Os Patriarcas - Capítulo 13

Por Hebert Oliveira | 30/09/2016 | Literatura

   Ele se levanta e entra no palácio deixando Abraão sozinho. De repente uma brisa suave sopra em seu rosto.

                   

SENHOR: Saia já do reino de Sur.

Abraão: Sim, SENHOR. Eis-me aqui.

   Abraão entra no seu aposento, onde estão as pessoas que vieram com ele.

Abraão: Rápido! Arrumem suas coisas! Vamos embora daqui.

Sara: Mas, por quê?

Abraão: Depois eu explico. Vamos sair escondidos.

   No mesmo instante, novamente a brisa suave sopra no rosto de Abraão, de modo que seus cabelos voam a favor do vento.

 

SENHOR: Avise ao rei que vocês irão embora. (Imediatamente o semblante de Abraão cai, demonstrando um medo normal da carne, instinto. Mas isso não abala sua fé) Você entenderá, apenas obedeça.

Abraão: Sim... SENHOR.

   O rei Abimeleque está treinando, sua esposa chega no local de treinamento. O rei pega uma toalha que está numa bandeja segurada por um servo, enxuga o suor do rosto e vai em direção a sua esposa.

Galit: Está mais calmo?

Abimeleque: Estou sim, senhora. Tão bem que já me lembrei de uma dívida sua, Galit.

Galit: A esposa.

Abimeleque: Isso. Menina inteligente! Cadê?

Galit: O quê?

Abimeleque: O osso que eu te dei pra tu roer. Háháhá! (Galit continua séria, mostrando que não achou graça nenhuma na piada) Eu só fiz isso para descontrair, mas como você não gostou, melhor eu ir direto ao ponto. Ou você acha logo uma esposa em 5 dias ou você não será mais rainha. Ah! Já ia esquecendo. Não quero qualquer mulher, escolha bem. O prazo é de 5 dias.

Galit: (Respira fundo) Abimeleque, isso não vai acabar bem. Não vai.

   Em Sur, na sala do trono do palácio está o rei indignado, Abraão sereno como sempre e os outros tentando disfarçar o medo. Ismael está no colo de Hagar.

Senén: Como assim já vão? Mal chegaram.

Abraão: Ordem de DEUS.

Senén: Pois quero ver que DEUS irá salvá-los agora das minhas mãos! Guardas! Prendam-nos!!!!! (Os guardas do rei avançam em cima deles, os 20 que agora são 19 sacam suas espadas. Abraão faz um sinal com a mão para que guardem as espadas).

Senén: Peguem esse menino e levem para ser educado fora do palácio!

Abraão: (Abraão fica desesperado) Não! Ismael, não! Por favor, não!

Senén: É realmente impressionante a força desse velho. Muito bem, Abraão. Cadê o teu DEUS para salvá-lo agora, hein? Está dormindo?

Um dos 19: Seu Abraão, por que não atacamos?

Abraão: Não. Agora não.

Senén: Levem-nos para a prisão. Cada um em uma cela diferente. Amanhã vocês, principalmente você, Abraão, serão julgados. Podem levá-los

   Abraão enxuga as lágrimas que escorrem no seu rosto por ter perdido para sempre seu filho Ismael. Mas Abraão tem fé de reencontrar seu filho ainda este ano, e tudo, tudo é possível àquele que crê, àquele que tem fé.

   Danna está colhendo algumas ervas. Maika dorme enquanto Danna lembra: “Maika: Danna, você não está pensando que vai esconder esse bebê por muito tempo, acha?

Danna: Por quê?

Maika: Danna, acorda! Se nosso pai descobrir, ele vai desconfiar de algo, não acha? Não há nenhum outro homem além dele.

Danna: Pela primeira vez você tem razão. O único jeito dele não descobrir ou é a gente fugir ou...

Maika: É melhor fugir.

Danna: Não. Porque onde viveremos depois de fugir? É melhor matar o nosso pai.

Maika: Danna, você tem noção do que está dizendo?

Danna: Claro que tenho.

Maika: Pois saiba que eu não vou ajudá-la nisso. Eu já errei uma vez, não vou errar de novo.

Danna: Você é quem sabe.

Danna: Será que Maika está certa? Mas se o meu pai descobrir ele nos amaldiçoará. Tenho que me preocupar em primeiro lugar com a minha vida depois me preocupo com a dos outros. Vou terminar o que comecei.

   Abraão está sozinho na cela.

Abraão: Meu DEUS, guarda Ismael, por favor, tire-nos daqui e ajude-nos a encontrá-lo.

  De repente uma brisa suave sopra no rosto de Abraão, entrando por uma janelinha de iluminação, e enche Abraão de esperança. É como se DEUS tivesse dito: “Não temas, EU SOU contigo e tu encontrarás Ismael”. Na manhã seguinte, Abraão se assusta com as palmas do rei, o qual chega na porta da cela de Abraão.

Senén: Confortável, Abraão.

   Abraão fica calado por alguns instantes.

Senén: Qual foi o gato que comeu sua língua se aqui não têm gatos?

Abraão: Escuta, rei. Eu só quero saber para onde levou Ismael e com que intuito.

Senén: Já que queres tanto saber eu vou falar. Ele foi levado para ser educado como um nobre fora do palácio.

Abraão: Em que lugar?

Senén: Numa cidade aqui perto.

Abraão: Qual é o objetivo disso?

Senén: Torná-lo um príncipe para mais tarde ser... Escuta aqui! Isso é um interrogatório ou o quê?!

Abraão: Isso não vai acontecer.

Senén: Está me enfrentando? Pois saiba que mais tarde você será julgado. Quem sabe condenado à morte?

Abraão: Em NOME do SENHOR DEUS TODO-PODEROSO eu não permito que isso aconteça!

Senén: Quero saber como ESSE DEUS me impedirá de fazer o que eu quero.

Abraão: A resposta não tardará a chegar.

Senén: Com licença. Tenho mais o que fazer.

   O rei se retira. Abraão cai de joelhos e rasga suas vestes como sinal de humilhação diante do SENHOR.

 
 

Eufemismo: Palavra, locução ou acepção mais agradável, de que se lança mão para suavizar ou minimizar o peso conotador de outra palavra, locução ou acepção menos agradável, mais grosseira ou mesmo tabuística. *

 

Abraão: Meu DEUS, eu nunca, nunca vi um justo ser de-samparado pelo SENHOR ou envergonhado diante dos homens! Por isso, nós que O servimos temos na garganta um grito preso e um grande desejo de justiça! Será que é justo os TEUS servos viverem assim? Na escravidão, na humilhação, sofrendo injustiçados? A minha maior dor é crer de fato de verdade num DEUS tão GRANDE e viver nesta situação! Aí eu me pergunto se o SENHOR envelheceu ou das TUAS promessas, do TEUS sonhos para a minha vida, para a minha descendência SE esqueceu. O SENHOR me tirou da terra de Harã para padecer no deserto? Tenho certeza que não. Oh, SENHOR JUIZ, estenda o TEU martelo e esmaga a injustiça que assola o TEU povo!!! Eu sei que o SENHOR É JUSTO e nunca mudou. Eu sei que a TUA JUSTIÇA É CERTA. Então, me ajude porque sozinho não posso.

   Assim que Abraão termina a oração, ele escuta o barulho da porta se abrindo. É um soldado do rei, ele abre as portas da cela e os guia até a sala do trono.

Senén: Já tenho o veredito. Mas antes, o que têm a dizer em sua defesa?

Abraão: (Abraão levanta seu rosto e olha para o teto) SENHOR, mostra que TU estás com a gente.

   Na mesma hora ouviu-se gritos e passos vindo em direção a sala do trono. Cada vez o barulho fica mais perto, mais perto, mais perto, até que a porta da sala se abre com violência. São soldados de outro reino que invadem o palácio. Começa a guerra, os soldados de Abraão e o próprio Abraão também entram na luta, matando os oficiais e abrindo caminho para fora do palácio.