OS BENEFÍCIOS DA PSICOMOTRICIDADE NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por Margarida Maria Silva Pedroso | 23/10/2017 | EducaçãoPEDROSO, MARGARIDA MARIA SILVA
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo principal mostrar os benefícios da psicomotricidade como facilitadora no processo de ensino e aprendizagem em crianças na educação infantil, visto que ela existe nos menores gestos e em todas as atividades de motricidade do ser humano. Desde o ventre materno a criança já se movimenta, a partir do seu nascimento o movimento torna-se constante em sua vida. Sem dúvida, a psicomotricidade é um fator essencial e indispensável ao desenvolvimento global e uniforme da criança. O desenvolvimento evolui do geral para o específico; quando uma criança apresenta dificuldades de aprendizagem, o fundo do problema, em grande parte, está no nível das bases do desenvolvimento psicomotor. A estrutura da Educação Psicomotora é a base fundamental para o processo intelectivo e de aprendizagem da criança.
Palavras-chave: psicomotricidade, benefícios, educação infantil.
INTRODUÇÃO
As crianças estão sempre em movimento, se deslocando entre uma ação e outra, em função de sua curiosidade para com o mundo ao seu redor. Para satisfazer a sua curiosidade a criança deve estar em pleno desenvolvimento motor e cognitivo. Esses dois aspectos, sempre estão ligados, porque não podemos separar o corpo da mente, como o próprio significado da palavra psicomotricidade nos remete: PSICO: intelectual (cognitivo), emocional (querer), mental (intenção) e MOTRICIDADE: movimento e gesto.
A Escola pode aproveitar esse movimento ou, então, pode inibi-lo de tal modo que desencoraje a criança em sua pesquisa de conhecer esse mundo novo para ela. A atitude da Escola diante esta espontaneidade do movimento e descoberta poderá senão determinar, pelo menos influenciar fortemente o rumo do processo de aprendizagem da criança. A Escola que trabalha com atenção especial para o desenvolvimento psicomotor tende a contribuir para o seu aprendizado.Sem duvida a educação psicomotora visa desenvolver uma postura correta nas crianças frente à aprendizagem, pois irá promover o amadurecimento necessário em cada etapa do seu crescimento e desenvolvimento, esta educação ajuda a criança a adquirir o estágio de perfeição motora até o final da infância. Para que o objetivo da educação psicomotora seja alcançado às seguintes atividades devem ser trabalhadas segundo
Costallat, 1987:
1. Atividade Tônica: Tonicidade; Equilíbrio.
2. Atividade Psicofuncional: Lateralidade; Noção do corpo; Estruturação espaço corporal.
3. Atividade de Relação: Memória corporal.
Portanto, para a psicomotricidade o importante é o indivíduo como um todo, procurando auxiliar se um problema está no corpo ou na mente, então, definir quais atividades devem ser desenvolvidas para superar tal problema.
ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA UMA BOA APRENDIZAGEM
O desenvolvimento é crescente nos aspectos físicos, intelectuais e afetivos e todos eles dependem de influencias comuns. As fases de desenvolvimento são comuns em todas as crianças, mais o meio onde ela é criada vai determinar o seu comportamento. Por isso, vemos crianças da mesma faixa etária com comportamentos bem diferentes, o que vem provar que cada uma é diferente da outra e deve ser respeitada.
Para que haja uma ligação entre professor-aluno-aprendizagem, o trabalho da psicomotricidade é da mais valiosa função principalmente a partir da Educação Infantil por haver uma estreita relação entre o desenvolvimento das funções psíquicas, físicas e socioculturais. O trabalho psicomotor se iniciado desde cedo apresenta resultados surpreendentes.
Iremos citar as 53 capacidades básicas do desenvolvimento humano de acordo com a obra de Valett (1987); são elas:
1. Rolar;
2. Sentar;
3. Engatinhar;
4. Andar;
5. Correr;
6. Arremessar;
7. Pular;
8. Saltitar;
9. Dançar;
10. Auto identificação;
11. Localização do corpo;
12. Abstração do corpo;
13. Força muscular;
14. Saúde física geral;
15. Equilíbrio e ritmo;
16. Organização do corpo no espaço;
17. Habilidades para reações rápidas e destrezas;
18. Discriminação tátil;
19. Sentido de direção;
20. Lateralidade;
21. Orientação no tempo;
22. Acuidade auditiva;
23. Decodificação auditiva;
24. Associação áudio verbal;
25. Memória auditiva;
26. Seqüência auditiva;
27. Acuidade visual;
28. Coordenação e acompanhamento visuais;
29. Discriminação visual de formas;
30. Diferenciação visual figura fundo;
31. Memória visual;
32. Memória visomotora;
33. Coordenação muscular visomotora fina;
34. Manipulação visomotora de forma-espaço;
35. Velocidade da aprendizagem visomotora;
36. Integração visomotora;
37. Vocabulário;
38. Fluência e codificação;
39. Articulação;
40. Habilidade para lidar com palavras;
41. Compreensão de leitura;
42. Escrita;
43. Soletração;
44. Conceitos de números;
45. Processos aritméticos;
46. Raciocínio aritmético;
47. Informação geral;
48. Classificação;
49. Compreensão;
50. Aceitação social;
51. Resposta antecipatória;
52. Julgamento de valor;
53. Maturidade social.
A criança deverá ser estimulada a desenvolver todas essas capacidades, um problema em alguns destes elementos irá prejudicar uma boa aprendizagem, por exemplo, a criança com dificuldade em sua imagem corporal não percebe a posição dos seus membros e, como conseqüência, seu desenho da figura humana é empobrecida, mostra dificuldade em se locomover em espaço pré-determinado, em situar-se em relação ao tempo. Confunde-se em relação às coordenadas espaciais, resultando em uma linguagem comprometida.
Problemas na orientação espacial e na lateralidade terão como conseqüências:
- Dificuldade no reconhecimento direita / esquerda;
- Incapacidade de se orientar no ambiente;
- Dificuldades na aquisição da direção gráfica;
- Escritas de números em espelho;
- Dificuldades na discriminação visual;
- Erros na disposição dos cálculos;
- Na percepção da ordem das palavras.
Nesse sentido, a prática psicomotora deve ser trabalhada diariamente na Educação Infantil como forma de auxilio fundamental aos professores e alunos, visando à prevenção de possíveis dificuldades escolares.
Segundo Piaget, a criança se descobre e se relaciona com o meio, através de atividades corporais oferecidas desde os seus primeiros anos de vida, sendo de extrema importância para o seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e social. Segundo ele, a criança já possui a presença do movimento em sua vida intra-uterina, logo, o caminhar, a fala e o movimento são também pertinentes ao trato social (GALLAHUE e OZMUN, 2005). Através das brincadeiras este trato social é iniciado, por meio delas é que as crianças tomam consciência de seus corpos e de suas capacidades. Segundo Faria Junior (1999), a brincadeira pode constituir-se em um meio para se chegar ao coletivo geral da humanidade, pois nela a criança lida com questões importantes como, por exemplo, a fantasia, o medo e a imaginação, e nas brincadeiras, a criança experimenta a problemática e vivencia as relações sociais presentes na classe social a que pertence. Desenvolvendo, assim, pouco a pouco, a confiança em si mesma e o melhor conhecimento de suas possibilidades e limites, condições necessárias para uma boa relação com o mundo. É interessante levar a criança a expor fatos vivenciados, com a finalidade de estabelecer uma ligação entre o imaginário e o real.
Na escola, é importante que se leve em consideração os aspectos:
1. Socio-afetivo: Favorecer sua auto-imagem positiva, valorizando suas possibilidades de ação e crescimento à medida que desenvolve seu processo de socialização e interage com o grupo independente de classe social, sexo ou etnia;
2. Cognitivo: Acreditar que, através das descobertas e resoluções de situações, ele constrói as noções e conceitos. Enfrentando desafios e trocando experiências com os colegas e adultos, ele desenvolve seu pensamento;
3. Psicomotor: Através da expansão de seus movimentos e exploração do corpo e do meio a sua volta;
Levando todos esses aspectos em consideração, o professor não deverá esquecer que o material mais importante de seu trabalho é o seu aluno. Portanto, o mais importante do que preparar seu ambiente de trabalho com cartazes, faixas e painéis é que ele conheça o seu aluno e torne-se seu amigo e companheiro.
Aprender a ler e a escrever é como aprender um jogo: é preciso conhecer as combinações, as regras, ter vontade de aprender e treinar bastante. Aprendendo o jogo da escrita é possível conhecer e escrever histórias, poesias, lendas, cartas, bilhetes, enfim, conhecer o mundo.
Segundo Lapierre e Aucouturier (2004), para aprender a criança necessita de:
- Uma organização de si, do espaço e do tempo que lhe permita aprender;
- Uma organização mental que lhe permita compreender;
- Uma organização psico-afetiva que lhe permita desejar apreender;
Por isso, que a criança deve brincar na Educação Infantil, pois como já vimos, ela se descobre e descobre o mundo através de brincadeiras, sendo indispensável uma brincadeira dirigida, sob o olhar do educador, não um brincar por brincar. O ideal seria que cada dia fosse observado um aspecto da psicomotricidade.
As atividades lúdicas passam a ter mais funções, deixando de ser somente recreativa, desempenhado um papel de equilíbrio entre e o corpo e a mente. Os pensamentos, os sentidos e desejos passam a comandar e a direcionar seus corpos de forma mais harmônica e equilibrada. As atividades lúdicas se bem dirigidas abrem um espaço para desenvolver:
• Habilidades motoras além das dimensões cinéticas, que levem a criança a aprender a conhecer seu próprio corpo e a se movimentar expressivamente;
• Um saber corporal que deve incluir as dimensões do movimento, desde funções que indiquem estados afetivos até representações de movimentos mais elaborados de sentidos e idéias;
• Oferecer um caminho para trocas afetivas;
• Facilitar a comunicação e a expressão das idéias;
• Possibilitar a exploração do mundo físico e o conhecimento do espaço;
• Apropriação da imagem corporal;
• Percepções rítmicas, estimulando reações novas, através de jogos corporais e danças;
• Habilidades motoras finas no desenho, na pintura, na modelagem, na escultura, no recorte e na colagem, e nas atividades de escrita.
Os materiais que colaboram para as experiências motoras podem incluir:
• Túneis para as crianças percorrerem;
• Caixas de madeira;
• Móbiles;
• Materiais que rolem e onde as crianças possam entrar;
• Instrumentos musicais ou geradores de som (bandinhas de diversos objetos etc.);
• Cordas;
• Bancos, sacos de diversos tamanhos, pneus, tijolos;
• Espelhos, bastões, varinhas;
• Papéis de todos os formatos;
• Giz, lápis, canetas hidrográficas (de diversos tamanhos);
• Elásticos e outros.
Enfim, estimular atividades corporais, para além da sala de aula, propiciando experiências que favorecerão a motricidade fina, auxiliar os alunos de ritmo normal e os de aprendizagem lenta a vencer os seus medos e desafios.
CONCLUSÃO
A psicomotricidade tem como objetivo principal trabalhar o ser humano como um todo, não separando o corpo da mente, pois como falamos, quando não trabalhado qualquer um dos aspectos citados a criança apresentará grandes dificuldades de aprendizagem, como por exemplo, se não tiver a lateralidade bem desenvolvida não conseguira ler e escrever, visto que a alfabetização realiza-se da esquerda para direita, ou até mesmo de efetuar um cálculo em matemática.
Podemos constatar que na infância a criança e o brinquedo são temas importantes para as nossas reflexões, pois ela ingressa na Educação Infantil, cresce e vai embora, sua infância é passageira.
Se não garantirmos a qualidade da educação no seu curto espaço de tempo deixaremos de cumprir o nosso papel ético, social e educativo.
Transformando a Escola num lugar de reflexão e troca, o aprendizado acontece de maneira gratificante e os alunos se sentem motivados a querer a aprender. O educador de levar o educando a ter um olhar critico sobre as informações que lhe são oferecidas, tendo o direito de pensar, questionar e se expressar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
COSTALLAT, Dalila, M. Psicomotricidade: tradução Maria Aparecida Pabst.. 7 ed. Porto Alegre. Globo. 1987.
FARIA JUNIOR, A. G. Uma introdução a educação física. Niteroi: Corpus, 1999.
GALLAHUE, D; OZMUN, J. Compreendendo o desenvolvimento motor de bebes, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo:Phorte, 2005.
LAPIERRE, André. AUCOUTURIER, Bernard. A simbologia do movimento: psicomotricidade e educação. 3 ed. Curitiba. Filosofart e Ciar, 2004.
PIAGET, J. Seis estudos da psicologia. 24 ed. Rio de Janeiro. Forense Universitária, 2001.
VALETT, R. Tratamento de Distúrbios de Aprendizagem. São Paulo: EDUSP, 1987.