Orgulho

Por Viviane de Sousa Furtado | 11/05/2011 | Contos

Eu estou muito infeliz essa semana. Infeliz e magoada. Pra dizer o mínimo.
Minha companheira e eu brigamos esse final de semana. Começou por um motivo trivial. Acabou com ela pensando se terminaria ou não comigo, se enfiaria ou não a mão na minha cara, e afirmando que não, nós não somos casadas, apesar de morarmos juntas a cinco anos, nós só temos uma relação. Mais nada. Isso não é uma família. E ela disse que nunca teria coragem de casar comigo de verdade. Sabe? Festa de casamento, com bolo, vestido e toda a família reunida. Pois é. Ela também concordou que se um dia tiver filhos os filhos serão dela. Só dela.
Eu me iludi e isso dói demais. Pensei que tinha uma família e na verdade eu não tenho nada. Eu não tenho ninguém.
Ela tem vergonha de mim. Não de andar comigo de mãos dadas. Só de me apresentar pra família dela, ou que eles descubram...
Ela vive dizendo que eu imagino coisas. Que ela não está distante. Que eu não estou sozinha. Ai me vem com essa agora. Como eu não vou me sentir sozinha do lado de uma pessoa que tem vergonha de mim...
Essas coisas ninguém precisa falar. A gente sente. Acaba sentindo mesmo.
Ela disse que se esforça ao máximo para me agradar, mas que isso esgota todas as forças dela...
Eu não quero que ela faça nenhuma força pra me amar. Eu queria que ela simplesmente me amasse. E que as coisas que ela fizesse pra demonstrar esse amor fossem naturais. Uma coisa indolor.
Eu sonhei demais.
Por que afinal alguém me amaria?
Eu não sou bonita, nem legal, nem nada... Eu não sou ninguém...
Eu realmente imaginei um futuro com ela, onde nós tínhamos filhos, e uma casa cercada de amor. Agora eu sei que ela só está comigo enquanto não encontra nada melhor.
Uma vez a muito tempo atrás nós começamos a ficar só por brincadeira, ai a brincadeira ficou seria, pelo menos pra mim, e eu me apaixonei por ela, troquei a segurança do meu mundo por amor a ela. E eu perguntei pra ela se ela ainda estava brincando e ela disse que não, que também tinha se apaixonado por mim.
Acho que ela se enganou. Acho que ela mentiu.
Ela também disse que eu tinha estragado o dia dela. Legal. Ela conseguiu estragar todas as esperanças, planos e sonhos da minha vida. Acho que não é uma troca justa.
Eu pedi ela em casamento um tempo atrás, casamento de verdade, com buque, bolo, festa, e ela aceitou. Dizer agora que ela não tem coragem de ser minha oficialmente é o mesmo que dizer que ela não aceita mais casar comigo.
Não me aceita mais. Mentiu que me amava. Mentiu que queria ser minha. Mentiu que queria se casar comigo. Sabe lá Deus sobre o que mais ela mentiu.
Agora eu não tenho mais nada. Me sinto tão vazia e sozinha que tenho vontade de chorar o tempo inteiro. Ela era tudo que eu tinha. Era por ela que eu construía todos os meus planos, todos os meus sonhos. Agora eu não quero mais nada. Nem trabalhar nem estudar.
Eu quero sair. Viajar. Encontrar alguém que me dê algum carinho e que não tenha vergonha de mim.
No fim é sempre assim. Sou eu implorando por carinho. Querendo fazer de tudo pra agradar alguém que só me maltrata. E implorando pra que alguém tenha orgulho de mim. Orgulho e não vergonha...