Os fiscais
Por Maria Estela Ximenes | 08/10/2011 | Crônicas
OS FISCAIS
O belíssimo poema Trem de Ferro, de Manoel Bandeira evoca algumas características dos trens de carga e o transporte de passageiros presentes na época, ouso relatar na presente crônica o meu olhar sobre o Transporte Urbano atual.
Tudo começa quando o trem está em movimento, no interior do vagão, homens circulam, desembrulham embalagens de variadas guloseimas, gritam como feirantes no intuito de vender suas mercadorias. Quem vende mais? Quem vende menos? Conquistar fregueses significa circular no vagão, atendendo simultaneamente diversos passageiros.
Demonstram suas mercadorias ao vivo: trituram legumes para comprovar a eficiência de um ralador, leem histórias para vender livros, distribuem porções de amendoins para os clientes degustarem a qualidade. Balas, chocolates, salgados, brinquedos, livros, utilidades domésticas, preços acessíveis, garantia de satisfação!
Quando os passageiros desembarcam, o cenário se transforma, vendedores guardam suas mercadorias em mochilas, disfarçam de passageiros e escondem seus produtos atrás dos bancos dos passageiros.
Quais os desafios para esses trabalhadores liberais? Certamente driblar os fiscais e vender suas mercadorias nos interiores dos trens, se a relação entre compra e venda é satisfatória, o mesmo não se aplica aos fiscais; circulam, observam passageiros, enviam mensagens quando necessário e permanecem atentos ao momento no interior do trem.
Não é raro um fiscal surpreender um vendedor inexperiente, esse acaba de mãos vazias, o semblante ora resignado, ora revoltado.
E quando uns embarcam e outros desembarcam, vendedores trocam de vagões, agentes de limpeza recolhem a sujeira acumulada, ainda é possível ouvir o som no alto falante, é proibido o comércio nos trens...