Os Sofrimentos que Permitimos e os Sofrimentos que Deus nos Concede

Os Sofrimentos que Permitimos e os Sofrimentos que Deus nos Concede

Jailson Roseno Gomes

Resumo

O sofrimento é uma parte inerente da jornada cristã, servindo como um instrumento através do qual Deus nos aproxima dele e nos torna semelhantes a Cristo. Contudo, podemos identificar ao lermos os relatos bíblicos, duas categorias principais de sofrimento: aquele que decorre do pecado e do orgulho humano e aquele que Deus permite para nos fortalecer e santificar. Utilizando exemplos bíblicos, como o do rei Davi e do apóstolo Paulo, este artigo analisa as razões que nos levam a enfrentar certas adversidades e a maneira como devemos reagir diante delas.

Palavras-chave: Deus. Sofrimento. Pecado. Santificação. Transformação. Agradecido.

Abstract

Suffering is na inherent part of the Christian journey, serving as na instrument through which God draws us closer to Him and makes us more like Christ. However, when we read the biblical accounts, we can identify two main categories of suffering: that which arises from human sin and pride, and that which God allows to strengthen and sanctify us. Using biblical examples, such as that of King David and the Apostle Paul, this article examines the reasons that lead us to face certain adversities and how we should respond to them.

Keywords: God. Suffering. Sin. Sanctification. Transformation. Grateful.

1.Introdução

As Escrituras Sagradas mostram claramente que todo cristão genuíno passa por sofrimentos. O Salmo 34:17a ratifica esse fato ao dizer: “Muitas são as aflições do justo”. Seja ele novo ou velho convertido, rico ou pobre, branco ou negro, as adversidades virão, isso é notável. Todo crente já vivenciou diversas provações. Algumas “tranquilas” e outras terríveis. Apesar disso, a convicção do cristão é saber que tem um Deus misericordioso que sempre cuidará dos seus escolhidos.

Mas a pergunta inquietante é: por que Deus permite que passemos por tantas aflições? O apóstolo Paulo em sua epístola aos Romanos aponta um ponto interessantíssimo quanto a isso. Ele nos expõe o motivo pelo qual todo cristão passa por tribulações. Paulo remete isso a um propósito do Senhor; e que propósito é esse? É que todo servo de Deus seja “feito conforme à imagem de seu Filho [Jesus]” (Rm. 8:29b). Ou seja, a finalidade do sofrimento na caminhada cristã é tornar o cristão semelhante a Cristo. Aquele que foi o primogênito, o primeiro a sofrer e levar sobre si as nossas dores e aflições (Is. 53; Mt. 26:26-68;27:1-50).

Partindo dessa afirmativa e compreensão bíblica, esse artigo apresenta dois contextos principais referente ao porquê o sofrimento se achega a nós: (a) o sofrimento que advém por causa do pecado e do orgulho humano e (b) o sofrimento concebido por Deus para nossa santificação. Os quais dissertaremos com mais detalhe nas sessões a seguir.

2.O sofrimento causado pelo pecado e pelo orgulho

Quando fazemos a leitura bíblica do livro de 2 Samuel 11:1–27 e 12:10–31, constatamos uma amostra clara do porquê desse sofrimento, caracterizado na vida do segundo rei de Israel, Davi. Que num determinado dia, o rei famoso, que já havia ganhado diversas batalhas e era aclamado pelo seu povo, resolveu ficar em sua morada ao invés de ir batalhar. Nisso avistou uma formosa mulher, Bate-Seba, a qual a desejou e a obteve, mesmo sabendo que a tal era casada. Além disso, arquitetou a morte do seu marido, Urias, para esconder o seu gravíssimo e vergonhoso erro.

O monarca poderia estar lutando, guerreando com os seus soldados pelo povo israelita, mas resolveu fazer a sua vontade. O orgulho lhe apossou e conduziu o seu ser ao pecado. Porém, isso lhe custou caro. O homem segundo o coração de Deus adulterou e foi homicida; e as consequências foram trágicas e mortais, recaindo um peso enorme principalmente sobre a sua família (II Sm. 12:10). Família essa que sofreu, por causa da desobediência de Davi, com o incesto, adultério, homicídio entre irmãos e até perseguição do filho (Absalão) contra o pai (Davi).

É evidente que o sofrimento sobreveio a vida de Davi por causa da sua permissividade. Aflição que poderia ser evitada, pois “o pecado está à porta; ele deseja-lhe, mas você deve dominá-lo” (Gn. 4:7). Para tanto, ele não seguiu as instruções que ouvira do Senhor e causou um estrago colossal a sua vida.

Conosco é parecido. Por diversas vezes as provações nos acontece porque permitimos. Uma vez que deixamos o orgulho e o pecado nos direcionar, e as consequências são tenebrosas. Porque assim como Davi, flertamos e consentimos a entrada do pecado, transgredindo a palavra do Senhor. Contudo, existe um caminho de perdão, existe um caminho de reconciliação. Esse caminho é a graça redentora do Senhor, que sobreveio sobre a vida de Davi quando ele reconheceu o seu pecado, se arrependeu e confessou o seu erro e não o cometeu mais.

Deus permite que esse tipo de sofrimento advenha ao homem (como resultado do seu pecado), mas a resposta dele é: “aquele que confessar o seu pecado e o deixar, esse alcançará a minha misericórdia” (Pv. 28:13; I Jo. 1:9) e terá uma vida transformada, “pois sou como um pai que tem misericórdia dos filhos [e lhe concede perdão]” (Sl. 103:13a).

3.O sofrimento concedido por Deus para nossa santificação

Por outro lado, existe o sofrimento que o Senhor nos dá. Diversos exemplos de homens e mulheres de Deus poderíamos citar aqui, sendo o principal o do Filho de Deus, Jesus Cristo. Todavia, exemplificaremos o sofrimento do apóstolo Paulo, homem que outrora perseguia os discípulos do Caminho (At. 22:4), mas que, após um encontro com o Caminho, sofreu por causa do evangelho, conforme descrito em II Coríntios 11:21-33:

“Mas, naquilo em que qualquer tem ousadia (com insensatez o afirmo), também eu a tenho. São hebreus? Também eu. São israelitas? Também eu. São da descendência de Abraão? Também eu. São ministros de Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes. Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez. Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas. Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não me inflame? Se tenho de gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza. O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é eternamente bendito, sabe que não minto. Em Damasco, o governador preposto do rei Aretas montou guarda na cidade dos damascenos, para me prender; mas, num grande cesto, me desceram por uma janela da muralha abaixo, e assim me livrei das suas mãos.”

Esse é o sofrimento purificador. É aquele que o Senhor usa para nos examinar (Sl. 139:23) e nos trazer uma nova vida; uma vida distinta da nossa velha natureza humana, na qual vivíamos anteriormente (II Co. 5:17; Cl. 3:7; Pv. 17:3b). Isso ocorreu com Paulo e foi proporcionado pelo próprio Deus, para lhe dar uma vida semelhante a que Deus lhe propôs, e propõe a todo cristão, que é se parecer com Cristo.

4.O propósito do sofrimento na vida cristã

O sofrimento pode nos achegar por diversos meios, mas aqui ressaltamos estes dois, salientados acima: O primeiro permitido por Deus e pelo descuido humano (o qual é a consequência do pecado) e o segundo concebido por Deus, para nos dá uma vida transformada em Cristo. Ambos Deus usa para nos trazer três ensinamentos fundamentais:

•Arrependimento – Para que reconheçamos, confessemos e abandonemos os nossos erros e voltemos ao caminho de pureza e comunhão com o Senhor.

•Mudança – Para que deixemos as velhas práticas e vivamos segundo a vontade de Deus.

•Crescimento espiritual e pessoal – Para que nos tornemos mais firmes e fortes em nosso relacionamento com Senhor e sejamos mais semelhantes a Cristo Jesus.

O objetivo final do sofrimento na vivência cristã é esse. Porque assim como Davi, por vezes caímos por não vigiarmos e não vivermos conforme a palavra do Senhor, e o sofrimento vem para nos ensinar a nos arrepender, mudar e crescer. E outras vezes, como na vida de Paulo, Deus nos concede o sofrimento para nos despertar (nos tirar da zona de conforto), nos purificar e nos fazer crescer nele, para que nos tornemos parecidos com Cristo e assim Ele seja glorificado em toda e qualquer circunstância.

5.Conclusão

Portanto, sejamos gratos pelos sofrimentos que nos advém, sejam eles por permissão nossa ou dados por Deus. Tanto Davi como Paulo foram homens gratos ao Senhor por todas as adversidades que sofreram. Eles não murmuraram, não blasfemaram, não se revoltaram contra o Senhor, pelo contrário, todas as suas aflições lhes tornaram servos mais íntimos de Deus e da sua palavra. Esse é o caminho que devemos seguir; essa deve ser a reação que devemos ter diante do sofrimento.

Visto que o sofrimento na vida deles foi um instrumento pedagógico de correção e crescimento, assim como aconteceu conosco, pois “o Senhor disciplina [corrige] ao que ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem.” (Pv. 3:12; Hb. 12:5-6). Saibamos então que esse é o processo que transforma e santifica todo cristão, mas é válido ressaltar que os sofrimentos que passamos aqui não se compara com a glória que há de se revelar nos altos céus diante do Pai, onde em breve estaremos celebrando com o Senhor, no Novo Céu e na Nova Terra, a vida eterna.

Referências Bíblicas:

Bíblia Sagrada. Bíblia de Estudo do Expositor.

Bíblia Sagrada. Almeida Revista e Atualizada.

Bíblia Sagrada. King James.

Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional.

Licenciado em Pedagogia pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, 2023. Foi estudante concluinte do Curso de Teologia Básica pelo Bíblia em Curso – BC, 2024, Estudante concluinte do Curso Libras em Contexto pela Fundação Centro Integrado de Apoio à Pessoa com Deficiência – FUNAD, 2024.