Olimpíada de Língua Portuguesa-2010
Por Maria Dias dos Santos | 22/09/2010 | EducaçãoEscola Municipal Anastácio Feliciano Alves
Professora: Maria Dias dos Santos
Cidade: Campinápolis
Estado: Mato Grosso
Email: diasbauer@hotmail.com
Olimpíada de Língua Portuguesa - Relato de experiência
Olá, meu nome é Maria Dia dos Santos, sou efetiva na rede municipal de ensino há 11 anos. Sou graduada em Ciências Biológicas, pós-graduada em Linguística e alfabetização e concluo, no final deste ano, uma pós-graduação em Tecnologia na Educação. Contudo, o que eu gosto mesmo é de lecionar a disciplina de Língua Portuguesa.Acho que ela nos dá oportunidade de ajudar mais os nossos alunos. Algumas vezes faltam professores desta disciplina na minha escola e sempre que possível, eu pego essas aulas.
Tenho grande preocupação em relação à situação em que está a produção de textos de nossos alunos. Cada vez mais debilitados. Sinto-me responsável, como professora, por este descaminho também. A cada dia que passam eles demonstram menos habilidade nesta prática escolar.
Em 2008 conheci e acompanhei o primeiro trabalho da Olimpíada de Língua Portuguesa (OLP) na escola onde trabalho. Na época, era coordenadora de ensino e apenas coordenei o trabalho dos professores em sala de aula. Este ano de 2010 foi diferente, tive a oportunidade de por a "Mão na massa", pois sou a professora de Língua portuguesa nas turmas de 5ª a 7ª série do ensino fundamental e pela primeira vez, experimentei o trabalho por meio de sequências didáticas.
Confesso que no início tive muito receio, o "novo" deixa a gente meio assustada. A minha maior preocupação no momento era com os conteúdos que ficariam atrasados. Fomos orientados a parar com o planejamento anual e trabalhar apenas com a OLP.
Dei início ao trabalho com os gêneros textuais no início do 2º bimestre. Á medida que fomos desenvolvendo as oficinas, fui tomando gosto pelo trabalho e os alunos participaram de uma forma que me surpreendeu. Realmente não esperava que tivessem um desempenho tão positivo.
Devido as turmas que estava lecionado, pude trabalhar com dois gêneros sugeridos pelo projeto: Poesias ( 5ª série) e memórias literárias( 6ª e 7ª série).
1. Poesias
Realizado em duas turmas de 5ª serie, resultou em uma coletânea contendo uma produção de cada aluno, o qual se responsabilizou pela ilustração de seu próprio texto.
Para dar conta de todas as etapas da sequência didática do projeto tive que fazer algumas adaptações: Usei como ponto de apoio para reforçar as oficinas, as poesias de Cecília Meireles. Primeiro pesquisamos poemas e poesia em material disponível na biblioteca da escola e cada aluno trouxe de casa um exemplar também. Montamos o mural de poemas na sala de aula e toda vez que trabalhava uma característica desse gênero, recorríamos aos poemas disponíveis no mural, e claro, reforçado sempre com Cecília Meireles. Desta forma, desenvolvemos todo o trabalho com auxílio deste mural.
Como o tema da OLP é o lugar onde vivo pedi ajuda ao professor de geografia da turma, que colaborou com dados geográficos sobre o município, bem como: relevo, economia, população, clima, localização, etc.
A partir da colaboração do professor de geografia, utilizamos essas informações para produzir acrósticos com o nome do município, nome da escola, o nome do bairro ou da aldeia (já que temos alguns alunos indígenas na nossa escola), ou seja, cada um direcionou as informações para o lugar onde mora. O que eles produziam, eu recolhia, fazia a correção e devolvia com algumas sugestões para melhoria do seu texto. Com os poemas em forma de acrósticos fizemos uma exposição no mural da escola.
Quando percebi que já podíamos partir para a produção final, elaboramos um roteiro para que os alunos pudessem delimitar o assunto sobre o qual ia escrever o seu poema. Neste roteiro, o aluno deveria observar e anotar informações sobre o lugar que gostaria de descrever em seu poema como: localização, cheiros, cores, movimentos, sensações, tudo que ele percebesse naquele local.
Em seguida, em sala de aula, os alunos transformaram estas informações em poemas.
Trabalhando desta forma, tive a oportunidade de acompanhar individualmente cada um dos alunos e perceber assim a dificuldade particular de cada.
O que mais me surpreendeu com todo este trabalho foi o fato de alguns alunos que demonstraram, aparentemente, muita dificuldade em produção de textos, apresentaram poemas muito bons no final das oficinas.
Depois de pronta a coletânea intitulada "POEMAS - O lugar onde vivo", os alunos recitaram seus poemas durante o recreio para toda a comunidade escolar. Com isso, eles se sentiram valorizados e os demais puderam conhecer o produto final de um trabalho tão gratificante.
2. Memórias literárias
Nas turmas de 6ª e 7ª série realizei todas as oficinas sugeridas pela sequência do material. Os primeiros relatos sobre suas memórias de infância os alunos fizeram oralmente. Nas próximas etapas eles começaram a escrever sobre brincadeiras preferidas, lugares marcantes onde, de alguma forma, eles tiveram experiências que ficaram registradas na memória. Em seguida passamos a relatar memórias de pessoas da comunidade.
Para esta etapa, trouxe duas pessoas pioneiras da cidade para ser entrevistados pelos alunos, na sala de aula. Antes elaboramos o roteiro, conforme orienta a oficina 11. Foi um sucesso a entrevista. Os alunos ficaram empolgados, porque estas pessoas trouxeram informações sobre a origem do município, sobre as dificuldades, a forma de relacionamento entre as pessoas, as festas daquela época. Tudo sobre a cidade de Campinápolis, o lugar onde moram.
Com base nos dados da entrevista os alunos elaboraram um texto de memória. Fiquei muito feliz com o resultado. Até os alunos que apresentavam grande dificuldade nas produções textuais, conseguiram participar satisfatoriamente das oficinas.
Durante o trabalho com memórias literárias, percebi que poderia usar deste recurso par aproximar os alunos de seus familiares. Acho que nos dias atuais as famílias estão se distanciando muito uns dos outros, principalmente os adolescentes. Esta seria uma oportunidade de saber algo sobre alguém da família. Uma aproximação para reforçar os laços familiares. A partir daí parti para a segunda etapa do trabalho que foi elaborar um texto de memória a partir de uma entrevista com um membro da família: pai, mãe, avô ou avó. Elaboramos o roteiro da entrevista, juntos, em sala de aula. Os alunos levaram a tarefa e realizaram em casa. Produziram o texto com as memórias do entrevistado e trouxeram na aula seguinte. Não poderia ter sido melhor!
Os alunos, de forma geral, ficaram muito empolgados com a realização desta atividade, pois segundo eles não tinham nem ideia de tantas histórias que ouviram dos entrevistados. Outros disseram que há muito tempo não tinha tido uma conversa tão bacana com seus pais. Alguns deles, no final, pediram para fazer mais vezes este tipo de trabalho. Recolhi os textos, fiz as correções necessárias e devolvi aos alunos com algumas sugestões para aprimorar o texto. Após os textos aprimorados, recolhi e pedi ajuda para uma funcionária da escola para digitar os textos dos alunos. Depois de digitados, cada aluno fez a ilustração do seu próprio texto. Com eles, organizamos uma coletânea intitulada "Lembrar e coçar é só Começar".
Trabalhar com sequência didática foi uma experiência positiva que quero continuar aplicando nas minhas aulas, daqui pra frente. Ela me fez perceber que um dos fatores que pode ter levado a esta defasagem nas produções de textos nos alunos é exatamente a forma que vem sendo ensinado nas escolas. Antes de pedir uma produção de texto, precisamos ensiná-los a fazer. E é exatamente esse trabalho que este tipo de metodologia nos permite fazer.
Professora Maria Dias dos Santos
Escola Municipal Anastácio Feliciano Alves
Campinápolis, Mato Grosso.