Os Aneis e os Dedos

Por Lazaro Jose de Oliveira | 30/10/2013 | Religião

OS ANEIS E OS DEDOS

A humanidade que significa irmandade vive em um mundo dominado pela violência, pela disputa, onde sempre prevaleceu a lei do mais forte e nada tem de irmandade, de convívio de irmãos. Tudo começou com a disputa pela alimentação, onde os mais fortes se alimentavam fartamente e os mais fracos se alimentavam das sobras; neste mundo de dominados pela ferocidade, pela lei do mais forte, a irmandade, a fraternidade, dificilmente, prevalecia. O resultado foi o surgimento da lei da seleção natural que privilegiava os mais fortes em todos os sentidos. A distribuição igualitária dos alimentos, o senso de fraternidade dificilmente acontecia. E assim o mundo foi se desenvolvendo, criando riquezas e disciplinando as normas de convivência entre todos. Mas essa convivência nunca foi humanitária, ampla e irrestrita, porém, disciplinada obedecendo à lei do mais forte. Só que o mais forte agora não é somente o musculoso, mas, também, o mais forte em riqueza e em bens materiais. Assim a terra, que não pertencia a ninguém em particular, mas que era um bem para uso comum de todos, passou, pelo domínio, a ser um bem dos mais fortes. Logo surgiram as divisões, os domínios particulares e daí surgiram às cidades, os estados e os países. Para manter os domínios, os estados e os países foram necessários a criação de uma força organizada a que deram o nome de força militar. Mais tarde, obedecendo à lei do mais forte, foi criado e regulamentado o direito de propriedade. O direito de propriedade é um direito que visa abranger a todos; mas ele foi criado para proteger apenas o direito do mais forte, que tinha muito a perder, e de sobra, o direito dos mais fracos, que era insignificante em relação ao todo.

Assim a proteção do mais fraco tem como finalidade principal proteger o mais forte. Aquele que pouco tem, protegendo o que muito tem. O segredo é usar a lei e a força pública para proteger aqueles que muito têm e de quebra proteger as migalhas de quem quase nada tem. Não estamos condenando esta lei que é de muita utilidade, mas temos certeza que ela só subsiste porque garante o direito do domínio do mais forte. Pois neste mundo o mais fraco nunca tem vez.

O mundo evoluiu muito nos últimos tempos e a informação atinge a todos em todos os cantos do mundo. Informação é poder e o poder da informação atinge a todas as classes sociais. Hoje o mais fraco se fortalece pelo poder da mobilização e da ação conjunta dos excluídos. Os fracos em todos os sentidos sempre foram excluídos, sempre ficaram apenas com as sobras, mas devido à informação que motiva e mobilizam todas as classes marginalizadas, o poder dessa mobilização tem conquistado espaços políticos antes inimagináveis; mas não há a menor dúvida que essas conquistas prosseguem até atingir um patamar igualitário.

No mundo ocidental o maior aliado da classe dominante sempre foi o cristianismo. Foi ele que freou a ambição dos excluídos e marginalizou pela imposição do medo. O medo da ação da policia apoiada pelas leis nunca foi empecilho para alguns dos excluídos, mas o medo do castigo eterno imposto por um ser onipresente e onisciente este sempre foi temido por alguns. Porém, podemos constatar que a religiosidade do povo esta em declínio e o medo do castigo de deus já não causa tanto efeito na disposição do povo em lutar por seus direitos. Cada dia que passa, novas descobertas científicas surgem para desmoralizar a doutrina religiosa que sempre teve por objetivo dominar o povo pelo medo. Hoje o freio da religião não é mais empecilho para a ação dos vândalos e a segurança dos mais fortes está em perigo. Num mundo com tantos excluídos da sorte, com tantos marginalizados dispostos a conquistar sua parte nas riquezas, quem tem riqueza não tem mais lugar para gozá-la em segurança. Está provado que a policia não protege mais ninguém e que o medo pregado pela religião não causa mais nenhum efeito na mente da maioria dos destemidos vândalos. Constatamos, para desespero de muitos que o estado policial que tinha como objetivo proteger os fortes, já não funciona mais. E neste momento de desespero, diante de um perigo iminente o mais sensato para a elite dominante é <ceder os anéis para não perder os dedos>.

É o efeito da tecnologia em ação.