Os Aspectos Emocionais Versus Aspectos Profissionais Na Empresa Familiar

Por Sandra Regina da Luz Inácio | 14/11/2008 | Adm

Considerado por muitos estudiosos como o pilar da economia brasileira, o modelo familiar de gestão empresarial transfere para a fria e objetiva esfera profissional as intensas relações entre membros de uma família. Essa controversa mistura de aspectos emocionais com questões unicamente profissionais vem despertando o interesse acadêmico mundial sobre a empresa familiar nas últimas décadas.

 

Somente nos Estados Unidos existiam no começo do século XXI 40 institutos de pesquisa ligados a grandes universidades estudando as empresas familiares e suas características.

 

No Brasil, o peso da empresa familiar é muito alto. Ao contrário do que aponta a tendência norte-americana de pulverização do controle das empresas, que ocorre em função da necessidade crescente de capital de terceiros para financiar o crescimento, o perfil industrial brasileiro ainda se apresenta concentrado nas mãos de poucos indivíduos, principalmente de grupos familiares.

 

Grupo Votorantim, Pão de Açúcar (cuja administração já foi profissionalizada), Coteminas, Casas Bahia e Organizações Globo são alguns exemplos de grandes grupos familiares no Brasil. Das quase oito milhões de empresas em atuação, 90% são familiares; e das 264 empresas listadas na publicação Melhores e Maiores, da Exame, 142 são familiares.

 

Dos 300 maiores grupos privados nacionais, 287 são controlados por uma ou mais famílias. Cento e trinta estão localizadas no estado de São Paulo, são responsáveis por aproximadamente dois milhões de empregos diretos e possuem, no conjunto, um patrimônio líquido da ordem de 40 bilhões de dólares.

 

A linha de pesquisa mais popular na literatura sobre empresa familiar é a que aborda o processo sucessório. Tanto material acadêmico tem uma explicação: as estatísticas são muito pessimistas no que diz respeito à sobrevivência dessas empresas após a morte da primeira geração de empreendedores. Sabe-se que apenas 24% das empresas familiares no Reino Unido sobrevivem como tais até a segunda geração, e somente 14% conseguem ir além da terceira.

 

Nos Estados Unidos, estimativas indicam que 70% delas são liquidadas ou vendidas após a morte de seus fundadores. No Brasil, pesquisas realizadas em 2002 indicavam que, de cada cem fortunas de famílias brasileiras, apenas dezoito foram herdadas.

 

Dentre os estudos sobre sucessões familiares poucos se concentram num novo e importante dado: o aumento das mulheres sucessoras. Além da pouca quantidade de estudos sobre este assunto, as pesquisas existentes assumem premissas preconceituosas e estereotipadas do papel da mulher na empresa familiar, vista muitas vezes apenas como a esposa ciumenta, a vice-presidente de recursos humanos ou a simples mantenedora dos valores da família no negócio.