OS SABERES QUE MOBILIZAM AS PRÁTICAS DOS PROFESSORES

Por Jesualda da Silva Kropiwiec | 03/11/2017 | Educação

                  A importância do professor no processo de aprendizagem há muito tempo é questionada. Com os avanços das tecnologias, a entrada do computador nas escolas, e a facilidade de aquisição de conhecimentos, têm-se a impressão que os professores perderam suas funções de transmissores e construtores de conhecimentos e que podem ser substituídos por computadores e outros equipamentos tecnológicos. Entretanto quando se pensa em mudança em sala de aula, o foco é o professor do ponto de vista político como no didático-pedagógico. As tecnologias são sim necessárias, mas como meios auxiliares e não como substitutos dos professores. Gadotti (2005) aponta que:

Nesse contexto, o professor é muito mais um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. O aluno precisa construir e reconstruir conhecimentos a partirdo que faz. Para isso o professor também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o “quefazer” dos seus alunos. Ele deixará de ser um “lecionador”, para ser um organizador do conhecimento e da aprendizagem (GADOTTI, 2005, p.17-18).

                  Para a Profª. Dra. LaurizetFerragutt Passos/PUC-SP, o maior desafio do professor hoje é conhecer seu aluno. Ele precisa envolver-se com o sujeito da aprendizagem, em seus aspectos físicos, cognitivos e sociais. O professor precisa conhecer o contexto social em que seu aluno está inserido, para melhor trabalhar com sua prática pedagógica, baseada na realidade em que cada aluno vive. A respeito disso Tardifafirma que:

[...] o professor ideal é alguém que deve conhecer sua matéria, sua disciplina e seu programa, além de possuir certos conhecimentos relativos às ciências da educação e a pedagogia e desenvolver um saber prático baseado em sua experiência cotidiana com os alunos (TARDIF, 2002, p.39).

                  Tardif esclarece que o professor “é, antes de tudo, alguém que sabe alguma coisa e cuja função consiste em transmitir esse saber a outros”. E é nessa relação de saberes que se encontra a problemática. Pois existe diversos saberes incorporados a prática docente. Tais como: os saberes do professor, o saberes da formação do professor, os saberes disciplinares, curriculares e experienciais.

                  Os saberes dos professores são muitos, porém são desvalorizados, em relação aos saberes que possuem e transmitem. Em virtude das funções que exercem, ocupam posição estratégias no interior das relações, entre a sociedade contemporânea e os saberes que ela produz para diferentes finalidades. Esses saberes se expressam pela produção nas pesquisas científicas e eruditas enquanto sistema de produção organizada e de produção de conhecimento, e está ligado com o sistema de educação. Essas produções de saberes são complementares no que diz respeito à cultura moderna e contemporânea.  A esse respeito Tardif aponta que:

Todo saber implica um processo de aprendizagem e de formação; e, quando mais desenvolvido, formalizado e sistematizado é um saber, como acontece com as ciências e os saberes contemporâneos, mais longo e complexo se torna o processo de aprendizagem, o qual, por sua vez exige uma formalização e uma sistematização adequadas (TARDIF, 2002, p.35).

                  Sendo assim, a importância do profissional bem formado é essencial, para sua prática pedagógica, pois os saberes aprendidos na sua formação e que vão dar sustentação para sua prática cotidiana. Carvalho (2007) aponta que:

Considerando que a escola lida essencialmente com os saberes, com o conhecimento sistematizados, compreendo que tem a missão de oferecer uma formação que potencializa a capacidade de análise do aluno, a fim de que seja capaz de analisar  a sociedade em que vive , visando a construção de novo conhecimento e transformação da realidade social. Entendo que a formação de educadores toma como eixo nuclear o alargamento da cultura escolar priorizando a formação do ser humano enquanto sujeito histórico e social, na perspectiva que o professor aprenda a refletir sua prática (CARVALHO, 2007, p.06).

                  Para Tardif (2002), “os saberes das disciplinas e os saberes curriculares que os professores possuem e transmitem não são o saber dos professores nem o saber docente’’. Explica que o corpo docente não é responsável pela seleção do conteúdo transmitido nas escolas, eles são transformados em categorias, programas, matérias e disciplinas que a instituição escolar gera e impõe como modelo de cultura erudita.Assim sendo, os saberes já vem preparados em forma de conteúdo, ficando o docente como um mero transmissor de saberes. A esse respeito Tardif aponta que:

Os saberes disciplinares e curriculares que os professores transmitem situam-se numa posição de exterioridade em relação à prática docente: eles aparecem como produtos que já se encontram consideravelmente determinado sem sua formae conteúdo, produtos oriundos da tradição cultural e dos grupos produtores de saberes sociais e incorporados à práticas docente  através das disciplinas, programas escolares matérias e conteúdos a serem transmitidos (TARDIF, 2002, p.40).

                  Neste sentido os saberes científicos e pedagógicos que os professores levam da sua formação não vêm de sua prática e sim de produções de formadores universitários que assumem as tarefas de produção de saberem científicos e pedagógicos. No entanto, a profissão docente hoje engloba muitos saberes, e ao mesmo tempo precisamos ter consciência e sensibilidade.  Consciência para saber do nosso compromisso com a educação de qualidade para todos. Sensibilidade no relacionamento com os alunos e com outros professores, entender que nos tornarmos sujeitos de nossa própria aprendizagem.  Com isso ao nos construirmos como professores eticamente competente é importante lembrar que nossa profissão está ligada ao amor, no sentido de preocupar-se com o crescimento do outro, entender as imitações do outro e a esperança de que ele avance, e atinja o proposto para melhoria de suas aprendizagens. A questão da afetividade tem sido bastante discutida por professores, pais e educadores em que é percebida a devida importância no processo de ensino e aprendizagem. Nessas relações, a afetividade tem um ponto central.

                  É fundamental entender a afetividade como uma grande aliada para a ação pedagógica, pois está diretamente ligada ao desenvolvimento da criança. A relação da afetividade com o desenvolvimento cognitivo aponta a responsabilidade dos educadores em contribuir na formação da personalidade da criança de modo a dedicar atendimento específico a cada singularidade, bem como, respeito à criança. A esse respeito Freire (1996) escreve que:

Como professor, não me acho aberto ao gosto de querer bem, às vezes a coragem de querer bem aos educandos e a própria prática educativa de que participo. Esta abertura ao querer bem não significa, na verdade, que, porque professor me obrigo a querer bem a todos os alunos de maneira igual. Significa de fato que a afetividade não me assusta que não tenho medo de expressá-la. Significa esta abertura ao querer bem a maneira que tenho de autenticamente selar o meu compromisso com os educandos, numa prática específica de ser humano. Na verdade, preciso descartar como falsa a separação radical entre seriedade docente e afetividade (FREIRE, 1996, p.141).

                        Diante disso, os saberes adquiridos na construção da formação docente têm um peso importante para a formação do profissional da educação, pois são eles que serão usados no exercício do magistério. Nesta perspectiva, pode-se dizer que parte importante da competência profissional tem fundamentos em sua história de vida, em suas crenças, valores e hábitos. Tardif (2002) afirma que: “Assim, o que foi retido das experiências familiares ou escolares dimensiona, ou pelo menos orienta, investimentos e as ações durante a formação universitária”. Também a carreira do professor tem a ver com os saberes, as suas relações no trabalho.

Os saberes pedagógicos, em si, não modificam a ação de educar, não geram novas práticas. Compete-lhes alargar os conhecimentos que os professores têm de sua ação sobre a própria ação de ação de educar, nos contextos onde situam (escolas, sistemas de ensino e sociedade). É no confronto e na reflexão sobre as práticas e os saberes pedagógicos, e com base neles, que os professores criam novas práticas (PIMENTA, 1998, p. 172).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CUNHA, Maria Izabel da.O bom professor e sua prática.  São Paulo: Papirus, 1989.

CARVALHO, Ademar Lima.   A formação do professor e tipo de incertezas. (Xerox).

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

PIMENTA, Selma Garrido. Saberes da Docência e Identidade do Professor. In:CONTRERAS, José Antonio. Formação de Professores. São Paulo: Papirus, 1998.

TARDIF, Maurice. O Trabalho docente, a pedagogia e o ensino. In: ___. Saberes docentes e formação profissional.  Petrópolis: Vozes, 2008. Pte.1, cap. 3, p 112-149.

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