OPERADORES ARGUMENTATIVOS E A CONSTRUÇÃO DE TEXTOS DISSERTATIVOS: ANÁLISE DE REDAÇÕES

Por Marques Junior Soares de Sousa | 27/01/2017 | Educação

OPERADORES ARGUMENTATIVOS E A CONSTRUÇÃO DE TEXTOS DISSERTATIVOS: ANÁLISE DE REDAÇÕES SOUSA, Marques Junior Soares de RESUMO No ensino brasileiro tem-se constatado, tradicionalmente, um número significativo de alunos que apresentam dificuldades referentes à produção textual, no que se refere à organização da estrutura argumentativa do texto, apesar da existência de inúmeros recursos linguísticos que integram a Língua Portuguesa e conferem ao texto maior poder de persuasão. O objetivo deste estudo foi investigar como tem se dado a utilização dos operadores argumentativos nas produções textuais de alunos do Ensino Médio, tendo em vista o valor persuasivo que integra esses elementos, cujo uso adequado pode ser determinante na produção de textos dissertativos. Para o embasamento teórico foram utilizados, principalmente, os estudos de Aristóteles (2005), Ducrot (1988), Ghiraldelli (2007), Gill (2008), Koch (2000), Nascimento (2010), dentre outros, que colaboraram para a fundamentação da pesquisa. A pesquisa caracterizou-se como Exploratório-descritiva, com abordagem qualitativa e foi desenvolvida em uma Escola Pública no Município de Itaituba – PA, junto a uma turma de 2º ano do Ensino Médio, onde se propôs a elaboração de textos argumentativos por parte dos alunos. A análise das produções textuais, feita à luz dos operadores argumentativos, constatou que é feita a utilização desses conectivos por parte dos alunos, sendo mais frequentes nesta pesquisa os conectivos visto que, até mesmo, então, e, portanto, apenas, também, porque. Contudo, ficou evidente que existe uma lacuna no que se refere ao conhecimento da capacidade persuasiva que integra esses elementos, tendo em vista a dificuldade dos alunos em utilizá-los de forma seletiva, a fim de enriquecer seus argumentos. Essa constatação impõe ao sistema escolar o desafio de viabilizar aos alunos o conhecimento acerca do uso desses conectivos como elementos imprescindíveis para uma comunicação eficaz. Palavras-chave: Operadores Argumentativos. Produção Textual. Texto Dissertativo. 1 INTRODUÇÃO A produção de textos está presente no cotidiano do educando. Por isso, é extremamente importante que o mesmo saiba utilizar adequadamente os variados recursos disponíveis na Língua Portuguesa, que podem instrumentalizá-lo para interpretar, interagir e atribuir sentido ao texto favorecendo, inclusive, seu posicionamento crítico diante da realidade social. Contudo, a existência de certo distanciamento dos jovens em relação à leitura, além da falta de domínio de habilidades relacionadas às produções argumentativas são fatores que podem dificultar a produção textual, em especial no que se refere à organização da estrutura persuasiva do texto. Vale ressaltar que tanto nas redações escolares quanto nas produções textuais para concursos públicos e no próprio Exame Nacional do Ensino Médio, são exploradas, geralmente, produções textuais de cunho argumentativo, o que exige do aluno conhecimentos acerca da Língua Portuguesa e dos recursos argumentativos que a constituem. Alguns desses recursos são classificados como operadores argumentativos, que consistem em elementos linguísticos utilizados para introduzir vários tipos de argumentos, os quais conferem ao texto maior poder de persuasão e cujo uso adequado auxilia o aluno em suas produções textuais. Considerando a importância desses elementos para o processo de elaboração textual, o presente trabalho objetivou investigar se os operadores argumentativos têm sido utilizados devidamente nas produções textuais dos alunos, além de analisar a frequência com que aparecem e a função que exercem nessas produções. Para tanto, realizou-se a presente pesquisa em uma Escola Pública no Município de Itaituba, Estado do Pará, elegendo-se para tanto, uma turma da 2ª série do ensino médio. Definiu-se como tema: “Operadores argumentativos e a construção de textos dissertativos: análise de redações”. Para a fundamentação teórica da pesquisa foram utilizados, principalmente, os estudos de Aristóteles (2005), Ducrot (1988), Ghiraldelli (2007), Gill (2008), Koch (2000), Nascimento (2010), dentre outros autores citados ao longo do trabalho. O presente trabalho estrutura-se da seguinte maneira: no 1º capítulo é feita a apresentação de seu conteúdo. O 2º capítulo apresenta uma abordagem teórica sobre a retórica e as origens do discurso argumentativo, seguida do enfoque acerca da relevância dos operadores argumentativos para a elaboração uma produção textual, além da exposição dos procedimentos metodológicos da pesquisa e da análise das redações de alunos. O 3º capítulo expõe as considerações finais acerca da temática pesquisada. 2 O ESTUDO DA RETÓRICA E AS ORIGENS DO DISCURSO ARGUMENTATIVO A concepção da retórica como sendo uma ação por meio da qual se estabelece uma tentativa, através do discurso, de conduzir o ouvinte a crer nos juízos defendidos em determinada situação, consiste em um exercício que remonta a antiguidade, dificultando a demarcação exata de sua origem na humanidade. Segundo Vieira (2014), ao longo do tempo, o estudo da retórica delineou-se por meio de uma gama variada de controvérsias e opiniões, protagonizadas desde os antigos gregos até a atualidade. Algumas das definições acerca do significado da “retórica” na área da Filosofia da Ciência foram sistematizadas em uma síntese, elaborada por Gill (1994), com base nos pressupostos dos seguintes autores: [Aristóteles] A habilidade de avaliar, em cada caso particular, os meios particulares de se persuadir alguém de algo. [Bacon] O papel da retórica é aplicar e recomendar os ditados da razão à imaginação com o objetivo de excitar e o apetite e o desejo [do saber] [George Campbell] A retórica [eloqüência] é aquela arte ou talento para o qual o discurso é adaptado para o seu fim. Os possíveis fins, por sua vez, consistem em iluminar o entendimento e ajudar a imaginação, mover paixões e influenciar o desejo. [Richard Whately] A procura de argumentos sustentáveis para provar um ponto de vista, e um arranjo hábil deles pode ser considerado como uma providência própria e imediata da retórica [...] (GILL 1994, apud VIEIRA, 2014). Com o passar do tempo, a arte retórica causou certa discordância entre os cientistas, em virtude da procura pela objetividade que distingue a prática da Ciência. Isto porque o discurso retórico nunca se ajustou a nenhuma dessas condições estabelecidas pela Ciência, sendo defendido por muitos estudiosos que não existe um discurso padronizado na retórica. Em razão disso, Vieira afirma o seguinte: As técnicas utilizadas nos discursos persuasivos dependem de um conjunto de argumentos e estratégias variáveis que devem ser escolhidas caso a caso, dependendo do propósito do orador, do público que pretende atingir e do contexto em que se insere o discurso (VIEIRA, 2014, p. 03). Segundo Vieira (2014), fica evidente em Aristóteles grande preocupação em estabelecer as fronteiras e o alcance da Arte retórica, associando-a a um conhecimento prático, ou técnica, cuja diferença em relação às diversas ciências e artes reside no fato de não se ater em algum elemento em si. Desse modo, a define como “a faculdade de ver teoricamente o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar a persuasão (...) descobrir o que é próprio para persuadir. Por isso (...) ela não aplica suas regras a um gênero próprio e determinado” (ARISTÓTELES, 2005, p. 33). Para esse autor, as figuras de linguagem seriam largamente exploradas pela retórica como elemento fundamental para o convencimento do público, propondo a sistematização de regras do discurso, onde fossem observadas ao mesmo tempo as interações necessárias aos três elementos envolvidos: o orador, o ouvinte e o objeto do discurso, os quais se constituem na essência da prática persuasiva. Ao longo dos anos, arte da persuasão passou por ciclos de afastamento e de renascimento, sofrendo influências do método racional de descoberta da objetividade do mundo, oriundo da epistemologia kantiana. No século XX a filosofia ganhou um novo rumo, denominado de virada linguística (linguistic turn), que segundo Ghiraldelli (2007), caracterizou-se essencialmente pela crítica à teoria do conhecimento tradicional e ao questionamento do sistema de verdades absolutas (GHIRALDELLI, 2007). Vale ressaltar que, o presente trabalho utiliza o conceito de retórica a partir das concepções de Aristóteles (2005), em suas ponderações sistemáticas do discurso persuasivo e que foram perpetuadas por Perelman no Século XX. A Nova retórica de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005) é um resgate evidente da arte retórica de Aristóteles e um rompimento com a imposição da objetividade cientifica. Os referidos autores apresentam a seguinte concepção: A Nova Retórica é, então, o “discurso do método” de uma racionalidade que já não pode evitar os debates e deve, portanto, tratá-los e analisar os argumentos que governam as decisões. Já não se trata de privilegiar a univocidade da linguagem, a unicidade a priori da tese válida, mas sim de aceitar o pluralismo, tanto nos valores morais como nas opiniões. A abertura para o múltiplo e o não-coercitivo torna-se, então, a palavra-mestra da racionalidade. (Meyer In: PERELMAN E OLBRECHTS-TYTECA, 2005, p. 20). Desse modo, Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), autores do Tratado da Argumentação, visando averiguar os argumentos que conduzem as decisões, elaboraram uma descrição dos esquemas argumentativos empregados pelas pessoas com o intuito de ganhar a concordância de outras para suas opiniões. No Tratado, o discurso argumentativo alicerça-se na concordância do auditório sobre certas premissas, que se constituem no alicerce do discurso daquele que argumenta e culminam em conclusões respaldadas por técnicas argumentativas. A transição de foco das verdades absolutas para a lógica informal e o julgamento do papel do raciocínio lógico como fundamento da razão, constituem-se na porta de entrada para a Teoria da Argumentação, cuja característica fundamental consiste na preocupação com o auditório e com a natureza da argumentação perante este, do mesmo modo que a retórica antiga (VIEIRA, 2014). Conforme afirma Ducrot (1988), a presença da argumentação na interação humana é tão marcante que a mesma integra a própria estrutura da língua. Diante disso, pode-se afirmar que os diversos gêneros do discurso são atrelados à argumentação, independentemente do contexto social a que pertençam. 2.1 OPERADORES ARGUMENTATIVOS EM INTERFACE COM MODALIZADORES TEXTUAIS Muitas são as estratégias argumentativas utilizadas para imprimir argumentatividade no discurso. A modalização é uma delas e consiste no modo pelo qual o sujeito revela sua atitude em relação ao ponto de vista que pretende defender, sendo permeada por intenções e argumentatividade. Segundo Nascimento, a modalização se apresenta como uma “[...] teoria que explica como o locutor deixa registrado, no seu discurso, marcas de sua subjetividade através de elementos linguísticos e, portanto, imprime um modo como esse discurso deve ser lido” (NASCIMENTO, 2010, p. 37). Os autores Castilho e Castilho (1993, p. 218), definem modalização como um elemento da linguagem que revela o julgamento do falante sobre determinado conteúdo, afirmando ainda que “[...] os elementos linguísticos que materializam a modalização são denominados de modalizadores”, podendo ser agrupadas em três tipos de modalização: epistêmica, deôntica e afetiva. Desse modo, admite-se que as relações discursivas, ideológicas ou argumentativas são essenciais para que um texto seja compreendido e interpretado, sendo essas relações compostas, segundo Koch (2000), por “[...] todos os aspectos relacionados à intencionalidade do falante, à sua atitude perante o discurso que produz, aos pressupostos, ao jogo das imagens recíprocas que fazemos interlocutores um do outro e do tema relatado” (KOCH, 2000, p. 32). A seleção de elementos linguísticos, como os indicadores das pressuposições e das intenções; os modalizadores e os operadores argumentativos, é essencial para a estruturação do discurso. Segundo Oliveira (1999): Ducrot, ao formular os princípios básicos da Semântica Argumentativa, chamou de operadores argumentativos a um grupo de elementos da gramática, cujo objetivo fundamental é revelar a argumentatividade inerente a determinados enunciados e direcioná-los a uma conclusão específica de acordo com as condições de uso (Oliveira, 1999, p.100). Ducrot (1988) propões as noções de escala argumentativa, demonstrando como se dá o funcionamento da argumentatividade no texto. Segundo Koch (2000), para a Semântica Argumentativa, o mesmo conectivo é resgatado com a ideia de “introduzir uma conclusão relativa a argumentos apresentados, reforçando as ideias propostas nos enunciados anteriores”. Koch (2000), a partir dos estudos que fez de Ducrot (1988), apresenta uma classificação para os operadores em língua portuguesa, conforme a função que desempenham no texto, a qual serviu de base para a análise que realizamos neste trabalho. Assim, há operadores argumentativos que: a)Reúnem argumentos em função de uma mesma conclusão: e, também, ainda, nem (= e não), não só, mas também. b)Apontam o argumento determinante de uma escala no sentido de uma conclusão: até, mesmo, até mesmo. c)Introduzem uma conclusão referente a argumentos apresentados em enunciados anteriores: portanto, logo, por conseguinte, pois, em decorrência, consequentemente. d)Contestam argumentos que apontam para conclusões opostas: embora (ainda que, posto que, apesar de que etc); mas (porém, contudo, todavia, no entanto. e)Levam a conclusões diferentes ou opostas, através da inserção de argumentos alternativos: ou, então, quer, seja. f)Objetivam alcançar determinada conclusão, estabelecem relações de comparação entre as informações: mais que, tão... como. g)Introduzem uma justificativa ou esclarecimento referente ao enunciado anterior: porque, que, já que, pois. h)Têm por função inserir conteúdos pressupostos no enunciado: já, ainda, agora. i)São distribuídos em classes antagônicas, ou seja, podem funcionar como afirmação total ou como negação total: tudo, todos (afirmação), nada, nenhum (negação). Mediante as teorias e conceituações básicas acerca dos operadores argumentativos e sua relevância na argumentação, será feita a partir de então a descrição da metodologia da pesquisa, bem como análise de redações produzidas por alunos do Ensino Médio, a fim de identificar esses operadores nas produções textuais. 2.2 CONTEXTO E PARTICIPANTES DA PESQUISA: RESULTADOS E DISCUSSÕES A presente pesquisa desenvolveu-se na Escola Estadual de Ensino Médio Profª Mª do Socorro Jacob, no município de Itaituba, Estado do Pará, no 2º semestre de 2015, envolvendo uma turma de 2ª série do Ensino Médio. A opção pela investigação da temática em questão foi motivada pelas observações feitas no período de estágio supervisionado, durante o curso de graduação, onde foi possível vivenciar as dificuldades de produção textual de alunos no ensino médio. Tendo em vista a diversidade de recursos argumentativos oferecidos pela língua portuguesa no ato das produções textuais e considerando a grande relevância dos operadores argumentativos como aliados nas redações de cunho persuasivo, decidiu-se delimitar essa temática para a pesquisa em questão. Desse modo, foi desenvolvida uma atividade prática com alunos da turma em questão, centrada em atividades de leitura e produção de textos argumentativos, onde a organização das redações foi baseada em uma estrutura de causa e consequência, conforme a orientação do professor de Língua Portuguesa ao trabalhar elaboração de redações com os estudantes, sugerindo-se o seguinte esquema para a composição das produções: O 1° parágrafo deveria conter a identificação do tema com rápida ampliação. Em relação ao 2° parágrafo, este deveria elencar as prováveis causas com comentários complementares. O 3° parágrafo, por sua vez, deveria expor as consequências, acrescidas de comentários complementares. Já o 4° e último parágrafo se organizaria em função de um resgate ao tema, acrescido de proposta de solução e/ou posicionamento, além da finalização voltada para o futuro. Para ampliar a análise, foram propostos 10 (dez) temas distintos e polêmicos, sendo eles: “Os impactos advindos da construção da Hidrelétrica de São Luiz do Tapajós”; “O consumo de álcool por adolescentes e suas consequências”; “A realidade acerca do racismo na atualidade”; “Os prós e contras da maioridade penal”; “Os desafios do Bullying no espaço escolar”; “A polêmica da legalização do aborto no Brasil”; “A implantação da pena de morte no Brasil como estratégia de combate à criminalidade”; “O desafio no combate à corrupção no Brasil”, “O perfil da mulher do século XXI” e “O consumo consciente de água no Planeta”. Em relação aos temas trabalhados, vale ressaltar que foram disponibilizados previamente aos alunos artigos diversos de revistas, livros e jornais com abordagens acerca de cada temática, a fim de ampliarem seus conhecimentos e potencial argumentativo durante as produções textuais. Após a elaboração das redações, foi feita a triagem das que participariam desta análise. Escolheu-se uma redação referente a cada tema, tendo como critério de seleção dos fragmentos os operadores argumentativos que manifestaram, com mais ênfase, as relações semânticas primordiais para a argumentatividade. A partir de então, serão expostos e analisados fragmentos das redações produzidas pelos alunos, objetivando evidenciar de que maneira esses recursos foram por eles utilizados. Visando manter a originalidade das ideias manifestadas pelos discentes na elaboração de seus textos, os fragmentos selecionados serão apresentados sem nenhum tipo de revisão e/ou correção gramatical. Para maior clareza na análise dos trechos, os alunos serão apontados a partir de então como Aluno 1, Aluno 2 e assim por diante, visando resguardar a identidade dos mesmos. Os operadores serão identificados nas redações, devidamente conceituados e submetidos a uma análise comparativa entre a intenção do aluno e a definição do conectivo. Em relação à frequência com que os operadores apareceram nos textos analisados, considerando as 10 (dez) redações selecionadas, tem-se a seguinte quantificação: visto que (1); até mesmo (2); então (2); portanto (4); apenas (4); também (5); porque (6); e (19). a)Aluno 1 - VISTO QUE / PORQUE “A vinda das usinas vem acompanhada da promessa de muitos benefícios ao povo, mas a única coisa certa é o impacto ambiental que nossa região vai sofrer, visto que essa situação tem se repetido nos lugares onde esses projetos foram colocados. Eu penso que as pessoas que moram nos lugares ameaçados não devem aceitar isso calados porque vão sofrer na pele as consequências”. Os conectivos Visto que e Porque têm uma semelhança entre si devido ao fato de introduzirem uma justificativa ou explicação referente ao proferido anteriormente. No trecho citado acima, o aluno 1 fez uso da conjunção porque sem grandes dificuldades. Expôs claramente sua ideia utilizando, posteriormente, o conectivo já citado e, então, teceu sua argumentação. Em relação ao caráter persuasivo, pode-se aplicar ambas as conjunções para expor o argumento proposto e, consequentemente, tornar a ideia mais compreensível ao leitor. b)Aluno 2 - ATÉ MESMO “O que acontece na realidade é que a realização do aborto tem levado muitas mulheres a ter sérios problemas de saúde e até mesmo à morte”. (Terceiro Parágrafo) Koch (2000) afirma que o conectivo até mesmo é geralmente utilizado em uma sequência de ideias, onde os argumentos são apresentados do mais fraco para o mais forte, no sentido de uma mesma conclusão e tem a capacidade de convencer o leitor pela qualidade do argumento expresso. No trecho citado, as ideias do aluno são apresentadas com essas características, convencendo o leitor pelo absurdo, conforme considera Aristóteles (2005). Porém, esse operador foi utilizado apenas duas vezes pelos alunos, o que revela a ausência de familiaridade com o mesmo, bem como a falta de conhecimento teórico acerca de sua capacidade persuasiva. c) Aluno 3 - ENTÃO / TAMBÉM “Então, as pessoas acreditam que quando a lei decidir que o menor de idade seja punido pelos seus crimes, o número de assassinatos cometidos por esses menores vai diminuir, já que vão ser condenados pela lei e também pagarão pelos próprios crimes”. (Terceiro Parágrafo) O conectivo Então direciona o leitor a conclusões distintas ou opostas, sendo geralmente utilizado usado na introdução de argumentos alternativos. Nesse sentido, o objetivo é de reforçar e defender a ideia antes proposta. No fragmento acima, o operador citado tem como foco a relação de causa e consequência. O aluno, ainda que não tenha o conhecimento teórico a respeito do poder conclusivo do operador Então, utilizou-o de forma adequada. Em relação ao conectivo “Também”, Koch (2000) o define como argumentos que concorrem no sentido de uma mesma conclusão. No trecho acima, nota-se seu alto poder persuasivo, reforçando o argumento apresentado no enunciado anterior. d)Aluno 4 - PORTANTO “O jovem que começa a usar bebidas alcoólicas muito cedo pode se tornar um adulto alcólatra com mais facilidade, ou então passar a usar drogas mais perigosas. Portanto, para mudar essa situação, os jovens têm que ter mais informações sobre as consequências do uso do álcool e ter mais responsabilidade em suas atitudes”. O conectivo Portanto expõe uma conclusão referente a argumentos contidos em enunciados anteriores (Koch, 2000). Ao utilizar o referido conectivo após a apresentação de uma ideia, o aluno deu ênfase aos argumentos feitos anteriormente. Porém, o fato de o conectivo em questão ter sido usado poucas vezes pelos estudantes selecionados, demonstra que não é rotineiro o uso dessa conjunção em suas produções textuais. Trata-se de um conectivo com fortes características persuasivas, o qual normalmente consegue persuadir o leitor. e)Aluno 5 - APENAS “Da mesma forma que foi no passado, muitos se acham no direito de desprezar pessoas de raças diferentes apenas pela cor de sua pele. ” Para Koch (2000), o conectivo apenas possui características distintas e o sentido atribuído em sua utilização dependerá unicamente da finalidade do leitor e do ponto de vista que o mesmo pretende defender, seja a afirmação total ou a negação total. Tem o mesmo sentido do conectivo só. No trecho utilizado no exemplo, o operador é utilizado com o sentido de afirmação total. Vale ressaltar que nos textos dissertativo-argumentativos a utilização do operador apenas é contundente quando se opta por um ponto de vista e procura defendê-lo de forma veemente. O aluno 5 utilizou esse conectivo adequadamente, ainda que não tenha domínio teórico do poder persuasivo do mesmo. f)Aluno 6 – “ E” “As crianças e adolescentes são as que mais sofrem esse tipo de violência, porque são mais frágeis e têm dificuldade de procurar ajuda”. O conectivo e é utilizado quando se dá a adição de argumentos que têm a mesma força argumentativa. Algumas vezes ele é utilizado simplesmente como mero conectivo. Porém, no contexto argumentativo, encontra na intensificação de ideias uma qualidade muito válida. Analisando o fragmento acima, percebe-se que o aluno 6 lançou mão de duas características relacionadas ao perfil das vítimas do Bullying, utilizando o operador “e” como intensificador de ideias e não simplesmente para unir as sentenças. Observou-se que o conectivo “e” foi grandemente utilizado nas 10 produções textuais escolhidas para a presente análise, porém apenas neste caso teve suas propriedades persuasivas exploradas. Analisando de forma geral os textos produzidos, nota-se os alunos apresentam bons argumentos, porém revelaram a dificuldade que têm no ato da escrita de suas ideias. Mesmo conhecendo bem o assunto escolhido, afirmam que as ideias não fluem conforme gostariam, por isso aborrecem tanto as produções textuais. Observou-se, desse modo, que o uso dos operadores argumentativos como recursos linguísticos não é habitual aos alunos. Isso ficou evidente, por exemplo, em relação à utilização do operador “e”. Apesar do percentual de seu uso pelos alunos ter sido alto, percebeu-se que, no geral, não houve intencionalidade nessa ação por parte da grande maioria. Já os operadores argumentativos Portanto, Visto que e Até mesmo, apesar de serem os que mais dão credibilidade ao autor do texto, convencendo o leitor a acreditar no argumento proposto, foram os menos utilizados pelos alunos. No que se refere à analise dos dados acerca dos conectivos Sendo assim, Também e Porque, fica claro que a utilização desses elementos torna o texto mais compreensível e mais persuasivo, além de garantir uma unidade textual caracterizada pela continuidade e coerência. Mediante a utilização dos operadores, o professor pode aperfeiçoar de modo eficaz o conhecimento dos alunos a partir de suas dificuldades, mostrando a eles tanto as características peculiares quanto à capacidade persuasiva inerente às conjunções, que inclusive eles já utilizam em suas produções. Para isso, o professor deve explorar, além do conceito gramatical, as características argumentativas dos conectivos, demonstrando como eles se justapõem dentro do texto. Assim, quando estiverem em meio ao processo de elaboração textual, já terão maior domínio do uso dos operadores e certamente farão o uso mais adequado de cada um deles. Desse modo, o trabalho feito pelo docente acerca da relevância dos operadores para a organização e direcionamento argumentativo do texto pode tornar o processo de produção textual menos complicado e angustiante para os estudantes. A aquisição desse conhecimento poderá ser decisiva para o sucesso dos mesmos na interpretação e na elaboração de textos dissertativos. 2.3 METODOLOGIA O presente trabalho, intitulado “Operadores argumentativos e a construção de textos dissertativos: análise de redações”, tem como base a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo e objetivou investigar se os operadores argumentativos têm sido utilizados devidamente nas produções textuais dos alunos, além de analisar a frequência com que aparecem e a função que exercem nessas produções. Foi definida para este trabalho a Pesquisa Bibliográfica, em virtude de esta possibilitar a fundamentação teórica, através da recuperação de obras relacionadas à temática. Desse modo, foi construído um arcabouço teórico através da revisão da literatura existente, sendo utilizados, principalmente, os estudos de Aristóteles (2005), Ducrot (1988), Ghiraldelli (2007), Gill (2008), Koch (2000), Nascimento (2010), dentre outros, que colaboraram para a fundamentação da pesquisa. Essa revisão foi feita mediante a leitura crítica e o fichamento das obras relacionadas ao tema, por meio da leitura de livros e consulta a documentos disponíveis online, devidamente consignados nas Referências. Essa escolha possibilitou elucidar o objeto de estudo, respondendo às indagações propostas e atribuindo materialidade ao objetivo proposto. Por se tratar de uma pesquisa direcionada a um grupo específico, a investigação caracterizou-se como pesquisa de campo, tendo como instrumentos de coleta de dados os relatos verbais, que permitiram coletar informações sobre a opinião dos alunos a respeito das produções textuais, bem como a observação direta, que segundo Luna (2003, p. 52), trata do registro de uma dada situação, acontecimento ou ocorrência. A pesquisa caracterizou-se como Exploratório-descritiva com abordagem qualitativa, adotando-se como estratégias a pesquisa bibliográfica, a pesquisa de campo, além do desenvolvimento de atividades práticas com os alunos, atividades estas já descritas anteriormente. Quanto aos seus objetivos, a pesquisa caracterizou-se como exploratório-descritiva. Seu cunho descritivo permitiu ao pesquisador delinear e caracterizar o fenômeno estudado, viabilizando o levantamento das características específicas do grupo envolvido na pesquisa. Já a natureza exploratória, segundo Gil, “tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses” (GIL, 2002, p. 41). A pesquisa pautou-se pelo Método de Abordagem qualitativa, por permitir ao pesquisador a observação direta dos fatos, privilegiando o contato com o contexto estudado. Conforme Silva, “[...] a abordagem qualitativa tem como objeto a linguagem comum das pessoas e sua vida cotidiana, seus significados, motivos, aspirações, atitudes, crenças e valores (SILVA, 2005, p. 85). Em relação à apresentação e interpretação dos dados, esta foi feita a partir da organização de todo o material coletado durante a atividade prática desenvolvida com os alunos, seguida da leitura e análise do discurso contido nas produções textuais, o que permitiu descrever e avaliar a capacidade de argumentação dos mesmos a partir da utilização dos operadores argumentativos. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente pesquisa deteve-se, inicialmente, a teorizar sobre a argumentatividade, conceituando os operadores argumentativos e seu poder de persuasão na produção textual. Esse estudo foi motivado pelas observações feitas durante o estágio supervisionado do curso de graduação, junto a alunos de Ensino Médio, onde foi possível perceber as dificuldades enfrentadas no ato da produção textual, em especial no que se refere à apresentação e defesa de suas ideias. Diante disso, o presente trabalho dedicou-se a investigar a utilização dos operadores argumentativos nas produções textuais de alunos da 2ª série do Ensino Médio de uma Escola Pública, tendo como base a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo, caracterizando-se como exploratório-descritiva, por meio do método de abordagem qualitativa. Assim, propôs-se aos alunos a elaboração de textos dissertativos, cuja análise do discurso contido nas produções textuais permitiu descrever e avaliar a capacidade de argumentação dos mesmos, a partir da utilização dos operadores argumentativos. De posse das produções textuais, notou-se que os alunos estão pouco habituados ao uso de tais recursos linguísticos, utilizando-os, na maioria das vezes, de forma inconsciente e aleatória sem o entendimento do real valor persuasivo que integra esses elementos. Além disso, ficou evidente a lacuna existente no que diz respeito à compreensão funcional e discursiva da língua por parte do aluno, bem como o desconhecimento acerca da estrutura gramatical e da disposição do texto em si, o que se reflete na dificuldade enfrentada pelo mesmo na criação de seus textos argumentativos. Com base nessa experiência in loco, evidenciou-se a necessidade de uma intervenção direta no ensino até então ofertado pelas escolas. Nesse contexto, a figura do professor desponta como agente mediador desse processo, desenvolvendo com os estudantes todas as propriedades retóricas dos operadores argumentativos. Para tanto, deve partir-se do princípio de que os alunos já conhecem bem as conjunções, porém não sabem de capacidade persuasiva e de suas características específicas. Assim, além do conceito gramatical, deve-se expor as propriedades argumentativas dos conectivos e explanar as diversas possibilidades de aplicação dos mesmos dentro do texto, ampliando seu conhecimento sobre a gramática normativa e sobre outros aspectos gramaticais relevantes que constituem a língua portuguesa. A resposta a essa atividade foi satisfatória, pois de um lado evidenciou as lacunas encontradas na produção textual dos alunos em virtude do desconhecimento do uso e dos atributos específicos dos operadores argumentativos. De outro lado, ratificou a importância da exploração desses conectivos no contexto escolar, como recursos linguístico-discursivo empregados na construção argumentativa dos textos, auxiliando o aluno tanto no desenvolvimento de sua competência linguística quanto em sua capacidade de reflexão, de crítica e de ação na vida social. Deixou claro, ainda, se tratar de um grande desafio ao professor dessa área de estudos, cuja atuação poderá garantir ao aluno autonomia em relação à expressão do seu ponto de vista e à utilização dos recursos argumentativos na produção escrita. Essa pesquisa não aspirou esgotar o tema no sentido de exibir uma verdade absoluta sobre o uso dos operadores argumentativos na produção textual, porém teve como pretensão lançar uma luz sobre alguns questionamentos e trazer o assunto para a discussão coletiva, abrindo espaço para as incertezas, dúvidas e sugestões. Além disso, pretende ainda que modestamente, apontar caminhos para colegas de profissão e demais pessoas que tenham interesse nessa área do conhecimento, além servir de referencial teórico a futuros pesquisadores no que diz respeito às estratégias linguístico-discursivas, imprescindíveis à elaboração do texto argumentativo. REFERÊNCIAS ARISTÓTELES. Arte retórica e arte poética. 17a ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005. CASTILHO, A. 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