos mais o sentimos
e se pararmos seremos tocados,
para as pavorosas estradas cujos nomes
desconhecemos.
Cada lugar tem o seu cheiro
indefectível, solúvel, etéreo.
Eterna torta na cara da vida
recheada com as células dos fatos
e dos fatídicos milésimos das
estações.
Quem vai ficar?
Quem vai seguir?
Isto ninguém sabe
exceto o meu amigo do banco,
da Avenida Brasil.
Onde ele sopra agora?
Já não sei mais.
Mas sei que leva nos braços
um pouco do bom cheiro de mim.
Autor Edson Rodrigo Fretta 23 de janeiro de 2009
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