Os desafios do educador-orientador incluído na educação a distância(EAD)
Por EDSON COSTA | 08/08/2009 | EducaçãoINTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo apresentar reflexões iniciais da pesquisa que estamos realizando sobre educação a distância, modalidade educativa que, com o avanço das novas tecnologias de informação vem ganhando espaço, principalmente, para uma demanda reprimida de pessoas que querem aprender e não podem estar sujeitas ao ensino presencial pelas mais diversas razões.
Nosso foco é a educação a distância realizada pela internet. Observaremos a relação que esse sistema propõe entre seus usuários, ou seja, quais as interações estabelecidas entre aluno/professor, aluno/texto e como as ferramentas ä disposição dão conta de tais interações.A questão é: como se constrói o diálogo, imprescindível para a aprendizagem em um ambiente tecnológico, no qual a interação face-a-face não se estabelece? Quais são os recursos tecnológicos à disposição para minimizar a necessidade da presença do outro na interação?
Queremos deixar claro que não é objetivo deste trabalho explicar como se criam documentos ou mídia para serem disponibilizados na internet em nível técnico.Com base nos pressupostos teóricos da Ciência do Texto, da Ciência da Informação, da Sociolingüística e da Educação, discutiremos o que denominamos aqui de diálogo virtual.
ENSINO E EDUCAÇÃO
Antes de prosseguirmos, cabem aqui algumas considerações iniciais sobre ensino/educação. Entendemos que o ensino seja ele presencial ou a distância, está diretamente ligado a atividades de treinamento, enquanto a educação, ligada aos processos de aprendizagem, leva o aluno a construir, aprender, elaborar, criar, tornando-o mais do que um receptáculo de informação;lê é o agente da sua aprendizagem (ARETIO,1994).
É nessa postura educativa que procuramos olhar para a educação a distância via internet.É importante que as tecnologias desenvolvam estratégias que sejam capazes de garantir a construção do conhecimento (aprendizagem). Já nos diz CINTRA (1994) que o monólogo do professor não pode resultar em eficiência, pois o conhecimento simplesmente doado rompe com os processos interativos, tornando-se uma via de mão única. Se já é assim na educação presencial, que dirá na educação a distância.
Não podemos tornar a educação a distância uma via de mão única, responsável apenas por apresentar e transmitir informações (ANDRADE,1993).
As tecnologias existentes apresentam algumas formas de articulação que possibilitam momentos interativos e diálogos virtuais (TODOROV, 1994).
A INTERNET
O termo internet é constituído de um acrônimo que representa bem seu papel: inter networks = inter (entre) e netwoks (redes), ou seja, um sistema que interliga diferentes redes de computadores (ROSA, 1998).
A internet vem sofrendo uma expansão crescente que pode ser constata pelas informações apresentadas por NEGROPONTE (1995) que registra que 30 milhões de pessoas estavam conectadas à internet.
Em 7 de julho de 1999, o Diário On Line informou que 130 milhões de pessoas estariam conectadas, segundo o relatório da eGlobal, divulgado pela eMerketer. Já em levantamento realizado pela Nua Internet Surveys, publicado em 9 de julho de 1999, no mesmo Diário On Line, o número de pessoas conectadas à rede mundial é de 179 milhões; o Brasil, no ranking mundial, segundo dados de pesquisa, ocupa o décimo-segundo lugar com 2,4 milhões de internautas
Além de ser um banco de dados distribuído pelo planeta, que cresce diariamente, ela é também um veículo de comunicação entre as pessoas do mundo inteiro. Com os recursos disponíveis na rede, percebemos que a internet veio contribuir para os rumos da Educação que prevê a nova relação entre aluno e professor, como diz SOBRAL (1999): “... relação [...] centrada no aluno e na opção deste sujeito, e que requer do professor que se torne um companheiro mais experiente na jornada do conhecimento”.
A internet pode ser mais uma ferramenta facilitadora da aprendizagem permitindo ao aluno o contato acentuado com o mundo devido às possibilidades de representações virtuais. Para conhecer o mundo em que se vive o homem está constantemente em interação com ele, com seu meio ambiente, agindo nele e transformando-o. Pela tecnologia, ele prolongou suas potencialidades, modificando sua relação com o mundo. A internet, como ferramenta disponível para aquisição do conhecimento, pode ser considerada uma extensão do sujeito para objeto, ou vice-versa, numa interação que, nesse caso, torna-se triangular (ROSA, 1998).
É imprescindível a nossa reflexão sobre o uso dessa tecnologia, pois é evidente que ela veio para ficar e deve ser aproveitada ao máximo para dar suporte aos processos educativos. No, entretanto, como a rede é totalmente livre, é fundamental a discussão sobre alguns pontos, entre eles: necessidade de filtrar informações indesejadas; adaptação dos usuários do sistema (professores/orientadores/alunos); necessidade de tornar esse meio acessível à comunidade em geral; interação dos métodos tradicionais de ensino/aprendizagem com aqueles disponíveis na internet e interações virtuais, num constante processo dialógico (LANDIM, 1998).
DIÁLOGO VIRTUAL: A INTERAÇÃO NA NÃO-PRESENÇA
Segundo KOCH (1995), a linguagem humana tem sido concebida, no curso da história, de muitas maneiras, entre elas:
-Como apresentação (espelho) do mundo e do pensamento (a função do mundo);
-Como instrumento (ferramenta) de comunicação (a língua é um código, cuja principal função é a transmissão de informações);
-Como forma (lugar) de ação ou interação.
A linguagem observada como lugar de interação é aquela que possibilita aos membros de uma determinada sociedade a prática dos mais diversos atos. Ë na interação humana que o diálogo esta presente e torna-se o maior instrumento da aprendizagem, pois ele coloca o “eu” e o “tu” numa constante troca de experiência/informações; o conhecimento nessa ilação é construído em cumplicidade e as verdades são elaboradas em reciprocidade (GUSDORF, 1987).
Na internet, tal diálogo é processado de muitas maneiras, pelos mais variados tipos de interação; um campo imenso a ser explorado no espaço das virtualidades.Cabem aqui algumas considerações sobre o virtual em atividade. A rigor, virtual e real não são conceitos antagônicos como muitos pensam.
Segundo CADOZ (1997), o termo virtual vem do latim virtus (virtude,força), o que tem condições de ser realizado.
Os fenômenos físicos, que são reais, solicitam sempre nossos sentidos, porém as representações cognitivas que eles apresentam podem corresponder a objetos reais ou objetos que não existem – os virtuais.A miragem no deserto é um exemplo claro da virtualidade; nela vemos imagens artificiais mescladas à visão do real circundante.
CADOZ (1997) acrescenta que “o computador é um meio de representação, o mais universal que o homem elaborou. O que é novo é o grau de integralidade da representação que ele permite atingir e o uso que dele podemos fazer”.
Para o desenvolvimento do diálogo no campo virtual (base do ensino a distância) que será compartilhado, é importante pensar na sua possibilidade de operacionalização.Para operacionalizá-lo, a tecnologia dispões de algumas ferramentas para o seu processamento (TAROUCO, 1998).
A maior força de comunicação da internet é a sua vertente WWW (World Wide Web) definido como “teia de alcance mundial”: tecnologia utilizada para acessar a rede Internet, tornando-a uma verdadeira teia mundial de informações por meio de um conjunto de ferramentas que, além de facilitar o acesso às inúmeras bases de dados, permite aos softwares de interfaces gráficas navegarem pela rede. O serviço é baseado em hipertextos, combinando linguagens como html e Java ou sucedâneas, permitindo ao usuário buscar e recuperar informações distribuídas pelos milhares de computadores da rede Internet, não só na forma de textos, como também em arquivos de sons, imagens e vídeo (movimento). Também conhecida como web. WWW ou W3(ROSA, 1998).
A WWW é uma ferramenta poderosa para o nível educativo que possibilita o acesso a um vasto universo de documentos, sendo ela a grande responsável pelo sucesso do ensino a distância.
Ë um ambiente agradável e de fácil navegação. Oferece, conjugadas com a integração de som, imagens e outras tecnologias, várias possibilidades de relações. Há disponível, hoje, uma grande quantidade de ferramentas que possibilitam a criação de sites da web, todas elas de fácil manuseio, permitindo que a WWW esteja disponível a todos mesmo àqueles que não tenham muitos conhecimentos de informática (NEGROPONTE,1995).
A possibilidade de interações que uma página WWW pode realizar é imensa. Além de poder ser construída com uma arquitetura agradável e estimulante, fornece ao professor condições de exposição clara dos temas que deseja trabalhar, de exercícios que pretenda pôr no ar e links a outras páginas que tratem do mesmo assunto para que o aluno possa ir além do apresentado.
Podemos, ainda, nessas páginas incluir listas de discussão, conjunto de perguntas e respostas que esclarecem as dúvidas mais freqüentes, responsáveis também por motivar o aluno a debater determinados assuntos.
Além da WWW, outras ferramentas podem ser usadas para desenvolver a interação entre usuários. As mais comuns são (ROSA,1998):
- E-mail ( eletronic mail) : um dos serviços mais utilizados e importantes, pois possibilita o envio e recebimento de mensagens entre os usuários do sistema.Essas mensagens são enviadas dos mais variados locais num período de segundos.Ë possível questionar e receber a resposta rapidamente;
- FTP (file transfer protocol) : permite a transferência de ficheiros dos mais variados tipos; documentos inteiros podem ser encaminhados aos alunos que terão em mãos material que ,às vezes, não poderiam ser encontrados no mesmo local no ensino presencial;
- -Telnet : recurso que possibilita ao usuário a conexão e controle de outro computador pela internet.Para esse tipo de acesso o usuário necessita, apenas, da senha da máquina que vai acessar;
- News : conjunto de grupos de discussão sobre temas diversos.
Na WWW, a interação é operacionalizada pelo hipertexto.Ele é basicamente um texto normal que contém ligações ativas com outros documentos, ou com outras partes do mesmo documento. A hipermídia é um hipertexto que ,além das relações habituais das páginas na Web, relacioná-se também, com sons ,imagens, filmes etc. Sua limitação está na combinação que faz do hipertexto com a multimídia.
Os métodos apresentados até então organizam interações chamadas assíncronas, que exigem a participação simultânea dos usuários.Outras ferramentas disponíveis no mercado, cujo método de trabalho é síncrono, já exigem a participação simultânea.A interação aqui é mediada pela máquina, porém há uma multimídia capaz de colocar os estudantes e professores num ambiente de conferência por computador, em que todos poderão participar dos debates que deverão ser mediados pelo organizador da conferência.
Um dos ambientes utilizados que dão conta dessa hipertecnologia é o NetMeeting, que proporciona encontros virtuais entre os usuários do sistema. Nesse ambiente, podemos usar aplicação de texto, som e imagens (SOBRAL, 1999).
As duas ferramentas síncronas apresentadas mostram a dificuldade que encontramos nas conexões ainda lentas devido à utilização de linhas telefônicas. Sua utilização, por certo, será ampliada à medida que tenhamos acesso mais rápido por meio de fibras óticas ou tecnologia que possibilite maior velocidade de informações na rede.
Como podemos observar, a tecnologia coloca a nossa disposição uma série de ferramentas que podem viabilizar uma educação a distância que consiga atingir níveis de qualidade e quantidade muito boa.No entanto, nossa última reflexão está diretamente ligada, no momento, àqueles que desenvolverão e acompanharão os processos educativos à distância.
Para desenvolvermos um ambiente que atenda às perspectivas de uma demanda emergente de pessoas que desejam aprender cada vez mais e melhor, é necessário rever nossa postura como educadores, pois um ambiente interativo só pode ser criado por pessoas que acreditam no diálogo e na interação numa concepção mais progressista de Educação. Nela, o paradigma de que o mestre sabe tudo e o discípulo nada sabe é coisa do passado, ultrapassada(SOBRAL,1999).
Recorremos à FAZENDA (1994) para afirmarmos:
“O homem vai atingindo o conhecimento de si à medida que se revela. Esse conhecimento de si cresce à medida que o homem procura conhecer o outro e esse conhecimento do outro só ocorre quando existe uma perfeita identificação entre o eu e o outro, ou seja, o homem só se realiza, só se conhece no encontro com o outro”.
É óbvio que as novas tecnologias de comunicação são boas ferramentas para educação a distância. Não podemos esquecer, no entanto, que estamos lidando com novas características de aprendizagem, lidamos com novas necessidades de alunos remotos, com novos papéis dos sujeitos desse processo, principalmente no que diz respeito a interatividade entre professor/aluno.
Sabemos que a interatividade é um fenômeno elementar das relações humanas. Ela é complexa e exige uma série de fundamentos históricos, pois cada interação dependerá da cultura do grupo social envolvido nela.
Temos um agravante na educação a distância, pois o material disponibilizado para estudo será compartilhado por diversas pessoas, todas elas diferentes umas das outras, com expectativas diferenciadas devido às visões de mundo e necessidades particulares(TODOROV,1994).
Interagir com essas diferenças implica a reflexão que devemos realizar antes de lançar no ar qualquer produto para a educação a distância. A interação em educação a distância desenvolver-se-á tendo em vista as relações entre aluno/professor, aluno/orientador, aluno/material didático, aluno/instituição de ensino, aluno/aluno, porém para que a aprendizagem se estabeleça, ela deve considerar o perfil do aluno para o qual o curso foi elaborado (história de vida, trabalho, família, grupos a que pertença etc).
Segundo LANDIM (1998), a interatividade na educação a distância envolve mediações que constituem o tratamento dos conteúdos e das formas de expressão e relação comunicativa, responsável pela aprendizagem a distância. Destaca, ainda, os seguintes fenômenos interativos:
- As áreas de conhecimento e a prática da aprendizagem por parte do aluno;
- Elaboração didática e gráfica (forma e conteúdo) de programas e materiais dos alunos;
- Os orientadores e os alunos e os alunos entre si (círculos de estudo).
CONCLUSÕES
Nesse contexto, o professor e o orientador devem estar preparados para administrar os conflitos, as contradições e problemas advindos das relações do processo educativo. Essa realidade não pode ser deixada de lado. Negá-la é dar as costas ao contexto das relações humanas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, C.A.B. Sala de aula – espaço de interações: diálogo expressivo x diálogo escolar. Revista UNICSUL, n3; 141-146, dez, 1993.
ARETIO ,L.G. Educación a distancia hoy.Madrid:UNED,1994.
CADOZ, C. Realidade virtual.São Paulo: Ática,1997.
CINTRA, A.M.M. Uma abordagem comunicativa para ensino de Língua Portuguesa.Salvador: ABRALIN, 1994.
FAZENDA, I.C. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. São Paulo: Papirus,1994.
GUSDORF, G. Professor para quê? Para uma pedagogia do saber. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
KOCH, I.V. A inter-relação pela linguagem.São Paulo: Contexto, 1995.
LANDIM, C. Educação a distância.Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1998.
NEGROPONTE, N. A vida digital.São Paulo: Cia das Letras, 1995.
SOBRAL, A. A internet na escola.São Paulo: Loyola, 1999.
ROSA,C.A .S. Internet: história, conceitos e serviços.São Paulo: Érica,1998.
TAROUCO, L.M.R. Ensino a distância.Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1998.
TODOROV, J.C. A educação a distância. Revista Educação a distância, n.4-5, abr, 1994.