OS LUSÍADAS: MITO E LITERATURA EM UM SÓ CONTEXTO

Por sandra silva | 17/05/2010 | Literatura

SANDRA PRISCILA SILVA DOS SANTOS

RESUMO

Os Lusíadas, obra do poeta Luis Vaz de camões, mundialmente reconhecida, propõe uma seqüência de acontecimentos relevantemente dedutivos e lógicos, na qual se buscam as causas e os efeitos da inserção da mitologia em um enredo que exalta um povo católico, o português, que se dispôs a dilatar a fé cristã no Oriente, por meio da viagem de Vasco da Gama as Índias. Entretanto, é a partir do episódio que congrega os deuses que toda a ação se desenrola e posteriormente se conclui, relatando os fatos presentes na epopéia, enfatizando as semelhanças entre as divindades pagãs e os santos católicos, haja vista, que muitas vezes esse enxerto de crenças do maravilhoso pagão e do maravilhoso cristão é dilacerante exposto, além do papel do herói, que nessa obra de origem portuguesa fica centrado no modelo da coletividade, mesmo porque Gama e seus marinheiros são personagens verídicas que se entrelaçam ao lúdico do enredo para expandir a questão do heroísmo à nação portuguesa. Dessa forma, o que a obra que exalta o povo lusitano tem de mais marcante é sem sombra de dúvidas os acontecimentos lúdicos inseridos aos acontecimentos reais, o que por sua vez se depara com fatores mitológicos, que caracterizam além desse referido povo as peculiaridades de um fabuloso escritor e poeta.

Palavras-chave: Mitologia. Lúdico. Heroísmo. Peculiaridades.

RESUMEN

La obra os Lusíadas del poeta Luis Vaz de Camoes, reconocida en todo el mundo, propone una secuencia de acontecimientos relevantes y la bélgica deductiva, en el que búsqueda las causas y los efectos de la inserción de la mitología en una historial que celebra un pueblo católica, los portugués, que estaba dispuesto a ampliarse la fe cristiana en el del este, a través del viaje de Vasco da Gama a la India. Sin embargo, es a partir del episodio que trae a los dioses que todo se desarrolla la acción y luego concluye con la presentación de informes de los hechos regalos en la épica, poniendo de relieve las similitudes entre las deidades paganas y los santos católicos, dado que a menudo el injerto las creencias paganas de lo maravilloso y lo maravilloso cristiano es desgarrador previamente, el rol del héroe, que en la obra de origen portugués se basa en el modelo de la comunidad, incluso como Gama y sus marineros son verdaderos personajes que se entrecruzan la novedad de la parcela para extender tela de juicio el herosmo de la nación portuguésa. Así, la ejecución que celebra el pueblo lusitano es más llamativo es, sin duda, los acontecimientos lúdico entró a los eventos reales, que a su vez se rostrosa factores que caracterizan mitologícos más allá de lo que se refiere a las particularidades de un pueblo escritor y scop fabuloso.

Palabras-clave: Mitología. Juguetón. Herosmo. Particularidades.


INTRODUÇÃO

No presente artigo serão abordados aspectos que se referenciam a acontecimentos mitológicos presentes na obra Os Lusíadas, de Luis Vaz de camões, assim sendo, o mito será encarado como recurso de desenvolvimento no âmbito da literatura. Faz-se necessário identificar os fatores que levaram um dos maiores poetas de todos os tempos a relacionar literatura, mito e religiosidade de forma tão marcante, partindo do pressuposto que os fatos mitológicos seguem uma trajetória desde a época de Camões até os tempos modernos, atentando sempre para as modificações ocorridas nesse percurso e as ações que levaram a essas transformações.
Posto isso, considerando que a literatura e suas vertentes é um tema que está significativamente presente no dia-a-dia da educação, este artigo discorre uma exposição de como Camões utilizou-se de recursos mitológicos para engrandecer sua obra, como epopéia portuguesa por excelência. Desenvolvendo assim, objetiva-se demonstrar a relevância do mito para o fazer literário. Para tanto, foi realizada uma pesquisa laboral com o intuito de melhor fundamentar o conteúdo do assunto em questão, proporcionando resultados que dispuseram a busca contínua de conhecimentos relacionados ao mito como recurso literário da obra Os Lusíadas.
A investigação objetivou alcançar, além dessas metas, o conhecimento dos principais deuses, de cuja ação decorreu os acontecimentos relatados na disposição da narração. A metodologia dedutiva adotada, partindo da contextualização histórico-literária e das razões da inclusão do maravilhoso pagão, permitiu a compreensão mais acurada das divindades favoráveis ou ainda adversas ao êxito dos lusos na consecução de seus objetivos, o que por sua é de suma importância para o desfecho lógico das ações presentes na obra.


1. MITO E LITERATURA: PARALELOS ENTRE CONTEXTOS

O estudo das relações entre a Literatura e os campos que a cercam, parecem dar a tônica significativa para a construção de uma série de trabalhos, pois seja texto, ou seja, contexto, estes são dilemas que permeiam o realizar literário desde os tempos passados. Isto, porém, pode se tornar possível na medida em que o texto, em uma perspectiva determinada, é visto como elemento de ligação em um ritual que une emissor e receptor.
Entretanto, este tipo de abordagem é extremamente caro ao olhar antropológico acerca da comunidade dos homens, pois o mito é elemento estruturante e fundador da própria noção de sociabilidade, relacionado a isso afirma Rossner (1989):

A sociedade de que tanto se fala é aquela que talvez não leia tudo que deveria, ou exatamente aquilo que deveria ler, mas que sem sombra de dúvidas, consome mais literatura, no sentido amplo do termo, que qualquer um de seus predecessores. (pag. 53 a 55)


Mediante as idéias de Rossner, constata-se que o rito da leitura torna-se cada vez mais acessível apenas aos iniciados em um conhecimento quase extinto. No entanto, em uma primeira relação entre mito e a obra Os Lusíadas, compreende-se que o estudo de textos literários pode demonstrar que os mesmos guardam estreita relação com os universos de um discurso profano que trás elementos de um discurso cultuado.
Esta aproximação, entre os universos do sagrado e profano, em um texto consagrado, parece-nos satisfazer, por turno, critérios intra e extra-literários, que podem ambos, serem remetidos a dimensão simbólica da arte na vida humana e ao estatuto ideológico da narrativa, para que esta vigore em tempos mais atualizados. Em suma, o texto mitificado cria seus próprios padrões de produção e consumo, cria realidades socioculturais e ressoa em esferas de significados pluri-societais.
Deste modo, a literatura contextualizada a textos mitológicos parece ter como característica essencial a apresentação de vida de homens e mulheres comuns, que buscam construir um sentido para suas vidas e um lugar em meio social extremamente mutável, de certo modo, de acordo com Chartier (1991) "... a Literatura sempre passa de geração em geração cumprindo papel cultural, antes registro ao poder simbólico das religiões, na constituição do subjetivismo," (pag. 98).
A crise nos aspectos das relações entre os indivíduos com a tradição herdada pela leitura dos textos mitificados, além de ser paralela a experiência de apropriação solitária e íntima dos textos, pode ser igualmente relacionada no desenvolvimento crítico, pois a história como a contada por Camões é característica de certa Literatura na qual os personagens, além de serem historicamente importantes, simplesmente se ajustam, são de uma narrativa que além de épica e histórica é sincrônica, na qual várias experiências são expostas ao mesmo tempo, e todas são igualmente importantes, afinal, em um tempo mítico, com uma narrativa carregada de acontecimentos todas as ações são relevantes.

2. OS LUSÍADAS: ACONTECIMENTOS HISTÓRICO-LITERÁRIOS INSERIDOS À MITOLOGIA

A obra Os Lusíadas, de Camões, quando escrita, causou grande alvoroço, devido ao seu caráter revolucionário para a época. Porém, é uma produção com imensurável riqueza em seus versos, traçando um enredo fabuloso que projeta o futuro de uma nação sintetizada em grandezas nos feitos de Vasco da gama e seus navegantes, que por sua vez, declaram o protótipo de herói extenso que se fixa por mérito nas páginas do legado histórico.
No entanto, uns dos principais destaques na estrutura funcional do poema épico configuram-se na presença da mitologia, que parece definir-se como sombra vaporosa do enredo, porque os elementos divinos são elos percussores das estâncias históricas. Muitas situações decorridas no poema absorvem mais encanto, advindo desse plano mitológico, haja vista, que a peculiaridade faz-se eminente por tratar-se de um enredo que visa enaltecer um povo profundamente católico. Segundo o escritor Lebrun (1991), sobre essa epopéia pode-se dizer o seguinte:

Para a apreciação do poema é preciso ter-se em mente a função da epopéia que se resume em contar as glórias de um povo, exaltando um herói que simboliza a história de uma nação. Outro elemento que se faz necessário ao corpus são as ações que se evoluem sob a ótica dos interesses dos deuses pagãos que, meticulosamente, assumem uma postura de auxiliar do antagonista ou do protagonista. (pag. 24).

Em entendimento, o autor enfatiza como a estrutura poética da produção se contrasta com a discussão mitológica, uma vez que: relacionado ao título já temos a apresentação do herói, que por sua vez é coletivo, "os lusíadas", "os portugueses", destacando assim a proposição; na narração dos fatos, os feitos heróicos ganham significativo destaque e no epílogo há a consagração daqueles que se distinguem por seu valor e suas ações extraordinárias, regadas de feitos brilhantes, além de um dos principais planos temáticos ser o da mitologia, haja vista, que ao longo da narração deparam-se vários tipos de episódios.
O episódio que mais enaltece a relação entre mito e Literatura na obra é o momento do Concílio dos Deuses, que ocorre para decidir se os portugueses devem ou não conseguir alcançar o seu destino. Júpiter afirma que sim, porque isso já está predestinado, este pleiteia ainda, consultar as divindades para tomar partido favorável, ou não, aos projetos dos navegantes lusos. Avaliando os pontos pessoais da questão, dois deuses quebram o silêncio para proferirem palavras que exteriorizem suas opiniões acerca do assunto em pauta, sendo que é nesse relevo que a figura de Baco, deus das orgias e do vinho, ganha corpo antagônico. A inveja desse deus irá guiar uma oratória contrária dos lusitanos. Mas, uma segunda divindade projeta-se nesse episódio: Vênus, a deusa da beleza e do amor, que propositadamente constrói sua argumentação em favor dos portugueses. O Olímpo glorioso reparte-se em considerações antagônicas e Marte, o deus da guerra, toma a palavra e desfere contra Baco uma argumentação exaltada.
O duelo que se estabelece entre Baco e Vênus têm as cores realçadas, quando se aproxima o foco e transfere as reminiscências particulares de cada deus presente nos parágrafos da mitologia para as entidades jubilosas dos caracteres das parábolas da Bíblia. O quadro que se forma enaltece o sincretismo religioso dentro do poema, pois o confronto entre o maravilhoso pagão e o maravilhoso cristão trás a temática da obra complicações que se delimitam e às vezes se fundem, porque a presença de seres místicos é uma constante nas epopéias ao longo do tempo, mas paralelo a isso, registra-se o fato de o poeta estar cantando os feitos gloriosos de uma gente subidamente católica. Essa verdade e tão cabal que se afirma na complexidade individual de cada deus dentro do enredo, sendo que o trabalho psicológico das entidades é mais eficaz do que o feito nas personagens humanas, os quais, embora verídicos, são inexpressivos em sua caracterização, talvez por serem elementos de apoio que remete ao povo português e não a si mesmos.
A ironia que se afirma digere que tudo na epopéia gira em torno das vontades dos deuses brigões e quase, como se na realidade, pobres humanos fossem um joguete das peripécias deles, mas, no entanto, com os olhos mais aguçados nota-se que aos poderosos deuses, foram atribuídas fraquezas humanas: Baco, com sua inveja impregnada de imoralidades nas ações é derrotado por mortais, mesmo com a boa atuação de Vênus. Esta por sua vez, esmera-se em afagar seus filhos adotivos, mas a vaidade e a beleza saltam sempre que possível. Outrora, vale ressaltar a imponência mítica, com o discurso de júpiter no concilio dos deuses:

Eternos moradores do luzente
Estelífero pólo, e claro assento,
Se do grande valor da forte gente
De luso não perdeis o pensamento,
Deveis de ter sabido claramente,
Como é dos fados grandes certo intento,
Que por ela se esqueçam os humanos
De Assírios, Persas, Gregos e Romanos.
(CAMÕES, 1572, canto I estrofe 24)

2.1 O mito como objeto de ciência

Como os mitos são geralmente histórias de deuses, na obra Os Lusíadas os seres mitológicos formam o sistema de uma mitologia, já que se trata de histórias transmitidas em determinada ordem. Segundo Rossner (1989), "... os mitos nessa forma de histórias, de tema de poesia, são a imprescindível base de nossa arte e nossa literatura ocidental" (pag. 12). Para este autor, sobretudo, a Literatura contribuiu no transcurso de suas variações históricas, com a criação de novos mitos que passaram a compor o repertório iniciado com os mitos de origem Greco-romana e cristã.
Numerosos mitos relacionados às figuras e motivos favoritos de determinada época, como por exemplo, a época de Camões, a morte por amor como de Inês de Castro, trazem em comum o fascínio sobre o público leito. Tal fato levou Martinon (1977) a afirmar que "... nossa percepção, ou melhor, a impressão que se pode ter do mito é, portanto, um tipo de discurso que o integra na tradição literária." (pag. 123). Por esta razão, as primeiras questões que devem ser levantadas a esse respeito, são, ao mesmo tempo, a da posição etnólogo diante dos mitos e de seus modos de expressão e de comunicação nas sociedades que não mitificaram o próprio mito, por uma série de mecanismos que especifica ao englobá-lo sob o termo Literatura.
Mas, mediante as idéias de Sodré (1988):

O mito é ao mesmo tempo explicação de um acontecimento e sua revelação torna-se mais pertinente a questão crucial de Camões, transformando-se em seu objeto, como o mito na literatura, exprimindo ainda o mito de uma sociedade. Em Os lusíadas as temáticas mitológicas tornaram-se um corpus que faz parte integrante da produção literária, um código compreensível para aqueles que detêm culturalmente as chaves da decifração, cabendo-lhes não a decifração das divindades em si, mas das múltiplas variações e interpretações dos temas. (pag. 125).


Segundo Sodré, essa variabilidade de interpretações de época para época, permite sua tradutibilidade em contextos culturais diversos daqueles que lhe deram origem, e o faz veículo de mensagens atemporais. O mito em si, pode até não ser só Literatura, mas a sua reinterpretação se torna literária, daí podemos afirmar que ele é o discurso privilegiado entre todos, pelo qual os remanejamentos sucessivos podem se elaborar em torno de um centro reduzido a um simples lineamento temático ou então a visão de uma obra.
Conseguintemente, a produção de Camões é mítica, pois seu evolucionismo apontava para a descoberta das origens da sociedade moderna, os primórdios de suas instituições, prometendo a tudo responder e elucidar. Enfatizava-se a intriga de Baco, com sua estrutura clássica de princípio, tensão, clímax, desfecho e elementos destinados a mobilizar a consciência do leitor, exasperando a sua sensibilidade, na qual a informação passa a valer mais que a dúvida, e o texto refletirá isso. No ápice da racionalidade, a intuição preenche lacunas, na qual faltam documentos, além de proporcionar a exploração sistemática da curiosidade do público, pelo conteúdo informativo presente na obra, a epopéia mantém uma estruturação característica pela presença de personagens fortemente caracterizados (o herói), e pela abundância de diálogos retratados em versos cuidadosamente rimados.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

O escritor e poeta Luis Vaz de Camões nada mais fez que transcrever as temáticas diretoras que constituía o código prioritário de um grupo social (os portugueses). E foi nesse grupo que se deslocou o mito constitutivo, pois para que a obra seja considerada literária, no sentido de ser culta ou de grande alcance simbólico, esta precisa ser reconhecida como tal pelo grupo social que se apropriou da definição consagradora.
Posto isso, conclue-se que cada sociedade elege seus ritos e juntamente com eles seus mitos. Tanto, que como não só em Os Lusíadas a mitificação de conteúdos, de gêneros, de obras e autores é prática consagrada no decorrer da história, pois temos exemplos históricos de textos que, transformando-se em obras representativas de sua época, são cultuados até os dias de hoje, pelas suas qualidades literárias. Todavia, partindo do pressuposto que para Camões, da mesma forma que o mito tornou-se mais que uma coletânea sobre deuses, passando a consolidar de uma forma de pensar e de consciência, o estudo de temas, pode se ater menos aos conteúdos e mais aos processos literários. Posto que, se a idéia persiste, ela também se transmuda a cada novo texto produzido por sua égide.
Sobretudo, o texto produz universos míticos, nomeando e tornando real o imaginário cambiante das sociedades, fazendo-o operar recombinações nos conteúdos originais por ele utilizados modificando a maneira de pensar o existente. Assim sendo, se esquece do mito como sinônimo de absurdo e mentiras ou narrativas fantasiosas e inverossímeis atribuídas a deuses, passando a enxergá-lo como importância chave na concepção do que é infinito.

REFERÊNCIAS

ROSSNER, Judith. Emmeline. Ed. Abril ? 1989. 312 p.

CHARTIER, Roger. A História Cultural e Mitológica: entre práticas e representações. Tradução Maria Manuela Galhardo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990. 245p.

MARTINON, Enrique. A Paciência Sobre o Discurso Mitológico. Tradução UNESP. Espírito Santo, 1977. 205 p.

SODRÉ, Nelson Werneck. História da Literatura Brasileira. Tradução João Bosco de Sá. São Paulo, 1938. 345p.

INSTITUTO CAMÕES. Acervo central. http://www.institutocamoes.com.br.htm. Acesso em 25 abr. de 2010.