Os Contos de Fadas Como Aliados

Por ELIENE SANTOS | 13/12/2008 | Educação

A SUPERAÇÃO DOS CONFLITOS DOS CONTOS DE FADAS, CONSTITUI UM ELEMENTO GRANDIOSO PARA AFORMAÇÃO DO ADULTO.

RESUMO:

O conto de fadas constitui um grande aliado na formação emocional do adulto,pois dá suporte à criança para resolver seus medos e adquirir experiênciasatravés dos conflitos enfrentados com a ajuda dos personagens fantásticos e das lutas entre o bem e o mal que permeiam este tipo de literatura. Um dia, quando adulto, saberá enfrentar os problemas pessoais e manterá a criança palpitando dentro de si.

PALAVRAS-CHAVES: Superação –Experiência – Coragem – Infância eterna

ABSTRACT:

The story of fairies,constitute a big allied in the emotional formation of adult, as give support to child to resolve your fears and to obtain experiences throughthe conflicts supported with the help of fantastic personages and the faith between well and bad thatinvadethis kind of literature. One day, when adult,will know to support the personal problems and will sustain the child throbbing in herself.

KEY-WORDS: Surmounting-Experience -Courage -Eternal infancy

A SUPERAÇÃO DOS CONFLITOS DOS CONTOS DE FADAS, CONSTITUI UM ELEMENTO GRANDIOSO PARA AFORMAÇÃO DO ADULTO.

Ser criança torna-se algo difícil a partir do momento traumático do parto, acrescido do famoso tapinha no bumbum que leva ao choro inaugural da vida. Neste momento prenuncia-se naquelapequena mente que "as coisas daqui para frente vão ser diferentes". E serão. Para a grande maioria que nasce em lares estruturados, famílias "normais" com papai, mamãe, e às vezes até irmãozinho e animal de estimação e famílias não tão comuns onde a mesa é farta e a paz e o diálogo permeiam a infância, esta fase do nascimento à puberdade pode transcorrer de certa forma sem maiores traumas.

Mas não podemos esquecer que, embora asdiferenças socioculturais dividam a humanidade desde os tempos mais remotos, o ser criança é ser criança em qualquer lugar ou situação social. Lembremos também que este pequeno indivíduo é ser especialmente dotado de imaginação, inocência, astúcia, curiosidade e disponibilidade para aprender dentre tantos outros atributos que nós, por estamos muito distantes dessa tão linda fase de nossa vida, não sabemos muito bem como caracterizá-la.

Desde antes que a criança comece a freqüentar a escola e/ousaiba ler, a família já tem um importante papel na construção da sua identidade, e na ajuda para que esta criança consiga passar pela infância de forma feliz e que os problemas sejam resolvidos preferencialmente por elas mesmas e que da resolução destes, resultem aprendizado e experiência de vida. Para tanto, um importante aliado, há séculos utilizado, é o conto de fadas.

Ao ouvir os contos de fadas, a criança vai se identificando com as personagens, vendo o papel da mãe, (e a falta dela como pode ser ruim), vê o papel protetor do pai, aprende a ser cauteloso com estranhos, vê de forma mágica e às vezes até traumáticas como pode ser a vida humana, e este direito não deve ser tirado da criança, como fazem muitos pais que, ao contarem histórias para seus filhos, pulam, cortam ou modificam "certas partes" para não assustar ou traumatizar a criança.

Sobre isto Fanny Abramovich,em seu livro: Literatura Infantil. Gostosuras e bobices, comenta o seguinte:

"Se o adulto não tiver condições emocionais para contar a história inteira, com todos os seus elementos, suas facetas de crueldade, de angústia (que fazem parte da vida, senão não fariam parte do repertório popular...), então é melhor dar outro livro para a criança ler... Ou esperar o momento em que ela queira ou necessite dele e que o adulto esteja preparado para contá-lo... De qualquer maneira, ou se respeita a integridade, a inteireza, a totalidade da narrativa, ou se muda a história... (e isso vale, aliás, como conduta para qualquer obra literária, produzida em qualquer época, por qualquer autor... Mutilar a obra alheia, acho que é um dos poucos pecados indesculpáveis...)." (ABRAMOVICH, 1990, pg.121)

A criança, embora esteja em formação, tem maturidade para ler ou ouvir os contos de fadas, numa seqüência que se adeqüe a sua faixa etária,mas ela precisa aprender também que um dia terá que sair do ambiente familiar e ir para a escola, "enfrentar" coleguinhas chatos e até malvados,e,paulatinamente, série a série, ano a ano, ir à padaria, ao cursinho, ao mercado, até que tenha autonomia para seguir sua própria vida com segurança.

"Os contos asseguram à criança que, por mais que ela possa ter problemas (notas baixas na escola, ser desajeitado no jogo de futebol, perder um grande amigo, enfrentar o divórcio dos pais, etc.) será capaz de atravessar a "floresta escura" e superá-los, como o herói dos contos. (Silvana Pires Silveira, 2005)*

Bettelheim, um dos estudiosos mais importantes e fecundos da aplicação da psicanálise dos contos de fadas, acrescenta ao fato de não se amenizar os conflitos dos contos, a importância de o adulto não tentar explicá-lo:

"Explicar para uma criança porque um conto de fadas é tão cativante para ela destrói, acima de tudo, o encantamento da história, que depende, em grau considerável, da criança não saber absolutamente porque está maravilhada. E ao lado do confisco desse poder de encantar vai também uma perda do potencial da história em ajudar a criança a lutar por si só e dominar exclusivamente por si só o problema que fez a história significativa para ela. As interpretações adultas, por mais corretas que sejam, roubam da criança a oportunidade de sentir que ela, por sua própria conta, através de repetidas audições e de ruminar acerca da história, enfrentou com êxito uma situação difícil."(BETTELHEIM, 1980, pg.27)

A criança costumada a ouvir ou lercontos de fadas, aos poucos vai percebendo pela sua estrutura, que a solução dos conflitos geralmente é encontrada na história que quase sempre tem um final feliz, mostrando uma perspectiva otimista e altamente formadora da personalidade adulta, mesmo que ela esteja vivendo conflitos semelhantes, (embora os conflitos dos contos são geralmente improváveis no "seu" mundo real), a sua crise de identidade, a difícil relação com os irmãos ou colegas e até com o próprio fato de ser criança, vão tomando forma de caminhos menos dolorosos ao ver como os anões ajudaram a Branca de Neve, como o Príncipe conseguiu chegar ao castelo e despertar A bela adormecida, ou ainda como os caçadores livraram Chapeuzinho Vermelho e a sua vovozinha das garras do Lobo mau. Estes caminhos possíveis e até encantados mostrados no conto de fadas, indicam para a criança uma forma de conviver de forma satisfatória e de igual para igual com as pessoas ao redor e com os pequenos problemas infantis.

Evidentemente, para se chegar ao final feliz, as lutas têm que acontecer na trama do conto de fadas, pois elesestão repletos de desafios como a luta do bem contra mal, e os interesses mesquinhos contra a pureza de sentimentos. Neste momento, felizmente,entra o papel do maravilhoso, do encantamento neste tipo de literatura, o elemento mágico, que pode ter a forma de"Fada madrinha", "Príncipe", "Árvore sábia", "Duendes",etc. A criança sabe que é frágil e pequena, fraca, e para enfrentar os adultos precisa que forças maiores a ajudem, nesse momento agem os pais, o irmão mais velho, a professora, seu anjinho de guarda, dentre outros, e à medida que cresce, vai transferindo esta esperança a outros elementos talvez menos mágicos porém, necessários para a sua segurança." A criança cresce, e como Peter Pan, (que queria ser eternamente criança) sabe que é necessário continuar acreditando na existência das fadas e não permitir que elas morram (Fanny Abramovich 1990,pg.129).

Daí também vermos dentre as crianças que acham necessário acreditar em Papai Noel, no Gênio da Lâmpada, no Super-Homem, adultos que crêem que houve um presidente que resolveria nossos problemas socio-econômicos,que a pessoa amada irá nos fazer feliz para sempre, ... A nossa criança interior cresce mas a necessidade de resolver conflitos continua. A definição do caráter adulto, maduro, conseqüente e sensato, é apenas uma forma disfarçada das dificuldades de ser criança que se transferem ao adulto, pois o erro, o medo, o anormal, a verdade infantil, para que este adulto seja respeitado e aceito no seu meio social, precisam ser deixados em um baú trancados a 70 chaves com uma placa de metal dizendo:

"AQUI JAZ ETERNAMENTE A MINHA INFÂNCIA COM TODAS AS SUAS FRAQUEZAS. É TERMINANTEMENTE PROIBIDO A QUALQUER PESSOA ABRIR ESTE BAÚ E REVELÁ-LAS".

No entanto, o adulto, não é o Peter Pan, ele cresceu e já que assim o fez, assume o seu papel negando-se mesmo na intimidade e no seu inconscienteque possa ter atitudes infantis. Só que nenhum adulto consegue sê-lo em todos os momentos, felizmente, ainda vemos beleza no vôo das borboletas, catamos conchinhas na praia, lambemos tampa de iogurte, rimos dos Trapalhões, adoramos estourar bexigas, desenhamos enquanto assistimos aulas, comemos algodão doce, vamos na roda gigante "só para acompanhar a criança", adoramos pipoca, rimos de Shrek e Fiona, choramos com o Stuart Little, rimos do Chaves, cantamos Sabão Crá, Crá dos Mamonas assassinas, fazemos bigodes em panfletos de deputados, assaltamos a geladeira,bebemos o refrigerante antes de começar o almoço, pulamos e gritamos quando nosso time ganha, acreditamos que encontramos o par ideal, falamos com "Papai do Céu" para proteger nossa família, pedimos benção aosmais velhos, brincamos de basquete como a bolinha de papel, etc, etc, etc.

E quem ainda tiver uma criança palpitando dentro de si, acrescente mais coisas gostosas de se fazer que a idade não apaga, apenas adormece para que o "mundo adulto" nos aceite e não nos recrimine.

BIBLIOGRAFIA

 

 

 

AMARILHA, Marly. Estão mortas as fadas? Literatura Infantil e práticas pedagógicas. Rio de Janeiro, Vozes, 1997.

AGUIAR, Vera Teixeira em posfácio da Coleção Era uma Vez (Contos de Grimm), edição para crianças com bibliografia de apoio para professores. Porto Alegre, Kuarup.

ANDERSEN,Hans Christian, Contos para crianças, Dinamarca, 1835.

 

BETTELHEIM, Bruno, A psicanálise dos contos de fadas. 14 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

FANNY, Abramovich. Literatura Infantil: Gostosuras e bobices. São Paulo. Scipione. 1990