Os Sombrios Legados das Spetsnaz

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 13/01/2025 | História

Ao verificamos imagens militares em torno do globo, nos são oferecidas visões, gerais, de que as tropas de elite são parecidas. Tal se consolida apenas na percepção, já que táticas, equipamentos e valores diferem. E disso não escapa um dos mais mortais grupos estatais de extermínio, existente desde o final da década de 1940: os russos das Spetsnaz (que, no referido idioma, significam, literalmente, “forças especiais”).

Criados no seio da URSS Stalinista, os comandos das Spetsnaz eram doutrinados com os fundamentos na experiência do país diante da, então, há pouco pretérita luta contra a Alemanha Nazista. Por aquela ocasião, já estavam em vigor tratados e convenções internacionais que limitavam as atividades de guerra, tanto defensiva quanto ofensiva, aí incluída a máxima preservação das vidas civis. Tendo sido a URSS o segundo país a obter a bomba atômica, inovou ao equipar os comandos das Spetsnaz com cargas nucleares portáteis. Não tenho informações de, exatamente, quando isso tenha ocorrido, mas obviamente o foi durante a Guerra Fria, quando os EUA e a URSS disputavam o domínio, político e ideológico, de territórios inteiros por meio de guerras indiretas. Por exemplo, a Guerra do Vietnã foi lutada diretamente entre os EUA, o Vietnã do Sul e outros países capitalistas (como Austrália e Nova Zelândia), de um lado, e o Vietnã do Norte, armado pela URSS, do outro. Já a Primeira Guerra do Afeganistão se deu, de forma direta, entre a URSS e rebeldes com armas fornecidas pelos EUA. Enfim, a Guerra Fria constituiu-se, na vertente militar, por vários desses conflitos de territorial disputa (além de tensões diplomáticas verdadeiramente apocalípticas), pois ambas as superpotências jamais se enfrentaram de modo direto, tementes uma à outra em razão dos equilibrados arsenais atômicos.

Em relação às cargas nucleares portáteis dos comandos das Spetsnaz, não sabemos se foram usadas, eis que os conflitos da bipolaridade foram inúmeros, sendo o do Vietnã e o do Afeganistão apenas os mais conhecidos (neste último, as Spetsnaz foram empregadas, especialmente no espetacular assalto inaugural a um edifício de comunicações do governo afegão em Cabul, mas não há provas de que tenham sido, indiretamente, usadas no Vietnã). Como todo o planeta esteve, num maior ou menor grau, afetado pela tensão ideológica, países cuja energia elétrica era e ainda é gerada por usinas atômicas também pagaram o seu preço, ainda que não por guerras de facto em seus territórios. Digo isso porque, segundo se apurou quando do acidente na Central Nuclear de Chernobyl, em 1986, até então teriam se sucedido, globalmente, cerca de dois mil pequenos vazamentos radioativos. Então, pode-se, somente, especular que alguns deles não ocorreram em usinas nucleares, e sim liberados com detonações das cargas nucleares dos comandos das Spetsnaz em atividades de invasão, espionagem e assassinatos em massa em países estrangeiros (não há como provar dito uso ou não uso, vez que a tecnologia da época era, neste sentido, rudimentar para tese ou antítese, e a URSS pode ter se valido disso).

Fora isso, sabe-se que, desde o início da Era Putin, aquelas unidades são utilizadas em quase todos os conflitos em que a Rússia seja parte. Afinal, seus comandos são autorizados a matar indistintamente, sem a exclusão de crianças, até atingirem os alvos. Dou como exemplo a reação à tomada de um teatro em Moscou por militantes chechenos em 2002, cujo saldo foi de centenas de civis russos mortos. Ou o Massacre da Escola de Beslan, em 2004, em que as Spetsnaz mataram centenas de crianças a fim de eliminar os alvos finais, também opositores chechenos que a haviam violentamente ocupado.

Na ficção ou na realidade, não importa: a Rússia é uma superpotência imperialista, expansionista e agressiva, e para manter dito status necessita dos comandos das Spetsnaz (assim como, a exemplo, os EUA precisam da Força Delta e o Reino Unido dos Seals), sendo este o sombrio e sinistro preço pago pela grandeza.