Olhos de tempestade
Por Eliege Emidio | 31/03/2010 | PoesiasDa janela, seus olhos lacrimejantes
Entornavam-se nas ruas.
Molhavam as praças ermas e nuas.
Delírios de alegria!
Imagino nessa hora a minha viela
De tetos molhados
E vento nos coqueirais!
Minha cidade menina!
Imagino-a plena e bela,
Em meio ao deserto alagado
Do seu imenso chafariz.
Surpreendo-me feliz
Com tão presente lembrança!
Na tez da memória,
O rugir dos potentes trovões
Na rua simples da Boa Esperança.
Ritmadas melodias
Ecoavam nos telhados
Da morada humilde e pequena.
E a janela sempre acesa
Do meu quarto, na frente,
Refletia a beleza
Do espetáculo fluente.
Era tão bom
Embriagar-me no som
Daquela pluvial canção!
E ver os fluidos de suas águas
A correr pelo chão,
Indo depressa aos rios
Que, sedentos de vida
E de leitos profundos e abertos,
Eram os rumos mais certos
Da sua abundante chegada!
Conduzindo a fantasia
Dos inocentes barquinhos de papel
Que seguiam imponentes,
A despeito do lume reluzente
Dos vorazes relâmpagos
Que rasgavam o céu.