Os Milagres no Novo Testamento

Por Oscar Paulo Pietsch | 31/10/2017 | Religião

  1. Os Milagres no Novo Testamento

Os quatro Evangelhos falam de milagres baseados no contexto da fé. Os sinóticos, Mateus, Marcos e Lucas, cada um a sua maneira trata dos milagres cada um a sua maneira, João por sua vez utiliza as palavras sinal e obra para designar esses acontecimentos.

 

  1. Os Milagres segundo são Mateus

Em Mateus, os relatos de milagres ligam-se tão fortemente ao Sermão da Montanha (cap. 5-7), quanto ao discurso de envio em missão (cap. 10). Mateus mostra Jesus “ensinando, pregando e curando”. Os milagres constituem uma forma de ensinar.

Mateus tem uma forma peculiar e única de elaborar seus relatos de milagres: 1º A narrativa é sempre esquemática: Mateus encurta a parte narrativa e emprega expressões estereotipadas para introduzir e concluir seus relatos; 2º Mateus elimina os personagens e ações secundários: Ele aplica  a lei da cena somente a dois personagens; 3º O diálogo constitui a parte central do relato de milagre: Utiliza de expressõe diretas como “Senhor” e “Kyrie Eleison”. 4º O uso de palavras – colchetes de ligação: Mateus liga o pedido de cura, a palavra de cura e a própria cura por meio de palavras; 5º O papel da fé nos relatos de milagres: A relação entre fé e milagre é sempre destacada por Mateus, que estrutura seu relato em torno dessa palavra sobre a fé.

O evangelho de Mateus apresenta três temas teológicos sobre os milagres: a Fé, a Cristologia e a comunidade dos discípulos.

Quanto a fé, esta não se trata de uma fé que se segue ao milagre, mas é uma fé que o precede, que é confiança no poder miraculoso e que se traduz no comportamento. Essa fé se expressa no diálogo, sob a forma de súplica dirigida ao Senhor. Essa fé constitui também uma participação no poder miraculoso de Jesus: “A fé move montanhas!” (Cf. Mt 17,20).

Já, na Cristologia de Mateus, os  milagres em Mateus, constituem uma pregação do Reino tanto quanto o Sermão da Montanha. Jesus é reconhecido pelos demônios. Jesus é o Servo Sofredor, que leva nossas enfermidades. Ele cura o leproso, o pagão e a mulher. É o Senhor de sua comunidade. Para Mateus, o importante nos relatos dos milagres é a conversação de Jesus com seu povo.

Na comunidade dos discípulos, a pouca fé dos discípulos é fortalecida quando eles veem o Senhor manifestar seu poder através de milagres.Voltando seu olhar para Jesus, a comunidade é levada a acompanhar o olhar de Jesus em direção “aos de fora”, um olhar cheio de piedade, mas nunca de condescendência, pois a piedade de Jesus sempre conduz ao serviço.

 

  1. Os Milagres segundo são Marcos

Para Marcos, o caráter milagroso dos atos de Jesus provém das circunstâncias, das reações das testemunhas. As curas e os exorcismos de Jesus são designados várias vezes pela palavra “força”, também expressa pelo termo “atos de poder”. Este representa a atividade taumatúrgica de Jesus, sem qualquer tom pejorativo ou restritivo. Assim, para o evangelista, a noção de “poder”, expressa bem os milagres de Jesus.

 Jesus impõe silêncio aos demônios porque eles sabem quem Ele verdadeiramente é. Não que Jesus estivesse em desacordo com seus “títulos”, mas sim, porque, pela perspectiva de Marcos, havia um momento para isso, que seria expresso na Paixão. Jesus, diferentemente dos escribas, é reconhecido como alguém que ensinava com autoridade, não o é por ser melhor orador, mas porque sua atividade manifestava o seu poder sobre o mal.

Somente através da fé é que se pode ver nos milagres de Jesus, a presença real de Deus, que opera a salvação, pois Jesus os realiza em resposta justamente a esta fé. Através do relato da tempestade amainada, percebe-se que sempre na “outra margem”, encontrando a fé, das pessoas, judias ou pagãs, Jesus pode enfrentar as doenças mais tenazes e até mesmo a morte. A missão é claramente uma missão de salvação, dada posteriormente aos Doze: expulsarão os demônios e curarão os enfermos.

Para Marcos e sua comunidade, Jesus é o novo Messias. Ele renova para o povo o dom do maná, continua a curar os doentes, é o novo legislador, vem regenerar a humanidade como Isaías havia anunciado a propósito do dia do Senhor: os surdos ouvirão, os cegos verão. Esse Jesus torna-se não somente o Messias de Israel, mas de todo um povo.

Apesar dos sinais, a fé permanece como um dom de Deus. A cura do menino epiléptico ilustra a necessidade dessa fé, pois apenas com a fé no Messias, filho de Davi, os discípulos não tiveram forças para curar o doente. A cura do cego de Jericó, recapitula a atitude interior dos discípulos de Cristo antes da entrada em Jerusálem.

 

  1. Os Milagres segundo são Lucas

Em Lucas, são vinte e quatro relatos de milagres, sete específicos apenas de Lucas. Os milagres mostram qual é a salvação trazida por Jesus. Lucas observa que Jesus falava com autoridade. E é esse poder e essa eficácia que o milagre deve demonstrar. O evangelista vincula o relato da pesca miraculosa (específico dele) ao chamado dos primeiros discípulos.

A cura do paralítico que é descido pelo teto aparece como uma prova de que Jesus tem o poder de perdoar os pecados. Em Lucas, as pessoas se reúnem para ouvirem Jesus e assim serem curadas de suas doenças. Todas as pessoas em Lucas rendem glória a Deus: o paralítico, a mulher recurvada, o leproso samaritano, o cego de Jericó, entre tantos outros. É Jesus quem age, mas é Deus quem é louvado.

Os milagres não convertem automaticamente as pessoas. Eles constituem um chamado a liberdade do homem para que ingresse, se quiser, na salvação oferecida por Deus. O milagre é apresentado por Lucas, como um ato de Jesus Salvador. A cura é designada frequentemente pelo verbo “salvar”. A cura física não passa de um sinal, uma promessa de verdadeira salvação, que é a vitória sobre o mal. O milagre é um ato de Deus, são sinais da salvação oferecida por Deus.

Para Lucas, o primeiro sinal que se deve esperar de Jesus é o seu chamado para que a pessoa se converta e passe a crer nele, é o seu amor pelos pobres e pequeninos. O milagre é real: Jesus realizou milagres para significar o poder de Deus e seu desejo de nos salvar. Mas a salvação feita pelo milagre não passa de uma distante amostra da riqueza insondável da salvação de Deus.

 

  1. Os Milagres segundo são João

São João se utiliza de sete milagres em seus relatos: Bodas de Caná (Jo 2,1-11); Cura do filho de um funcionário real (Jo 4,46-54); Cura de um enfermo na piscina de Betesda (Jo 5,1-9); A multiplicação dos Pães (Jo 6,1-15); A caminhada sobre o mar (Jo 6,16-21); A cura do cego de nascença (Jo 9,1-7); A ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-44).

João suprime de seu vocabulário a palavra “milagre”, ele privilegia por sua vez, os termos sinal e obra. Os sinais são atos que já evidenciam a glória de Jesus. Jesus opera sinais, e as pessoas veem esses sinais. Ao lado das cenas em que Jesus se revela, João coloca pessoas que recebem essa revelação. Há aqueles que só captam o aspecto material do sinal, outros veem apenas o prodígio. Uma verdadeira leitura dos sinais leva a ver a glória de Cristo e a crer Nele, confessando assim que Ele é o Cristo, o Filho de Deus. O sinal é feito para levar as pessoas mais além: ele manifesta Jesus como o Filho.

As obras de Jesus constituem um mistério cuja profundidade permanece oculta para aqueles que creram em Jesus vendo os “sinais que fazia”. Jesus, luz vinda ao mundo, pode iluminar o mundo. Sua mensagem se apresenta como um grande dom de iluminação, não somente dos olhos, mas também do coração.

O sinal do pão abre-se para o ponto em direção ao qual convergem os sinais: a cruz. Na cruz, Jesus manifesta todo o seu amor pelos homens, que já se manifestava nos sinais. Nela ainda, atinge o seu ponto culminante o paradoxo da fé: é preciso olhos definitivamente iluminados do alto para ver verdadeiramente.

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