Os índios Tapayuna: sua História e sua Língua

Por Nayara da Silva Camargo | 20/10/2016 | História

Introdução

            Atualmente, cerca de 180 línguas são faladas em nosso país. Seki (2000) afirma que, desde a época do “descobrimento” cerca de mil línguas se perderam por vários fatores: “(...) epidemias, extermínio direto, escravidão, redução de território, destruição das condições de sobrevivência, e aculturação forçada (...)”.

O desaparecimento de línguas implica a perda da diversidade, o que, por sua vez, representa uma perda irreparável para a humanidade. Como dito por Seki (2000), o estudo das línguas indígenas é importante em dois aspectos: o científico e o social:

“(...) A relevância das línguas indígenas e sua pesquisa fica evidente diante da consideração de que a linguística busca compreender a natureza da linguagem humana. (...) O estudo das diferentes manifestações linguísticas é importante para o conhecimento da linguagem humana, podendo contribuir confirmando hipóteses teóricas formuladas com base em dados de línguas conhecidas, (...). Nos últimos anos a importância da diversidade linguística tem sido abordada no contexto de diversidade em geral, enfatizando-se a compreensão das línguas como parte intrínseca da cultura, da sociedade e visão de mundo do falante, bem como o fato de que a perda de línguas tem como consequência o desaparecimento dos sistemas de conhecimento que elas refletem e expressam. (...)”(SEKI, 2000: 245).

 

                   Diante dessa situação, Adelar (1991:47) e Wurm (1991:17) ressaltam a necessidade de preservar, ou pelo menos, retardar a perda linguística propondo o estudo e a documentação dessas línguas como tarefa necessária e urgente.

                   No Brasil, o notável declínio do número de línguas indígenas desde a chegada dos portugueses aconteceu principalmente em áreas que foram colonizadas há mais tempo e mais intensamente, como o Sudeste, o Nordeste e a região Sul do País. Entre as causas da drástica redução das línguas indígenas dessas regiões incluem-se as campanhas de extermínio, a escravização, as epidemias, muitas das quais eram difundidas propositalmente (RIBEIRO, 1977; MELATTI, 1970; CUNHA, 1992). O processo de desaparecimento continua em curso, agravado pelo incremento crescente do contato com não-índios que buscavam a abertura de estradas, extração de minérios, etc.

                   No que se refere às línguas ainda faladas no Brasil, pelo menos 21% delas estão seriamente ameaçadas de desaparecer em curto prazo, devido ao número reduzido de falantes e à baixa taxa de transmissão para as novas gerações (MOORE, GALUCIO e GABAS Jr., 2008).

                   Portanto, a documentação e o estudo das línguas indígenas brasileiras é uma tarefa urgente e relevante, tanto sob o ponto de vista social, quanto sob o ponto de vista acadêmico. No que tange o ponto de vista social, o registro e documentação dessas línguas trazem uma importante contribuição para seus falantes, propiciando a valorização da língua e da cultura aumentando a auto-estima dos falantes da língua e estimulando-os a mantê-las vivas. Já para a academia, os estudos das línguas indígenas brasileiras são de grande importância, pois contribuem para o avanço para a Ciência da Linguagem em geral, da Tipologia Linguística, de Linguística Histórico-Comparativa, da Sociolinguística e da Linguística Aplicada.

                   Os estudos voltados para a documentação e a descrição de línguas indígenas brasileiras aumentaram consideravelmente, contudo, a realidade da maioria das línguas nos mostra que ainda há muito a ser feito no sentido de salvaguardar o conhecimento linguístico dos povos indígenas do Brasil.

Histórico do Povo Tapayuna (breve relato)

Aspectos da história do povo Tapayuna, autodenominado Kajkakhratxi[1]“onde nasce o céu’ são encontrados em algumas poucas fontes e também em relatos dos próprios índios.

O mapa Etno-Histórico de Curt Nimuendajú (1944 [1981]: D4 e D5) registra a presença dos Tapayuna na região do rio Arinos em 1820.

Conforme Bossi (1863), no século XIX os índios Tapayuna habitavam a região do rio Arinos, próximo ao município de Diamantino (MT).

Após as datas mencionadas acima, somente em 1940 surgiram novas notícias a respeito dos Tapayuna, inicialmente provenientes de outros grupos indígenas, tais como[2]Paresí, Iranxe, Rikbaktsa, Kaiabí e Apiaká e, ao decorrer do tempo, também por não índios (seringueiros e seringalistas) que almejavam suas terras, ricas em recursos naturais, seringueiras, minérios e madeiras.

Segundo relatos feitos pelos próprios Tapayuna, eles habitavam a região entre o rio Arinos e o rio Sangue ‒ afluentes do rio Juruena. Lá viveram até 1969 em, aproximadamente 10 aldeias, sendo a principal delas denominada Kawêrêtxikô.

Os professores Tapayuna, com o auxílio dos velhos da aldeia, conseguiram produzir um mapa com a localização aproximada das 10 antigas aldeias: Kawêrêtxikô; Nojtâkohwàtkutakhre; Nojtâkô; Hotxikhrô; Takkhrakti; Hurundy; Nhojtâkôtxikakõj; Kukwâjwarara; Ngôkõtkhre e Jojra. Segue o mapa:

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