OS NEGROS

Por Luciano Machado | 03/01/2011 | Sociedade

OS NEGROS

Depois da frustrada nomeação de um branco para importante cargo de chefia de um órgão federal, por ter sido este acusado de torturar um ex-sacerdote negro, foi nomeado, para aquele cargo, justamente um homem negro, que parecia reunir todas as qualidades e requisitos de probidade pessoal e integridade profissional para o seu desempenho.
Tenho observado que os negros se destacam, mais do que os brancos, em diversas áreas. É o que vemos, por exemplo, na música e no cinema, no desempenho de velhos artistas e novos atores e atrizes em papéis principais. Também os encontramos em destaque na literatura, como é o caso de João da Cruz e Souza, um de nossos melhores poetas, filho de escravos alforriados, e Machado de Assis, nosso maior escritor, filho de um mulato e de uma açoriana, fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras. E isso não lhes foi proporcionado pela concessão de ninguém em particular, mas pela impositiva exigência de seus próprios talentos, méritos e qualidades, fossem estas qualidades intrínsecas ou extrínsecas, no âmbito da arte e também em outros diferentes contextos e níveis de atuação. Ao longo da história os negros têm se destacado nas ciências humanas, jurídicas e sociais, e no desempenho eficiente e eficaz de altos cargos públicos civis, militares e eclesiásticos, e em diversas funções de Estado, e não apenas, o que seria natural, nos países de raça negra, mas no governo de grandes e importantes nações onde atualmente predomina a raça branca, como é o caso, agora, do exercício da presidência dos Estados Unidos da América pelo mandatário negro Barack Obama.
Para citar um exemplo histórico, na área militar, o comandante-em-chefe dos exércitos do ocidente em 1794 e mais tarde um dos grandes generais do exército de Napoleão chamava-se Alexandre Davy de La Pailleterie Dumas, um negro de família nobre do Haiti, pai do escritor Alexandre Dumas e avô do escritor Alexandre Dumas Filho.
A quem interessar, existe um importante documento, de autoria do médico, escritor e pesquisador libanês Jorge Adoum, intitulado "O Ciclo das Raças", onde se estabelecem os períodos em que as diferentes raças predominaram em poder, sabedoria e beleza sobre o nosso planeta. E uma delas foi a negra. Nesse tempo, os negros eram os senhores, e os brancos, seus escravos. Dessa aristocracia negra ainda hoje encontramos vestígios de nobreza no comportamento e nos traços de alguns indivíduos, homens e mulheres, de pele morena.
O que não significa que os negros, assim como os brancos, vermelhos e amarelos, sejam infalíveis ou incorruptíveis. Existem pessoas íntegras e cafajestes em todas as raças. Todos somos seres humanos e, como tais, sujeitos aos mesmos princípios e leis, impasses e vicissitudes que regem a existência, a moral e o aperfeiçoamento dos indivíduos.
No decurso da minha vida, e no desempenho de minhas atividades, tenho convivido com colegas e amigos negros, inclusive em cargos de gerenciamento ou de chefia, que nunca me decepcionaram em lealdade, companheirismo e amizade. Eu poderia apresentar aqui uma relação imensa de pessoas da raça negra com quem convivi e ainda convivo. Aliás, de todos eles, homens e mulheres, tenho guardado uma afetuosa e grata recordação. Eles me demonstraram que a união, a fraternidade e o respeito mútuo entre os indivíduos de diferentes raças ou etnias pode tornar o mundo melhor, mais humano, mais justo, mais bonito e bom de ser habitado, apesar de todos os conflitos e adversidades gerados pelos inimigos do bem comum.
(Luciano Machado)