OS PROSADORES DA LITERATURA JESUÍTICA

Por Amanda Gonçalves Bento | 26/06/2015 | Educação

OS PROSADORES DA LITERATURA JESUÍTICA                                                                                

RESUMO

          Este trabalho apresenta uma análise dos textos informativos, característicos da Literatura Jesuítica, a qual inicia por uma reflexão da questão da Companhia de Jesus, de sua ação considerável e em muitos pontos decisivo sobre a formação nacional. Ao espírito capitalista-mercantil associavam um certo ideal religioso e salvacionista. Por essa razão, dezenas de religiosos acompanhavam as expedições a fim de converter os gentios e acabaram por instalar o ensino público no país, fundaram os primeiros colégios, que foram, durante muito tempo, a única atividade intelectual existente na colônia. Do ponto de vista estético dos autores brasileiros como Moisés Massaud (2001), Afrânio Coutinho (1999), José Veríssimo (1915) dentre outros, os jesuítas foram responsáveis pela melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, cultivaram o teatro de caráter pedagógico, inspirado em passagens bíblicas, e produziram documentos que informavam aos superiores na Europa o andamento dos trabalhos. O instrumento mais utilizado para atingir os objetivos pretendidos pelos jesuítas (moralizar os costumes dos brancos colonos e catequizar os índios) foi o teatro. Para isso, os jesuítas chegaram a aprender a língua tupi, utilizando-a como veículo de expressão. Os índios não eram apenas espectadores das peças teatrais, mas também atores, dançarinos e cantores. Os principais jesuítas responsáveis pela produção literária da época foram o padre Manuel da Nóbrega, o missionário Fernão Cardim e o padre José de Anchieta.

Palavras-chave: Jesuítas, Características, Literatura, Informação, Obras.

  1. Graduando do Curso Licenciatura Plena em Letras – Faculdade de Itaituba FAI – PA.
  2. Graduando do Curso Licenciatura Plena em Letras – Faculdade de Itaituba FAI – PA.
  3. Graduando do Curso Licenciatura Plena em Letras – Faculdade de Itaituba FAI – PA.
  4. Graduando do Curso Licenciatura Plena em Letras – Faculdade de Itaituba FAI – PA.
  5. Graduando do Curso Licenciatura Plena em Letras – Faculdade de Itaituba FAI – PA. 

ABSTRACT


           This paper presents an analysis of the informative characteristic of Jesuit Literature, which begins with a consideration of the issue by the Company of Jesus, his considerable action and in many decisive points on the national training texts. The capitalist and mercantile spirit associated right ideal and religious Salvationists. For this reason, dozens of religious accompanied the expeditions to convert the Gentiles and eventually install public education in the country, founded the first schools, which were for a long time, the only existing intellectual activity in the colony. From the aesthetic point of view of Brazilian authors like Moses Massaud (2001), Afrânio Coutinho (1999), José Verissimo (1915) and others, the Jesuits were responsible for the best literary production of Brazilian Quinhentismo. Besides the poetry of devotion, cultivated the theater pedagogical character, inspired by biblical passages, and produced documents that informed superiors in Europe the progress of work. The instrument most commonly used to achieve the objectives intended by the Jesuits (moralize the customs of the white colonists and convert the Indians) was the theater. For this, the Jesuits arrived to learn the Tupi language, using it as a vehicle of expression. The Indians were not only spectators of plays, but also actors, dancers and singers. The main Jesuits responsible for literary production of the time were Father Manuel da Nobrega, the Fernão Cardim and missionary Father José de Anchieta.

Keywords: Jesuits, Features, Literature, Information, Works.

  1. 1.   A literatura Jesuítica (Origem).

 

A literatura brasileira nasceu sob o signo da literatura de informação que deu início em 1500 pelos portugueses com a carta de Pero Vaz de Caminha; tempo depois se iniciou uma nova forma de literatura, A Literatura de Catequese, iniciada pelos padres jesuítas que a principio tinha como objetivo a catequização dos índios e a conversão dos gentios.  Em seguida outras obras definiram não só como um estilo de arte, mas também um complexo cultural e um estilo de vida. A Literatura de missão de catequese usava teatro e a poesia lírica, além de artifícios de conquistas e intimidação da imaginação selvagem, como a valorizar a vida celeste e os ideais cristãos.

Todas as manifestações literárias do século XVI, quer tenham sido informativas quer educativas, representaram os primeiros passos de integração do tradicional com o novo, cujos temas-nativismo e ufanismo - estariam sempre presentes no decorrer da história de nossa literatura.

As manifestações barrocas no terreno da literatura traduzem às crises, as dúvidas, a ambiguidade do sentido - o dualismo - por que passava o homem angustiado entre as forças do espírito e as forças do mundo. Esses contrastes apresentavam-se por via de um vocabulário rebuscado, conceitual, representando os temas de vida versos mortes e paradoxos, o contexto histórico que marca esse período está ligado a contrarreforma e outros movimentos.

 Mas foi no século XVII que o estilo barroco encontrou maior expressão, inclusive em obras de sentido literário, através das figuras de Gregório de Matos (1633-1696) e Padre Antônio Vieira (1608-1697), o primeiro na poesia lírica, satírica e religiosa, o segundo na parenética barroca em prosa. No padre Antônio Vieira, encontra-se o ponto alto da estética barroca em prosa. Sua oratória sacra, que encheu o século XVII, na defesa dos interesses do Brasil, unia o conceptismo e o culturismo, o estilo senecano e sentencioso á ênfase e a sutileza, abusando de figuras.

 

  1. 2.   Os prosadores.

 

Sob o aspecto literário, tão mesquinho e displicente como a poesia, foi então a fase prosa que precedeu imediatamente o Romantismo. Nenhuma grande ou sequer notável obra literária produziu. Foi, porém, como a poesia, fértil em escrevedores de assunto que só remota e subsidiariamente poderão dizer com a literatura: economia política e social, direito público e administrativo, questões políticas, comércio e finanças. A história, que também fizeram a trataram em mofino estilo, e mesquinhamente, à moda de anais e crônicas. O número relativamente grande dos que destes assuntos e de outros congêneres escreveram e a cópia dos escritos publicados neste período, são um documento precioso da nossa vida intelectual e da nossa cultura nessa época. Se os poetas, com raras exceções, ficaram alheios às circunstâncias precursoras da independência, os prosadores, ao contrário, mostram-se influenciados e interessados pelo que aqui se passava, e, de boa vontade e ânimo puro, lhe trouxeram ao seu concurso. Toda a sua obra, mal construída sob o aspecto literário, com pouco ou sem algum mérito de fundo ou forma que a fizesse sobreviver ao seu tempo, ou que lhe desse nele qualquer proeminência literária, obra de publicitários e de jornalistas de ocasião, apontando a fins imediatamente práticos, serviu ou procurou servir à constituição de nossa nação, a qual já tinha como certa e definitiva. Não se pode, todavia, incorporar ao nosso patrimônio propriamente literário.

2.1.        Cartas do Brasil: Diálogo sobre a Conversão do Gentio.

 

          Composto entre Junho de 1556 e começo de 1558, e impresso em 1880, na revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro do Rio de Janeiro por Manuel da Nóbrega que na época foi nomeado Primeiro Superior e Primeiro Provincial da Ordem no Brasil. Em 1544 ingressa na Companhia de Jesus e vem para o Brasil em 1549, junto a Tomé Souza, primeiro governador geral, chefiando assim a primeira missão Jesuítica que tinha como propósito de instalar a Companhia e principiar os trabalhos da catequese. Ele abriu um colégio da Companhia na cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, dedicando mais de seu tempo à conversão e catequese do gentio e a educação do colono.

          As cartas do Brasil foram direcionadas por Manuel da Nóbrega a vários destinatários em Portugal como sacerdotes superiores da Companhia de Jesus, a seus mestres em Coimbra, a irmãos da Ordem, a Tomé de Souza. Após o seu regresso à Pátria ao infante D. Henrique, aos moradores de Vicente. As missivas continham informações da terra, da gente do Brasil e notícias acerca das tarefas de conversão do indígena e educação do colono.

          O escritor põe ênfase nas qualidades do solo fértil e rico, na falta de bons sacerdotes, relata sobre a edênica existência que levam os indígenas, sobretudo a promiscuidade sexual, logo compartilhada por sacerdotes e colonos, comenta ainda, os costumes antropofágicos dos silvícolas e de alguns portugueses aderentes atais práticas, relata sobre os costumes da gente local, governador geral, dos padres da Ordem, das dificuldades a serem vencidas ou a vencer, da fundação das cidades, escolas igrejas e da relação da catequese entre o índio e o branco.

 E assim está agora a terra nestes termos que, se contarem todas as casas desta terra, todas acharão cheias de pecados mortais, cheias de adultérios, fornicações, incestos, e abominações, em tanto que me deito a cuidar-se tem Cristo algum limpo nesta terra, e escassamente se oferece um ou dous que guardem bem em seu estado, ao menos sem pecado público.¹

 

  1. Trecho de Cartas do Brasil, p. 194.

 

          As Cartas ostentam menor significação, a partir do fato de serem missivas-relatórios, isentas de carga imaginativa, ao menos conscientemente. Nas primeiras cartas, a mercê da obrigação e do intuito de informar com objetividade, o estilo é pobre e impessoal, posto que direto e eloquente, em razão de o missivista adotar atitude “científica” perante as notícias que remete.

          Com o tempo, a linguagem veio a modificar-se e adquirir contornos literários porque a repetição das mesmas informações o compelia a dar vaza aos dotes estilísticos e estéticos sopitados anteriormente, porque a frequência de redigir com clareza lhe foi apurando definindo o talento de escritor, porque o amadurecimento dos anos e a experiência acumulada lhe trouxeram o entendimento e o gosto das sentenças bem talhadas, sem lhe comprometer o significado e a austeridade.

 

2.2.        Cartas do Brasil: “Aos moradores de S. Vicente”.

 

          A escrita de Manuel da Nóbrega ganha outro estilo inovador, como se o missivista de súbito se libertasse das coibições do sacerdócio. A sua linguagem passa a exibir desenvoltura e brilho que se diriam oratório. A incaracterização dos relatórios impassíveis e substituída por um à vontade coloquial ou discursivo, de que resultam soluções estéticas sonoras e veementes inclusive em relação aos propósitos a se atingir.

 “A língua desse gentio toda pela Costa é uma: carece de três letras – scrilicet, não se acha nela F, nem L, coisa digna de espanto, porque assim não tem fé, nem Lei, nem Rei; e desta maneira vivem sem justiça e desordenadamente”.²

          Na segunda fase estilística pertencente ao Diálogo de Conversão do Gentio surge da imaginação de um diálogo entre Gonçalo Álvares e o Irmão Mateus Nogueira que descreve a conversão do indígena e a fé cristã em três etapas: a catequese, o batismo e a perseverança. O diálogo finaliza com o interesse de informar, oferecer uma ideia do pensamento do autor, solicitar ajuda reinal para as tarefas ecumênicas entre eles.

          O diálogo mostra evidentes intuitos literários, a partir da utilização do diálogo como recurso expositivo. O texto possui verossimilhança ao diálogo,

  1. Pero de Magalhães Gandavo – Tratado da Terra do Brasil. Discuta a solução jesuítica dessa carência no Diálogo sobre a Conversão do Gentio, do Padre Manuel da Nóbrega.

 isto é, despreocupa-se de construir diálogos equivalentes à fala de um “curador de índios” e a de um irmão da Companhia. Ao contrário, inventa a linguagem de um e de outro, como se fossem personagens imaginárias e não vivas. O estilo e conteúdo das falas mostram coerência, cada personagem articula sempre os pensamentos numa dicção apropriada. 

          A obra em prosa “Diálogo sobre a Convenção do Gentio”, do Padre Manuel de Nóbrega de 1517 a 1570, foi cronologicamente, a primeira obra literária brasileira (1557 ou 1558) pelo seu gênero, estilo e concepção, requer consideração destacada. Obra poucas vezes citada e muito menos estudada sob o ponto de vista literário histórico, é, contudo, de singular significação em nossas letras e revela no seu autor uma meridiana intuição dos problemas políticos, sociais, humanos e religiosos.

            Não se encontram nelas os arroubos poéticos de Anchieta, nem certas fragilidades estéticas a que não foge a ingenuidade Santa do Apóstulo do Brasil. Como objeto de estudo, esta obra, pequena em si mesma, valiosa espécime, todavia, da literatura brasileira, (brasileira porque já é literária) e tem por assuntos os índios, pode considerar-se sob este aspecto literário ou sob o aspecto etnológico, ou sob o aspecto religioso. O literário pelo estilo e pelo gênero; o etnológico pelos índios; e o religioso por tratar da conversão de certa categoria de homens a uma religião positiva, que é a Cristã.

            No diálogo, os interlocutores, Gonçalo Álvares, intérprete da língua tupi, e Mateus Nogueira, ferreiro de Jesus Cristo, como lhe chama Nóbrega, personagens reais, não inventadas, discutem entre si o problema da conversão do Gentio, com expressões dialogais de perfeita naturalidade.

...Mas como não sabem que coisa é crer nem adorar, não podem entender a pregação do evangelho, pois ela se funda em fazer crer e adorar a um só Deus e a esse só servir; e como este gentio não adora nada, nem crê nada, tudo o que lhe dizeis se fica em nada...” ³

 

            Alguns pontos da sua obra, “Sobre a autropofia:”..E morto, cortam-lhe logo o dedo polegar por que com aquele tirava as fechas e o demais fazem em postas para o comer assado ou cozido..” ( cartas do Brasil p.100).       

  1. Trecho de Diálogo de Cartas do Brasil, p. 14.

            Termina o dialogo com um pensamento favorável ao índio: “Quanto mais impedimentos um tiver para a conversão, tanto, diremos que está menos do mal tem Deus que tirar deles, tanto mais disposto serão”.

            Manuel de Nobrega dedicou a sua vida aos problemas de catequese e conversão do gentio. Do ponto de vista literário o dialogo obedece às boas normas do gênero, tradicional na literatura do Ocidente, e que teve tanta voz na época. José de Anchieta e Manuel da Nobrega, o poeta e o pensador, justificam um lugar de relevo para a literatura Jesuíta do século XVI na história literária brasileira.

2.3.        O Sermão da Sexagésima

           Padre Antônio Vieira, grande orador, sua formação jesuítica estava ligado com a estética barroca, fazendo de seus sermões a expressão em prosa sacra e um dos principais meios de difusão da ideologia e da literatura da Contrarreforma. Um dos pioneiros na produção prosaica; Destacando-se na produção de sermões.

          O Sermão da Sexagésima é uma obra religiosa e literária de sua autoria. Ele fala sobre a arte de pregar usando de uma metáfora: pregar é semear. O estilo é um aspecto que o transformou em mestre indiscutível. Clareza, simplicidade, rigor sintático e dialético, rigor da lógica do pensamento, constituem algumas de suas características marcantes.

          O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo, que é a palavra de Deus. Os espinhos, s pedras, o caminho, e a terra boa, em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias, e nestes afoga-se a palavra de Deus. [1]

          Traçando paralelos entre a parábola bíblica sobre o semeador que semeou nas pedras, nos espinhos (onde o trigo frutificou e morreu), na estrada (onde não frutificou) e na terra fértil (onde deu copiosos frutos), Vieira critica o estilo de outros pregadores contemporâneos, que pregavam mal, sobre vários assuntos ao mesmo tempo (o que resultava em pregar em nenhum), agradando aos homens ao invés de pregar servindo a Deus. E hoje sua prosa é a maior expressão em “prosa” barroca em língua portuguesa.          

[1]. II Semen Est Verbum Dei. Padre Antônio Vieira, Sermões escolhidos, Sermão da Sexagésima, SP, Logos,1960, p.161-2)

 

REFERÊNCIAS

 

MASSAUD, Moisés. História da Literatura Brasileira. Volume 01. Das origens do Romantismo. 7º. São Paulo. 2001.

 GONÇALVES, Maria Magaly Trindade. Antologia Escolar de Literatura Brasileira: Poesia e Prosa/ Magaly Trindade Gonçalves, Zélia Thomáz de Aquino, Zina Bellodi Silva: prefácio de Antônio Carlos Secchin. – São Paulo: Musa Editora, 1998. – (musa escola. Cultura de volta à Educação: 1)

 COUTINHO, V. Afrânio, A Tradição Afortunada, José Olympio Ed., 1968.