OS PERIGOS DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA

Por HERÁCLITO NEY SUITER | 07/07/2009 | Filosofia

Quando uma sociedade está impregnada de pessoas que acreditam que o ter vale mais do que o ser, que enganar os outros é um ato de esperteza, que para tudo dá-se um “jeitinho” (o jeitinho brasileiro) e que se utiliza da “Lei de Gerson” como ato de inteligência, a Democracia Representativa corre vários riscos e deixa toda uma Nação às margens da estrada de um futuro promissor.

            Nas esferas do poder fala-se de bancada ruralista, bancada evangélica, bancada dos empresários, etc., mas não se escuta falar de “bancada do povo”, “bancada da saúde” ou na “bancada da educação”. O que acontece é que o corporativismo de alguns grupos dotados de recursos financeiros pagam um lobe altíssimo para serem representados nas esferas do poder político visando a defesa de interesses exclusivos de seus setores e grupos. E o povo, fica a ver navios.

            Em nosso país vivemos, em suma, a fragmentação dos indivíduos em grupos ou "guetos"". Isso tem levado a uma simplificação, à crença de que são apenas o mercado ou a cultura de massas que reúnem os cidadãos numa identidade nacional. Esmaecem-se os valores que cimentam as sociedades nacionais e balizam as relações entre suas camadas. No mundo inteiro, o fascínio pelo novo, pelo retrato da realidade mostrado pela TV, desvia a atenção dos verdadeiros elementos que compõem a identidade nacional: uma história comum, uma herança cultural, uma trajetória coletiva - com seus êxitos e dificuldades - e um sentido de futuro.

            O exagero do corporativismo está tão descarado, que não só afeta o meio político como também jurídico, de profissionais liberais, negros, índios e brancos em geral, e está cada vez mais difícil harmonizar, dentro do espaço público, a atuação dos agentes sociais e as identidades culturais. Esta é a essência das dificuldades que enfrentam os instrumentos clássicos da representação, porque muitas demandas, embora legítimas, são parciais e não refletem o conjunto de valores vinculados a uma identidade econômica-cultural.

            A pólis fragmentou-se; a mediação política, na qual está assentada a idéia de democracia representativa, já não cumpre, senão imperfeitamente, sua função de transformar interesses individuais em coletivos. A intermediação política fica cada vez mais marginalizada, desacreditada, conforme demonstram as pesquisas de opinião.

            Fruto da fragmentação da pólis e da agenda política é o enfraquecimento do papel tradicional reservado aos partidos políticos. O que lhes dava consistência era a identificação com um ideário que correspondia ao interesse de determinadas classes ou categorias. Faziam uma escolha ideológica que se materializava num programa de ação.

            Numa época em que a disputa ideológica se esmaece, em que os interesses tornaram-se menos claros e mais disperses, os partidos políticos correm o risco de ver diminuída sua capacidade mobilizadora. Precisam assim encontrar novas formas de mobilização que transcendam o particular e tenham em vista os interesses coletivos reais, que já não se identificam tanto com ideologias.

            Somos uma Nação com base educacional fraquíssima cuja identidade nacional vem se consolidando como o símbolo mais explícito da nossa ética ou falta de ética.

            Joaquim Nabuco, abolicionista, advogado e jornalista que viveu no Segundo Império já dizia: "um governo, a menos que desconheça a sua missão, não pode por amor de um interesse comprometer os outros interesses da sociedade: é na combinação de todos eles que consiste o grande problema da administração pública...".

            Nessas eleições temos a chance de mudar esse quadro, será que conseguiremos?