Os Relógios de Sol e a Medição do Tempo
Por Julio Cesar Souza Santos | 10/10/2016 | ArteO Que Levou o Homem a Querer Medir o Tempo? Que Esforços Foram Feitos Para Tentar Dividir o Tempo? Como a Humanidade se Libertou do Sol? Como Surgiram os Relógios de Água? E as Ampulhetas?
Enquanto a humanidade viveu da agricultura e da pecuária não houve grande necessidade de medir pequenas porções do tempo, pois o importante eram as estações. Isto é, os homens precisavam saber quando esperar a chuva, a neve, o sol e o frio. O tempo em que haveria luz diurna era o mais importante, o único em que os homens podiam trabalhar e, medir o tempo útil, era então medir as horas de Sol.
Os nossos séculos de luz artificial instiga-nos que esqueçamos o significado da noite e, a vida numa cidade moderna, é sempre tempo de luz e escuridão misturadas. Mas, para a maioria dos séculos da existência humana a noite sempre foi um sinônimo de escuridão, o qual trazia consigo toda a ameaça do desconhecido. O 1º passo para tornar a noite mais semelhante ao dia foi dado antes das pessoas se acostumarem à iluminação artificial. Chegou quando o homem, jogando com o tempo, começou a dividi-lo em pequenas fatias.
Embora os antigos medissem o ano, o mês e estabelecessem o padrão para nossa semana, as menores unidades de tempo permaneceram vagas e desempenharam um papel pouco importante na experiência humana, até a poucos séculos. Nossa hora exata é uma invenção moderna, o minuto e o segundo são mais recentes ainda. Naturalmente, quando o dia de trabalho era o dia de sol, os primeiros esforços para dividir o tempo foram no sentido de medir a passagem do Sol através do céu e, para alcançar esse objetivo, os Relógios de Sol foram os primeiros instrumentos de medição.
Durante séculos, a sombra do sol permaneceu como sendo a medida universal de tempo, pois era simples construir um Relógio de Sol e não exigia equipamentos especiais. Porém, ele só era útil onde havia sol em abundância e mesmo assim só servia quando o sol brilhava realmente e, mesmo quando o sol brilhava, o movimento da sombra era tão lento que pouco servia para marcar minutos.
Mas, utilizar a sombra do sol em qualquer lugar para definir a hora conforme o tempo de Greenwich exigia conhecimentos de astronomia, geografia, matemática e mecânica. Daí, somente por volta do século XVI os Relógios de Sol puderam ser calibrados com estas horas verdadeiras. Quando a ciência do quadrante se desenvolveu, tornou-se moda usar um Relógio de Sol de bolso. Mas, nessa altura, o relógio e o relógio portátil já existiam e eram mais úteis em todos os sentidos.
Mesmo após o Relógio de Sol ter sido concebido a fim de dividir o tempo de luz diurna em segmentos iguais, não tinha grande utilidade quando se tratava de comparar as horas de uma para outra estação. Os dias de Verão eram compridos e, portanto, compridas eram também as horas. Os soldados romanos – no tempo do Imperador Valentino – eram instruídos para marchar “à média de 20 milhas em 5 horas de Verão”. Uma “hora” – um duodécimo do período de luz diurna – era, em determinado lugar, muito diferente do que noutro dia e noutro lugar.
Mas então, como a humanidade se libertou do Sol? Como conquistamos a noite, tornando-a parte do mundo inteligível? Somente fugindo à tirania do Sol seríamos capazes de aprender a medir o nosso tempo em porções uniformes. Só então as receitas poderiam atuar para criar e ser compreendidas em todo lado do mundo. A medida universal necessária teria de ser algo melhor que a sombra.
A água, esse maravilhoso meio fluido, possibilitou ao homem os primeiros êxitos na medição das horas de escuridão. A água, a qual poderia ser aprisionada em qualquer vasilhame, era mais dócil e manobrável do que a sombra do Sol e, quando a humanidade começou a utilizar a água como medidor do tempo, ela deu outro passo à frente para transformar o planeta no seu lar.
Os Egípcios usavam o Relógio de Sol que satisfaziam razoavelmente as suas necessidades diurnas. Mas, eles precisavam medir as horas noturnas e, por isso, eles descobriram que podiam medir a passagem do tempo através da quantidade de água que pingasse de uma vasilha. O seu deus da noite (Thot), que também era deus da medição, presidia aos modelos de Relógio de Água (tanto de Defluxo, quanto de Influxo).
O tipo de relógio de Defluxo constava de um vaso de alabastro com uma escala marcada no interior e um único orifício perto do fundo, do qual a água pingava. Verificando a descida do nível de água no interior de uma marca para a marca abaixo, media-se a passagem do tempo. O tipo posterior (de Influxo), o qual marcava a passagem do tempo pela subida da água no vaso, era mais complicado, pois exigia uma fonte constante de abastecimento regulado.
No entanto, esses dispositivos tinham seus problemas e nos climas frios a viscosidade variável da água dificultava as coisas. E, para manter o relógio a uma velocidade constante em qualquer clima, era necessário que o orifício através do qual a água passava não entupisse (ou alargasse) pelo desgaste. Já os Relógios de Defluxo apresentavam problemas porque a velocidade do fluxo dependia da pressão da água, a qual variava conforme ela ia ficando no vaso.
Os Romanos utilizavam o Relógio de Sol para calibrar e acertar os Relógios de Água, que se tinham tornado o medidor de tempo comum na Roma Imperial. Os Relógios de Água ainda davam apenas as horas “temporárias” com medidas de luz diurna e da escuridão para todos os dias de um mês, embora na realidade variassem de dia para
Como ninguém em Roma podia saber as horas exatas, a pontualidade era uma virtude incerta e não louvada. Alguns dos Relógios de Água romanos eram munidos de boias que anunciavam a “hora” atirando ovos ao ar, ou tocando um apito. O Relógio de Água, como o piano nos lares europeus da classe média do século XIX, tornou-se um símbolo de posição social.
Em séculos posteriores, povos de todos os lados descobriram – à sua maneira – modos de utilizar a água para assinalar a passagem do tempo. Os Saxões, no século IX, utilizavam uma taça de rústica elegância, a qual com um pequeno orifício era posta a flutuar em água e afundava à medida que se enchia, consumindo sempre o mesmo espaço de tempo.
Quando regressavam à pátria, os Chineses contavam histórias espantosas sobre um Relógio de Água gigantesco que ornamentava a porta oriental da Grande Mesquita de Damasco. A cada “hora” do dia ou da noite, dois pesos de latão reluzente caíam do bico de dois falcões de bronze para taças de bronze, perfuradas para permitir que as bolas regressassem ao seu lugar. Por cima dos falcões várias portas eram abertas – para cada hora do dia – e por cima de cada uma delas, uma lanterna apagada. A cada hora do dia, quando as bolas caiam, tocava um sino e a porta da hora completada se fechava.
O aperfeiçoamento do Relógio de Água foi demorado e difícil, pois na medida em que se conseguiu aperfeiçoar esse dispositivo e torná-lo instrumento de precisão, ele já se tornara ultrapassado por algo mais conveniente. No entanto, durante a maior parte da história, a água forneceu a medida do tempo quando o Sol não brilhava e, até o aperfeiçoamento do Relógio de Pêndulo (em 1.700), o medidor de tempo mais exato foi provavelmente o Relógio de Água.
Porém, não foram as águas fluentes do tempo, mas sim as areias, que forneceram aos poetas a sua metáfora preferida para descrever a passagem das horas. Na Inglaterra, por exemplo, colocavam-se ampulhetas nos caixões como símbolo de que o tempo da vida se esgotara.
Mas, a Ampulheta – medidora do tempo pelo correr da areia – chegou tarde à nossa História. A areia era menos fluida do que a água e menos apropriada para a calibração exigida pelas “horas” variáveis do dia e da noite em tempos antigos. E não é possível colocar um indicador flutuante em uma ampulheta, embora a areia flua em climas onde a água gelaria. Além disso, uma ampulheta prática e precisa exigia o domínio da arte de fabricar vidros.
As Ampulhetas se adaptavam mal à medição do tempo de um dia inteiro, pois elas tinham de ser demasiado grandes (para facilitar as coisas) ou, se pequenas, tinham de ser viradas frequentemente e no momento em que o último grão de areia caísse. Apesar de tudo, a Ampulheta servia melhor do que o Relógio de Água para medir os menores intervalos, quando ainda não se conhecia nenhum outro dispositivo para esse fim.
Nos seus navios, Cristóvão Colombo anotava a passagem do tempo com uma Ampulheta de meia hora, a qual era voltada quando se esvaziava para assinalar as 7 horas “canônicas”. No século XVI, a Ampulheta já era utilizada para medir curtos intervalos de tempo na cozinha ou para ajudar um pregador religioso a regular o tamanho do seu sermão.
A Câmara dos Comuns da Inglaterra tinha uma Ampulheta de 2 minutos para regular o toque das campainhas que anunciavam os períodos de votação. Muitos pedreiros a utilizavam para contar suas horas de trabalho e, professores, levavam suas Ampulhetas para medirem a duração de suas lições.
Com o tempo concluiu-se que a Ampulheta não tinha muita utilidade para medir as horas da noite, pois era incômodo ter de virá-la regularmente. E, a fim de resolver esse problema, as pessoas tentavam combinar um instrumento medidor de tempo com um dispositivo de iluminação. Embora originais as invenções não eram práticas, eram dispendiosas, perigosas e nunca conseguiam harmonizar as horas da noite com as do dia.
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