OS FESTEJOS JUNINOS E SUAS DIMENSÕES CULTURAIS E IDENTITÁRIAS COMO SINÔNIMO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO ATRAVÉS DO TURISMO NO MUNICÍPIO DE UBAÍRA-BA.

Por Antonio Santos Souza | 23/05/2012 | Sociedade

Antonio Santos Souza[1]                          

Resumo

O presente estudo apresenta reflexões sobre a memória e as manifestações culturais do município de Ubaíra-BA como elementos integralizadores do processo de construção da Cultura. Analisa-se as características da cultura popular no São João de Ubaíra, sob o ponto de vista dos significados e signos do lugar, a relação entre o turismo e o comércio e as origens que mistificam essa cultura popular não apenas como um festejo cultural comum, mas como referencial para o poder público local nortear sua prática em uma proposta dialética entre povo e a cultura, o turismo local e o desenvolvimento econômico do Município.

 Palavras-chave: Festas Juninas; São João; Tradição Cultural; Turismo e  Desenvolvimento.                                                                                                                          

Introdução

As reflexões sobre a cultura local e sua memória coletiva é, antes de mais nada, uma concepção ideológica sobre as  manifestações culturais de um povo que vive a cada dia construindo uma história que será recontada por gerações. Concepção ideológica, do ponto de vista da cultura, deve ser entendida como premissa de construção de uma história própria, envolta em detalhes comuns dentro daquilo que se acredita, cultua, preza e que facilmente se constitui como marca, perfil ou característica pessoal de um povo, de um grupo. É o caso das festas centradas nos municípios como, por exemplo, o nosso objeto de estudo, a festa do São João a qual, através de resultados parciais de pesquisas, se discute, neste estudo, enfatizando, de que forma a expansão dos festejos pode contribuir para o desenvolvimento do Município de Ubaíra[2].

Este Município fica localizado à cerca de 270 km da capital Salvador, possui 19.725 habitantes, distribuídos numa área de 726,259 km², resultando numa densidade demográfica de 27,19 hab./km² (IBGE, 2010); está inserido na microrregião de Jequié, pertencente à mesorregião Centro-Sul Baiano e  faz limites ao norte com o município de Amargosa, a leste com Jiquiriçá, a sueste com Teolândia, a sudoeste com Wenceslau Guimarães, a oeste com Cravolândia e com Santa Inês e a noroeste com Brejões. Sua economia baseia-se, sobretudo, na agropecuária, principalmente no cultivo de cacau, café, mandioca, cereais, verduras, milho, feijão, banana, produção de farinha de mandioca e gado bovino, que também é de grande contribuição para a economia da região. Há, também, no Munícipio, fábricas, a exemplo da DalPonte que gera empregos diretos e indiretos para centenas de pessoas; e, por fim, uma vocação para o turismo sob formas de turismo cultural e ecoturismo.

No tocante as atividades culturais, existem aqui no município algumas datas comemorativas que fazem parte do calendário cultural, dentre às quais se destacam: a Festa do Padroeiro São Vicente Ferrer, no dia 23 de janeiro. Comemorada no período de 14 a 23 de janeiro. De 14 a 22 de janeiro é realizado um novenário na Igreja Matriz em louvor ao santo e no dia 23 há sempre uma missa solene, normalmente presidida pelo Bispo diocesano Dom João Nilton da Diocese de Amargosa da qual a paróquia faz parte. Neste dia há alvorada com queima de fogos e procissão com a imagem do santo. No ano de 2006 foi realizada uma caminhada pela Paz no domingo que antecede o novenário, com a presença de trio elétrico e bandas católicas onde participaram pessoas de todo o município. Posteriormente essa caminhada foi incluida no calendário da festa.

No dia 19 de março, no Povoado de Jenipapo, comemora-se a festa de São José com apresentação de músicos locais.

Durante o mês de maio, geralmente, todos os finais de semanas acontecia a tradicional “Festa da Barraquinha”, realizada pelos estudantes do terceiro ano do ensino médio com o objetivo de angariar fundos, para as festividades de conclusão do curso. A princípio realizada na Praça São Vicente Ferrer (Praça do Coreto), mas desde 1997 ela acontecia na Rua da Estação. Esta festa era tida como anúncio, a preparação para as festividades juninas, por isso, seu ritmo era o forró, tocado por músicos locais e regionais com venda de comidas e bebidas típicas. Acontece no Povoado da Jacuba uma festa em homenagem a Santo Antônio com muita animação.

Mas, sem sombra de dúvidas, a festa que mais marca o povo Ubairense é o São João. Que geralmente acontece entre os dias 20 a 24 de junho com atrações locais, regionais e até nacionais, é quando a cidade atrai  turistas de diversas localidades. Sem dúvida é uma festa cultural que marca, mesmo porque é a que impulsiona o comércio local gerando empregos diretos e indiretos. Apesar do curto período pode ser percebido na cidade um clima de desenvolvimento através da cultura. É evidente que há quarenta anos as tradições eram outras, mas no seio das famílias a essência permanece. Sobretudo nas zonas rurais, as famílias mais antigas gostam de celebrar as festividades juninas assando um bom milho ao pé da fogueira com todos reunidos, trocando visitas e pratos típicos, como a canjica, com seus vizinhos, parentes e amigos.

Há também os festejos juninos que acontecem no Povoado do Alto da Lagoinha, as festividades de São Pedro, regado a bebidas e comidas típicas, e muito forró.

No dia oito de dezembro é realizada no Povoado de Três Braços a festividade de Nossa Senhora da Conceição. Com Cavalgada da sede até o Povoado e apresentação de bandas locais. Outra festa que está ganhando dimensões no Municipio de Ubaíra é o Réveillon, geralmente ocorre entre os dias 31 de dezembro e 01 de janeiro.

O São João: uma relação entre o povo e a história do lugar

Festas juninas são populares celebrações que acontecem em vários países historicamente relacionadas com a festa pagã do solstício de verão, que era celebrada no dia 24 de junho, segundo o calendário juliano (pré-gregoriano), e cristianizada na Idade Média como "Festa de São João".  É considerada a principal festa de todo o Nordeste, levando-se em conta suas manifestações em todos os Estados da região. Rangel afirma que,

No Nordeste sertanejo, o São João é comemorado nos sítios, nas paróquias, nos arraiais, nas casas e nas cidades. A importância dessa festa pode ser avaliada pelo número de nordestinos e  turistas  que escolhem essa época do ano para sair de férias e participar dos festejos juninos. (...) O São João ocupa papel de destaque nas festas, pois, dentre os santos de junho, foi ele que deu ao mês o seu nome (mês de São João) e é em sua homenagem que se chamam “joaninas” as festas realizadas no decurso dos seus trinta dias. O dia  23  de junho, véspera do nascimento de São João e início dos festejos, é esperado com especial ansiedade. (RANGEL, 2008, pag. 24 e 34).

Por ser de origem rural, essa festa marca a mudança de estação climática e a chegada do ciclo da fartura proporcionada pela colheita do milho, do amendoim e do feijão, além de marcar a crença no santo que concebe a purificação e regeneração da vegetação e das estações. Para Rangel (2008, pag. 22), a tradição diz que se deve agradecer a abundância, reforçar os laços de parentesco (as festas são uma ótima ocasião para alianças matrimoniais), reverenciar as divindades aliadas e rezar forte para que os espíritos malignos não impeçam a fertilidade. Na sua constituição simbólica, São João é representado como o santo do amor e do erotismo, protagonista de uma festa bastante atraente em seus aspectos lúdicos como a quadrilha e o forró, danças típicas desse período.

Segundo o pesquisador da cultura popular, Luís da Câmara Cascudo, a palavra forró é originada do termo africano "forrobodó", que, de acordo com o dicionário Aurélio, significa festança, baile caseiro, bem animado, com comezainas e bebidas; festejo popularesco e ruidoso; confusão, desordem, algazarra. Outra versão[3], diz que, com a inauguração da primeira estrada de ferro no interior de Pernambuco, pela companhia inglesa Great Western, foi feito um baile (ao som da sanfona e zabumba) para comemoração do acontecimento, promovido pela própria empresa, que convidava todos com os dizeres afixados na entrada: "for all" (para todos). A partir daí, então, passariam a chamar os seus bailes populares de Forró, assim também foi denominada a música típica dessas festas.

Com a evolução tecnológica, novos instrumentos foram agregados ao ritmo da música nordestina e fez surgir variações no forró, como o forró universitário entre outros, pode abranger uma grande variedade de ritmos, a exemplo do xote, xaxado, baião, coco, rojão, fazendo do São João uma festa com uma diversidade de ritmos, mas sem deixar de lado o tradicional forro pé-de-serra.

Mesmo com o uso das novas tecnologias nas bandas de forró, o forró pé-de-serra é considerado um dos principais atrativos dos festejos em Ubaíra, muitas pessoas da cidade e também de outras localidades vêm apreciar o forró tradicional no São João de Ubaíra, aquele que faz parte das raízes culturais do povo do nordeste.

Assim como em outras cidades nordestinas, no Município de Ubaíra, a festa foi originada na Zona Rural e posteriormente adaptada ao espaço urbano. Conforme Rangel (2008, pag. 22), desde o período colonial até meados do século XX, a maioria da população de todas as regiões do Brasil vivia no campo (até 1950, 70% da população brasileira vivia na zona rural; hoje, mais de 70% vive nas cidades). Em Ubaíra, as pessoas, no período de São João, tinham a tradição de passar pelas residências dos amigos, vizinhos, parentes e correligionários, era o conhecido “São João das Casas”.

 De acordo com a Senhora Maria da Natividade[4], popular  “Dadinha”, os festejos juninos, daquela época, eram muito animados, iniciava-se no dia 13 de junho, dia de Santo Antonio, e encerrava-se dia 29 de junho, dia de São Pedro. Nesse período de festejos as pessoas saiam de porta em porta, degustavam os alimentos típicos, vestiam roupas caipiras, as mulheres usavam vestidos de chita e tamancos; naquele período havia uma grande festança entre os moradores da Região.  Amaral considera os festejos juninos, no Nordeste, como fato social total, já que

No nordeste brasileiro, a perspectiva das festas juninas transforma as cidades e o espírito das pessoas, que parecem sentir uma irresistível atração e afinidade pela festa. Muitos nordestinos que se encontram fora de seus estados costumam economizar dinheiro, comprar presentes e voltar com eles para sua cidade natal na época das festas juninas, a fim de comemorar os santos. No sudeste é comum que nordestinos abandonem seus empregos, faltem por toda uma quinzena, peçam licença ou ofereçam-se para trocar o período do Natal por alguns dias de folga em junho, ou ainda negociem suas férias para gozá-las no meio do ano e poderem estar presentes às festas juninas, em sua terra. O mês de junho é um mês do refluxo migratório e as companhias de transporte rodoviário e aéreo atestam este fato. Os que não voltam para suas cidades a fim de participar da festa podem encontrar alternativas nas festas juninas realizadas nos grandes centros urbanos sob iniciativa das Secretarias de Cultura. (AMARAL, 2006, apud SANTANA, 2006, pag. 52).

Durante os festejos juninos, em  Ubaíra, as famílias tanto da Zona Rural quanto da cidade reservam o dia 23 de junho para acenderem suas fogueiras logo ao por do sol e prepararem as bebidas e comidas como: o  milho, amendoim, canjica, pamonha e o famoso licor de jenipapo. Também faz parte das comemorações a queima de fogos e a dança ao ritmo do música nordestina.  Assim, todos se divertem juntamente com pessoas da família e/ou amigos que em sua grande maioria vêm de outras cidades compartilhar o clima das festas juninas.  Até Hoje faz parte da cultura nordestina as pessoas das capitais visitarem as cidades do interior nos festejos juninos com vistas a desfrutar da tradição.

Em relação aos festejos juninos na cidade de Ubaíra, a Senhora Natividade afirma que atualmente está havendo mudança no comportamento das pessoas, novos hábitos estão sendo adaptados aos festejos e alguns dos antigos estão sendo abolidos. Segundo Hobsbawm (1984 pag. 12-13), com a modernidade alguns costumes tendem a desaparecer e surgem outros, inventam-se novas tradições quando ocorrem transformações suficientemente amplas e rápidas tanto do lado da demanda quanto da oferta. Em relação ao São João à moda antiga, a senhora Dadinha lembra que

Naquela época, durante o período dos festejos juninos, a população local mantia suas mesas fartas, preparavam milho cozido, milho assado, canjica, amendoim cozido, arroz doce e licores diversos, as pessoas saíam das suas casas para visitar uns ao outros, (amigos, parentes, vizinhos e pessoas da região), cantavam, dançavam e se divertiam muito (INFORMAÇÃO VERBAL).

Os festejos juninos, em Ubaíra, ganharam novas dimensões no ano de 1984, na primeira gestão do Prefeito Ivan Eça Menezes, quando a cidade passou a receber turistas das cidades circunvizinhas, da capital e até de outros estados do Brasil. Essas pessoas eram atraídas pela animação dos grandes nomes da música nordestina. Sobre esse assunto, o senhor Francisco do Gás[5] afirma que, com a expansão dos festejos, o fluxo de turismo aumentou na cidade de Ubaíra e por este motivo o comércio teve que se adaptar aumentando a quantidade de restaurantes, bares, pousadas e hotéis. Como não havia vagas de hospedagem suficientes para todos os visitantes, os moradores alugavam suas casas e, neste período, ficavam hospedados nas casas de parentes aproveitando assim para ganhar um dinheiro extra.

Já no sentido da festa para abrigar as pessoas e os artistas que participavam dos shows, a Prefeitura Municipal investiu na criação de um espaço coberto de palhas de coqueiros no centro da cidade onde era montado um palco para as atrações, as barracas para comercialização de alimentos e bebidas típicas e, também, o local para os forrozeiros se divertirem. Alguns anos mais tarde, foi construída uma quadra polivalente, um local privilegiado onde os festejos ocorriam.

Nos últimos anos foi montado um grande palco e também uma cobertura formada por toldos, no centro da cidade, onde é realizada a festa junina. Em 2011, o São João de Ubaíra contou com a participação de atrações  de renome nacional, como Cavalheiros  do Forró, Filomena Bagaceira, Gilton Della-Cella, entre outras atrações locais e regionais.

O cantor de forró Gilton Della-Cella, nascido na cidade de Ubaíra e atualmente residente em Salvador-BA, em seu documentário sobre o Município de Ubaíra, afirma que

O São João de Ubaíra é um dos mais tradicionais da Bahia. O Fluxo turístico é muito grande neste período e a participação do povo ubairense é intensa. A festa é regada a bebidas típicas, além da queima de fogueiras  por toda a cidade, sendo o forró pé de serra predominante em todo o evento[6].

Ubaíra, no período dos festejos juninos, abre suas portas mudando totalmente a rotina de cidade interiorana, simples e pacata, para receber um grande número de visitantes, mudando assim sua estrutura na tentativa de se mostrar como lugar apto a receber convidados de diversos lugares. Martins, ao discutir sobre Cultura Local e Turismo, afirma que

As festas, costumes, danças, folguedos, histórias orais, podem servir para atrair atenção e o interesse de muitas pessoas para conhecerem um pouco do lugar e seus costumes, muitas vezes, inclusive, despertando nelas um desejo íntimo de vivenciarem a festa junto com a própria comunidade. Isto é possível quando uma cidade, consciente do seu potencial, resolve, com organização e parcerias, transformar estas manifestações culturais em atrativo turístico, possibilitando, assim, oportunidade de negócios e empregos além da valorização da arte e identidade local (MARTINS, 2003, pag. 64).

Essa proposta de turismo busca propagar tanto as manifestações do lugar com potencial turístico, como também estimular o turismo comercial para o crescimento local. O anonimato desse lugar impõe uma forma tão gritante de se mostrar o que um município pequeno pode e tem a oferecer que o comércio peregrina em todos os sentidos não apenas para vender os produtos, mas “vender” uma cidade com potencial turístico.

Se a noção de cultura, turismo e comércio local deve estar para o crescimento local, logo, para o desenvolvimento econômico, a cidade terá que moldar-se, sobretudo, aos interesses dos seus moradores e comerciantes locais para que possam aproveitar o máximo dos festejos; já os comerciantes deverão atuar também na prestação de serviços, no atendimento aos clientes, visitantes ou turistas, principalmente no que se refere ao aspecto comercial.

Apesar dos festejos juninos ocorrerem também em outras cidades circunvizinhas, as observações, aqui expostas, são necessariamente dessa localidade por pensar em absorver o máximo possível da impressão da população local, com sua história, seu perfil e ponderar ainda sobre as políticas públicas locais em relação ao crescimento dessa cidade.

Um fato relevante é que, mesmo sendo uma festa comum na região, o gosto pelas atrações locais, as músicas, a organização fazem os turistas se deslocam para Ubaíra porque acreditam ser o melhor lugar nessa época para diversão e encontro com outras identidades culturais. Isso faz crer que algo há para se pesquisar e usufruir desse interesse dos turistas nos festejos da cidade de Ubaíra-Ba.

Durante o São João 2011, foi realizada uma pesquisa para um melhor aprofundamento dos estudos sobre os festejos juninos de Ubaíra e foram denominados  turistas todos aqueles que visitaram os festejos juninos sem exercer atividade remunerada, sem considerar o tempo de permanência  nesta cidade, já que uma grande parcela das pessoas que participaram do São João de Ubaíra,  demandando produtos e serviços, é composta por residentes em municípios vizinhos como Cravolândia, Santa Inês, Jequiriçá, Mutuípe, Laje, o que possibilita a ida ao evento e o retorno em menos de vinte e quatro horas. A cidade  também é visitada por turistas de cidades como: Salvador, Jequié, Vitória da Conquista, Jaguaquara, e até  estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, entre outros.

Através da realização dessa pesquisa[7] com turistas, foram obtidos alguns resultados. Sobre os principais motivos que os levaram a visitar a cidade obteve-se: 43% afirmaram que foi graças à festa de São João; seguidos por visita a parentes e amigos 38 %; turismo, 14%; e outros 5%.  No que se refere aos motivos que levaram os entrevistados a escolherem a cidade para o turismo de lazer, destacaram-se: a cidade acolhedora com 77%; o público animado, com 15%;  as atrações dos festejos 4% ; e outros 4% das respostas. Dos que participaram da pesquisa, 90% afirmaram que já vieram ao São João de Ubaíra e 69% afirmaram que pretendem vir ao São João novamente. O motivo mais citado pelos visitantes sobre o que influenciou a fazer a viagem  foi o fato de já conhecer o evento, 58%. O segundo foi à indicação de parentes ou amigos com 42%. Por outro lado, o veículo de influência foi:  a internet com 57%; seguido do rádio com 25%; e outros, representando 18% dos entrevistados.

Em relação à expectativa do turista, após conhecer a cidade de Ubaíra, em especial no período dos festejos juninos, 44% afirmaram que a festa atendeu plenamente as expectativas, enquanto 35% disseram ter atendido em parte às expectativas. Apenas 9% afirmaram que suas expectativas foram superadas e 12% que suas expectativas foram frustradas.  No total, 71% afirmaram que recomendariam para outras pessoas, 21% não opinaram e somente 8% disseram que não recomendariam a ninguém.

Apesar da boa avaliação, a pesquisa ainda ressaltou algumas sugestões dos visitantes para a melhoria nos festejos juninos. Entre os principais itens apontados estão: melhoria no investimento em atrações principais, na qualidade do som, além das principais atrações se apresentarem logo no início da folia; resgatar os festejos do dia de Santo Antonio para que o mês de junho não fique apenas com três dias de festas; investimento extra para divulgação da cultura da cidade; aumento na quantidade de banheiros químicos; e a  necessidade de cultivar os aspectos mais tradicionais do São João. Os turistas também sugeriram aumentar a divulgação na mídia, maior apoio do comércio local, e que o local da festa retornasse à quadra polivalente.

Neste período houve manifestações também de outras pessoas. Um comerciante local expressou sua opinião sobre as mudanças tecnológicas que veem ocorrendo ao longo dos anos nos festejos juninos, provocando alterações nas tradições ali existentes: “Para fazer uma boa festa é necessário cultivar mais as raízes tradicionais do São João”[8].  Hobsbawm & Ranger ao discutirem sobre a “invenções das tradições”, afirmam que

O termo “tradição inventada” é utilizado num sentido amplo, mas nunca indefinido. Inclui tanto as “tradições” realmente inventadas, construídas e formalmente institucionalizadas, quanto as que surgiram de maneira mais difícil de localizar num período limitado e determinado de tempo - às vezes coisa de poucos anos apenas - e se estabeleceram com enorme rapidez (...) (...) Mais interessante, do nosso ponto de vista, é a utilização de elementos antigos na elaboração de novas tradições inventadas para fins bastante originais. Sempre se pode encontrar, no passado de qualquer sociedade, um amplo repertório destes elementos; e sempre há uma linguagem elaborada, composta de práticas e comunicações simbólicas. As vezes, as novas tradições podiam ser prontamente enxertadas nas velhas; outras vezes, podiam ser inventadas com empréstimos fornecidos pelos depósitos bem supridos do ritual, simbolismo e princípios morais oficiais - religião e pompa principesca, folclore e maçonaria (que, por sua vez, é uma tradição inventada mais antiga, de grande poder simbólico(...) (...) Pode ser que muitas vezes se inventem tradições não porque os velhos costumes não estejam mais disponíveis nem sejam viáveis, mas porque eles deliberadamente não são usados, nem adaptados. (HOBSBAWM & RANGER, 1984, pag. 9-14).

Ainda conforme Hobsbawn (1984), se a festa é considerada um bem patrimonial, uma tradição, ela pode ser inventada ou reinventada  compostas por diversidade e realidades de diversos períodos de sua história e de diversos diálogos interculturais vivido pelo seu povo em momentos diferentes. Segundo Arantes (2002, pag. 90), os bens culturais incluem flexibilidade de sentidos, características cuja compreensão é fundamental para entender o modo como tais bens participam da política de identidade dos jogos de mercado.

É interessante lembrar que os processos pelos quais passa a cultura são propostas históricas que legitimam o pensamento sobre cultura desde o século XIX, para que possamos compreender esse processo atual como uma proposta modificada pelos povos durante a passagem pela história. Tudo muda. E ao lidar com a humanidade, nada permanece estanque, e o homem é o mesmo elemento que vive e modifica a natureza em prol da construção de uma sociedade. Ao analisar esse fenômeno, Zygmunt Bawman destaca que

Os fluidos se movem facilmente. Eles “fluem”, “escorrem”, “esvaem-se”, “respingam”, “transbordam”, “vazam”, “inundam”, Borrifam”, “pingam”; são “filtrados”, “destilados”; diferentemente dos sólidos, não são facilmente contidos – contornam certos obstáculos, dissolvem outros e invadem ou inundam seu caminho. Do encontro com sólidos emergem intactos, enquanto os sólidos que se encontraram, se permanecem sólidos, são alterados – ficam molhados ou encharcados. A extraordinárias mobilidade dos fluidos é o que os associa à idéia de “leveza”(...) (...) Associamos “leveza” ou “ausência de peso” à mobilidade e à inconstância: sabemos pela prática que quanto mais leve viajamos, com maior facilidade e rapidez nos movemos (BAUMAN, 2001, pag. 08).

Em um estudo generalizado, o São João de Ubaíra pode ser analisado de diversas formas. As relações sociais e religiosas continuam a permear o sentido da festa. Se analisada pela realidade cultural e religiosa, pode-se observar que ainda se mantêm vivas as tradições de uma história que continua, apesar das mudanças advindas da pós-modernidade. É evidente que a maioria das manifestações culturais deste Município estão atreladas as datas comemorativas de um santo, que seja São José em Jenipapo, Santo Antônio na Jacuba, São João na sede do Município, São Pedro no Alto da Lagoinha e Nossa Senhora da Conceição em Três Braços. Até que ponto a religião, através de festas populares, pode favorecer o desenvolvimento? Será que é a igreja que promove ou é o povo que perdeu o sentido da religião? O que se sabe é que todas estas festas são promovidas pela Prefeitura Municipal de Ubaíra. Aliás, o que ocorre é que há uma cobrança da própria população para que elas aconteçam. Com exceção da Festa do Padroeiro São Vicente Ferrer, e da parte religiosa nas festividades dos demais santos, a igreja em nada tem a ver com as manifestações desses festejos populares. Há uma distinção bem clara, hoje em dia, entre festas populares e religiosas. Em muitas vezes, usa-se da imagem religiosa para motivar festas populares que fazem parte da cultura popular.

Sob o olhar dos comerciantes locais, o período junino fortalece o mercado com o aumento nas vendas e a prestação de serviço, gerando oportunidades de empregos temporários ao apresentar seus produtos aos consumidores. De acordo com pesquisa realizada no período de 24 a 30 de junho de 2011, com comerciantes locais, sobre o aumento das vendas, foram obtidos os seguintes resultados: 75% dos entrevistados afirmaram que houve um aumento de até 30%; 13% disseram que houve um aumento de 30% a 50%; e 12% disseram que houve um aumento acima de 50%.

Em entrevista o Sr. Francisco S. Almeida, popular “Francisco do Gás[9]”, comerciante renomado, confirma o resultado do primeiro item da pesquisa fazendo a seguinte observação: no período dos festejos juninos, entre os meses de maio e junho, a venda no comércio local é aquecida representando um aumento de até 30% tanto nas vendas quanto na prestação de serviços no Município de Ubaíra.

Verifica-se, em relação aos frequentadores do São João de Ubaíra, homens e mulheres de diferentes idades que compõem essa “cultura popular”, que a identidade desses mesmos sujeitos se associam e dissociam pela própria separação do sexo (masculino e feminino) e pela própria sexualidade, esses dois grupos se interpõem na movimentação festiva e em um ambiente propício a isso. 

Essa identidade é subjetiva, porque se transforma de acordo a necessidade social e de grupo. Interessa-se apenas e momentaneamente de acordo com o local. Como evidência  Hall,

O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado; composto não por uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não-resolvidas. Correspondentemente, as identidades, que compunham as paisagens sociais “lá fora” e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as “necessidades” objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como resultado de mudanças estruturais e institucionais. O próprio processo de identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades, tornou-se mais provisório, variável e problemático (HALL, 2005, p. 12).

Hall discute aí a pós-modernidade que implica mudança radical no campo da identidade, numa  sociedade globalizada em que os sujeitos que dela fazem partem são induzidos pelo capitalismo a fazer parte de grupos que consomem e reduzem-se a uma ideologia de seguir o novo, ressignificando a cultura, mas  tomando as devidas preucações para não descaracterizar seus princípios: uma coisa é a sociedade consumista e que se utiliza da proposta de cultura para mover os seus interesses e outra coisa é quando se propõe uma nova ideia sobre a cultura sem banalizá-la.

O consumo, as relações, a sexualidade giram em torno dos agrupamentos e de modo contido afloram todos os dias nas praças e centros onde a festa acontece. E mesmo sendo a festa junina um espaço amplo, considerando que ela também acontece na zona rural, também lá a proposta é a mesma.

Para os comerciantes geralmente o consumo acontece de modo que eles esperam como a vendas de fogos de artifício, roupas, sapatos, comidas típicas que são atrativos de um perfil consumista que engrandece o comércio local, mas que, além disso, faz parte de um acervo cultural e identitário particular de cada família ou grupo social desse lugar.

Todos os elementos típicos dessa época junina vêm carregados de um simbolismo tal que atravessa os tempos sem mudanças consideráveis. De toda região se conhece a canjica, os bolos, o licor de jenipapo, o milho assado na fogueira, a pamonha como uma tradição intransferível e que não pode faltar, referenciando tanto a  cultura como o povo desse lugar. Para Silva (2009, pag. 42-43), a cozinha é o meio universal pelo qual a natureza é transformada em cultura: “como logo existo”; “nos somos o que comemos.” O consumo de alimentos pode indicar quão ricas ou cosmopolitas as pessoas são, bem como sua posição e etnia. Isso mostra como a cultura popular é abarcada de valores também sociais e a proposta de identidade é consumada na relação entre  elite e popular.

A nova ótica dos festejos juninos na cidade de Ubaíra considera essa vertente. Todas as camadas sociais que intervêm nessa festa é  que fazem a diferença e geram novos moldes a partir do planejamento social/político, sem perder de vista a concepção primordial da festa que é fomentadora do turismo local. Essa forte influência continuará a ocorrer ao longo do tempo na cultura popular do Município.

Considerações finais

O processo de origem do Município de Ubaíra, assim como sua trajetória, foi abordado com o intuito de permitir que seja observado como se encontra, hoje, a capacidade de desenvolvimento dessa sociedade.

A Areia se transformou em Ubaíra. O tempo passou, a sociedade mudou, o mundo mudou. Porém, uma coisa permanece inalterada: as necessidades vitais dos homens são as mesmas no tempo da Areia ou no tempo de Favo de Mel.

Em relação aos festejos juninos, constatou-se que o São João de Ubaíra revela-se um dos principais eventos culturais que contribui para o fluxo de turistas no Município. Turistas esses que em sua grande maioria aproveitam o período para visitar seus parentes, amigos e curtir a tradicional festa; e os impactos econômicos e culturais, identitários são percebidos pela comunidade local, pelos comerciantes locais também pelos próprios turistas.

Do ponto de vista da economia local, verificou-se que os comerciantes percebem os festejos juninos como uma importante atividade econômica do município, gerador de emprego e renda, mas, por ser um evento que ocorre apenas uma vez por ano, num curto intervalo e tempo, faz com que os empregos gerados sejam apenas temporários.

Entretanto, o São João de Ubaíra exerce um importante papel no município e, se for feito um planejamento adequado, poderá gerar emprego e renda por um período mais longo. Já a atividade turística se constitui num potencial que poderá contribuir para o desenvolvimento local. No entanto, deverá ser elaborada com profissionalismo e seriedade, considerando sempre o conceito de sustentabilidade econômica, social, cultural e ambiental.

Referências

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 _____. População censo 2010 – Município de Ubaíra. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm. Acesso: 11 ago. 2011.

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 SANTANA, Alessandro Fernandes de. Turismo como vetor de desenvolvimento local: o caso do Festival da Carne do Sol – FESTSOL, Itororó, Bahia. Ilhéus-BA: 2006. 119f. Dissertação (Mestrado em Cultura e Turismo) Universidade Estadual de Santa Cruz - Parceria UESC/UFBA.

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Notas

[1]Funcionário Público Federal do Instituto Federal Baiano, Campus Santa Inês. Mestrando em Cultura e Sociedade pela UFBA. E-mail: antonio@antoniosantos.com.br

[2] Ubaíra – é um nome de origem tupi-guarani que significa mel de pau, também  chamada Favo de Mel  pelos munícipes.

[3]REBELO, Samantha Cardoso. Mais definições em transito – Forró. Disponível em: http://www.cult.ufba.br/ maisdefinicoes/FORRO.pdf. Acesso em: 09/03/2012.

[4] Entrevista com Maria da Natividade de S. Santos, na sua residência, no dia 05 de março de 2012, às 19:49h.

[5] Entrevista com Francisco S.  Almeida em seu estabelecimento comercial no dia 17 de março às  09:19h.

[6]Documentário do Município de Ubaíra, publicado no ano 2010. DVD-ROM

[7] Pesquisa realizada no período de 24 a 30 de junho de 2011, com turistas que visitaram a cidade no período do  São João de Ubaíra.

[8] Entrevista realizada no dia 29 de junho de 2011, com um comerciante local.

[9] Entrevista com SR.  Francisco S.  Almeida em seu estabelecimento comercial no dia 17 de março às  09:19h.