Os assentos de cor cinza

Por Fernanda Serpa | 19/03/2010 | Sociedade

Aos idosos, deficientes, grávidas e pessoas com crianças de colo o Metrô oferece o banco cinza de uso preferencial. E agora, o primeiro vagão também está disponível preferencialmente a este público em horários de mais movimento. 

Eu repudio a necessidade de haver assentos ou horários especiais para este tipo de público. 

Acredito que a cidadania, o respeito e a educação dos civis seria suficiente para que um jovem, por exemplo, se levantasse para dar lugar a uma pessoa mais velha sem precisar de artifícios que colorem ou diferenciam assentos. Mas sabemos que a multidão que se aglomera nos transportes públicos se transforma em uma massa violenta, asqueirosa e desumana, que empurra, invade, exaspera e ignora tudo que não seja o próprio ego. 

Já vi cenas desgostosamente hipócritas, como a de um cidadão sentado confortavelmente em um banco marrom a olhar feio para o rapaz à sua frente, que está no banco cinza, por não dar lugar à grávida. Ora! Se está errado o rapaz por não ceder o assento preferencial por lei, não estaria moralmente errado o cidadão que permaneceu sentado no banco comum? 

Absurdos que se ouve, como "nem vou me sentar no banco cinza para não ter de levantar se entrar um velho", são descabidos. Pessoas que agem de forma educada em suas casas, no ambiente de trabalho, praticantes da etiqueta da boa convivência parecem esquecer dos seus valores pessoais quando se fundem àquela massa repulsiva dos usuários de transporte público. 

Por perceber um tipo de perfil comportamental da massa, talvez o Brasil gaste muito mais que deveria em leis para driblar a falta de educação dos cidadãos: Não jogue lixo na rua, não beba quando for digirir. Penso que se respeitássemos a ética e a cidadania não haveria necessidade de tão altas sanções para leis como estas. 

E se você acordasse em uma manhã para ir trabalhar, entrasse no metrô e percebesse que todos os bancos estão cinzas? Você se comportaria da mesma forma que se comporta hoje?