OS MITOS, OS RITOS E A PAX ORGANIZACIONAL

Por Marcos Miliano | 05/11/2009 | Filosofia

O autor faz uma reflexão acerca dos diversos olhares e discursos sobre o rito e o mito, dos mais reducionistas aos mais abertos e ousados na organização, com extensão de análise à organização social, fundamentada na abordagem transdisciplinar. Apoiando-se na sociologia contemporânea, na semiótica e na filosofia da administração, aborda a forte emoção das relações sociais comparando de  modo extensivo a origem da experiência religiosa, do ritualismo, do divino, nascendo da personificação do ritual.

 

Descreve através da experiência ritualística, sempre em grupo, que o homem vai criando um mundo mítico que explica e fundamenta as emoções dessa experiência em sociedade e na organização. Nas suas observações, Iasbeck, nos lembra a teoria ritualista que dá prioridade da enunciação dos mitos frente ao seu conteúdo. Desta forma, é importante termos em mente o lugar concreto, na Grécia Clássica, onde esses mitos eram transmitidos.

 

É importante salientar a preponderância do discurso oral na Grécia. Os mitos eram recitados assim como na organização social contemporânea, com um objetivo implícito, isso significa que todas as características do discurso oral devem ser levadas em conta quando queremos descobrir o valor desses mitos no meio organizacional. Trata-se de facilitar a abertura da percepção, em cada uma destas manifestações, introduzindo, no sentido vertical e horizontal, representando a dimensão essencial e a existencial, o absoluto e o relativo, o transcendente e o imanente, nessa interpretação do comportamento na organização social.

 

 

Percebe-se uma tendência, no mundo organizacional, de se utilizar do valor do mito e do rito, que conformam toda a história que se quer destacar na organização. Neste sentido, o autor coloca que a ciência da hermenêutica é fundamental, no seu aspecto mais amplo e inclusivo. Considera a abordagem transdisciplinar, a mais valiosa contribuição neste sentido, praticada pelos indivíduos, num holl de saberes envolvidos, de modo quase inconsciente.

 

É fato destacado que o mito é, essencialmente, transdisciplinar. A sua compreensão justa faz apelo ao pensamento, ao sentimento, a sensação e a intuição, numa organização de símbolos mitológicos; e participando do drama do rito, o homem é colocado diretamente em contato com eles, não só com relatos verbais de eventos históricos, sejam ele passados, presentes ou ainda por vir, mas como se fossem revelações, aqui e agora, daquilo que sempre foi e sempre será.

 

Nos rituais analisados encontramos o esplendor simbólico, com uma função de abrir a consciência para a dimensão transcendente, a partir da qual jorra os valores perenes que podem fornecer um sentido mais elevado para um existir mais pleno com a necessidade de conversão do indivíduo à uma realidade que se quer incutir.

 

As organizações possuem, assim, papel fundamental na vida dos indivíduos e não há como fugir do seu poder coercitivo. Conforme nos diz Richard Hall, um estudioso da antropologia das organizações, desde que nascemos estamos vinculados a alguma instituição: o nascimento é registrado num cartório, seguido de um rito religioso de iniciação e adesão institucional. A família, em sua conformação tradicional, funciona à moda de uma organização formalmente constituída.