OS DESAFIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA

Por Bianca Danucalov Chaves | 01/06/2017 | Educação

 

Os desafios da gestão democrática

 

A gestão democrática hoje é vista como uma nova forma de gerir órgãos públicos em nosso país, inclusive as escolas públicas. A Constituição Federal de 1988 diz que é um direito do cidadão e um dever do estado que todos participem dessa gestão, e a LDB em seu artigo 14 afirma que é de extrema importância à participação de todos os profissionais da educação, e da comunidade local, em todas as decisões tomadas na escola. Portanto se faz necessário que cada indivíduo envolvido tenha plena consciência de toda complexidade que envolve esse processo.

Historicamente o Brasil é um país onde a “democracia” nunca foi posta em prática de fato, de direito e como dever. Passamos boa parte de nossa vida escolar ouvindo, eu mando e você obedece, esse processo nos trouxe uma falta de autonomia que a gestão democrática se posta em prática de forma correta pode ser capaz de nos ajudar a recuperar. Pois somente uma pluralidade de ideias, e maior liberdade para tomada de decisões, poderão trazer novas visões para os problemas enfrentados nas escolas.

Existe uma mobilização do governo federal em fazer com que a gestão democrática realmente funcione nas escolas, visando à divisão de poder. Para isso lançou um programa chamado Material Didático do Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, com cursos e várias temáticas do cotidiano escolar tendo em vista instruir e emancipar o trabalho do gestor. Entretanto cabe também aos gestores utilizar de todas as ferramentas a sua disposição para dinamizar o seu trabalho.

No geral é comum ouvirmos o depoimento de gestores escolares que se dizem perdidos diante da problemática e dos processos socioeducacionais que ocorrem na escola. O gestor democrático precisa conhecer e estar mais vinculado aos processos, aos conselhos, aos colegiados, uma prática que ainda não é comum em nosso país.  Sendo assim o gestor precisa ter o compromisso de sentar com seus professores, coordenadores e sua equipe para desenvolver projetos que possam atuar junto a sua comunidade escolar e ao entorno dela.

Hoje sabemos que não somente a escola, mas todos os profissionais da área da educação possuem função social. Porém o que vemos é uma escola que mantém a comunidade à distância, mas cabe a gestão democrática modificar essa realidade fazendo parcerias com outras instituições, criando uma ponte entre escola, a família e a sociedade. Enfim abrindo esse espaço escolar para práticas de lazer e cidadania.

Atualmente o conceito de autonomia é muito discutido em todos os meios sociais, e é na escola que esse processo deve ser construído na vida do aluno. Os profissionais da educação devem sempre priorizar as práticas educativas que levem a criança a pensar, a questionar, a perguntar, e ser capazes de resolver problemas e se tornarem independentes. Assim, poderemos preparar essas crianças para assumirem seu papel na sociedade cobrando seus direitos, mas também cumprindo os seus deveres.

Dentro dessa estrutura democrática é muito importante que o aluno tenha iniciativa e participe das tomadas de decisões, utilizando-se assim do grêmio estudantil.  O grêmio é um espaço onde os alunos debatem e expõe suas ideias, participando ativamente da vida escolar, podendo desenvolver projetos e ações que contribuam para a melhoria da escola. Com isso, o aluno tem a oportunidade de ter uma visão mais crítica dos problemas sociais e políticos.

Ainda percebemos uma problemática muito grande em promover essa gestão democrática da maneira como deveria. A sociedade ainda tem muita dificuldade em se envolver coletivamente na tomada das decisões na escola, por falta de conhecimento, ou mesmo por não querer ter trabalho com o que acham que é de competência somente dos educadores, preferem se omitir dessa responsabilidade. Com isso, muitas vezes as decisões acabam tendo um caráter generalista, pois não abrangem as reais necessidades daquele ambiente escolar.

A Associação de Pais e Mestres (APM) é uma organização de caráter socioeducativo e sem fins lucrativos. É Composto por professores, alunos e membros da comunidade, tendo como principal finalidade captar e gerir de forma responsável os recursos disponíveis na escola. Portanto, a forma de utilização desses recursos deve trazer melhorias para o espaço escolar.

O Projeto Político Pedagógico é a ferramenta mais importante da gestão democrática, é ele que define a identidade da escola. Esse projeto é formado com a participação de gestores, educadores, pais, alunos e comunidade, ele define metas e implementa ações. É impossível imaginar uma escola que busque a qualidade e não o construa coletivamente.

O PPP ainda é um processo que caminha a passos lentos, pois muitas escolas o constroem e o guardam em uma gaveta, muitas vezes sem a participação coletiva. Dessa forma ele não possui o caráter de “Político” que a palavra propõe, não servindo para nortear as atividades pedagógicas praticadas na escola. Sendo assim ele só será eficaz se a equipe escolar tiver comprometimento em cumprir as ações planejadas e modifica-las quando for necessário.

Não podemos jamais ver o Projeto Político Pedagógico apenas como uma exigência formal a ser cumprida. É o momento que a escola tem para se construir, se organizar, mostrar sua autonomia.  Nesses momentos é que são postos os anseios da comunidade, seus valores, suas crenças, seu modo de pensar, e acima de tudo as reais necessidades que aquele núcleo escolar possui. Esse projeto quando feito coletivamente deixa claro todas as expectativas da comunidade com relação à escola.

Para nós a gestão democrática na escola não deve ser somente colaborativa, mas também de cooperação e participação ativa de todos, sendo a única maneira capaz de diminuir o abismo entre escola e comunidade. Trazer para a escola uma gestão comprometida com a formação integral das nossas crianças, que realmente sigam os quatro pilares da nossa educação (Aprender a ser, a fazer, a aprender e conviver). Afinal a escola desde sempre deve ser o espaço onde se oportunizem experiências de aprendizagem, interação e cidadania.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Disponível em: acesso em 10 de Abril 2016.

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PARO, VITOR. HENRIQUE. Gestão Democrática da escola pública. ed.2. São Paulo: Àtica, 2000.

PORTAL EDUCAÇÃO. Projeto Político Pedagógico: A identidade da escola. Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/3550/projeto-politico-pedagogico-a-identidade-da-escola> acesso em: 12 de Abril 2016.

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