OS MOTIVOS QUE LEVAM PESSOAS A SE VOLUNTARIAR EM GRUPOS ASSISTENCIAIS.

Por Larissa Cristina Da Silva Barbosa | 08/06/2016 | Psicologia

OS MOTIVOS QUE LEVAM PESSOAS A SE VOLUNTARIAR EM GRUPOS ASSISTENCIAIS.

Daiane Helen Leal Gomes, Gisele Alves Oliveira, João Vitor Peraro Lupoli, Larissa Cristina da Silva Barbosa, Marinalva Meireles Sousa[1].

Profª Drª Ana Paula Barbosa[2]

Resumo: Objetivou-se neste artigo explanar os motivos que levam pessoas à pratica do voluntariado, tão difundido em todo o mundo, ressaltando os paradigmas entre o engajamento social e os fatores motivacionais que impulsionam essa escolha, bem como os gatilhos e referências morais, sociais e emocionais que norteiam a busca de valores como cidadania, solidariedade,  empatia e auxilio ao próximo em uma sociedade marcada pelo individualismo. Para tanto fez-se uso de pesquisa bibliográfica de caráter acadêmico por meio de livros, artigos e pesquisas. Conclui-se que é muito importante para as instituições ter pessoas que se disponibilizam à prática do voluntariado e que essa prática é notadamente benéfica para quem se voluntaria.

 

Palavras-chave: Fatores Motivacionais; Influências Externas; Valores Morais; Cidadania.

Summary: The objective in this article explain the reasons that lead people to the practice of volunteering, so widespread around the world, highlighting the paradigms between social engagement and motivational factors that drive this choice, as well as the triggers and moral references, social and emotional that guide the search for values such as citizenship, solidarity, empathy and assistance to others in a society marked by individualism. For this was made use of bibliographic research of an academic nature through books, articles and research. It is concluded that it is very important for institutions to have people who make themselves available for volunteering and that this practice is especially beneficial for those volunteers.

Keywords: Motivational Factors; External Influences; Moral Values; Citizenship.

  1. Introdução

Inicia-se este artigo com o levantamento de algumas questões abordadas por Ploner et.al.(2008), em seu livro Ética e Paradigmas da Psicologia Social: Como pode o sujeito ser compreendido unicamente de uma forma universal, separado de sua cultura, de sua história e de sua realidade social? Como podemos pensar no indivíduo, sem percebê-lo através da lógica de concepção de sujeito constituído pelas diferenças? Como trabalhar com o conceito de sujeito sem adentrar por questões sociais e políticas como a organização da sociedade e renda, de construção de identidades através dos marcadores de gênero, raça e diversidade sexual? Como pensar no sujeito ou sujeitos enquanto campo de atuação da Psicologia Social para o atendimento ao sofrimento psíquico em separado de questões como saúde, educação, moradia, trabalho e segurança, e demais direitos básicos para o desenvolvimento da cidadania e democracia, que devem em suma ser considerados para determinar a pluralidade de realidades que compõem a sociedade?

Sendo o homem um ser social, mesmo com suas peculiaridades e particularidades é inegável, que a psicologia o compreende como um ser entre outros seres, com os quais se relaciona e pratica trocas afetivas e intelectuais que influirão em sua formação enquanto individuo. Dentro deste artigo falaremos especificamente do voluntariado e das trocas e benefícios psicológicos percebidos pelo indivíduo que o pratica.

Dados apontam o crescimento exponencial da pratica do voluntariado não apenas no Brasil mas em todo o mundo, dados da Relatório do Voluntariado no Mundo produzido pela Fundação Itaú Social (2015b), apontam que existem mais de 16 milhões de voluntários e que 3 em cada 10 brasileiros já realizaram alguma ação voluntária. Entretanto este número é bastante tímido em relação ao que pode efetivamente ser realizado por ações ordenadas da sociedade civil.

O interesse crescente pelo engajamento social e a prática do voluntariado na sociedade contemporânea tem, entre outras justificativas, motivações provenientes da realidade social e alicerçadas em vivências pessoais, que culminam em uma postura critica quanto aos rumos da política que estão indissociavelmente presentes na relação solidária. Ora, se hoje vivemos em um Estado assistencialista, as crescentes desigualdades sociais apontam para a necessidade crescente da sociedade civil intervir de forma ativa na definição de políticas públicas. O conceito de voluntariado, então não se baseia somente na doação de recursos, bens e trabalho, mas engloba um conceito mais amplo desenvolvido por Gramsci (1979 apud SELLI, 2006) e entendido como uma participação ativa e beneficente das pessoas que desenvolvem a atividade voluntária na construção das condições necessárias à democratização efetiva do Estado, em todas as suas dimensões, em nosso caso específico, nas áreas de assistência social e saúde.

Outro fato bastante revelador é demonstrado através da classificação etária dos voluntários, nesta mesma pesquisa, desenvolvida pela Fundação Itaú Social (2015), aponta que mais de 80% de nossos jovens nunca participaram ou demonstraram interesse em participar de ações de voluntariado o que demonstra um possível crescente perfil de individualismo das novas gerações que não desenvolvem uma postura empática e proativa em relação a questões sociais e humanitárias.

Dentro do exposto, pressupõem-se que, à despeito do aumento do engajamento social, a sociedade enveredou por um caminho pautado pelo individualismo, a competitividade, o egocentrismo e a escassez das relações sociais e familiares. A falta de tempo tem culminado no esfriamento do comportamento humano e por fim das próprias relações humanas. Vemos hoje idiossincrasias como o aumento de crianças em creches e idosos em casas de repouso proporcional ao aumento da humanização das relações com animais como, por exemplo, os cães domésticos.

Outrossim, levanta-se aqui mais uma questão. Qual o valor de atuar como voluntário para o indivíduo? Qual é o beneficio percebido por que sem presta a realizar este trabalho uma vez que não há o estabelecimento de uma relação de emprego ou mesmo percepção monetária do trabalho realizado? A resposta à estas, e às demais questões levantadas são encontradas ao longo deste artigo, dentro da percepção de que a crescente conscientização da sociedade quanto à importância do trabalho voluntário, e do impacto psicossocial da auto-realização retratado por Maslow (1954, apud  SILVA, 2002).

Este estudo, portanto, insere-se dentro do contexto exposto acima, buscando respaldo na área da psicologia social que auxilie na construção de maior embasamento sobre os fatores que motivam a participação do individuo em grupos de voluntariado, no intuito de compreender os benefícios percebidos dessa prática no contexto emocional e social.

  1. REFERENCIAL TEÓRICO

 

 

  • Dados nacionais do engajamento social e prática do voluntariado

Antes de enveredar sobre os fatores psicológicos que motivam o individuo a se voluntariar se faz necessário pintar um quadro do voluntariado brasileiro. Segundo levantamento, realizado pelo Instituto Datafolha (apud FUNDAÇÃO ITAU SOCIAL, 2015a), com 2024 brasileiros de 135 municípios, 11% da população brasileira são voluntários e um número quase três vezes maior (28%) já realizou algum tipo de atividade formal não remunerada para ajudar o outro em algum momento. Em uma leitura mais precisa esses dados apontam que aproximadamente três em cada dez brasileiros já realizaram ações voluntárias ao longo da vida.

A mesma pesquisa aponta ainda que 58% das pessoas entraram no voluntariado para serem solidários, enquanto 18% disseram que se iniciaram na prática por influência de conhecidos ou instituições e outros 17% dizem que entraram por satisfação pessoal.

Quando questionados de forma mais especifica, no que se refere às sensações ou benefícios percebidos referentes á pratica do voluntariado este grupo pinta um quadro bastante revelador, onde a percepção de 51% dos entrevistados é de bem-estar por fazer o bem, 40% tem a sensação de serem uteis,  29% tem a sensação de ajudar as pessoas e o pais e 11% apontaram como beneficio o desenvolvimento de habilidades.

Entretanto dentre todos os entrevistados o dado mais revelador quanto à questão social do voluntariado de dá pela percepção de 70% dos entrevistados que afirmam que a doação de objetos ou dinheiro não substitui a ação do humano no voluntariado, apontando a valorização da participação ativa do individuo e da criação de relacionamentos, vínculos emocionais e empatia.  

Vemos nos últimos anos uma progressiva mudança na cultura política e social, que fizeram com que a sociedade brasileira se encontrasse hoje num período de valorização e ampliação do espaço da sociedade civil, que pode ser vista atuar ativamente em protestos nas ruas e mobilizações nas redes sociais.

Roca (1994, apud PROACT, 2012), concebe que o cenário decorrente do surgimento de novas organizações sociais, e da valoração e maior exposição na mídia de grupos tradicionalmente existentes, fez com que houvesse a ampliação da quantidade de voluntários e de espaços para a prática do voluntariado, o que sinaliza uma nova postura da sociedade mundial que encontrou eco na sociedade brasileira, que hoje se torna cada vez mais participativa e passa a enfrentar o desafio dos inúmeros problemas sociais existentes no país, adotando o protagonismo social e se assumindo o papel de agentes de mudança.

  • Necessidades individuais x percepção social

O homem é um ser social e como todo ser social ele busca envolvimento e aceitação de seu grupo social, dentro dessa ótica o voluntariado é uma expressão do envolvimento do indivíduo na sua comunidade.

Além de sua personalidade grupal o ser humano de destaca por suas necessidades individuais, espelhadas na Pirâmide de Maslow (1954, apud CHIAVENATO, 2014), que elenca em ordem crescente os anseios do ser humano desde suas necessidades mais materiais e básicas até questões tão subjetivas como auto-realização e felicidade. Dentro deste enfoque a busca por participação, confiança, solidariedade e reciprocidade, baseado em um entendimento compartilhado e no senso das obrigações em comum, constantes em equipes de trabalho e voluntariado, são valores que se reforçam mutuamente dentro do voluntariado que hoje resiste contra a fragmentação social em um mundo globalizado e individualizado onde conceitos como a empatia são cada vez menos utilizados e a percepção do outro, o cuidar e o compartilhar se tornam uma necessidade contra o processo de desumanização e não um ato de caridade.

Ora, é certo que as necessidades individuais vão muito além dos aspectos meramente fisiológicos apesar dos mesmos figurarem entre as necessidades elencadas dentro da psicologia humanista de Rogers e transpessoal de Jung.

Segundo Veiga-Neto (2000, apud PLONER 2008), inspirado em Foucault, ao invés das práticas sociais, econômicas, culturais e políticas derivarem a partir do sujeito, é o sujeito que passa a se derivar a partir dessas práticas, ou seja, se torna inequívoca a influencia do meio na composição da escolha das praticas e das necessidades humanas.

Um dos mais conhecidos estudos sobre necessidades foi conduzido por Maslow (1954, apud HILSDORF, 2004), que define um conjunto de cinco necessidades descritas em sua Pirâmide, que tem a base composta pelas necessidades fisiológicas (básicas), tais como a fome, a sede, o sono, o sexo, a excreção, o abrigo; seguida pelas necessidades de segurança, que vão da simples necessidade de sentir-se seguro dentro de uma casa a formas mais elaboradas de segurança como um emprego estável, um plano de saúde ou um seguro de vida.

No segundo momento, depois de supridas as necessidades materiais, temos as necessidades sociais ou de amor, afeto, afeição e sentimentos tais como os de pertencer a um grupo ou fazer parte de um clube, sucedida pelas necessidades de estima, que passam por duas vertentes, o reconhecimento das nossas capacidades pessoais e o reconhecimento dos outros face à nossa capacidade de adequação às funções que desempenhamos e por ultimo, no topo da pirâmide temos enfim as necessidades de auto-realização, em que o indivíduo procura tornar-se aquilo que ele pode ou sonha ser.

Ora, percebe-se claramente nessa explanação que, a partir da necessidade de aceitação do individuo o foco passa a estar do olhar do outro sobre ele, e na necessidade de se ver de forma positiva no olhar alheio.

Essa busca de fazer o bem ao próximo, sendo de cunho humanitário, religioso, de autoafirmação ou decorrente de culpa, aproxima o individuo do seu próximo a medida que abre seu olhar para a necessidade dos que estão a sua volta, principio fundamental da percepção social e da empatia, que nada mais é que a capacidade de perceber o outro, não apenas sua presença mais o conjunto de características que o outro apresenta.

Todavia, observa-se neste discurso uma curiosa dualidade de sentimentos; pela percepção de uma linha tênue entre motivações altruístas e egoístas, que são forças divergentes, porém, dentro do voluntariado tornam-se convergentes, ao propiciar uma experiência recompensadora para o voluntário, que não apenas doa parte do seu tempo, mas que recebe em troca uma experiência enriquecedora.

Dentro da concepção motivadora do voluntariado, são varias as teorias que subsidiam este estudo como a já citada Hierarquia das Necessidades, de Maslow (1954, apud CHIAVENATO, 2014), onde dentro da ótica desta vertente temos que os trabalhadores voluntários possuem meios/condições de satisfazer suas necessidades básicas e, portanto estão em busca de autorrealização, de uma vida associada à valores e causas que podem ser cultural ou socialmente consideradas nobres, esta postura também remete à necessidades de estima, reconhecimento, poder e utilidade tão tratados por esta teoria.

Há ainda a possibilidade da motivação dos voluntários estar ligada a valores intrínsecos à própria natureza do trabalho desenvolvido na entidade, ou à possibilidade de aplicar seus conhecimentos e desenvolver suas aptidões em um clima agradável, sem a concorrência do mercado de trabalho, mesmo que as condições físicas e materiais deste ambiente não sejam as mais favoráveis, apontando para uma realidade já pintada por Frederick Herzberg (1959, apud  SILVA e VILLELA , 2001) em sua Teoria dos Dois Fatores.

Douglas McGregor (1973, apud  SILVA e VILLELA , 2001), a caracterização do voluntário é dada como de uma espécie caracterizada pelas Teorias X e Y, onde o voluntário (Teoria Y) é um indivíduo que não tem desprazer inerente em trabalhar e para o qual o trabalho pode ser uma fonte de satisfação e recompensa, além de ter motivação básica, potencial de desenvolvimento, capacidade para assumir responsabilidades e alto grau de criatividade e imaginação na solução de problemas empresariais.

Nota-se, entretanto, nessas três teorias a busca do cidadão pelo voluntariado como a busca do individuo pelo valor de suas ações em caráter bastante subjetivo, como forma de prazer, status, reconhecimento e participação.

Corrullón e Medeiros Filho (2002), apontam que não se deve equivocar o trabalho voluntário com obra de caridade, pois a caridade é uma doação sem obter nada em troca. É puro assistencialismo. No trabalho voluntário, há uma doação de trabalho que necessita ser feito, cujo resultado representa uma satisfação interior ao ajudar o próximo. Por outro lado, há um acréscimo de benefícios a quem pratica esta forma de trabalho, como o aumento da experiência profissional do voluntário, o trabalho em equipe, a integração, a flexibilidade, a visão de futuro, o otimismo e outras importantes nuances que podem ser vivenciadas e aplicadas no desenvolvimento pessoal e profissional do voluntário.

Sobre a percepção social dessa prática Ploner (2008) relata:

As políticas de identidades são produzidas no interior de práticas de significação, por isso adquirem uma materialidade discursiva real, tornam-se o real nos espaços de articulação, de hibridização de sentidos em que está em jogo uma multiplicidade de categorias referenciais que se fazem a todo o momento, marcando, instituindo e constituindo novas formas dos grupos sociais definirem a si próprios e serem definidos pelos outros.( PLONER, K. S. et al., org. Ética e paradigmas na psicologia social [online]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008. p. 64).

  • A percepção psicológica dos benefícios do voluntariado na formação da identidade

Dentro dos dados levantados na pesquisa realizada pelo Itaú Social (2015a; 2015b) e Leight (2011), observa-se que as percepções de bem-estar, satisfação pessoal e desenvolvimento de competências e habilidades são sentidas pelos participantes de ações voluntárias, e que, dentro da ótica de Maslow (1954, apud  SILVA, 2002), essas percepções são relacionadas à necessidades emocionais especificas ligadas a sensação de aceitação, de pertencimento e de realização pessoal.

De acordo com Cavalcante et al. (2013, p. 82),  se faz necessária a importância da hierarquização dos valores inerentes ao voluntariado, facilitando a compreensão de seus motivadores, sendo que, “Os motivos variam desde graus mais elevados, centrados no altruísmo, a um inferior, com viés egoísta”. É certo afirmar então, que os voluntários têm como principal objetivo ajudar ao próximo e a comunidade, sendo o altruísmo e a solidariedade os principais motivadores do voluntariado.

Toda via, cabe aqui ressaltar que o indivíduo forma sua autoimagem a partir do grupo social que está inserido, sendo necessário que o voluntário tenha uma identificação com a proposta de trabalho da instituição na qual realizará seu trabalho, proporcionando desta forma ao grupo ou a comunidade o bem-estar que se propõe através do trabalho filantrópico.

Lane (1984a, apud MARTINS, 2007), aponta que a Psicologia Social e uma nova concepção do homem para a Psicologia, trazendo a  concepção do homem em movimento, e reafirmando que "caberia à Psicologia Social recuperar o indivíduo na intersecção de sua história com a história de sua sociedade apenas este conhecimento nos permitiria compreender o homem enquanto produtor da história" (p. 13).

Ora, se no tópico anterior falamos da necessidade humana de ver supridas suas necessidades, uma das maiores necessidades do homem é a de ser feliz, e a felicidade está diretamente relacionada à percepção de aceitação, participação e pertencimento no âmbito social e pessoal temos que a busca, mesmo que utópica da felicidade vem sendo perseguida ao longo da história e atua no imaginário coletivo como um estado de gozo, onde corpo, alma e mente se alinham em harmonia. A palavra felicidade tem sua origem no latim sendo traduzida como:

O termo felicidade segundo o dicionário eletrônico Michaelis sf (lat felicitate) refere-se ao “Estado de quem é feliz. Ventura. Bem-estar, contentamento. Bom resultado, bom êxito. F. eterna: bem-aventurança. Em Latim, a palavra felix (genitivo felicis) queria dizer - originalmente - "fértil", "frutuoso" ("que dá frutos"), "fecundo". Mais tarde felix tornou-se sinônimo de "afortunado", "alegre", "satisfeito".( BRAGANÇA, A. O que é Felicidade? Filosofando sobre Felicidade. Recanto das Letras: São Paulo, 2010).

Temos então que ao participar de forma ativa de ações conjuntas para o bem do próximo o individuo passa a desenvolver competências como a empatia, o trabalho conjunto, a solidariedade, a caridade, o convívio social dentre tantas outras habilidades que atuarão de forma benéfica à sua percepção do mundo que o rodeia e de si próprio, criando uma autoimagem positiva, que culmina em sensação de prazer e autorrealização.

Sobre isso Martins (2007) ainda pontua:

(...) não é suficiente afirmar que o grupo baseia-se apenas em reunir pessoas que compartilham normas e objetivos comuns. Significa compreender o grupo enquanto relações e vínculos entre pessoas com necessidades individuais e/ou interesses coletivos, que se expressam no cotidiano da prática social. Além disso, o grupo é também uma estrutura social, uma realidade total, um conjunto que não pode ser reduzido à soma de seus membros, supondo alguns vínculos entre os indivíduos, ou seja, uma relação de interdependência. À semelhança de qualquer vivência humana, o processo grupal implica relações de poder e de práticas compartilhadas e, ao se realizar, desenvolve a sua identidade (intragrupo e intergrupos). A atividade grupal tem, portanto, a dimensão externa relacionada com a sociedade e/ou outros grupos, quando o grupo deve ser capaz de produzir um efeito real sobre eles para afirmar sua identidade, e a interna, vinculada aos membros do próprio grupo, em direção à realização dos objetivos que levem em consideração as aspirações individuais ou comuns. (MARTINS, S. T. F. Psicologia social e processo grupal: a coerência entre fazer, pensar sentir em Sívia Lane. Psicol. Soc. [online]. vol.19, n.spe2, 2007, pp.77.).

Ainda segundo o autor, citando Lane (1996, apud MARTINS, 2007), o papel determinante do processo grupal para a superação do individualismo profundamente arraigado em nossa sociedade, que deve ser superado pelo individuo que se dispõe á realizar um trabalho comunitário, sendo a percepção do outro como parte fundamental do desenvolvimento da consciência social e da autonomia dos indivíduos.

As diversas experiências comunitárias vêm apontando para a importância do grupo como condição [itálicos nossos] , por um lado, para o conhecimento da realidade comum, para a auto-reflexão e, por outro, para a ação conjunta e organizada. Em outros termos, estamos falando da consciência e da atividade categorias fundamentais do psiquismo humano. Sintetizando, o psicólogo na comunidade trabalha fundamentalmente com a linguagem e representações, com relações grupais [ itálicos nossos] vínculo essencial entre o indivíduo e a sociedade e com as emoções e afetos próprios da subjetividade, para exercer sua ação ao nível da consciência, da atividade e da identidade dos indivíduos que irão, algum dia, viver em verdadeira comunidade. (MARTINS, S. T. F. Psicologia social e processo grupal: a coerência entre fazer, pensar sentir em Sívia Lane. Psicol. Soc. [online]. vol.19, n.spe2, 2007, pp.78.)

Percebe-se então que a criação da identidade e da individualidade é proveniente da interação com o meio e suas influencias, sobre isso preceitua Ploner (2008):

O termo identidade nesta perspectiva teórica só se torna possível se pensado em relação à diferença, ou seja, identidade e diferença são tidas relacionalmente, de modo que só apreendemos um a partir do outro. Não é possível falar em alguma positividade do ser, sem relacioná-la ao que é da ordem deste não ser. A diferença não é o produto da identidade, mas tanto uma quanto à outra são resultantes de um processo (...) toda a identidade, por partir de uma positividade, tendencia-se a naturalizar, não obstante, a diferença produz um contra-movimento, desestabilizando as identidades. (PLONER, K. S. et al., org. Ética e paradigmas na psicologia social [online]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008. p. 66).

Em outras palavras, segundo o autor, o processo de percepção de construção da identidade sempre se refere a um “outro”, ou seja, “eu sou algo a partir daquilo que eu não sou” e mais precisamente “eu não sou o que o outro é”.

Fato é que ao olharmos o mundo de uma maneira geral e às pessoas particularmente, nos daremos conta que a diversidade é a norma e que todos temos inúmeras limitações, que, a cada dia, para sobreviver, necessitamos aprender coisas novas, novos comportamentos, novas habilidades e precisamos contar também com outras pessoas uma vez que não somos autossuficientes, e portanto nunca conseguiremos fazer determinadas coisas sem o auxílio dos demais.

  1. METODOLOGIA

Estabeleceu-se para a confecção deste artigo a utilização de metodologia de pesquisa bibliográfica documental, que segundo Cervo, Bervian e da Silva (2007, p.61), “constitui o procedimento básico para os estudos monográficos, pelos quais se busca o domínio do estado da arte sobre determinado tema” sendo documentalmente realizada uma investigação, com o objetivo de descrever e comparar os costumes, comportamentos, diferenças e outras características, tanto da realidade presente, como do passado sobre o tema abordado, ressaltando os paradigmas entre a prática do voluntariado e os fatores motivacionais que a impulsionam.   

Dentro dessa premissa, o método escolhido para ser utilizado nesta pesquisa foi o Método Dedutivo, que segundo Gil (2002 e 2008), e Lakatos e Marconi (2010), é embasado na visão de Descartes, que frisou: “É possível chegar à certeza através da razão. Partindo das teorias e leis gerais pode-se chegar a determinação ou previsão de fenômenos”.

  1. CONCLUSÃO

Conclui-se com base no referencial bibliográfico pesquisado para confecção deste artigo que, o engajamento social, representado pela prática do voluntariado, segundo a visão dos vários autores referenciados, proporciona além das inegáveis transformações sociais a que se propõe, auxiliando na melhora da qualidade de vida das pessoas assistidas, mudanças em nível individual e coletivo naqueles que se dispõe a participar ativamente de suas ações. Ora, se dentro das mudanças entendidas como beneficentes para o indivíduo compreendem a busca da justiça pelo praticante do voluntariado, na formação de sua identidade e no estabelecimento, com os destinatários da atividade voluntária, de relações de companheirismo, empatia e solidariedade, é correto afirmar que há o crescimento emocional com a percepção do outro e de suas próprias necessidades e limitações.

Ora é resultado do amadurecimento emocional a capacidade de desenvolver comportamento empático e comprometimento com o outro na vida em coletividade, atitudes que supõe abertura total às múltiplas dimensões da realidade, havendo ainda aqui que se ressaltar os valores éticos, de suma importância na construção da realidade de cada indivíduo, e portanto, indispensáveis no processo de interatividade do eu com o outro, ou seja, o colocar-se no lugar do outro.

Assim, além da satisfação pessoal, relativa à percepção de pertencer a um grupo, ter suas ações voltadas para um bem maior, e mesmo de receber gratidão e recompensa emocional imediata pelo seu trabalho, há no voluntariado o amadurecimento emocional a partir da interação com a pluralidade de realidades atendidas por esses grupos, motivos esses, para que mesmo em uma sociedade marcada cada vez mais pelo individualismo e por relações pautadas em comunicação on-line e caráter competitivo, haja o crescente engajamento social, como um grito de humanidade, nos lembrando que, acima de qualquer coisa, somos seres sociais e gregários.

Este artigo não buscou alcançar todas as respostas das questões levantadas em sua proposição, mas sim suscitar o debate sobre elas, na busca de ampliar a percepção da amplitude de atuação da Psicologia Social e gama de implicações psicológicas que levam um individuo a dedicar seu tempo e esforços em uma ação social e o impacto dessa atuação em sua formação e crescimento enquanto individuo.

  1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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[1] Alunos do sétimo semestre A do curso de Psicologia da Universidade de Franca - SP.

[2] Prfª. Drª. e orientadora do Projeto, Psicóloga, especialista em Didática, mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos, Drª em Serviço Social pela UNESP de Franca, Personal & Profissional Coaching.

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