OS IMPACTOS NA SAÚDE MENTAL DAS MULHERES VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Por Rita de Cássia de Oliveira Alves | 19/11/2016 | Psicologia

A violência doméstica se constitui um sério problema de saúde pública, não levando em conta classe econômica, social, religiosa ou cultural, fato que assusta e preocupa a sociedade contemporânea. Já a violência psicológica ou mental se constitui em: reclusão ou privação de bens materiais, financeiros ou pessoais e ofensa verbal repetidamente. A presente pesquisa se justifica em virtude da violência doméstica contra a mulher trazer graves consequências à saúde mental e à qualidade de vida das mesmas. Dessa forma, pretende-se abordar os danos e os efeitos que a violência doméstica provocam na saúde mental da mulher. A questão que orientou a pesquisa foi: o que é possível fazer para prevenir e buscar soluções eficazes no sentido de minimizar os danos que a violência doméstica produz na saúde mental das mulheres? Torna-se indispensável a busca por uma maior compreensão desses danos, além da necessidade de fornecer apoio, acolhimento e suporte psicológico adequados bem como, uma assistência por parte dos serviços especializados com o intuito de prevenir, tratar e minimizar os impactos da violência. Trata-se de um estudo bibliográfico, exploratório, descritivo, numa abordagem qualitativa, concluindo que a violência psicológica acarreta sérios impactos na saúde e no bem-estar das mulheres, por ser um tipo de violência que provoca danos à saúde mental, a integridade física, social e moral, sendo suas sequelas consideradas mais graves do que as consequências físicas por deixar marcas que não se apagam.

INTRODUÇÃO

A violência se constitui num problema de saúde pública que faz parte da realidade das pessoas, não levando em conta classe econômica, social, religiosa ou cultural, fato que assusta e preocupa a sociedade contemporânea. O conceito de violência segundo a OMS (2000) apud Slegh (2006) se refere a manifestações de violência de caráter físico, sexual e psicológico, abrangendo a agressão física, o abuso sexual de crianças, mutilação genital na mulher, e violação que acontecem na família e na comunidade. Quanto à violência doméstica, ao analisar a história das sociedades e das relações sociais, verifica-se que é um fenômeno antigo, considerando que a sociedade tradicional já apresentava situações de violências praticadas contra crianças e mulheres no âmbito familiar, se tornando dessa forma, um grande problema, estando presente também em todas as classes sociais. Já a violência psicológica ou mental se constitui em: reclusão ou privação de bens materiais, financeiros ou pessoais e ofensa verbal repetidamente. As ofensas constantes e a tirania, para algumas mulheres se constituem numa agressão emocional tão grave quanto às físicas, em virtude de mexer com a confiança em si mesma, a segurança e a autoestima (OMS apud SILVA et al 2007). Levando em conta esses aspectos, a presente pesquisa se justifica em virtude da violência doméstica contra a mulher trazer graves consequências à saúde mental e à qualidade de vida das mesmas, podendo provocar transtornos como 5 ansiedade, depressão e intenção suicida, sendo o referido tema de grande relevância social devido à proporção que o mesmo tem tomado, tornando importante uma reflexão, já que a violência é um fenômeno que tem se tornado uma realidade, presente em todas as camadas sociais. Por essa razão, torna-se indispensável a busca por uma assistência adequada além de uma atenção especial voltada para a saúde mental das mesmas, uma vez que, a violência causa danos à integridade física e psíquica da mulher, além de se constituir num atentado aos direitos humanos. Assim, interessa a busca pela compreensão dessa problemática considerando que embora existam várias produções sobre o tema, o presente artigo pretende abordar os danos e os efeitos que a violência doméstica provocam na saúde mental da mulher. Buscou-se dessa forma, discorrer sobre a violência doméstica e os impactos desta na saúde mental das mulheres, com vistas na Lei Maria da Penha; além de refletir sobre o papel do psicólogo, bem como dos Centros de Referencias que oferecem assistência e suporte às mulheres vítimas da violência doméstica. A questão que orientou a pesquisa foi: o que é possível fazer para prevenir e buscar soluções eficazes no sentido de minimizar os danos que a violência doméstica produz na saúde mental das mulheres. Estima-se que as mulheres vítimas da violência doméstica necessitam de uma assistência especializada tendo em vista que estas, ao buscar ajuda, se encontram em elevado nível de sofrimento psíquico, além de bastante fragilizadas e estigmatizadas. Por essa razão, torna-se indispensável a busca por uma maior compreensão desses danos, além da necessidade de fornecer apoio, acolhimento e suporte psicológico adequados bem como, uma assistência por parte dos serviços especializados com o intuito de prevenir, tratar e minimizar os impactos da violência, como também, uma maior promoção nas políticas públicas em saúde mental e programas de atendimento à mulher que promovam benefícios e atenção à saúde destas, sendo o papel do psicólogo indispensável nesse processo.

2 METODOLOGIA

 A pesquisa desenvolvida teve como objetivo discorrer sobre a violência doméstica e os impactos desta na saúde mental das mulheres. Trata-se de um estudo bibliográfico, exploratório, descritivo, numa abordagem qualitativa, onde foram utilizados livros, artigos científicos e monografias, envolvendo variados autores, obtendo dessa forma as mais diversas opiniões sobre a temática abordada, possibilitando maior entendimento e análise do processo.
A pesquisa descritiva na opinião de Gil (2008) busca observar, registrar, analisar, classificar e interpretar os acontecimentos, sem que o pesquisador interfira.
Já a pesquisa exploratória segundo esse autor tem por finalidade a familiarização com um assunto ainda pouco explorado e conhecido onde, no final da pesquisa se conhece mais sobre aquele tema estando hábil para construir hipóteses.
A primeira etapa deste trabalho foi de cunho exploratório, onde foi feito um levantamento teórico sobre a violência doméstica contra a mulher e os impactos na saúde mental que discorre sobre o tema proposto.
Para concluir foi feito um estudo bibliográfico através de livros e artigos sobre o assunto com o intuito de trabalhar uma visão científica com dados qualitativos inerentes. De acordo com Gil (2008, p. 50) a pesquisa bibliográfica "é desenvolvida a partir do material já elaborado, constituído de livros e artigos científicos".

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Breve relato da violência doméstica

A violência é marcada através do uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou comunidade que possa derivar em morte, lesão, dano psicológico, problemas de desenvolvimento ou privação. Pode ser classificada em: violência auto infligida, dirigida contra si próprio; violência interpessoal classificada em duas esferas: violência intrafamiliar ou doméstica que ocorre entre parceiros íntimos ou membros da família; e violência comunitária que ocorre no ambiente social, entre conhecidos e desconhecidos (ORGANIZAÇÂO MUNDIAL DA SAÚDE - OMS, 2001). 7 Conforme Declaração das Nações Unidas, de 1949, sobre a Violência contra a Mulher, aprovada pela Conferência de Viena em 1993, a violência se constitui em [...] todo e qualquer ato embasado em uma situação de gênero, na vida pública ou privada, que tenha como resultado dano de natureza física, sexual ou psicológica, incluindo ameaças, coerção ou a privação arbitrária da liberdade (ADEODATO, 2006 apud FONSECA e LUCAS, 2006, p.3). Nessa perspectiva, a violência é caracterizada de diversas formas, onde além de apresentar marcas visíveis a exemplo da violência física, apresenta também marcas sutis através da violência psicológica, trazendo danos expressivos a estrutura emocional da mulher. Pesquisas apontam que a violência doméstica causa um impacto psicológico onde as vítimas apresentam problemas psicológicos generalizados como perturbações de estresse pós-traumático, depressão e abuso de álcool (PINTO, 2009). Sobre esse assunto estudos de Gonçalves e Machado (2003) apud Pinto (2009) relatam que o impacto da violência reflete em três esferas: vitimação direta que em termos genéricos é o dano físico, material e psicológico como resultado direto da ação do agressor que a vítima sofre; vitimação secundária decorrente das respostas de outros especificamente da justiça; vitimação vicariante resultado da observação dos crimes em outros que são vítimas e do sofrimento vivenciado por elas e seus familiares. Ainda que se esteja falando em violência doméstica contra a mulher, há um dado que parece de todos esquecido: a violência doméstica é o germe da violência que está assolando a todos. Quem vivencia a violência, muitas vezes até mesmo antes de nascer e toda a infância, só pode achar natural o uso da força física. Também a impotência da vítima, que não consegue ver o agressor punido, gera nos filhos à consciência de que a violência é um fato natural (DIAS, 2007, p.16). Ocorre que em um ambiente onde predomina a violência, ela acaba tida como algo que faz parte da vida, sendo essa uma ideia que inspira preocupação, levando em conta que a condição psicológica da vítima pode se tornar doente pelo fato de pactuar com a violência imposta pelo agressor. Corroborando com essa ideia, Saffioti (2009) apud Rabelo et al (2008) salientam que a rotinização é uma característica da violência doméstica. O comportamento violento se transforma em um fenômeno do dia-a-dia praticamente cooperando para a construção de uma relação de co-dependência pelo casal o que acaba gerando a fixidez da relação. Dias (2007) discute que a violência doméstica além de ser a mais frequente, talvez seja a menos denunciada. Muitas vezes a vítima não percebe que agressões 8 verbais, silêncios prolongados, manipulações de atos e desejos, tensões, são violências e devem ser denunciada. Com relação aos motivos da falta de denúncia na primeira agressão, a autora relata que a mulher pode ter receio de separar-se do companheiro, ou que ele seja preso, e só busca ajuda quando já se cansou de apanhar. Pode ocorrer ainda, que ela permaneça numa relação que lhe cause sofrimento e dor, durante anos sem nunca denunciar seu agressor. Enfatiza ainda a autora que as mulheres que se submetem à violência sem denunciar as agressões de que são vítimas, nem sempre é porque não conseguem prover sozinha a própria existência.

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