Os Exus
Por Marco Aurélio Leite da Silva | 12/06/2008 | ReligiãoO tema a seguir é dos mais polêmicos que se pode abordar... Toca a
religiosidade das pessoas... Toca preconceitos enraizados em séculos de
informação e desinformação...
Ofereço as seguintes cogitações com a alma aberta.
Não pretendo convencer ninguém!
Não defendo nenhuma religião!
Não tenho autorização para falar em nome de nenhuma instituição!
Digo apenas o que penso.
Não quero sonegar a minha parcela. Se não concordar com o que digo, defenderei até a morte o seu direito de discordar.
Vamos lá.
O
estudo da tradição esotérica ostenta logo em seu início abordagens
acerca da dualidade, entendida essa como a contraposição de conceitos
ou valores em um sistema parecido com a dialética hegeliana. A
dualidade é a forma como o todo universal é percebido pelo ser humano.
O homem costuma considerar tudo à sua volta através de elementos duais
como alto e baixo, feio e belo, forte e fraco, essencial e supérfluo,
quente e frio, noite e dia, enfim, o yin e yang em que se assentam suas
possibilidades cognoscitivas.
Também no que diz respeito à
Ética, o homem mais do que nunca se alicerça em uma antiquíssima
dualidade: o Bem e o Mal. Os sistemas religiosos, ainda que se
diferenciem sobremaneira em variados aspectos, sempre têm na dualidade
“Bem – Mal” a pedra basilar de sua doutrina.
O estudo de obras
como “Dogma e Ritual de Alta Magia”, conhecido livro de Eliphas Levi,
legam-nos preciosos ensinamentos acerca da unicidade da Criação e, por
extensão, do Criador. Mais ainda, evidenciam-nos que a dualidade nada
mais é do que a manifestação da unidade. Devemos entender manifestação
aqui como a forma perceptiva do ser humano, ou seja, o modo como o
homem pode perceber e conhecer essa unidade. Ninguém duvida que para
entendermos o que é o frio devemos saber o que é o quente. Mesmo
considerando a existência do morno, tal conceito só é assimilável,
ainda por mais forte razão, se forem conhecidos os limites dos quais
ele eqüidista.
Sendo a dualidade a manifestação da unidade e
partindo-se da premissa de que a Criação é um todo único, como único é
o Criador, devemos também assim considerar a dualidade “Luz – Trevas”.
Preferimos assim dizer, ao invés de “Bem – Mal”, porque a distinção do
que é bom, em contraposição àquilo tido por mau, muito mais confunde do
que esclarece. Nem sempre sabemos se algo é mesmo bom ou ruim, mas
temos razoável noção acerca de como a Luz se manifesta em contraposição
às Trevas.
Uma imagem poética, utilizada por Levi, para explicar
as Trevas é a decisão de Deus que, para mostrar aos homens o valor da
Luz, lançou o seu mais precioso filho nos abismos, aludindo à
simbologia de Lúcifer. Nesse mesmo concerto, Levi também explica que o
Mal existe para triunfo do Bem.
E é isso mesmo. O fenômeno
trevoso tem sempre uma razão de ser advinda dos desequilíbrios a que a
alma, na exata medida de sua consciência e responsabilidade, lança a si
própria.
Uma alma inicialmente predisposta a realizações de
vulto do ponto de vista espiritual, e que, por infinitas razões e
circunstâncias, deserta do planejamento e se põe em sentido contrário
da linha cármica inicial, sofrerá a inversão desse carma. Estamos
falando de renúncia absoluta aos impulsos de elevação e entrega plena
aos impulsos de animalidade, quando o ser voluntariamente se põe a
reagir como uma fera indômita e alheia a todos os imperativos de
auto-aperfeiçoamento. A inversão do carma significa que as experiências
e realizações, que ocorreriam sob o domínio da Luz, operar-se-ão sob o
domínio das Trevas. O ser estará, em razão do caminho por si livremente
adotado, sob a influência direta dos espíritos que emanam de si os
padrões desarmônicos e perturbados de seu tom vibratório grave, de
baixa freqüência.
Claro que isso significa muita dor e sofrimento,
diga-se, por um tempo que raramente o ser humano imagina pudesse ser
tão longo. Mas não se trata de castigo. Ainda que o linguajar e
conteúdo das imprecações reinantes nesse plano denso remetam à noção de
inferno e punição eterna. Durante todo o tempo em que estagia nas
Trevas, o espírito se põe em realizações dantescas. Busca e aprisiona
almas atormentadas, cuja condição evolutiva as dirige exatamente para
aquele destino. Submete-se a uma rigorosíssima hierarquia negra,
sofrendo em praticamente tudo o que faz. Acompanha agressões
espirituais no concerto da magia negra praticada largamente sob o
interesse dos líderes que disputam o poder naquelas plagas, seja em
prejuízo de outros grupos, seja em prejuízo de encarnados que de alguma
forma se põem ou são postos no alvo da maldade ali reinante.
Mas,
veja-se, a experiência de progresso dessa alma, como já dito, far-se-á
ali, sob o domínio das Trevas. O tempo é longo porque o espírito há de
desenvolver toda uma capacidade de bem agir no meio denso trevoso, só
então voltando a ser instrumento utilizável pela Luz para seus
cometimentos. É literalmente isso. Quando o ser, submetido às Trevas
por tempo suficiente, passa a dominar os fluidos de seu meio a ponto de
manipular e poder destruir emanações perniciosas, é novamente convocado
pela Luz para agir em defesa daqueles que se vitimam por trabalhos de
magia negra ou feitiçaria.
Eis aí o carma invertido. O Bem é
extraído da essência do Mal para seu próprio triunfo. Não esqueçamos
que o soro que salva é feito do veneno que mata. É óbvio que a
Divindade não precisa de instrumentos que tais para realizar o que quer
que seja, mas é exatamente esse aspecto que denota ser carma invertido
do trevoso a oportunidade de comungar dos intentos superiores. De
qualquer forma, é de se observar que os mensageiros dos planos
superiores efetivamente experimentam enormes dificuldades em se
aproximar das regiões abissais.
Se a convocação frustrar-se, novamente por livre-arbítrio do convocado, permanecerá ele nas Trevas. Poderá recrudescer
ainda
mais, tornando-se um líder trevoso, ou mesmo um Mago Negro. Nem por
isso, leve o tempo que levar, conseguirá prolongar indefinidamente sua
estada nas Trevas. Milênios e milênios passarão. Mas dia chegará em
que, ante o chamamento que se avoluma em sua essência, finalmente
retornará ao bom combate e se porá sob o impulso da Luz, ainda que
esteja no mais profundo abismo.
Por outro lado, se a alma for
tíbia e se acovardar, ficará na triste condição de aprisionado das
Trevas. Um dia, quando um espírito convocado e sob o impulso da Luz
tiver condições de receber-lhe o sincero pedido de socorro, será
libertado e
levado ao socorro que mereça. Tanto um como outro terão
permanecido nas Trevas por absoluta necessidade de reequilíbrio, sob a
orientação da Luz.
Os espíritos que se tornam trevosos
convocados ao trabalho pela Luz são genericamente chamados Guardiões
das Trevas. Dentre eles, máxime no Brasil, muitos são conhecidos como
Exus, comandantes de verdadeiros exércitos de almas atormentadas, as
ditas falanges, para a realização do importantíssimo trabalho da Luz
nos estamentos mais densos dos abismos de dor e sofrimento.
Particularmente os Exus estão sob cruel confusão na opinião geral dos
encarnados. Os Exus em geral, conquanto seja muito amplo e variado o
trabalho por eles desempenhado, vale repetir, basicamente são Guardiões
que atuam nos fluidos mais densos, eliminando processos trevosos que
vitimam encarnados e desencarnados.
Imperioso destacar que
muitos espíritos se apresentam como Exus sem que o sejam. São entidades
que praticam o mal pura e simplesmente, em troca de oferendas ou por
determinação de líderes trevosos. Os Exus propriamente ditos estão
efetivamente nas Trevas, mas delas se destacam na realização de
intentos superiores, da Luz.
Ainda mais importante é registrar
que a existência de oferendas materiais ocorre tanto a pedido de
entidades perversas como de Exus verdadeiros. As oferendas, mesmo
constituindo um ritual material e primitivo, são necessárias para
atender a ansiosa expectativa dos membros das falanges comandadas pelo
Exu. Velas, sal, aguardente, comidas condimentadas, pólvora, são
elementos pelos quais anseiam os espíritos que se submetem ao comando
do Exu, daí porque serem pedidas em seu próprio nome. Os elementos
materiais são absorvidos, seja por contato direto, como no caso das
emanações dos destilados ou do condimento exacerbado, seja por vibração
de cores sob a luz da vela, muitas vezes a única forma de iluminação
que a alma recebe como sua. Não é boa conduta, portanto, denegrir o
fenômeno espiritual tão-somente por se fundar em oferendas primitivas.
Quem assim faz, a bem da verdade não sabe do que está falando.
O
trabalho desenvolvido nos cemitérios, por outra, é exemplo interessante
da atuação dos Exus. Os duplos etéricos em dissociação nas semanas que
sucedem ao colapso do corpo físico são estruturas de energia radiante
pelas quais lutam entidades de todos os níveis das Trevas. Os espíritos
que permanecem nos cemitérios após a morte do veículo físico, seja por
não saberem para onde ir nem terem quem os aguarde, ou por medo, ou por
esperarem juízo final, enfim, são vítimas fáceis para processos de
vampirização por entes trevosos. São os Exus que cumprem com a
relevante tarefa de proteger os espíritos nos cemitérios, literalmente
montando guarda dos depojos, dos duplos etéricos e das almas
atormentadas. São os Exus Caveiras. Identificam-se com o simbolismo do
crânio humano por evidente associação com suas funções. Até mesmo nos
centros de atividade mediúnica ocorre de serem confundidos com
entidades malignas. Curioso que quando aprisionam um espírito
vampirizador por vezes levam-no a uma casa de atividades
espiritualistas para serem recebidos e encaminhados, não raro
acontecendo de serem eles próprios, Exus, confundidos com entidades
maléficas... Pois é...
Chega... Não tenho a menor dúvida de que falei (ou escrevi) demais.
Mas... enfim... O pior remorso é o da omissão. Não me omiti.