Os 3 D's da educação: Diferenças, Desigualdade e Descriminação
Por Francine Loos Ramos | 21/05/2013 | EducaçãoOS TRÊS “Ds” DA EDUCAÇÂO: DIFERENÇAS, DESIGUALDADE E DISCRIMINAÇÃO.
Francine Loos
Vanessa da Silveira
RESUMO
Este artigo (texto) fala do preconceito existente nas escolas onde há crianças que possuem dificuldades de aprendizagem. Relata sobre a pesquisa realizada com 75 crianças de escolas Municipais , que continuam sendo institucionalizadas , tornadas incapazes de aprender, internalizando uma doença que não existe mas lhes foi imputada.
Analisa o olhar dos professores e o olhar clínico voltado às crianças que só não aprendem
na escola.
Esta leitura pretende apontar a necessidade e possibilidade de se enxergar a criança como ela realmente é , sem transformá- la.
Palavras – Chave: Aprender , Escola , Crianças , Professor , Alfabetização, Rotulação.
INTRODUÇÃO
Diferença , desigualdade e discriminação são considerados um preconceito. Este existe, inclusive no meio da educação , causando graves problemas e grandes traumas em crianças de idade escolar. Esse preconceito vem acompanhando os professores de alfabetização.
As dificuldades de aprender a ler e a escrever , ocorrem com muitas crianças.
Foi realizada uma pesquisa em escolas Municipais com 75 crianças que possuem esta dificuldade de aprendizagem, para saber como se sentem diante desta situação. Também foram entrevistadas diretoras e 40 professores da 1ªsérie do ensino fundamental.
Os professores apresentaram um diagnóstico das crianças desde o início do ano , onde afirmaram saber quem iria aprender até o fim do ano e quem não teria condições.
Mas , porque não aprenderão até o fim do ano? De quem seria a culpa? Será do professor, da família ou da própria criança?
Algumas vezes até se pensa : “ A criança não aprende porque não quer”. Se os pais não completaram a sua escolarização e o irmão possui problemas na
escola , não quer dizer que ele vai ser igual.
PROBLEMA X APRENDIZAGEM
Na pesquisa foi apontado pelos professores que a causa do problema está fora da instituição, isso quer dizer , está na família , problemas biológicos , doença neurológica, disfunção cerebral mínima , distúrbios de aprendizagem , incoordenação motora , deficiência mental , imaturidade, emocional, motivação , prontidão , crianças que ficam sozinhas em casa, entre outros motivos. Será que são reais as causas apontadas? Serão mesmo estes os causadores do não – aprender?
Muitos dos casos pode sim Ter relação com estes citados acima , mas não se dispensa o fato de que a relação entre o professor e a criança pode melhorar a aprendizagem e isto inclui também acreditar que todos eles são capazes.
Segundo Madalena Freire , do Espaço Pedagógico , um centro de formação de educadores de São Paulo “ Tudo o que o professor vive em sala está sendo decifrado , inclusive a linguagem não – verbal ” (Nova Escola , nov. 2003.p.17)
Algumas vezes a motivação que se diz faltar em casa , se tiver na escola pode até superar.
Na pesquisa realizada pela autora pode – se perceber que de acordo com os pais , as crianças intrevistadas são crianças que ajudam em casa , vão ao mercado ( e nem precisam de listas ) , brincam , são alegres , possuem sonhos , talvez não aprendem por problemas de miopia, trauma das próprias professoras , disritmia.
Nas falas apresentadas pelas professoras a diferença , a desigualdade e a discriminação são fatores bem evidentes: “Não aprende porque é muito distraído” , “Foi uma criança mau nutrida , nunca vai aprender nada” , “E desinteressado , apático , concentração mínima , acho que tem problema neurológico , só tem um assunto: cavalo”. Na opinião dos profissionais , dentre os problemas citados , merece destaque a desnutrição , sendo esse também um dos principais responsáveis pelo fracasso escolar.
A criança que já teve desnutrição grave , no início da vida , raramente chega à escola, pois a maioria morre no primeiro ano de vida. A desnutrição grave pode interferir com as funções cognitivas mais complexas que o homem pode desenvolver , que não são necessárias para o processo de alfabetização e nem se quer estão presentes aos sete anos de idade.
Em relação ao fracasso escolar , podemos citar outras causas como:
Mau rendimento e entrada para o mercado de trabalho em idade escolar. “Durante um século a infância continuaria muito curta para as crianças dessas classes , que seriam empregadas nas fábricas e tecelagens já a partir dos cinco ou até menos , cumprindo turnos de doze a dezesseis horas e se submetendo a períodos de trabalho noturno , o que sem dúvida deixava poucas possibilidades para a freqüência à escola”( Lima , 1985,p.36).
Nesta pesquisa foi possível perceber que o Brasil não possui bom desempenho escolar, que a preocupação com a quantidade é maior do que a qualidade. No entanto as escolas lutavam pela freqüência às aulas , principalmente das crianças das classes populares. Assim a criança não irá obter o aproveitamento suficiente para sua formação.
A qualidade que muitas vezes falta é uma boa proposta pedagógica , pessoas preocupadas com o rendimento dos alunos , professores preparados para lidar com as situações que lhe forem atribuídas. Outro aspecto que falta nas escolas brasileiras também é a qualidade da atenção à da saúde. Tendo este acompanhamento , os professores podem junto a neurologistas , psicólogos, fonoaudiólogos , estudar a causa do não aprendizado dos alunos “Pois é de suma importância a visão de um olhar médico , onde é definido pelo cruzamento constante de séries de informações estranhas entre si , não pelo encontro entre o médico e o doente” (Moysés , 2001 , p.150).
O fato de apenas olhar para a criança e para a vida dela fora da escola , familiares e outros, não vai ser o suficiente para revelar seus problemas. “O olhar que realmente pode avaliar e definir o que a criança tem é o olhar clínico , pois esse sim é uma olhar que sabe e portanto pode reger ” (Moysés , 2001 , p.158).
Podemos perceber que isto não passa de um preconceito/ rotulação , quando refletimos sobre a vida de Einstein . “Sofreu por um preconceito em sua escola , por seus professores e pelo diretor da mesma que certo dia reuniu Einstein e seu professor de grego , afirmando que seu desinteresse pelo grego era uma grande falta de respeito pelo professor da disciplina e que sua presença na sala era péssimo exemplo para os outros alunos. Encerrando a reunião o professor disse que Einstein jamais chegaria a servir para alguma coisa” (Folsing, s.d. , p. 28).
Se analisarmos hoje , será que Einstein não chegou a servir para alguma coisa?
Enquanto nos preocupamos com tantos problemas que ocorrem, causando a não aprendizagem, esquecemos das crianças e de como se sentem quando rotuladas.
No decorrer da pesquisa com as 75 crianças, 3 delas apresentaram-se doentes, logo, as 71 normais, mas, culpadas por não aprenderem acabaram internalizando a institucionalização invisível, que os prendem a culpa de não aprenderem na escola, quando sabemos que nesse processo à outros culpados.
As crianças normais acabam se tornando doentes, sentindo-se incapazes e bloqueiam-se. Só mostram-se capazes quando confiam, “ na escola não, lá não podem saber nada, por isso não mostram; pois não foi lá que lhes disseram que não sabem?” (p.48).
Durante a consulta, relata-se que as crianças, em uma situação diferente, mais distantes dos conflitos habituais da escola, conseguiram ler e escrever. Alguns já sabiam que sabiam, outros descobriram nesta hora, em uma quase brincadeira e se assustaram, choraram ao descobrir que sabiam.
O problema de não aprender na escola transparece em algumas crianças como um peso, refletido em sua postura física, “ Institucionalizadas em uma instituição imaginária”. (p.49)
Devemos encontrar outras formas de olhar o mundo e as pessoas que tem direito a serem respeitadas.
O olhar que realmente pode avaliar e definir o que a criança tem é o “olhar clínico”, pois esse sim é um olhar que sabe e portanto pode reger.
CONSIDERAÇÕES:
Percebemos que o problema da falta de aprendizagem é escassa e vem ocorrendo a muito tempo, e ainda não chegou ao fim.
O que a sociedade poderá fazer é amenizar a situação e modificar essa realidade.
Assim, também professores precisam adquirir um modo adequado de lidar com as diversas situações que encontrarem no decorrer do processo de ensino – aprendizagem.
Como a Doutora e autora oportunizou as crianças à falaram sobre seus desejos, sonhos, tristezas e mágoas, o mesmo deveria fazer os professores, assim conseguiriam uma melhor interação com seus alunos, deixando-o mais confiante.
REFERÊNCIAS:
MOYSÉS, Maria Aparecida Affonso. A institucionalização invisível: Crianças que não aprendem na escola. 2001.
PATTO, Maria Helena Souza. Introdução à psicologia escolar. 3.ed.São Paulo: Casa do Psicólogo,1997.
ARAUJO, Geisybell da Silva Cedraz. Ensinar bem é.... Nova Escola, São Paulo, n.167, p.17, nov.2003.
AUTOR. Titulo. Disponível em: http://www.if.ufrgs.br/einstein/menino.html Acesso em: 02 nov. 2003.